segunda-feira, 27 de abril de 2009

Blogue é gênero textual?

Um dia, um aluno, durante a aula, indagou-me de sopetão:
- professor, blogue pode ser considerado um gênero textual?

Pensei, pensei e lembrei que quanto mais a gente estuda mais a gente tem dúvida e mais a gente inveja o paraíso dos ignorantes, onde todas as certezas são achadas em cada esquina ou vendidas em portinhas de beira de rua.
Bem.. comecei. Minha área não é lingüística textual, mas com o que tenho observado acho que podemos começar a entender como um gênero textual caracterizado por uma série mecanismos que o tornam único. E daí saiu uma daquelas conversas que desviam aula e te dá a sensação que o aluno está tentando fazer você deixar a sintaxe descritiva para o lado e trazer a prosa para um outro rumo. Mas aceitei o fio daquela meada e engatei no assunto.
O texto do blogue pede a dinâmica da comunicacão na internet e todos os excessos, como já disse alguma vez por aqui, estragam-no. Esse texto possui um tamanho que, quando grande, extrapola alguns cliques abaixo da tela que o usuário tem na frente; a linguagem é rápida e pede pouco auxílio de dicionário e quando precisamos disso, colocamos o texto em hipertexto para a wikipédia ou outro site; os temas devem ser fugazes, mas não, fúteis e, quando transbordam erudição e hermeticismo, o leitor foge, pois ainda estamos longe do hábito de ler em tela de computador. O blogue é a literatura do free lancer, o espaço da livre expressão gratuita.
O espaço do direito de se manifestar, seja você doutor ou miguxo(a), mas isso não implica que você será lido ou admirado, pois os outros exercem o direito inalienável de ignorá-lo solenemente.

Blogue não é um jornal eletrônico ou um livro em capítulos on line, blogue é, enfim,.. um blogue. E ainda há muito para se discutir do que vem a ser isso.


O meu amigo Wander me disse, certa vez, que só quem lê blogue é blogueiro. Acho que, em parte ele tem razão, e só se poderá começar a desenhar o gênero textual blogue quando superarmos esta fronteira da tela do computador.


domingo, 19 de abril de 2009

A sublime arte de ouvir

A vida nos dá grandes lições e a maior delas são aquelas que têm como protagonistas os outros e não nos mesmos. Como em um filme, assistimos aos erros alheios e, se atentos formos, aprendemos como agir ou, melhor ainda, como não agir. Já vi quedas de onipotentes que, cegos por suas certezas, tropeçaram nas pernas.

As grandes lições que tirei da minha vivência em ambientes corporativos é que cada vez temos mais chefes e menos líderes. Ao líder é inerente o culto ao "ouvir", mas ao chefe, a cegueira da própria vaidade faz com seus ouvidos se lacrem e o único som que lhe chegue é o que já está dentro de sua cabeça. Sabe que, por isso, há alguns anos abdiquei do desejo de falar com pessoas que não querem ouvir. Diante delas, eu ouço, coloco o cérebro no piloto automático e sigo em frente.

É necessário ouvir para concordar e discordar, para entender e até mesmo não entender, para gostar ou detestar. Entretanto, na ânsia de falar ou de impor o que temos a certeza de que é o certo, esquecemos que o certo é não impor, mas compartilhar a decisão para vermos se ela está correta. Em cargos de comando, a maioria das pessoas se nega a ver que, na vida, nunca somos, só estamos. E vivemos como se fôssemos... assim, para sempre. Mas não somos. 

Um retrato dessa falta de "ouvintes" é que, ao abrirmos um jornal vemos cursos de oratória, como falar, como impostar a voz, como ser eloquente, mas nunca vemos um curso de "como ouvir bem", "o que devemos prestar atenção quando falam conosco", uma espécie de arte "auditória". 

