domingo, 28 de fevereiro de 2021

Acumuladores de coisas, de histórias e de si mesmo

Existe um grande embate quando falamos em lidar com pessoas acumuladoras. Eles são chamados de loucos, sem noção, materialistas, enfim, batem pesado naqueles que têm dificuldade de se desfazer de objetos adquiridos. Mas antes de qualquer coisa, é importante entender o que é um acumulador, porque ele acumula e como ajudar a pessoa que sofre desse distúrbio. Sim.. é um distúrbio comportamental.

De uma forma ou de outra, acumulador, todos somos um pouco. Guardamos fotos, objetos etc porque coisas são mais do que coisas, são narrativas e, nós, humanos somos feitos de carne, osso e narrativas. Somos todos uma história contada a partir de diversas histórias. Os objetos entram na nossa vida junto com histórias que os trouxeram até nós. A história de cada um deles se agrega a nossa fazendo a grande narrativa que nós somos. O problema é quando não percebemos mais o que é história, o que é objeto, o que somos nós... 

Quando o foco da vida sai do presente e se ancora no que vivemos, objetos e narrativas se integram na mesma coisa, que somos nós. Desfazer-se de um objeto é desfazer-se de uma história que é parte do que você é. É como se fosse abrir mão de um pedaço de si mesmo, um dedo, um braço… e deixar de ser alguém inteiro fisicamente. No caso, psicologicamente. O acumulador vê  a perda do objeto como uma amputação. E acreditem, dói nele.

Primeiro, é importante entender que as pessoas são o que são e lidar com elas é único caminho da convivência saudável. É muito provável que um acumulador de verdade não mude nunca diante do drama psicológico de não conseguir dissociar o que é ele dos objetos. Você não vai conseguir dissociá-lo da história que ele construiu, mas conseguirá fazer com que a partir do momento em que você entrou na vida da pessoa, o que existe de relevante não está nas coisas adquiridas, mas nas histórias vividas e que, mesmo que a coisa se vá, as histórias ficam.

Isso costuma funcionar? Não. Mas vale tentar. Não existe receita de bolo para lidar com as pessoas. As pessoas são o que são e nossa grande frustração pode ser a eterna luta entre isso e o que queríamos que elas fossem. Por mais que sejam boas as nossas intenções, a vida é um eterno aceitar o real (e lidar com ele) ou sofrer com o ideal (e frustrar-se). 

Ficou frustado em chegar até aqui e ver que não dei uma receita de bolo para lidar com o acumulador? Pois é… Viver é assim, não existe manual, seguimos em um voo cego, sem plano de voo num avião que não sabemos quanto de combustível ainda tem.


sábado, 6 de fevereiro de 2021

"Aí é totalmente diferente"... O que isso significa?


A comunicação é um processo que se dá entre alguém que quer se fazer entender e outro que quer entender. Esse é princípio básico expresso por H.P. Grice quando começa a falar sobre comunicação. Se um dos lados falhar, não existe comunicação. Existem duas pessoas falando para si mesmas. Isso não é comunicação.

Vivemos um tempo em que os únicos argumentos bons são aqueles que servem para provar aquilo que cegamente acreditamos e, se os fatos contradizem os argumentos, há algo de errado com os fatos. Exclua-os

Um exemplo é a falácia ad lapidem "Aí é totalmente diferente..." Normalmente, essa falácia encerra uma discussão com as reticências porque em 99,9% das vezes não vêm a explicação de por que razão é "totalmente diferente". Até porque a razão é: "porque esse argumento não me serve para mostrar por que você está tão errado e eu estou tão certo". E se tem uma coisa que as pessoas mais odeiam do que não ter dinheiro ou saúde é não ter razão. Abrir mão da razão é um desapego que só chega muito tardiamente com a maturidade.

As pessoas desaprenderam a troca ideias e a preocupação mais básica hoje é ouvir (quando ouvem) o outro para  mostrar o quanto o outro está errado. Em momento algum, cogita-se a possibilidade de que, talvez, haja algo interessante na argumentação do outro e que deva ser levado me conta na maneira de pensar uma questão. Os diálogos, viraram, na maioria das vezes um campo de batalha para o vencedor erguer o seu troféu de palha e gritar para o mundo que venceu uma discussão no facebook ou em outra rede social.

Vencer uma discussão em rede social, por exemplo, é como ficar milionário... jogando Monopólio, o nosso Banco imobiliário.

Aí, aqueles amantes dos bate-bocas vão dizer... não... "Aí é totalmente diferente...""

