O mundo moderno nos torna escravos dos confortos da tecnologia. Ficamos muito irritados quando, por exemplo, a luz vai embora subitamente e nos deixa sem suas benesses.
Naquela família, o horário da novela era sagrado, ou melhor dizendo, das novelas. Todos se reuniam em frente a mágica caixa de luzes e ficavam extasiados com os dramas mexicanos de Aluísio Rogério, Augusto Fernando, Carla Patrícia, Sílvia Isadora e outros nomes duplos de gostos, sonoridade e combinação duvidosos.
Na novela das seis, a família vibrava entretendo-se com o drama de uma moça rica que sonhava com o verdadeiro amor, mas se via obrigada a casar contra seu gosto com um rapaz escolhido por seu pai. Na das sete, uma moça pobre que se apaixona por um rapaz rico, mas a família do rapaz não deixa e sofre ao descobrir que ele tem uma terrível doença, um castigo de Deus. Na das oito, vemos amores proibidos, arrivismo, terríveis doenças, vingança e o bandido sempre se dando mal no fim da história. Ufa ! Ainda bem !
No último capítulo da novela “Aqui se faz, aqui se paga”, todos já estavam na frente do aparelho. Meus Deus, só faltam alguns comerciais para saber se Eugênia Ricarda vai conseguir se casar com Alex Dagoberto Junqueira Paiva III, o herdeiro do grupo Junqueira Paiva, um imenso complexo industrial que produz laxantes e fraldas descartáveis.
Como a espera me angustia !
Mas o destino é um grande pregador de peças e faz das suas. Quando entra a chamada... a luz vai embora. Imprecações soam pela sala. A família está irada com a situação. Telefonam insistentemente para a companhia de luz, mas de nada adianta o chilique coletivo. A pane foi na cidade toda.
O bom senso surge quando em meio a escuridão alguém acende uma vela. Eles se olham um pouco que assustados um para o outro e descobrem que em muitos anos nunca haviam se visto por ali àquela hora da noite.
Naquela família, o horário da novela era sagrado, ou melhor dizendo, das novelas. Todos se reuniam em frente a mágica caixa de luzes e ficavam extasiados com os dramas mexicanos de Aluísio Rogério, Augusto Fernando, Carla Patrícia, Sílvia Isadora e outros nomes duplos de gostos, sonoridade e combinação duvidosos.
Na novela das seis, a família vibrava entretendo-se com o drama de uma moça rica que sonhava com o verdadeiro amor, mas se via obrigada a casar contra seu gosto com um rapaz escolhido por seu pai. Na das sete, uma moça pobre que se apaixona por um rapaz rico, mas a família do rapaz não deixa e sofre ao descobrir que ele tem uma terrível doença, um castigo de Deus. Na das oito, vemos amores proibidos, arrivismo, terríveis doenças, vingança e o bandido sempre se dando mal no fim da história. Ufa ! Ainda bem !
No último capítulo da novela “Aqui se faz, aqui se paga”, todos já estavam na frente do aparelho. Meus Deus, só faltam alguns comerciais para saber se Eugênia Ricarda vai conseguir se casar com Alex Dagoberto Junqueira Paiva III, o herdeiro do grupo Junqueira Paiva, um imenso complexo industrial que produz laxantes e fraldas descartáveis.
Como a espera me angustia !
Mas o destino é um grande pregador de peças e faz das suas. Quando entra a chamada... a luz vai embora. Imprecações soam pela sala. A família está irada com a situação. Telefonam insistentemente para a companhia de luz, mas de nada adianta o chilique coletivo. A pane foi na cidade toda.
O bom senso surge quando em meio a escuridão alguém acende uma vela. Eles se olham um pouco que assustados um para o outro e descobrem que em muitos anos nunca haviam se visto por ali àquela hora da noite.
“Ué, mãe ! Você por aqui ? “
“Querida ! Eu não te via por aqui desde...”
“Amor proibido, 1968 ?”
“Não. Muito antes. Desde o Direito de ser feliz, 1664”
“Nós nos vimos meio de passagem em A honra de minha filha, 1972”
“Foi tudo tão rápido que pensei ser uma miragem ou algo parecido.”
“O que você faz aqui ?”
“Vejo televisão !”
“Ó ! Eu também.”
Os filhos se olharam, perceberam o clima de namoro entre os dois e discretamente retiraram-se da sala.
“Você não mudou nada estes anos todos. Na verdade está cada vez mais linda.”
Ela respondeu com um sorriso e as duas mãos se tocaram sobre o sofá. Um calor percorreu-lhes o corpo e um arrepio eriçou-lhes os finos pêlos do braço. Uma longa conversa se iniciou e falavam animadamente sobre seus gostos, seus projetos, seus anseios e temores àquela hora da noite.
