domingo, 7 de maio de 2017

Saco de versos

Instante
Valença, 05 de dezembro de 2016


Eu quero o agora.
Não quero amanhã, mais tarde...
Não sou dono instante.
O tempo que me pertence é agora...
instantes depois não mais é minha posse.
Não quero me afogar nos segundos que não bebi.


Quero a palavra de amor
Quero o gesto de afeto
Quero o toque das mãos
Que durem esse instante
Porque esse é de fato meu...
... agora não é mais.


Mas aí vem outro é mais outro
O sangue pulsa no ritmo dos instantes que não me pertencem
Quando os consigo fitar


Dentro do peito
Só guardo comigo e de fato meu
O meu último instante
Esse sim, meu, preso, encarcerado
Definitivo.

O ponto final das angústias de todos os instantes que não consegui capturar.

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Viver é a arte de se reinventar a cada curva

Nunca estamos prontos. Na vida, somos sempre uma obra inacabada. Quando pensamos que os planos estão todos traçados e que somos um carro preparado para percorrer todo um caminho sem maiores percalços, vem uma curva e nos joga para fora para lembrar que não existem estradas sem curvas, que não se formam bons motoristas em estradas tranquilas. E de fato, estamos aqui para nos formarmos como bons condutores. Enfim, a curva é necessária.
E daí, nós nos inventamos novamente e traçamos outra trajetória, construímos outro carro e amparando-nos em nossa resiliência. Superamos a dor, as perdas e retomamos a estrada até encontrar outra curva que nos jogue para fora porque a única coisa que é certa, nessa estrada, é a curva. Mas sempre dirigimos como se fosse uma eterna reta.
Viver é isso. É se reinventar curva após curva. A grande aprendizagem dessa jornada é se reinventar quando tudo acaba, quando a gente termina.
Quero crer que toda dor, toda aprendizagem nos conduz a um caminho único que é o do aprimoramento espiritual, que toda dor realmente vem do desejo de não sentirmos mais dor um dia. A dor pela qual optamos é produto da nossa ânsia de não mais senti-la. (Estranho, né? Mas faz sentido) Estar vivo é isso, um exercício masoquista em busca da libertação. Mas a dor, assim como a curva, é inerente a estrada. Sempre existirá.
Então, que a vida não nos poupe da dor, mas que com ela nos traga a sabedoria. Porque sofrer é inevitável, mas aprender é uma opção. E que vida nos traga as suas curvas.

sexta-feira, 14 de abril de 2017

Crônica de um dia nublado

Sim. Eu gosto de dias frios, dias nublados e morosos. Penso que eles são um convite a refletir sobre a vida. O calor, o sol, o movimento das coisas nos iludem com a sensação de que tudo vai bem lá nos mais recônditos cantinhos da gente, tudo flui, a vida segue seu ritmo furioso e inexorável. Nesse momento, esquecemo-nos do lugarzinho onde moram as coisas em nossa alma,  onde repousam nossas dores que, ainda que fiquem escondidas no sótão de nossa existência, ficam lá e esperam os dias frios, nublados e morosos.

Dia frio é dia de rasgar papel, trocar livros de lugar, achar objetos perdidos escrever crônicas. Dia frio é dia de se achar. Apropriada seria um crônica que começasse assim: “Um dia, em um dia nublado e frio, adivinha quem encontrei escondido dentro de mim? Eu! Vejam só, não me encontrava há tanto tempo que achei que havia me perdido…

Pois então, se tem uma coisa gostosa, essa coisa é ficar em casa em dia frio, ver um filme, ler um livro, repousar a cabeça no colo de quem sem ama, falar amenidades, rir de pequenas bobeiras… E quando der uma leve sonolência, deixar as pálpebras caírem como suaves cortinas de uma janela. Todavia, admito que dias frios não são tão legais com aqueles que ainda buscam sua JukeBox Gêmea, sua Playlist do Spotify gêmea… (Isso é uma longa teoria que desenvolvo sobre o fato de ser mais fácil conviver com uma pessoa que tenha um gosto musical parecido com o seu). Mas isso é para outro texto. O fato é que dias frios são sempre dias frios, sempre bem vindos aos contempladores da alma.

***
Enquanto escrevo, na minha lista de músicas, um canto gregoriano toca bem baixinho, escrevo, penso, vasculho meus baús, degusto um dia nublado de sexta-feira santa que desde que nasci foi amadurecido e preparado para ser consumido hoje, mais de 45 anos depois.

Esses momentos são assim, feitos para serem degustados. Escolha o que mais lhe agrada, com que se harmoniza mais e beba até a última gota porque depois do copo vazio, aquele ali você não bebe mais.