É... réplica esperada.



sábado, 30 de janeiro de 2021

Eu, na promoção

As redes sociais não trouxeram nenhuma novidade quando se trata das carências ou das mazelas humanas (como queiram chamar...). Elas só amplificaram o que sempre existiu. Aquele cara que gostava de contar vantagens em rodas de amigos, mostrar como era feliz e bem sucedido ainda existe, só que dessa vez, ele só precisa postar. Não precisam marcar um churrasco. Ele não precisa mais nos encontrar para fazer seu marketing. E isso, penso eu, poupa-nos da convivência. Gosto disso...

Entretanto, as pessoas, hoje em dia, sentem uma necessidade absurda de fazer da sua rede social uma vitrine onde se colocam como produto mais bem sucedido (férias em praia, resorts, corpos malhados, dirigindo carros etc), como o melhor exemplo da evolução humana (pessoas comprometidas com causas, que se doem com a dor do outro o tempo todo...) Vendem-se como um espírito em um nível de evolução que Chico Xavier olharia e pensaria: quando crescer quero ser igual a esse cara

O problema é que, em um mundo em que impera a obrigatoriedade do sucesso e do politicamente correto, para ser do bem o tempo todo, o caminho mais curto (e, às vezes, único) é convencer os outros disso. Certa vez, eu li que o que vale não é o que somos, mas o que as pessoas pensam que somos. Essas pessoas acreditam nisso mesmo e tem um monte de gente que conhecemos bem pessoalmente, mas quando olhamos sua rede social pensamos: gente, será a mesma pessoa? Dá vontade de dizer: olha não quero mais ser seu amigo real, quero ser amigo virtual só do seu perfil na rede social.

Não há mal nenhum postar sua vida nas redes socais e dizer como você é bem sucedido, consciente e do bem. Postar algo que te faz feliz é bem legal. O problema acontece quando as redes sociais se tornam um alter ego seu, aquilo que você queria ser ou ao menos, aquilo que você queria que os outros acreditassem que você é. As postagens se tornam repetitivas e diárias e acabam despertando a inveja dos que não te conhecem bem e, muitas vezes, o sentimento de tentativa engodo para os que te conhecem bem.

Somos humanos, demasiadamente humanos. Lotados de defeitos com respingos de algumas qualidades que nem de longe disfarçam nossa imperfeição inata. O marketing de teclado alivia esse sentimento, mas a realidade nos obriga a conviver com ele. Não sei mesmo até que ponto eu quero conviver com o que queria ser para não ter que conviver o que sou. Acho menos desgastante (mas não menos dolorido) lidar com o que sou do que despender vital energia para manter uma imagem do que queria ser. O fato é que a maioria das pessoas não se dá conta disso. Mas tudo bem também... E la nave va... 

Fecho com a Zélia Duncan na música Carne e Osso: "Perfeição demais me agita os instintos / Quem se diz muito perfeito / Na certa encontrou um jeito insosso / Pra não ser de carne e osso, pra não ser." Demorei quase meio século para me habituar a conviver com quem eu sou, embora ainda descubra facetas novas a cada dia e, agora não abro mão disso.

Até porque, nem se quisesse conseguiria abrir mão... O que somos é a única coisa que levamos até para o túmulo.

 

domingo, 24 de janeiro de 2021

Vai ficar tudo bem

Há pessoas que mudam muito durante a vida, eu pessoalmente, sou uma delas. Afinal, meus pais, só que eu me lembre, mudaram umas 14 vezes. No meu caso, depois que deixei de morar com eles, já morei em três casas a mais também. Ou seja, estou falando de 17 mudanças nesse meio século de vida.

Mas metaforicamente falando, mudamos tanto que vivemos várias vidas dentro de uma vida. Olhar sua história é revisitar moradas dentro de si mesmo. 

Nessa última mudança, enquanto arrumava meus livros na estante, consegui ver que cada um deles contava uma história que não estava escrita nas páginas, mas dentro da minha cabeça. Um, eu comprei em 1997, em uma lojinha embaixo da biblioteca Nacional, outro eu comprei para usar um capítulo, outro eu comprei na surpresa quando estava em um congresso, outro para embasar um projeto de pesquisa… Cada um contava uma história que não estava ali no papel, mas em mim. 

Nesse momento, percebi que eu carregava dentro de mim, um cemitério de EUs. Em cada momento, cada livro me remetia a um EU completamente diferente do EU de agora, de histórias que pareciam ser de outra pessoa, mas estranhamente, era um amontoados de EUs. Cada um no seu tempo, feito de carne, osso, história e decisões que me fizeram chegar no EU de agora.

