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terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Psicologia da culpa - a tragédia do Sul

Ontem, minha esposa comentou comigo que deveria ser imenso o sentimento de culpa que as pessoas que se envolveram na tragédia de Santa Maria deveriam estar sentindo. A seguir, na TV, vinham notas de todas as partes (prefeitura, empresários, pessoas da organização do evento, os caras da banda etc..) repassando a culpa um para o outro e buscando justificativas para isentá-los de qualquer responsabilidade. 
Pois é isso. A culpa é um sentimento secundário. O que prevalece no primeiro momento é o instinto de autopreservação. É o famoso tirar o corpo fora uma vez que estar associado a essa tragédia é uma mancha para o resto da vida e a punição poderá ser dura dada a repercussão mundial do fato. 
Primeiro busca-se a isenção do envolvimento com a tragédia de todas as maneiras legais (e até ilegais) e posteriormente, algumas (e não muitas) pessoas sentem o sentimento de culpa. Eu disse algumas, pois a maioria acaba se convencendo de que foi uma fatalidade que aconteceu com ele, mas que poderia ter acontecido com outro em qualquer lugar e que tudo que ele poderia fazer ele fez. 
E esse raciocínio costuma a amenizar qualquer sentimento de culpa pois, de fato, culpar-se a vida toda por uma fato ocorrido ajuda pouco a resolver o problema. Na verdade, só piora. E munidas todas as partes de bons advogados de defesa, que com certeza não tiveram seus filhos ou entes queridos mortos no incêndio da boate Kiss, eles sairão pela porta da frente e os grandes culpados serão penalizados exemplarmente pela justiça: 

...o porteiro, o homem que vendia amendoim e o servente da boate.

Esses sim... malditos criminosos desalmados que devem pagar por seus delitos!

domingo, 15 de março de 2009

Os culpados são sempre os outros

[na faculdade, na escola... e em outros lugares]

Se atrasei a entrega, é porque não me disseram o que fazer.
E se eu atrasei é porque tive uns problemas, sabe como é?
Se não ficou bom, foi porque não entenderam a minha proposta.
Ou não me explicaram direito, não me orientaram da maneira correta.
Eu fiz de tudo.
Se faltei aos encontros do grupo, é porque tive um compromisso, não pude desmarcar a tempo,
mas fiz o que foi pedido.
Se não deu para entregar, putz, aconteceu um problemaço.
Se eu me enrolei com os prazos, é porque eu tenho outros trabalhos a fazer.
Se alegam que eu tinha um ano para fazer, digo que um ano passa voando e quando vi... já foi.
Não foi cópia da internet o meu trabalho, foi aproveitamento de conteúdo pré-produzido.
Eu não queria copiar, só queria que o professor visse se aquele material era bom para o meu trabalho. Só tirei o nome do autor por distração minha.
E se tem uma coisa que agradeço todos os dias, é que para tudo há sempre culpados e um desses culpados, felizmente, nunca sou eu, são sempre os outros.

Ah “os outros”, parem de atrapalhar minha vida!

sábado, 2 de agosto de 2008

Tá, mas não fui eu... a culpa tácita

Há situações na vida que nos impingem uma culpa que nem o melhor dos advogados é capaz de nos tirar. É a culpa tácita. Aquela em que ninguém nos aponta o dedo e diz: foi você, mas aquela em que todos o olham de soslaio com cara de “foi você, hein” Dessa acusação tácita não temos como fugir e qualquer defesa prévia soa como reconhecimento de culpa. Aqui o tal do habeas corpus preventivo é o mesmo que uma confissão.
Veja só...
Você entra no ônibus, no meio da viagem dá um aperto danado, você precisa ir ao banheiro, mas é só um xixi. Você está apertadíssimo e sentado na janela na primeira fileira de poltronas. O caminho é longo e você decide marchar por entre as poltronas até o quartinho dos fundos do ônibus.
Apesar de desviar-se dos olhares, percebe que todos o observam com cara de "olha lá,lá vai o cagão” Você sabe que eles estão pensando e tem vontade de gritar: "gente, é só um xixi! Manda alguém para me acompanhar e só isso mesmo! Fiquem tranqüilos. Todos sairemos bem daqui."
Quando chega lá, está saindo do banheiro com cara de assustada aquele gatinha linda que está sentada logo atrás de você. Ela sorri sem graça e lhe saúda com um leve acenar de cabeça.
Ao entrar no banheiro, você constata que aquele gatinha tinha aparência de princesa, mas intestinos de um ogro e deixou algo à sua espera. Pronto. Se você sair todos vão pensar que foi você. Afinal, aquela coisa linda.. ah... não, nem pensar! Você faz um xixi balançando com o movimento do ônibus enquanto respira sofregamente pela boca.
Ao abrir a porta do banheiro, todos o olham com um ódio mortal. Você e o maníaco do parque são dignos da mesma pena. Uma velhinha que caminhava para o banheiro desiste no trajeto, uma criança que dizia que queria fazer xixi, muda de idéia subitamente. E você caminha até sua poltrona sob as acusações tácitas. A mocinha ceramista agora dorme com menos 2 Kg de peso (só falta um adesivo QUER PERDER PESO? PERGUNTE-ME COMO) e você caminha com 200 Kg de ira e revolta sobre você.
Vai explicar o quê?
Dessa, nenhum advogado te livra.
Sentado na sua poltrona você pensa resignado: cagona desgraçada!

