segunda-feira, 4 de abril de 2016

Curtas histórias I - O sinal

Agonizava o bandido com o tiro que recebera. Buscou no bolso da calça o celular com as fotos afetivas que guardava. Sua história estava ali. Teclou com suas últimas forças e clicou no arquivo de foto como que guiado por algo maior e além de sua compreensão. Abriu aleatoriamente as fotos na primeira pasta que tocou. Suas mãos eram guiadas por uma força incompreensível naquele momento.
Apareceu na tela uma foto feita na semana anterior de uma etiqueta de preço de uma prateleira de desinfetante no supermercado. Havia tirado para comparar preço. Clicou de novo. Abriu uma foto de um prego que havia entrado no pneu do carro que havia tirado para mostrar aos amigos o estrago. Não desistiu. Sentia-se guiado por uma presença suprema e abriu outra. A terceira vez seria a marcação da santíssima trindade, o sinal divino. Era nessa tentativa que sua mão lhe guiava. Então surge a sua frente um nude de peitinhos de fora de uma garota que lhe passaram pelo Whatsapp no dia anterior.
... Pensou...

Aquilo era de fato um sinal presente a primeira mensagem: a vida não tem preço e a morte é a grande limpeza da alma.
Suspirou e desprendeu-se do corpo físico rumo ao desconhecido.

Moral da história: Quando a gente quer entender o que desejamos entender, urubu é pomba da paz.

domingo, 27 de março de 2016

Aviso desnecessário

Outro dia vi um daqueles mágicos que fazem e explicam a mágica (êta coisa sem graça!) fazer um truque em que havia uma caixa no meio de duas rampas. De um lado havia uma serra circular de uns 120 cm de diâmetro, de outro, outra serra do mesmo porte. À frente, havia um grande maçarico e, em cima, uma bigorna. O cara entraria na caixa, as serras desceriam dos lados, a bigorna cairia e o maçarico queimaria as laterais mostrando o mágico que não teria sofrido nada.
Antes de começar o truque, o locutor avisou:
- Não tentem fazer isso em casa!

Um aviso muito prudente e bem apropriado, já que a coisa mais comum é uma pessoa ter em casa, duas serras circulares de 120 cm de diâmetro, um maçarico, uma bigorna, duas rampas e uma caixa de madeira do tamanho de uma geladeira...
Eu, por exemplo, guardo essas minhas coisas sempre longe do alcance das crianças, perto dos remédios e dos produtos de limpeza.


quinta-feira, 17 de março de 2016

O artista, o ativista e a baita confusão

As pessoas teimam em confundir as coisas. Sabe aquela história do ator que faz papel de vilão na novela e é hostilizado na rua por aquela tiazinha de idade que não sabe diferenciar o ator do personagem? Pois é... Todo mundo conhece a história de um ator que fez papel de mau e acabou ouvindo uns bons desaforos na rua, não é?
Pensei sobre isso tempos atrás quando vi Chico Buarque sendo hostilizado por alguns caras na saída de um bar no Rio. A pergunta que fica no ar é: pra quê? Ele vai mudar de opinião sendo xingado? O cara que xingou vai receber uma comenda de a pessoa mais consciente do mundo? Alguma coisa vai mudar com esse ato de hostilidade? Não! Perda de tempo, ofensa desnecessária (se é que existe alguma ofensa necessária!?) a um dos maiores ícones da MPB que continua sendo um dos maiores ícones da MPB independente do que ande falando por aí.

segunda-feira, 14 de março de 2016

O texto, o contexto e a má fé

Certa vez, eu conversava com um colega sobre literatura e falava do quanto admirava obras de alguns autores como Nelson Rodrigues. Ele torceu a cara e disse, Nelson Rodrigues é um machista. Fiquei surpreso com a afirmativa, pois pensei que a contextualização do autor era óbvia. Ao que eu completei que sim, que ele era machista, inclusive que Monteiro Lobato, provavelmente, era racista, que Wagner (compositor) era antissemita (Nietzsche também...) e que a bíblia era homofóbica no velho testamento (ainda mais se você focar em Levíticos, um livro escrito no século XV a.C...) Ah sim.. e que Zumbi talvez tenha tido escravos. E qual o problema de se ter tido escravos no século XVII?
Pois é... Retirar o texto e o fato de seu contexto é a maneira mais cruel de não se entender nada e sair propagando sua bela consciência social que o torna o melhor dos seres humanos que já pisaram na terra. Ah sim... E se recusar a acessar a ler o livro por causa da capa.

