quinta-feira, 5 de maio de 2016

Mesquinharia SA

Acho que o mundo ficou mais mesquinho. Quando eu era criança, as promoções eram: junte 20 tampinhas ou 10 selos de um produto e troque por um bonequinho do filme tal. Hoje, as promoções são junte 20 tampinhas ou 10 selos + 10 reais e troque pelo bonequinho filme tal. Não sei em que ponto da história entrou esta história do dinheiro. Poxa, assim não é promoção! Eu estou comprando um boneco e levando selos para os caras verem que andei bebendo determinado refrigerante.
Não me assusto se um dia encontrar “junte 20 tampinhas ou 10 selos + 10 reais, peça com educação, aguarde o sorteio e, sendo contemplado, troque pelo bonequinho filme tal.

Mas mesquinha mesmo é TV por assinatura. Quem tem Sky sabe disso. Aquele papo de compre o Brasileirão é uma maneira de te fazer engolir um monte de jogos que não te interessam (pode comprar o jogo isolado, mas custa o quase o preço de 50% de ações da empresa). Os filmes que te oferecem são aquele que já estão esquentando lugar na locadora há meses... e o pacote de filmes pelo que você paga a mais passa os filmes que Globo já exibiu umas 10 vezes na sessão da tarde. Ah sim.... e ainda enchem de propaganda nos intervalos das séries. Os caras ganham com o pagamento da assinatura, com a exibição de velharia quase custo zero e com os pacotes de jogos em venda casada que te empurram goela abaixo e ainda ficam repetindo a propaganda do NISSAN Tida e do Palio Adventure o tempo todo. 

Morte aos New Mesquinhos...Eu quero é trocar tampinhas por brindes sem dar dinheiro em troca, assistir só aos jogos do meu time e ver Simpsons sem comerciais de carro...


É... o mundo ficou muito mais mesquinho.

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Olimpíadas – a civilidade do combate

Jogos surgiram como metáfora da guerra. Na antiguidade, provávamos que éramos superiores ao outro matando, saqueando e violentando suas mulheres. Em determinado ponto, os gregos, que eram os mais cabeças da época, acharam que esse negócio não estava legal e que estava perdendo a graça. Criaram as Olimpíadas.
Nesse momento, paravam as guerras, as disputas sangrentas, dava-se recesso ao poder judiciário, ao legislativo e os homens disputavam quem jogava um dardo mais longe, quem corria mais, quem pulava mais alto, quem aguentava mais tempo correndo, quem lutava fisicamente melhor, quem era mais forte. Afinal, essas eram habilidades imprescindíveis para os guerreiros.
No fundo, era uma maneira de dizer: "Ó, faz graça com a gente não que neguim aqui corre para caramba, é bom de mira, briga bem e ainda acerta um pedrulho longe para caramba..." Uma sutil intimidação.Mas faltava sangue nisso tudo e a população, superado o período de novidade, enjoou dos jogos e voltou a guerrear.Foi aí que, mais de 15 séculos depois, o Barão de Coubertain, observou que a Europa era o lugar ideal para trazer a idéia dos gregos à tona. Resolveu ressuscitar a tradição na era moderna e relançou as Olimpíadas, mas dessa vez com patrocínio e cobertura de imprensa.O ser humano trouxe de volta a disputa saudável e ainda inseriu outras modalidades como a marcha atlética, aqueles cara que caminham rapidinho com as pernas juntinhas meio que rebolando... Não consigo imaginar em que isso torna um exército mais forte ou respeitado. Mas tudo bem... é invenção moderna.Se bem que imagino que a marcha atlética era uma maneira estratégica de matar os inimigos de rir. Os soldados vinham naquele passinho de perna presa e, quando chegavam ao local, paravam, colocavam a mão na cintura e diziam:- Aí gente, tô acabada, biba!Os inimigos não entendiam nada e eram atingidos por petecas (badmington)... Outra modalidade que me deixa intrigado que graça tem e que sentido faz. Mas enfim,...O espírito Olímpico é isso, fazemos uso de nossa civilidade ao comprovar, sem usar sangue, que somos mais fortes, mais ágeis, mais resistentes... e até mais fresquinhos, leves e faceiros, por que não?Quem foi que disse que isso é defeito?
Em tempo:
Acho marcha atlética um negócio muito esquisito... Parece que um cara chegou e gritou: Gente, se joga! liquidação de necessaire e pochette cor de rosa...! Corre!