sábado, 23 de fevereiro de 2008

TELELIGADOS - a culpa é da TV


O mundo moderno nos torna escravos dos confortos da tecnologia. Ficamos muito irritados quando, por exemplo, a luz vai embora subitamente e nos deixa sem suas benesses.
Naquela família, o horário da novela era sagrado, ou melhor dizendo, das novelas. Todos se reuniam em frente a mágica caixa de luzes e ficavam extasiados com os dramas mexicanos de Aluísio Rogério, Augusto Fernando, Carla Patrícia, Sílvia Isadora e outros nomes duplos de gostos, sonoridade e combinação duvidosos.
Na novela das seis, a família vibrava entretendo-se com o drama de uma moça rica que sonhava com o verdadeiro amor, mas se via obrigada a casar contra seu gosto com um rapaz escolhido por seu pai. Na das sete, uma moça pobre que se apaixona por um rapaz rico, mas a família do rapaz não deixa e sofre ao descobrir que ele tem uma terrível doença, um castigo de Deus. Na das oito, vemos amores proibidos, arrivismo, terríveis doenças, vingança e o bandido sempre se dando mal no fim da história. Ufa ! Ainda bem !
No último capítulo da novela “Aqui se faz, aqui se paga”, todos já estavam na frente do aparelho. Meus Deus, só faltam alguns comerciais para saber se Eugênia Ricarda vai conseguir se casar com Alex Dagoberto Junqueira Paiva III, o herdeiro do grupo Junqueira Paiva, um imenso complexo industrial que produz laxantes e fraldas descartáveis.
Como a espera me angustia !
Mas o destino é um grande pregador de peças e faz das suas. Quando entra a chamada... a luz vai embora. Imprecações soam pela sala. A família está irada com a situação. Telefonam insistentemente para a companhia de luz, mas de nada adianta o chilique coletivo. A pane foi na cidade toda.
O bom senso surge quando em meio a escuridão alguém acende uma vela. Eles se olham um pouco que assustados um para o outro e descobrem que em muitos anos nunca haviam se visto por ali àquela hora da noite.


“Ué, mãe ! Você por aqui ? “
“Querida ! Eu não te via por aqui desde...”
“Amor proibido, 1968 ?”
“Não. Muito antes. Desde o Direito de ser feliz, 1664”
“Nós nos vimos meio de passagem em A honra de minha filha, 1972”
“Foi tudo tão rápido que pensei ser uma miragem ou algo parecido.”
“O que você faz aqui ?”
“Vejo televisão !”
“Ó ! Eu também.”
Os filhos se olharam, perceberam o clima de namoro entre os dois e discretamente retiraram-se da sala.
“Você não mudou nada estes anos todos. Na verdade está cada vez mais linda.”
Ela respondeu com um sorriso e as duas mãos se tocaram sobre o sofá. Um calor percorreu-lhes o corpo e um arrepio eriçou-lhes os finos pêlos do braço. Uma longa conversa se iniciou e falavam animadamente sobre seus gostos, seus projetos, seus anseios e temores àquela hora da noite.
O doce idílio prolongou-se durante muitos minutos e combinaram se encontrar para saírem ou ficarem por ali mesmo.
“O que você sugere ?”
“Não sei. O que você quiser eu topo. Com você tudo é fantástico.”
E se beijaram à luz das velas.
“Que tal se a gente fosse jantar fora, ao cinema, sei lá qualquer lugar só nosso, hein...” Sorriu fazendo-se entender rápido.
“É ... Quanto tempo ...!” Suspirou ela.
“Ou então, que tal ... a gente... aqui mesmo...” Risadas contidas.
“Seu bobo e as crianças ? Ficou doidinho ?” Mais risadas.
“É... aqui mesmo. A gente até que podia...”
Mas neste meio tempo a luz volta e gritam quase que em uníssono:
“Ver televisão !”
Ligam a TV imediatamente, os filhos voltam pra sala.
“Ufa ! Estava doida pra saber se o rapaz ( como é o nome dele mesmo ? ) ia se casar com aquela moça do comercial de shampoo. “
“Vai. É claro !”
“Como é que você sabe ?”
“Li no jornal.”
“Puxa ! Perdeu a graça.”
“É.. Vamos fazer uma coisa diferente ?” Risinhos marotos novamente.
“Meu filho, troca de canal ?”
E discretamente ele sussura no ouvido da mulher fazendo-a se arrepiar todinha:
“Adoro este sistema de TV a cabo por assinatura”
”Ai, seu bobinho ! Olha as crianças na sala. Comporte-se !”
(LEITE, Marcelo. Ladrão de Histórias e tantas histórias.)