Hoje, todos aqueles EUs são um quadro pendurado na parede (como a Itabira de Drummond, só uma fotografia na parede), ou melhor, um livro na estante. E um dia, esse EU de agora vai embora e comigo irão as histórias e os livros voltam a ser só papéis com letras. 

Nesse exercício de meditação, revisitei os meus EUs e exercitei a compaixão com cada um deles, entendi os medos, os sonhos, as angústias. Como se, em uma viagem no tempo, eu pudesse abraçar cada um de mim e dizer "vai ficar tudo bem". E como se cada um me olhasse nos olhos e entendesse que é assim que a história flui. E acalmasse o meu coração.

Em um segundo momento, nessa viagem, pude ver um velho, na verdade, vários homens velhos, como em uma fila, de costas para mim. Por alguns instantes, senti a compaixão que deles emanava para mim e a sensação de que, a qualquer momento um deles se viraria e abraçaria o que estava logo atrás na fila dizendo e aliviando toda a ansiedade... "vai ficar tudo bem"..


Revisitar a própria história é um exercício de compaixão consigo mesmo e um passo para a compreensão do que somos e onde estamos. Um exercício para entender que, haja o que houver, esse é um fluxo da história e que, no final das contas, vai ficar tudo bem.

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Essa voz que carregas, a quem pertence?


A princípio, tenho por hábito não emitir opiniões sobre casos que realmente desconheço seus detalhes (acho isso um hábito saudável para a sociedade), mas sinto, cada vez mais, que isso não é prática corrente nas mídias sociais.
Uma pessoa denuncia uma fraude e todos já saem postando coisas indignadas, uma pessoa acusa alguém de um crime, e uma multidão de juízes em seus tribunais de teclado saem propagando memes sobre a situação. Não se preocupam que não houve provas, não se preocupam que na sentença não se tenha usado nenhuma das palavras que viram uma frase de luta e disparam em nome do amor e da justiça o ódio e a maledicência. Tudo porque o seu site noticioso de estimação disse que aquilo era verdade. Isso basta.
Não estou defendendo ninguém nem citando algum caso especial porque esse relato acima se aplica a quase tudo nas redes sociais. No caso de processos judiciais, eu entendo que se você teve acesso a todas as partes do processo, após ter lido e analisado todas as documentações apensadas, sua opinião merece respeito. De outra forma, você só está gritando o que querem que você grite na ilusão de que isso te faz uma pessoa melhor. Não... isso te faz um boneco manipulado repetindo palavras que não são suas achando que está fazendo um mundo melhor de trás do seu teclado. 
Entretanto, talvez, o seu nível de manipulação tenha chegado a um nível tão irreversível que as palavras acima podem ser vistas como ofensa e eu mereça qualquer adjetivo terminado em -ista para ofender. Cuidado para não repetir o que querem que você repita.. quando tiram sua voz de você, tiram o que lhe é mais grato, o que é mais você. E sua voz não é o que você está repetindo.. repetir até papagaio faz e não pensa.
Mas é assim, são alguns dias de indignação, de especialistas em direito penal formado no Facebook University gritando, bravejando, mostrando ao mundo como são socialmente conscientes e justos. Passados os “alguns dias” que normalmente não excedem a 5, volta-se ao silêncio do ativismo de boutique e saem em busca da nova indignação cujo tema ignoram, cujos fatos desconhecem, mas que dos seus amigos inteligentinhos inspira admiração e louvor.
E segue um lambendo o outro e batendo palma para maluco dançar.

Entenda.. essa postagem não tem endereço, é só um convite para pensar um pouco nessa doideira que viraram as redes sociais... Se cobrir, vira circo. Se cercar, vira hospício.

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Sobrando de vítima das circunstâncias

É lógico que ninguém em sã consciência quer ser vítima de alguma coisa. Ninguém deseja adoecer, ser excluído, roubado, humilhado ou outra coisa que o exponha, limite e o diminua como pessoa. Isso é fato (Pode haver alguém que force a situação para ser agredido só para tirar benefícios da sua condição de vítima. Não acho impossível, mas acho pouco comum esse comportamento).

Mas a verdade é que, em algum momento da vida, Todos nós nos beneficiamos de sermos vítimas de alguma coisa deixando vazar aquele canalha que mora lá dentro de nós humanos. Sim... somos humanos, demasiadamente humanos e invocar para si a santidade e negar nossa essência de seres imperfeitos me parece uma das maiores canalhices que podemos demonstrar de nossa humanidade.