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Minhas queridas lendas urbanas


Sem saudosismo da aurora da minha vida (ao estilo de Bilac), mas sabe que, em face ao que tenho visto no novo universo de lendas urbanas, sinto uma ponta de nostalgia. Tempos em que tínhamos medo da loira do banheiro.
- O quê? Você nunca ouviu falar da loira de branco que aparecia no banheiro da escola? Tinha sempre um colega do vizinho do primo de alguém que deu de cara com ela.

Sempre achei que ela fosse parente de uma outra loira que dançou a noite toda com um cara e quando ele a levou para casa... Pasmem: ela morava no cemitério... brrr Caramba! Desse cara nunca mais se obteve notícias... Como ficaram sabendo da história então? Isso é a outra parte do mistério.
Na cidade onde nasci, os mais antigos juravam que um tal seu fulano, filho de dona sicrana, há muito tempo atrás fez pacto com o tinhoso e, nas noites de lua cheia, virava lobisomem. Tem até quem o visse com fio de roupa de vítima preso no dente durante o dia enquanto exibia sua aparência pálida, magra e soturna. Tudo isso somado aos maus hábitos de higiene bucal, é claro.
Na minha adolescência, dezenas de pessoas juravam que o disco da Xuxa, quando ouvido em um volume alto, ao contrário trazia palavras de adoração ao diabo. Nossa, a loirinha fez um pacto com o cão... por isso aquele sucesso todo! Huummm fazia sentido... Eu mesmo, quando a ouvi cantando Ilariê sentia um desejo incontrolável para mandá-la para o os quintos dos infernos... Deve ser isso então. Explicado. E o boneco do Fofão que trazia um punhal para rituais satânicos dentro dele: uma espécie de kit para magia negra. Quantos bonecos do fofão não foram destroçados só para saber se havia o tal punhal.
Eu nunca vi um desses, mas soube do primo de um colega do vizinho de um colega de sala meu que pegou o punhal e ficou transtornado, possuído. Por precaução, eu e um amigo deixamos o Fofão da irmã dele intacto. Não se brinca com essas coisas.
Hoje, temos os catadores de órgãos, os injetores de vírus, os perfumadores loucos, os vendedores de órgão de criancinhas que andam em Kombis, sem falar na nas apavorantes correntes de internet...
Sei lá... o pessoal pega pesado hoje.
Eu queria mesmo era um mega embate: um molequinho transtornado com o punhal do Fofão com a Loira do banheiro... assim, transmitido pela ESPN e pela Sport TV.
Direto do Banheiro da escola.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Hipocrisia, cigarros e outras coisas