E, assim, seguimos, falando, falando, falando... e, às vezes, ouvindo em um mundo em que a natureza já nos proveu sabiamente de uma boca e dois ouvidos, para que fizéssemos uso mais destes do que daquela.

Em tempo:
Constatação aos 37: Na minha vida obtive mais benefícios quando ouvi do que quando me aventurei a falar quando devia, somente, ouvir.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Das coisas e da medida das coisas.

O excesso de trabalho tem me afastado do blogue, mas eis me aqui para ponderar sobre algo que, sinceramente, não entendo. Serão necessários alguns milhares de anos de Taoísmo, como na China, para podermos entender com a experiência que o caminho do meio é o caminho mais adequado? Lembro da Heloisa Helena em sua histeria eleitoral gritando que para ela tinha que ser quente ou frio, pois morno, ela vomitava... (Semprei imaginei se ela teria essa mesma postura diante de um café daquele que deixa nossa língua estufadinha de queimada.)
Mas sabe que, como diz meu tio, “nem muito nem pouco, bom mesmo é mais ou menos”. Há coisas na vida que pedem o “mais ou menos”. Toda vez que excedemos e desviamos do caminho do meio, caímos no absurdo das coisas e falta de medida das coisas. Um dia, o cara acorda e decide que não vai mais comer nenhuma carne, o outro decide parar de comer açúcar, mais um outro decide que não vai mais comer nada, o outro sugere respirar pouco porque o oxigênio desencadeia a oxidação das células... E um decide que bom mesmo é se alimentar de luz, ter um nome indiano e fazer figuração na Novela da Glória Peres. Se cuida, Márcio Garcia.
Vida é ter tudo de bom, vida é abrir mão de tudo porque isso é ser bom. Será?
Tenho medo dos extremos. Até porque, um dia, dizem que açúcar faz mal, no outro, que é uma fonte de saúde; hoje, apontam o ovo como vilão capaz de matar, amanhã, como herói da nutrição. Aí, dizem que comer pouco é bom, para, logo em seguida, dizerem que bom mesmo é comer bastante. Dos vícios às virtudes, que se encare tudo inspirado num rótulo de cerveja e se aprecie com moderação.  
Tudo isso, porque no fundo, saímos do equilíbrio nas nossas vidas e esquecemos que nem muito nem pouco, em se tratando da maioria coisas, bom mesmo é mais ou menos. 
O meu tio e a simplificação do Taoísmo... Sempre adorei esse poder de síntese dele.


segunda-feira, 30 de março de 2009

Guia prático de cinema em tempos de twitter

A idéia é resumir em no máximo 3 linhas o resumo do filme. Sem rodeios, sem frescuras... um guia voltado para quem quer saber mais de cinema, mas não tem saco com os bonequinhos de O Globo.

Titanic
Um cara e uma mulher numa historinha de amor melada e um barco que afunda no final e já sabíamos disso no início.
Justificar
Velozes e furiosos Vários caras tatuados, carros possantes e alguém querendo vingar algo. Diálogos e os atores são pano de fundo para os carros possantes.

Jogos mortais Um cara psicopata que "se acha" e sai fazendo justiça torturando com criatividade todo mundo que ele acha que não presta. Do lado de cá da tela, um monte de cara semi-psicopata achando que os torturados merecem aquilo.

Menino da porteira
Uma música, o Daniel cantando e um menininho que morre atropelado por um boi no final. E também já sabíamos disso, pois conhecíamos a música. Ah sim.. o menino pulava quando ganhava moedas no filme também.

P.S.:Quando lançarem o filme “Filho adotivo”, o velho pai irá pra um asilo e quem vai ampará-lo será o filho adotivo e não os outros seis f**ilhos da p***uta que eram filhos legítimos. Isso porque já conhecemos a música também.

Didi e X (preencha como quiser)
Renato Aragão usando ternos com ombreiras imensas e falando Cuma, Cuma, Cuma.... e dizendo meu nome é Didi Mocó Sonrisal Colesterol Novalgina.... ! Mais o quê? Você ainda pergunta isso?

