terça-feira, 22 de julho de 2008

Com palavra: o Grande Saco

Toda unanimidade é burra!
Nelson Rodrigues

Se uma pessoa te considera um idiota, pode ser uma questão pessoal.
Se duas pessoas te consideram um idiota, pode ser que a pessoa anterior tenha feita a cabeça da segunda pessoa.
Se dezenas de pessoas te consideram um idiota, é bem provável que você o seja.
Agora, se todos, sem exceção, te consideram um idiota, sorria, você é um gênio.

P.S.: O caminho para a genialidade é convencer todos que se é um idiota.

sábado, 19 de julho de 2008

Nardonis, Vales e Petróleos... ahhhhhh

Chego em casa moído de cansaço, tiro os sapatos que trazem os dedos tão unidos que parecem um massa única de carne. Aos poucos, desvencilho-me dos problemas que arrastei do trabalho para não contaminar o meu sacrossanto lar. Tiro a camisa para fora da calça. Arreganho os dedos dos pés... ahhhhhh
Ligo a Tv e vejo um grupo de pessoas que passou a noite na porta do prédio de um casal que está sendo acusado de assassinar uma menininha, crime bárbaro. O grupo estava sentado em banquinhos, havia levado seu lanche e aguardava ansioso o momento de gritar; assassino, lincha, no ápice desse evento público singular em suas vidas. O casal entrou pela porta dos fundos... ahhhhh, ecoa como um hino de decepção.
No canal seguinte, um grupo de pessoas entra em uma instalação da Cia Vale do Rio Doce e destrói tudo, quebra móvel, interrompe passagem, entoa palavras de ordem contra o imperialismo ianque... morte a George Bush. No jornal impresso do dia seguinte, aparecem em sofás com bandeiras da vitória nas mãos até a chegada da ordem de desocupação de um juiz... Ahhhhh, ele é um agente das classes dominantes, um monstro preconceituoso...
Enquanto isso, um grupo de estudantes bloqueia as portas de um prédio da Petrobrás pedindo que as reservas sejam definidas como patrimônio nacional e não interessa que estejam há abaixo da camada de sal no oceano... Isso é fundo pra caramba! Só podem ser tocadas por mão (sic) brasileiras. Ahhhhhhh ! O petróleo é nosso. Entoam os gritos de ordem. Com mais de 50 anos de atraso.
Vejo que envelheci... ou o tempo me trouxe algo que ainda não sei...
Um dia, disseram-me que quem não é revolucionário aos 20 é insensível, mas quem o é depois dos 35 é um insensato. Quando ouvi essa afirmativa pela primeira vez e era um revolucionário, achei-a absurda, cruel, retrógrada.... Até mesmo, imperialista ianque.
Hoje...., ahhhh...
Hoje, eu arreganho os dedos recém-suados saídos do sapato...
Tava apertado.

Em tempo: Antes que comece o meu linchamento, devo dizer que acho muito importante a participação em todo tipo de movimento. E fico feliz que sempre existam pessoas dispostas a isso como eu o fui um dia. Por favor, façam minha parte, movimentem-se por mim. Eu já me movimentei muito pelos colegas que arreganhavam os dedos espremidos por um dia de trabalho intenso... agora é minha vez... Ahhhhhh! Coisa boa!

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Comemoração... 100 coisas ditas...

[Cutucada I]
Fiz um selo Eu POSTEI 100 vezes (grande posta!), mas não coloquei aqui e peço que todos aqueles que não receberam, por favor, não passem para ninguém. Essa é a regra de não indicação.

Alguns números do saco de filó...
7 meses de vida, 100 textos, mais de 1000 comentários, mais de 6800 visitas e uma média (atualmente) de 80 leitores/dia (quando atualiza) e 40 leitores/dia (no restante dos dias). O saco de filó mantém-se fiel à idéia de garimpar leitores, só visitantes, dispensamos.
Continuamos sendo uma idéia sem fins lucrativos e um dia viraremos utilidade pública. Aí aceitamos doação e damos recibo para abater no IR.
E para não perder o hábito:

[cutucada II]

kkkkk..Parabéns!
Gostei do blog.
Visite o meu.
Resposta adequada...
Caro leitor, kkk legal o seu blog,

Vá para o diabo que o carregue.
Atenciosamente,

100 Saco de filó


Inauguramos hoje a seção Grande Saco.
Todo dia antes do dia de atualização, tem um texto de poucas linhas, mas com idéias sobre as quais se vale a pena pensar... Fieis à máxima: Penso, blogo, existo.
***
O que vem depois do Grande Saco...