Bom dia nublado a todos!

domingo, 27 de novembro de 2016

"Felicidade": é preciso vigiar sempre


Felicidade é um momento rápido e fugaz, do tipo  de uma partícula dessas que a ciência descobre de vez em quando e avisa: eis a menor partícula já vista no universo. Até que se descobrirá, amanhã ou depois, outra menor. Definitivamente, felicidade não é um lugar, é uma fração de existência que nos obriga a estar atentos para hora que ela passa, pois quando percebemos, já se foi e é passado.

É preciso vigiar, é preciso estar sempre atento.
Às vezes, nós a encontramos nas memórias. Ela também fica lá em forma de tudo que foi e também na forma do que não foi, mas a gente queria tanto que tivesse sido. E, por alguns instantes, desejamos que mesmo a maior mentira que nos feriu tanto nos permitisse que a congelássemos no último segunda antes de descobri-la (congelar enquanto nos era uma doce verdade) e que nos fazia tão feliz. Mas a felicidade é fugaz, se foi e começou e acabou naquele segundo. Depois, só nos resta a nossa história que carregamos na algibeira.
Por isso é preciso vigiar a cada instante.

É como aquele flor no concreto que passamos no caminho para algum lugar. Se não prestarmos atenção e olharmos para baixo ou para o lado, esquecermos por alguns instantes aonde queremos chegar, ela fica lá. Por um segundo, pois alguns minutos, durando um pouquinho mais do que o tal pedaço de átomo. Mas a cada passo nosso adiante, ela vira um pedaço do passado...

Que só nos resta carregar na algibeira....


quinta-feira, 27 de outubro de 2016

O que você precisa saber para compor...

Bom, Dorival Caymmi se foi, Vinicius também... e nessa leva se foram Tom Jobim, Cazuza, Renato Russo, Raul Seixas entre outros tantos. Esses desfalques na MPB deixam o time mais fraco e com possibilidade de cairmos de série. Daqui a pouco vai haver tantos desfalques que já somos a MPB, ano que vem, disputaremos a série MPC. Queremos voltar para série A, queremos a MPA... Nós e o Vasco.

Mas nem tudo está perdido, para atender uma demanda de mercado, criamos o Compor é fácil, escreva você mesmo sua canção e faça sucesso. Um livro de auto-ajuda que ajuda quem quer compor e atrapalha quem gosta de ouvir.

Veja alguns exemplos...

Um pagode
Ingrediente: uma rima em –ão, uma em –or e uma em –ento...

Em todo pagode quando você cantar “e ficou a dor, desse grande ....” engate logo algo como amor. E prossiga: “Tive essa paixão em meu ....” Sabe que lá vem “coração”... “Não sei se aguento, esse ....”, sofrimento... Muito bem.. aqui o céu é o limite.

Um funk....
Ingrediente: Três verbos e a repetição silábica adequada:
Quero, quequero, quequero, quero, quequero, quero...
Dança, dandança, dandança, dança, quero, quequero você dançar..
Vai,... vaaaiiiii, vaaaii... (acrescente o movimento do quadril creu na velocidade 2 e aumente progressivamente)... Muita gírias e duplos sentidos...


Um heavy metal
Dispense os ingredientes e grite. Mas grite com vontade! Se você tem um instrumento, esquece essa história de nota e cifra, toque.. toque não, bata, mas bata com vontade nele.Ah... se você tem espaço para pular, pule... Ah sim, mas pule com vontade!


Um samba enredo:
Ingredientes: Tema (libertação dos escravos), palavras-chave (construir nação, negro, escravidão, sofrimento, liberdade), palavras-básica (avenida, alegria, emoção, carnaval), onomatopéias básicas (oooiiii, ihhhh, aaahhhh).

Misture as palavras com o mesmo ritmo de sempre (assista um desfile e entenderá que ritmo é esse). Ao final de cada frase, faça a divisão silábica da última palavra (ex.: e todo essa emoção... E–MO–ÇÃO. Ah sim prefiras as trissílabas... com polissílaba é mais difícil) Onde você não souber o que cantar, acrescente ôôôô... e termine sempre: vou cantando na avenida...

Sertanejo/brega/pop
Arrume uma mulher bem vagabunda, case-se, gaste dinheiro com ela, fique apaixonadinho, leve um par de chifres e um pé na bunda. Escreva um relato rimado com no máximo 60 palavras sobre o que aconteceu com você. Pronto. Agora, cante! Sempre em dupla é claro. É o corno e o amigo do corno.

Atenção! Ao final da frases faça "huuuuuummmm" com a boca fechada... Por exemplo, Meu coração(huuuummmm) ....