Sempre achei que a hipocrisia é um bem social.
Proibimos a maconha, liberamos o cigarro, condenamos a cocaína, aceitamos o álcool. Achamos até engraçado um personagem humorístico que cai pelos cantos e fala besteiras fazendo piadas com a própria desgraça (não a do ator, mas a do personagem). O ministério da justiça reclassifica a novela porque aparece uma moça seminua dançando numa boate às 21 horas. Enquanto isso, o senado libera um senador que comprou empresas usando laranjas, dinheiro sujo, pagou uma amante (aliás, com quem teve uma filha) com dinheiro de empreiteiro e isso passa no jornal das 13 horas.
Não defendo a liberação das drogas, mas a questão é pensar: o que faz o álcool menos droga do que a cocaína e o que faz o cigarro menos droga do que a maconha? Talvez dados técnicos apresentem distinções, mas essas se contrastam com a realidade de que o cigarro e a bebida são muito mais socialmente nocivas do que os seus concorrentes vendidos nas bocas de fumo dos morros (e, hoje, até por playboys de classe média).
Mas, seguindo assim, punindo os peitinhos na TV, liberando as putarias dos políticos não vejo muito perspectiva para aposentar a falsidade (ou pelo menos, dar umas férias sem vencimento para ela). Achando normal o garotinho de 15 anos com o cigarro no dedo que chega a casa bêbado depois da balada e se horrorizando com os garotos de zona sul preso com drogas seguimos rumo ao nada, ou pior, ao tudo de ruim.
Não tenho esperança de que as coisas mudem muito com a liberação das drogas ou mesmo com a proibição do álcool. Acho que tudo demanda uma reformulação de mentalidade que terá como fim tirar nosso rosto de trás dessa máscara chamada HIPOCRISIA.
Certa vez, quando eu dava aulas em ensino médio em uma escola da rede privada, lá pelos idos de 1999, uma vez me vi no meio de uma roda de alunos de 1º ano que contavam sobre um churrasco. A conversa descambou para porres homéricos (papo comum nessa idade). Daí, começaram a relatar os porres de seus pais. Um deles disse:

Caraca, maluco, aí quando eu vi, meu velho tava todo vomitado no churrasco da minha tia. Levamos o cara para o chuveiro e demos um banho daqueles... caraca, maluco. Muita doideira.

Imaginei-me naquela situação, jamais vivida por mim, com meu pai e deprimi só de pensar. Esse fato narrado vindo de um adolescente é normal, pois a idade prima por pouco senso crítico, mas essa atitude vinda de um pai dispensa comentários e se torna autoexplicativa para o que vemos.
Ave, hipocrisia!

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Deixa ver se eu entendi...

Dúvidas 1
Eu pago imposto, o governo pega o meu dinheiro para construir uma estrada, constrói. Pronto, até aqui tudo bem. Aí, ele cede a concessão para uma empresa particular, eu continuo pagando imposto. Bom, até aqui foi. E aí, a empresa cobra para eu usar uma coisa pela qual já paguei e continuo pagando. Certo? É. Acho que eu entendi. Só não achei bacana.

Mas entendi.

Dúvidas 2
Bom, eu posso abater meus gastos com saúde no Imposto de Renda. Aí eu vou ao médico, ele me cobra 80 reais de consulta. Saio de lá com uma lista de remédios. Legal, acho que até aqui deu para acompanhar. Vou a uma farmácia, compro os remédios e gasto 450 reais. Tudo bem?! Bem, aí eu só posso abater os 80 já que os 450 não são vistos como despesas médicas, gastos com saúde. Huuummm... Entendi de novo, mas continuo não gostando.

Dúvidas 3
O problema é o número de reprovações no ensino fundamental na rede pública, certo? Bom, aí o governo aprova uma lei que proíbe reprovar. Ok, até aqui foi. Aí, uma vez que não se pode reprovar, todos são aprovados... É isso mesmo? Bem, então, acabou o problema com alunos reprovados no ensino público. Certo?



P.S.: Cansei de entender. Estou começando a preferir a ignorância.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Coisas nossas, falas nossas


Manias esquisitas dos falantes de português

Somos a terra dos falantes HIPERBÓLICOS. Aqui, as pessoas falam que isso ou aquilo é a oitava maravilha (na verdade só havia até ano passado 7), morremos de fome e continuamos vivos e ficamos carecas por saber algo durante muito tempo e, às vezes, ainda temos cabelo (menos eu, claro)
Mas o mais engraçado é o caso da frase “concordo com você em gênero, número e grau.” Pois é. Gênero e número, tudo bem. Mas GRAU. Bom, aí vai uma aula de graça:

Ao contrário do que trazem algumas gramáticas, grau é mais uma derivação ou como chama MATTOSO, uma derivação é voluntária (derivatio voluntaria). As pessoas flexionam porque querem, não porque “tem que”. A concordância se dá efetivamente com as flexões, não necessariamente com as derivações.