E no futuro todos terão seus 15 minutos de fama...
Andy Wharol.

Mas, ainda assim, permanecerá a injustiça. Uns terão 15 minutos de fama depois do Jornal Nacional e antes da novela, na Globo, enquanto outros terão os 15 minutos de fama depois de um programa religioso às 3 e meia da manhã, na Rede TV.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

No próximo desastre sou eu quem vou.

Lembro que meu pai comentava que, certa vez, o meu tio mais novo ficou indignado porque houve um acidente em minha cidade e ele não estava com o meu pai quando passava pelo local, mas sim o seu irmão mais velho. No ápice da indignação, o garotinho soltou:
Tá bom, mas no próximo acidente sou eu quem vou com você.
Só entendi essa indignação anos depois quando despertei para o fato de que as pessoas nutrem um prazer mórbido pela desgraça. Perdi a conta do número de vezes que engastalhei no trânsito porque houve um acidente e, longe de fato afogar a via, o que arrastava o tráfego era o tesão com que as pessoas olhavam pela janelinha e, num espetáculo de horror, comentavam os detalhes. Se havia cabeças esfaceladas, a descrição vinha seguida de espasmos faciais que davam um tom teatral ao ocorrido. Se não havia nada no local ficava, só um carro amassado, nada mais, senti-se um "ahhh" de frustração como se o espetáculo para o qual se preparavam tivesse sido cancelado.... Ahhhh.
Eu, um alienígena por opção, sempre me esquivava desse mórbido prazer. Gatos e cachorros atropelados acabam com meu dia... Certa vez, já fiquei de baixíssimo astral por causa de um cachorro atropelado na Dutra e olha que eu não fui o responsável... eu só passei segundos depois. Tempo suficiente para ver o animal agonizando.
Mas segue o circo dos horrores.
Pessoas sussurram no ônibus. Outras narrativas se mesclam. Histórias de acidentes piores vistos por eles ou por pessoas que eram colegas dos colegas deles. Mais sangue, mais miolos, corpos em ferragens... O ônibus se afasta e o trânsito flui. Os temas cotidianos voltam e a temática do acidente só será retomada durante o telejornal da noite que irá mostrar o desastre e o sujeito vai contar com orgulho de medalhista olímpico que passou ali na hora que aconteceu. Ou que quase pegou aquela van minutos antes... e persiste assim o prazer de quase morrer.
Como é bom!

Em tempo:
Já observaram a quantidade de quase mortos que surgem depois de um acidente. Aquele que ia, mas não foi. Como é bom ser quase morto...! Dá uma sensação de que eu sou alguém especial, ainda que meu cotidiano insista em negar isso.
Penso, blogo, existo.

sábado, 5 de julho de 2008

Guia do depressivo moderno

Aí veio o caso Isabella: um casal entra em um apartamento e minutos depois uma menina é jogada pela janela. Não foi ele, não foi ela, não foi ninguém... na verdade, foi uma terceira pessoa. Bom, até onde sei, a primeira pessoa, EU, a segunda pessoa, TU e a terceira pessoa... ahá.. ELE (ou ela). O advogado se prepara para dizer que a mulher sofria de depressão.
Pouco depois, em São José dos Campos, São Paulo, um pai tenta jogar um filho pela janela, mas não obtêm o êxito de seus depressivos inspiradores. Não foi dessa vez... O advogado já se apressou em relatar a depressão do seu cliente.
No Paraná, uma mulher jogou um bebê de seis meses pela janela, dessa vez, bingo... conseguiu. Os policiais a detiveram e ficaram surpresos porque ela não manifestava o menor arrependimento. Resoluta, afirmou que queria se livrar do bebê... E que tomava fortes remédios de depressão. Antecipou ao advogado que iria dizer que ela sofria de fortes crises de depressão.
No Japão, um homem deprimido saiu pela rua esfaqueando todo mundo que encontrava. Quando foi preso alegou que só fez isso porque estava profundamente deprimido.
Outro dia, na sala de espera de um médico, vi um garotinho com cara de bem informado pela TV que me olhava meio cabreiro, de rabo de olho... olhava para mim e para a janela da sala de espera do prédio de forma apreensiva...