Rock Teen/emo
Ingredientes: incertezas, paixões perdidas, tédio e desilusões.

Aí você não compõe nada porque já tem demais disso na mídia. Mas se você curte, ligue o som com um conjunto desse, dance abraçando os próprios ombros na frente de um espelho com os olhos semi-cerrados, ouça, chore, jogue a franjinha para o lado e chore mais. Não se preocupe, sua mãe e seus parentes não vão achar que você é esquisitão.
Nessa altura do campeonato, eles já não acham mais nada... e evitam falar no assunto.

É isso, peça já..

Os primeiros 100 pedidos levam grátis, sem nenhum custo adicional o método “Agogô e triângulo sem mestre” nos níveis básico, médio e avançado...

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Um bilhete no saco – duplo sentido...

Caro amigo,
Desculpa por tudo. Sei que fui duro com você, mas você me deu as costas no momento em que mais precisava. Por isso, fiquei para você como grosso, entrão e outros adjetivos pouco abonadores. Só fui ao show com a galera naquele dia porque você me ofereceu sua entrada no dia anterior. Saiba que lamento por tudo e que aquilo que lhe prometi vai ser cumprido. Sou um homem de palavra e que não guarda rancor, por isso, aquilo que combinei te passar está de pé.

Um abraço para você e quem for da sua família.

***
Então...
Ele leu em silêncio. Transpareceu no semblante um certo pavor...
Preferiu não responder.


Não se brinca com um sujeito desse...

domingo, 2 de outubro de 2016

Eleições 2016: de volta ao trabalho...


Depois da festa da democracia, a ressaca pós-urnas. Nesse domingo (02/10), foi eleição e muitos colegas de outras cidades estão relatando casos de vereadores que estavam no 3º, 4º ou 5º mandato e que agora não vão mais ususfruir da vereança pelos próximos anos. Em 4 anos não sei, mas, por hora, voltam à condição de mortais, sem foro privilegiado.  
Parece que realmente, alguma coisa está mudando na cabeça de quem vota... Há, pelo menos no que se refere ao legislativo, um modelo antigo que vai se desconstruindo aos poucos. Obviamente, em um ritmo muito mais lento do que gostaríamos, mas que se desconstrói.
[modo ironia ON]
Todavia, a minha preocupação é onde vamos encaixar esses colegas que viveram tantos anos nessa condição parasitária. Seria necessária uma readaptação à sociedade produtiva. Mas que seja algo suave e sem mudanças bruscas. Um emprego de meio período 3 vezes por semana, logo a seguir, um de meio período até sexta. Alguns meses depois, um período de 8 horas diário e, com sorte, poderíamos expô-los até a uma carteira de trabalho novamente. Não podemos prometer nada... Mas isso vai depender muito como ele vai reagir no processo inicial de adaptação. Penso que grupos de apoio seriam de grande valia nesse momento.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Álbum de fotos e outras formas de torturas...

As pessoas não têm a dimensão de o quanto é chato ver álbum de fotos. Convide seus amigos para uma recepção com fondue de chocolate, morangos e um bom filme, e os inimigos, convide para mostrar álbum de fotos.
O cara abre o álbum cujo tema é férias em Porto Seguro. Bom, para início de conversa, quem viu um álbum de fotos de alguém que foi a Porto seguro já viu todos os álbuns do gênero e o mais terrível é que cada foto vem acompanhada de uma narrativa de como é o lugar, quanto custam as coisas, como a pessoa fez para chegar lá e a programação local. Aí você espera a pessoa distrair e passa duas folhas do álbum de uma vez... e o infame diz:

Você viu a foto dos índios?

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Correios pra que te quero....

Sou do tempo em que, nos Correios, só se postavam cartas, eles vendiam selos para colecionadores às vezes e, no final do ano, cartões de natal da UNICEF.

Depois vieram TELE SENA, carnê do baú, livros e gravuras diversas, CDs e cursos por correspondência...
Aí.. chegaram os serviços de banco postal, sacam, pagam conta, fazem depósito, transferências bancárias, pegam empréstimo etc...

Em breve, os Correios oferecerão:
Serviços de lanternagem, rebaixamento de teto com gesso, remoldagem de pneu, exame de próstata, limpeza de caixa d'água, disk sexo, acupuntura, tratamento de canal, afiação de alicate de cutícula e tesoura, conserto de sombrinha, lipoaspiração e retífica em motor de veículos a diesel, tomografia computadorizada, pilates, escova de chocolate, cirurgias de correção de lábio leporino e limpeza de bico injetor.

Tenho medo dos Correios...