Dessa forma, concordar com o grau é um extremo mesmo, uma hipérbole (um exagero). Corresponderia a dizer:

Um caderninho pequeninho minúsculo

Esquisito, mas expressivo!

Obs.: Acho que a moça da foto exagerou na maquiagem...

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Curtas histórias II - O mal que carrego em mim

Naquele empresa, todos buscavam o sucesso a qualquer custo. Cargos, gratificações, e até quem sabe, um prédio que levasse seu nome como homenagem em vida. Afinal, não se esperaria a morte, pois a vaidade tem que ser alimentada em vida. A morte cessa sua fome, ou a faz vã.
Ele destoava daquele teatro. Não conseguia lutar por cargos, gratificações, honrarias. Sua vaidade já era nutrida pela satisfação plena de ser como se é e não como o meio o queria. Entretanto, o seu modo de ser incomodava e não tardou para que articulassem sua expulsão, afinal, todo o seu desinteresse era a maior manifestação da "soberba de sua humildade". Pois, então, depois de fazerem de sua vida algo perto do inferno por um tempo, eles o expulsaram.
Na saída, contemplavam satisfeitos os passos do homem que se afastava alongando sua sombra. No coração não carregava ódio pelo mal que lhe fizeram, mas a certeza de que saíra como entrara e não caberia rancor contra aqueles que estavam eternamente condenados a serem o que eram.

Moral da história: Não é ruim o mal que fazem conosco, ruim é o que deixamos que esse mal nos faça. Aquele que cultiva a maldade carrega consigo a maior punição que se pode impingir a um espírito: ser o que ele é até o fim dos dias. 

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Curtas histórias I - O sinal

Agonizava o bandido com o tiro que recebera. Buscou no bolso da calça o celular com as fotos afetivas que guardava. Sua história estava ali. Teclou com suas últimas forças e clicou no arquivo de foto como que guiado por algo maior e além de sua compreensão. Abriu aleatoriamente as fotos na primeira pasta que tocou. Suas mãos eram guiadas por uma força incompreensível naquele momento.
Apareceu na tela uma foto feita na semana anterior de uma etiqueta de preço de uma prateleira de desinfetante no supermercado. Havia tirado para comparar preço. Clicou de novo. Abriu uma foto de um prego que havia entrado no pneu do carro que havia tirado para mostrar aos amigos o estrago. Não desistiu. Sentia-se guiado por uma presença suprema e abriu outra. A terceira vez seria a marcação da santíssima trindade, o sinal divino. Era nessa tentativa que sua mão lhe guiava. Então surge a sua frente um nude de peitinhos de fora de uma garota que lhe passaram pelo Whatsapp no dia anterior.
... Pensou...

Aquilo era de fato um sinal presente a primeira mensagem: a vida não tem preço e a morte é a grande limpeza da alma.
Suspirou e desprendeu-se do corpo físico rumo ao desconhecido.

Moral da história: Quando a gente quer entender o que desejamos entender, urubu é pomba da paz.

domingo, 27 de março de 2016

Aviso desnecessário

Outro dia vi um daqueles mágicos que fazem e explicam a mágica (êta coisa sem graça!) fazer um truque em que havia uma caixa no meio de duas rampas. De um lado havia uma serra circular de uns 120 cm de diâmetro, de outro, outra serra do mesmo porte. À frente, havia um grande maçarico e, em cima, uma bigorna. O cara entraria na caixa, as serras desceriam dos lados, a bigorna cairia e o maçarico queimaria as laterais mostrando o mágico que não teria sofrido nada.
Antes de começar o truque, o locutor avisou:
- Não tentem fazer isso em casa!

Um aviso muito prudente e bem apropriado, já que a coisa mais comum é uma pessoa ter em casa, duas serras circulares de 120 cm de diâmetro, um maçarico, uma bigorna, duas rampas e uma caixa de madeira do tamanho de uma geladeira...
Eu, por exemplo, guardo essas minhas coisas sempre longe do alcance das crianças, perto dos remédios e dos produtos de limpeza.