Ei...!” Apressei-me. “Eu não sou depressivo não.”

Senti que o garotinho respirou aliviado. Sutilmente, mas o fez.
É... como as coisas mudam. Sou do tempo em que os deprimidos se jogavam pela janela, hoje, eles jogam os outros... Do tempo em que o deprimido se suicidava, hoje, "suicida" o outro. Sei não, mas por via das dúvidas, se vejo um sujeito deprimido e uma janela por perto, já fico esperto.
...
Bons tempos aqueles... bons tempos.

Em tempo
O depressivo moderno acorda cedo, na maior depressão, vê que a vida não faz mais sentido e decide cortar os pulsos.... os do vizinho, é claro.
E ele é besta?

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Adesivos de carro... escolha o seu.

Tem carro com todo tipo de adesivo. Adesivos de apoio a políticos, adesivo de filhos, adesivos de grupos sociais, adesivos de tendências religiosas, há os de faculdades, os de rádios, os de empresas, os "engraçadinhos"... Ufa.. a lista é grande.
No trânsito encontro com eles a toda hora e compartilho as reflexões sobre os mais relevantes para mim.


A inveja é uma merda.
Nunca vi um Vectra ou um Pallas C4, ou um Honda Civic com um desses. Agora, chevette, gol quadradinho, Fiat 147, Brasília e fusca.... passo por uns 10 todos os dias e me pergunto: inveja de quê mesmo?
***
Sua inveja é a velocidade do meu sucesso.
Segue a idéia do de cima. Ainda não vi uma SANTA FÉ da Hyundai com um desses. Agora, uma Corcelzinho 74 eu já vi... E pensei... Ô inveja pouca que têm do cara! Aí, dá uma força para o cara, inveja ele.. só um pouquinho.
***
Papai compô p’a eu...
Não acreditei quando li isso. E o cara ainda confessa. Se bem que se meu pai tivesse me dado aquilo eu já não falava com ele há anos.
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Acredite, jesus é o único que não mente.
Dei essa frase numa prova de semântica. Pense bem. Se Jesus pertence a um conjunto de pessoas que não mentem e esse conjunto só tem ele (isso exclui quem falou a frase), como é que eu vou acreditar que esse cara não está mentindo? Pensei: deixe a modéstia de lado e diga: Jesus e eu somos os dois únicos que não mentem. Resolvido o problema semântico.
***
Deus é fiel.
Acho que eu já sabia disso, mas ainda assim: obrigado pela dica. Iria morrer sem saber se não fosse o cara me dizer.
Em Cuba e em bom espanhol, Deus es fidel... Deve fazer sucesso por lá.
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O senhor é meu pastor, nada me faltará.
Ah é... Então experimenta parar de passar o ponto todo dia.
***
Leia Kardec.
Uma conhecida disse que uma amiga perguntou: fulana, quem é esta tal de Leia Kardec? Ela é candidata a quê?
Acho que ele não leu Kardec.
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Eu amo minha esposa.
Acho que isso também era esperado. Fogo é se um espertinho escrever na poeira vidro do carro: Ô... eu também!
***
Eu acredito em duendes.
Quando descem o malho nos exames psicotécnico do Detran, os caras ficam uma fera. Mas ó... vê só! Olha o cara que dirige esse carro...
***
Amo e sou fiel.
E minha esposa me obrigou a colocar isso porque trabalho num lugar cheio de mulher a minha volta.
***
"Farta lista de filhos em adesivos..."
Deixa a gente pensando: além de filho o que mais esse cara sabe fazer.
Acho estranho. Toda vez que vejo um desses, penso que é uma prévia para carta de convite de falecimento. Os X, Y, Z, e W cumprem o doloroso dever de comunicar o falecimento de ....
***
Se a sua estrela não brilha, não tente apagar a minha.
Pois é... sempre que leio essa frase penso: apagar o quê? Sei lá.. acho que cheguei atrasado e encontrei tudo escuro. Só levo a sério quando vir isso colado no vidro traseiro de um Mitsubishi Pajero zero quilômetro. Ainda estou procurando um.