Pois então... quem nunca exagerou um sintoma de doença (normalmente dor de barriga) para não ir à aula? Quem nunca contou uma história que omite as razões e foca nas consequências que nos colocam como vítimas? Quem nunca invocou para si um direito ou benefício pela simples razão de ter sido vítima de algo? Quem nunca bateu no peito e disse que, na condição de vítima (sic) só queria o que lhe era de direito esquecendo que direito é um conceito legal e não necessariamente moral. 

Se fosse o direito um conceito essencialmente moral e não somente legal, homens como Hitler, Mussolini, Stalin e outros não poderiam ter feito metade das barbaridades que fizeram embasados por um "estado de direito" na época.

Então, existe uma tênue linha em que a vítima de fato migra para a vítima profissional, um gestor de oportunidades, ou seja, o oportunista, obtendo a piedade e benefício de ter sido vítima de algo. Nesse caso, existem dois benefícios, o benefício imediato e o benefício perene. Este constrói uma imagem de alguém quase inimputável, pois é um ser passivo de todo o universo, não se compromete porque não há ações dele, mas sobre ele, aquele porque pode reivindicar um benefício imediato em razão de sua passividade diante dos fatos.

É isso. Ser "vítima" tem um lado lucrativo que algumas pessoas exploram ao limite (ou passam dele) deixando o canalha que habita dentro de cada um nós vir a tona e assumir o controle.  Penso que uma sociedade que se propõe a combater tantos -ismos teria que colocar todos na mesa, não só os que lhes interessam ao marketing pessoal.

Atenção, este texto não tem exemplos. Isso fica por conta de cada leitor refletir. Não quis apontar dedos até porque, se tivesse tivesse que apontar começaria por nós dois... afinal, seguimos sendo humanos, demasiadamente humanos. Nada estranho....

domingo, 20 de setembro de 2020

Aonde quer que você vá, é lá que você vai estar

Recentemente, terminei de ler um livro cujo autor se chama Jon Kabat-Zinn, um professor americano de medicina genial que trabalhou a vida toda com os efeitos da meditação nas pessoas. O livro se chamava "Aonde quer que você vá, é lá que você vai estar" e trata sobre o equilíbrio a ser cultivado em nós mesmos porque afinal de contas, ele te acompanha a todos os lugares. Se você se sente em paz em um mosteiro no Tibet, é provável que você se sinta em paz em uma praça de alimentação de um shopping. Pois é, a paz é algo que você carrega com você e precisa cultivar todos os dias e não uma sensação que pertence a um lugar.
Se você só encontra paz em um mosteiro isolado do mundo, não vejo diferença disso e de tomar Rivotril, a paz não está em você, está fora.
Outra dia, vi uma discussão em um grupo que participo de internet em que as pessoas expressavam o desejo de mudar de cidade, emprego, convívio com os amigos e construir uma nova vida. Ou seja, resetar e reiniciar o sistema porque o atual está dando problemas. Não gosto de comentar, mas achei que poderia contribuir de alguma forma com o raciocínio deles e assim o fiz. 
Na verdade, as dores realmente estão nos lugares em que estamos e nos lembram o sofrimento por sua constante presença. Olhar o que te causa sofrimento é reviver o que te faz sofrer, mas tem um lado positivo nisso tudo: com o passar do tempo, a exposição àquilo que te faz sofrer banaliza o fato e já não incomoda mais, ou melhor, te incomoda cada vez menos.
Fugir do lugar para não conviver com aquilo que te lembra a dor até faz sentido, mas pensar que isso te permite fugir do sofrimento é uma ilusão, pois este se encontra dentro de você e não no lugar. Você pode mudar para o Japão para não conviver mais com pessoas ou lugares que te feriram e fizeram sofrer, mas, no fundo, aquela história vai repousar dentro de você e, eventualmente, seus monstros vão te visitar em portas, persianas ou janelas que deixamos abertas na alma. 
A realidade é que precisamos aprender a lidar com nossos fantasmas, com nossos sofrimentos, deixando claro a eles que são só sofrimentos, que pertencem a um passado (que não temos mais como mudar) ou a um futuro (sobre o qual não temos controle). Todas as dores são partes de nós, porque são coisas que nos fizeram ser quem somos.  É impossível destruí-las sem nos destruir.
O desejo de fuga é normal e vem, muitas vezes, com a bebida, drogas, mudando de país, mas o único resultado certo que temos nesse tabuleiro tão complexo que é a vida é que podemos fugir de tudo e de todos, menos de nós mesmos e de nossa história. 


quarta-feira, 2 de setembro de 2020

O ímpio, o justo e o chato ressentido

Uma vez eu li em algum lugar que o infortúnio atinge o ímpio e o justo. Na verdade, não faz mesmo sentido questionarmos por que uma pessoa boa ou má sobre um infortúnio. No caso do bom, vemos como uma injustiça (ou uma provação), no caso do mau, vemos como um castigo. Entretanto, quando "essas regras" são violadas e alguém ruim é beneficiado com algo e alguém bom é penalizado com um infortúnio questionamos as coisas como se houvesse um acordo nosso com o universo. 