O doce idílio prolongou-se durante muitos minutos e combinaram se encontrar para saírem ou ficarem por ali mesmo.
“O que você sugere ?”
“Não sei. O que você quiser eu topo. Com você tudo é fantástico.”
E se beijaram à luz das velas.
“Que tal se a gente fosse jantar fora, ao cinema, sei lá qualquer lugar só nosso, hein...” Sorriu fazendo-se entender rápido.
“É ... Quanto tempo ...!” Suspirou ela.
“Ou então, que tal ... a gente... aqui mesmo...” Risadas contidas.
“Seu bobo e as crianças ? Ficou doidinho ?” Mais risadas.
“É... aqui mesmo. A gente até que podia...”
Mas neste meio tempo a luz volta e gritam quase que em uníssono:
“Ver televisão !”
Ligam a TV imediatamente, os filhos voltam pra sala.
“Ufa ! Estava doida pra saber se o rapaz ( como é o nome dele mesmo ? ) ia se casar com aquela moça do comercial de shampoo. “
“Vai. É claro !”
“Como é que você sabe ?”
“Li no jornal.”
“Puxa ! Perdeu a graça.”
“É.. Vamos fazer uma coisa diferente ?” Risinhos marotos novamente.
“Meu filho, troca de canal ?”
E discretamente ele sussura no ouvido da mulher fazendo-a se arrepiar todinha:
“Adoro este sistema de TV a cabo por assinatura”
”Ai, seu bobinho ! Olha as crianças na sala. Comporte-se !”
(LEITE, Marcelo. Ladrão de Histórias e tantas histórias.)
13 comentários:
nem sabia nao, pra mim eles nem ligavam mto,,
era tipo que normal!
gostei da historinha bem legal!!!!!!!!
gostei da crítica... mas a tv só apresenta a qualidade que o povo merece...
heauheaueah, muito bom.
Não sou hipócrita em dizer que não gosto de TV, mas tem muita gente que é alienada. xD
eu não sou muito fã de televisão,assisto alguns progamas legais,mas prefiro o computador ^^
beijos
Esse época em que as novelas paravam o país se deu nos anos 70 e 80. Hoje em dia não existe mais isso. E esse povo ai da história, pelo visto, só gosta das novelas mexicanas do SBT, hein, porque os personagens de novelas brasileiras não têm esses nomes compostos há, sei lá, pelo menos uns 40 anos.
E agora tem a Record, que quer ser a Ed Wood brasileira, fazendo as novelas mais toscas do mundo..rs...
Ótima! Genial!
Temos memso que tomar muito cuidado com a televisão, pra não nos tornarmos escravos dela e nem nos privarmos das boas coisas da vida!
Seu blog já está nos meus favoritos!!
Abraço!
Lendo essa história,lembrei daquele trecho da música do Rappa.
"Faltou luz, mas era dia.
fui
A TV (aberta) é apenas o reflexo do povo, um povo com baixa cultura, imcapaz de gritar...
BOm, Você também é mais um (ou uma) dos que preenche seu tempo com ressentimentos passivos? Conhece gente assim? Pois é. O Brasil tem milhões de pessoas que gastam sua energia distribuindo ressentimentos passivos. Olham o escândalo na televisão e exclamam “que horror!.” Sabem do roubo do político e falam “que vergonha.” Vêem a fila de aposentados ao sol e comentam “que absurdo.” Assistem a uma quase pornografia no programa dominical de televisão e dizem “que baixaria.” Assutam-se com os ataques dos criminosos e choram “que medo.” E pronto! Pois acho que precisamos de uma transição “nestepaíz.” Do ressentimento passivo à participação ativa....
abrass
Oi, Marcelo!
Engraçado como a TV ocupa um lugar importante nas famílias...chega a ser uma espécie de prazer. Toda vez que fico sem energia aqui no meu bairro tenho essa sensação de quanto estamos dependentes da tecnologia. Excelente texto!!!
Abraço,
=]
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Pena que nem mais isso temos, a união da família em frente a tv, ou todos juntos para o jantar, nessa correria do dia a dia, niguém tem mais tempo para nada, é o pai que tem que ficar até mais tarde no trabalho, é a mãe com jornada dupla de trabalho, fora e dpois os deveres de casa, filhos que trabalham de dia e estudam de noite, ou estão na balada com os amigos, não tem mais tempo para a família, é cada um por sí e quando se encontram não se reconhecem mesmo. Então não é a tv, e sim a correria do dia a dia que nos levou a ficarmos tão alienados da família e de tudo mais.
Uma coisa é certa, temos ainda muita porcaria, mas, o reinaldo das televisões está a meio caminho, as novas mídias vão alternar o poder.
Um abraço
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