Rocky, o lutador
Um lutador branco que dá uma surra num lutador negão americano. Apanha para caramba no início, quase desiste e, no fim, compensa sua frustração ariana de ser freguês e tomar surras homéricas dos afrodescendentes desde que inventaram o boxe.

Atração fatal Um cara trai a mulher e tem seu coelho cozido como uma espécie de ameaça a ele. Produto da ética puritana. Só escolheram mal.. Gleen Close como amante não vale o risco.

Proposta indecente
$ 1.000.000 de dólares para ir para cama com a Demi Moore. Sinceramente, não esta valendo isso tudo não. Mas os caras precisavam ter um mote para discutir até onde vai a fidelidade.

Assédio sexual Demi Moore (olha ela de novo!) assedia um cara e o força a ter relações com ela usando seu posto hierárquico na empresa. Mas por que a Demi Moore...? Ser assediado por ela é mole. Queria ver é ser assediado Wesley Snipe que não aceita que você não seja gay e quer sodomizá-lo.... à força.

E isso aí.. Em tempos de TWITTER, dê sua contribuição. Ajude a resumir roteiros e facilitar a vida daqueles que sofrem de preguiça de assistir filme, ler jornal, ler revista....
Só ficam twitando por aí...


quarta-feira, 25 de março de 2009

Números e fatos: apologia à dúvida

A vida me deu mais dúvidas do que certezas e, quando vejo alguém amparado em tanta certeza ao falar alguma coisa, eu sinto até, por que não, uma ponta de inveja. Certeza de quem fez o universo, certeza de que um problema complexo pode ter soluções simples, certeza de que alguém é incapaz de fazer algo, certeza de que amanhã vai ser outro dia... e eu vou estar lá. Tem certeza? Eu tive um amigo que dizia que só os tolos têm certeza e disso ele tinha certeza.. nunca mais me esqueci desse jogo de idéias que ele fazia. Acho que ele está certo, mas só acho. Não sei se tenho certeza disso.
Pois sim. Cresci em uma geração que aprendeu a associar a violência ao meio e através disso tentou-se justificar toda barbárie em nome de uma sociedade que fez o bandido ser o que ele é. Há a inversão dos papéis e o indivíduo que toma um tiro na cabeça em um sinal é o culpado disso, pois não deu oportunidade ao pivete que empunhava a arma. O moleque sem oportunidades só fez isso porque não lhe ofereceram outro caminho na vida que lhe deram. Na favelas não há opção de vida melhor.
O fato é que uma favela como a Rocinha possui aproximadamente 200 mil pessoas e, segundo estimativas, 22% vivendo em situação de miséria, ou seja 44 mil pessoas. Em atividades ligadas ao tráfico diretamente, não existem mais do que 200 pessoas que controlam a venda de drogas no local, ou seja, menos de 0,23% dos miseráveis e menos de 0,05 da população total se dedicam ao crime. Se o meio é responsável pela decisão (ou falta de de opção) do indivíduo entrar no mundo da criminalidade, fica a dúvida:

"Por que existe uma população de 99, 95% local que trabalha, paga impostos e sofre com a violência da mesma maneira que os outros?" Se todos vivem no mesmo, meio por que não temos pelo menos 50% de bandidos numa favela?

Os argumentos sociológicos são belos, mas esbarram em números e me dão cada dia menos certeza... Eu queria ter certezas...

Há que se oferecer oportunidades a todos, mas, enquanto isso não vem, não adianta ficar buscando explicações para o que não se resume a tão pouco.

domingo, 22 de março de 2009

A crise e o efeito manada... o que é fato e o que é boato.

Entendendo parte da história...