A sabedoria popular vem com as pérolas de "vaso ruim" não quebra ou "era tão bom que Deus o chamou para o seu lado.... Mas precisava dar um câncer para trazer o cara bom para seu lado... Penso se Deus não teria métodos mais suaves. De repente até convocar, na boa.. Quem se negaria a um pedido de Deus... não precisava do câncer.

Mas piadas a parte, o fato é que vaso ruim quebra sim, assim como o vaso bom. As coisas na vida atendem a uma aleatoriedade absoluta. Claro, se você passou a vida fumando e bebendo para caramba, problemas de fígado e pulmão no fim da existência podem ser uma possibilidade a se considerar. Salvo isso, aceite que você está na mão do palhaço. Ter saúde, ser feliz, ter uma família, ser honesto, justo, dedicado, leal não te eximem da possibilidade de escorregar em casa cair de mal jeito e ficar tetraplégico.

Ou então, Deus olhar e falar: Olha, esse cara é tão justo leal, honesto... estou precisando aumentar meu staff com gente assim... então... estava pensando numas coisas aqui.... só não decidi ainda se vai ser no sangue, na próstata ou no cérebro... 

Assim como o que é  cara traficante, bandido, adúltero, desonesto, assassino, mentiroso pode viver até os 100 anos gozando de plena saúde, em sua família e com dinheiro. 

É isso... não devemos associar nossa conduta a nenhum infortúnio que nos atinja, nem a ausência deles. A vida é uma sequência de fatos relativamente controláveis e as nossas ações devem ser focadas em sermos pessoas melhores para nós mesmos. Uma espécie de egoísmo do bem... faço porque é certo e me faz bem. Nesse sentido, sua maior recompensa chega imediatamente a sua ação. Estar bem... 

Quando assinamos promissórias com a vida na espera de benefício alimentamos frustrações e nos tornamos eternos "chatos ressentidos" com acordos tácitos que não foram feitos. 

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

As coisas boas e o que realmente importa

Tenho um querido e velho amigo que a vida toda se especializou em fazer coisas que não dão dinheiro. Um dia comentei isso com ele que retrucou ironicamente (aliás, ele é um poço de ironia e bom humor): Pois saiba, meu caro, que agora eu aprimorei... Estou ficando bom em coisas que dão prejuízo (inclusive ele tem vários filhos... uma prova disso). Rimos juntos um bocado depois dessa tirada. 
Naquela época da minha vida, eu estava atolado de compromissos e ganhando, juntando e investindo dinheiro. Trabalhava adoidado (de segunda a segunda), tinha um relacionamento infeliz e seguia fazendo coisas que dão lucros. Seguia infeliz, mas lucrativamente infeliz. E lá se vão uns 10 anos....
Hoje, eu recebi uma ligação de uma pessoa que não conhecia e queria tirar dúvidas sobre um vídeo que fiz na internet sobre palavras e ideias-chave. Dei uma aula para ela e fiquei de fazer um vídeo explicando um pouco mais sobre um tema. Ela perguntou quanto seria o custo.. eu disse que nada e agradeci a oportunidade de ajudar. Mais uma vez, senti-me encher de alegria de fazer algo que não me dava dinheiro, mas me fazia tão pleno em ser útil.
Lembrei-me da primeira vez que entrei numa sala de aula como professor, recebendo salário. Eu pensei, cara, isso é bom demais e ainda me pagam por isso. Pois é... a vida é cheia de coisas boas que são boas porque são. Quando nos pagam por isso, é melhor ainda, mas quando não pagam, não deixam de ser coisas boas.
Não pretendo evoluir como meu amigo para a habilidade do prejuízo, mas entendi que o que o movia (e sempre foi assim, pois o conheço desde a adolescência) era fazer coisas boas. Coisas que o faziam feliz.
Hoje, vi um vídeo na internet e ele segue fazendo coisas boas, coisas que o fazem feliz. Afinal, quem precisa de muito dinheiro quando sabemos fazer tantas coisas boas...

Eu demorei mais de uma década para entender, mas agora, que tenho mais areia embaixo da ampulheta do que em cima, o que me move são as coisas boas.