quinta-feira, 10 de março de 2016

O chato e o mau hálito

Há uma sutil linha que nos permite comparar o chato com o cara que  tem mau hálito. A primeira coisa é o cuidado para se falar do tema com a pessoa em questão e não ser mal entendido ou arrumar um inimigo. Não é legal ter desafetos, mesmo que seja o desafeto de um chato. 
A outra é a ilusão tanto de um (chato) quanto de outro (cara com mau hálito) de que quem sente o efeito de sua presença é só o outro, e no singular mesmo. Nunca no plural. Ambos não reconhecem que tem problemas que incomodam os outros quando eles chegam perto e que, definitivamente, o problema não está com os outros, mas com ele.

sábado, 5 de março de 2016

Vampiros nas redes sociais

Há muitos anos, li sobre vampiros em um artigo de uma revista enquanto esperava em um consultório para ser atendido. Obviamente, não se tratava de sugadores de sangue noturnos das histórias. Era uma reportagem superficial que falava de pessoas que se alimentam da energia dos outros e nem se dão conta da vampirização que fazem. Procurei ler mais sobre o assunto depois daquele dia e comecei a perceber que, realmente, há pessoas que se alimentam da  nossa energia. 
Já percebeu que há pessoas que lhe causam intenso cansaço co breves períodos de convivência? Conversar com elas por 20 minutos equivale a horas de conversa pesada, tensa e terminamos como quem correu uma maratona?

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

De boas, fessô. :-)

Uma vez um aluno comentou comigo: Poxa, professor. Já te conheço há algum tempo e nunca te vi perder a linha, bater boca com aluno, tretar, enfim.. Você é muito zen. E riu.
Aí eu expliquei para ele o seguinte. 

Se eu bato boca com um aluno, eu sou imaturo e ele, um adolescente de 15 anos;
Se eu bato boca com um aluno e jogo na cara que ele não tem leitura para discutir comigo, estou sendo imaturo e arrogante e ele, um adolescente de 15 anos;
Se eu bato boca com um aluno e jogo na cara que ele não tem leitura para discutir, que não é capaz de sustentar uma discussão comigo, estou sendo imaturo, arrogante, prepotente e ele, um adolescente de 15 anos;
Se eu bato boca com um aluno e jogo na cara dele que não tem leitura para discutir, que não é capaz de sustentar uma discussão comigo, que ele tem que amadurecer e pensar mais, estou sendo imaturo, arrogante, prepotente e cego...
- Cego? Interrompeu-me ele.
- Pois é... É que, nesse momento, não consigo ver que, naquela hora, quem está agindo de forma inadequada com a idade sou eu e não ele, que continua sendo um adolescente de 15 anos. Concluí.

O rapazinho riu.
- Fessô, 'cê é "de boas"

É, acho que é por aí mesmo.. concordei.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Algumas boas razões para não se discutir por besteira

Dizem que a vida pode ser representada por números, que a matemática pode dizer muita coisa sobre nosso dia a dia e nos ajudar a entender o mundo que nos cerca e como agimos com nosso tempo.

Partamos da premissa que um homem adulto com 44 anos (eu) dentro da expectativa média de vida de um brasileiro possui mais uns 29 a 30 anos, podendo chegar a um pouco a mais ou um pouco a menos. Esse é o ponto de partida da ideia.

Uma discussão consome em média, entre o tempo que discutimos e o tempo em que pensamos o que falamos ou que deveríamos falar uns 20 minutos (no caso de pessoas mentalmente equilibradas. Óbvio. As doentes ficam pensando dias no que poderiam ter dito e não disseram).