O empresariado trabalha sobre projeções de demanda do produto ou serviço que ele oferece e faz o seu investimento e planos de crescimento em cima disso. É como se dirigíssemos um carro sempre pensando no que vamos fazer exatamente nos próximos 6 quilômetros... calculando, imaginando trajetórias, avaliando o desgaste do veículo, analisando o tempo de percurso... e vai por aí. Se você tivesse uma informação (falsa ou verdadeira. Você não sabe) de que há uma barreira logo nos quilômetros seguintes, o que você faria? Certamente, reduziria a velocidade e aumentaria a sua cautela, certo?

Partindo disso, quer tentar entender a crise atual? Parte dela é real, a outra parte é correria porque, um dia, alguém ouviu alguém gritar corre, olha o touro solto... todo mundo correu e ninguém ainda olhou para trás para ver o tamanho do touro.. mas uns juram que já ouviram o som dos passos dele... E pelo jeito seria um dos grandes.. outros dizem que nem tanto...

Mas, por via das dúvidas..
Então.. Coooorree!!! Olha o touro solto!


quarta-feira, 18 de março de 2009

Argumento e contra-argumento



Em uma roda de discussões de homens, há sempre os que apelam para argumentos fortes de que Deus realmente existe....



Mas sempre existe um ateu (do contra) para rebater o que parecia irrefutável.



E segue o impasse, paraíso dos agnósticos.

domingo, 15 de março de 2009

Os culpados são sempre os outros

[na faculdade, na escola... e em outros lugares]

Se atrasei a entrega, é porque não me disseram o que fazer.
E se eu atrasei é porque tive uns problemas, sabe como é?
Se não ficou bom, foi porque não entenderam a minha proposta.
Ou não me explicaram direito, não me orientaram da maneira correta.
Eu fiz de tudo.
Se faltei aos encontros do grupo, é porque tive um compromisso, não pude desmarcar a tempo,
mas fiz o que foi pedido.
Se não deu para entregar, putz, aconteceu um problemaço.
Se eu me enrolei com os prazos, é porque eu tenho outros trabalhos a fazer.
Se alegam que eu tinha um ano para fazer, digo que um ano passa voando e quando vi... já foi.
Não foi cópia da internet o meu trabalho, foi aproveitamento de conteúdo pré-produzido.
Eu não queria copiar, só queria que o professor visse se aquele material era bom para o meu trabalho. Só tirei o nome do autor por distração minha.
E se tem uma coisa que agradeço todos os dias, é que para tudo há sempre culpados e um desses culpados, felizmente, nunca sou eu, são sempre os outros.

Ah “os outros”, parem de atrapalhar minha vida!

terça-feira, 10 de março de 2009

Papo de BBB... Nada com nada.

Não dá para fugir desse assunto em algum momento. Outro dia eu presenciei uma conversar entre os heróis do Bial, dos Brothers e confesso que depois de quase vinte anos de estudos, ensino e pesquisa na área de linguagem, eu jamais havia conteúdo de tamanha profundidade. Priscila (futura "Brasileirinhas") e uma outra chamada Fran, discutiam a atitude de uma sister, heroína do Bial (Bial anda mal de heroína... Bial anda viciado em heróina. Que droga!).

- Ah.. aí ela falou , pó sei lá.
- É nada a ver...
- O cara ta lá, assim, meio de páaa (sic)...
- É. Putz, mó (sic) falsa... caraca
- Ai eu falei pá, nada a ver.. sei lá fica falando assim.
- Pó. Só é, mó (sic) dissimulada (nota: gastou vocabulário aqui. Vai fazer falta um dia).
- É sei lá nada a ver, fazendo joguinho...
- Caraca. Só é.. sei lá.. nada a ver
- Eu sou assim... se eu gosto eu gosto mesmo, se eu não gosto, não gosto..
- Putz. Também... só. Nada a ver.
(e a conversa prosseguiu assim por uns 3 minutos mais ou menos)

Depois disso tudo, eu penso:
"Caraca, sei lá, nada a ver.... e digo mais, sei lá nada a ver, mil coisas..."
Tenho dito.