A lista é grande, mas a gente resume para não cansar.
Leia, pense, pondere..
Penso, blogo, existo....

sábado, 28 de junho de 2008

Falsos raciocínios... falácias e outros engodos (ostrogodos e visigodos)

O Veríssimo tem um texto fantástico chamado “Os Bárbaros”. Inspirei meu título nesse último. Acho essa relação entre palavras muito espirituosa, mas agora, o que gosto mesmo são de frases lugares-comuns. O senso comum nos leva a repetição mecânica de algumas coisas que me fazem pensar até quando vamos colocar o cérebro no piloto automático. Fiz uma lista das minhas frases automáticas preferidas:

O brasileiro não sabe votar.
Pois, antes não soubesse. Dessa forma, nem ia lá. Ou errava o caminho sempre. O problema é que sabe, mas ainda não percebeu que o que motiva o seu voto está longe do ideal comum e que sua miséria (financeira ou moral) o impele a decidir por fulano ou beltrano. Antes não soubesse votar.
A voz do povo é a voz de Deus.
Acredito que Deus não assine embaixo disso. Ou, então, tentemos convencer ao que nos mostra a história da Alemanha nazista... A voz do povo não foi a voz de Deus. Ou Deus estava de brincadeira com os negros e judeus. Não creio nisso.
É melhor ser pobre com saúde do que rico com uma doença terrível.
Caramba... Não dá para ser rico e ter saúde. Que compensação! E pobre com doença terrível... Esse cara está ferrado. Motivo para rir? Só quando chegar o vidro de chumbinhos e as giletes.
O governo quer ver o povo mais ignorante.
Para início de conversa, governo é uma abstração mítica, já diz uma amiga minha. O governo não quer ver o povo mais ignorante. O governo, no geral, não quer ver o povo... ignorante ou não.
A vida começa depois dos 40Se você nasceu com 39 anos, 11 meses e 28 dias (mais ou menos), isso é uma profunda verdade. Se não... corre, camarada que a expectativa de vida de um brasileiro só te dá mais um turno desse.
No sentido figurado, acho que quem disse isso pela primeira vez, teve uma merda de 39 anos anteriores...

Abdicamos do senso crítico e nem percebemos que o uso mecânico das palavras veicula uma ideologia dominante quando nos impelem a repetir sem pensar, agir sem refletir.

Em tempo: já viu propaganda de banco que alardeia que AQUI SUA POUPANÇA CRESCE TODO MÊS! Lá e em tudo que é poupança no mundo. Se não for assim, não é poupança, é conta corrente, né...

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Blogue ruim..., no fundo, é bom.

Tudo começa EM COMENTE O BLOG ACIMA...

Muito já bati nos blogues ruins (kkk legal seu texto, visite o meu), mas chego à conclusão de que fui profundamente injusto e, agora, faço um postagem de redenção do blogue ruim. Venho me retratar das críticas que fiz sobre os blogues de CTRL+C/CTRL+V, os blogues de cópia de outros sites, os blogues sócios do youtube, o blogues de diários sobre minha vida, os blogues com quadrinhos de desenhos de bonecos de palitinhos sem um roteiro específico, os blogues de fotomontagens repetidas na internet, os blogues de piadinhas repetidas, os blogues de todos aqueles que tem boa vontade e, com certeza, algum dia (sic) serão grandes escritores (por enquanto precisam aprender, entre outras coisas, que exceção é com Ç. Mas isso é um detalhe que não deve interferir em nossa avaliação).
Enfim, peço desculpas a toda sorte de blogues cujos donos, movidos pela vontade de fazer algo, mas não tendo o que fazer, nada fazem. Retrato-me de minhas críticas a todos aqueles que sentiram na internet a oportunidade de divulgar as suas idéias, ainda que não as tenham, mas que um dia podem vir a ter (creio nisso com uma fé inabalável.... e a fé remove montanhas). A todos aqueles insistem para que comentemos aquela piadinha ou aquele vídeo do youtube que só ele acha que ninguém viu, àquele que escreve poesias toscas rimando paixão com emoção, com coração e por que não, constipação. O que vale é o sentimento de cada um, não é mesmo?
A você, caro colega, agradeço os minutos que me poupou de raciocinar, de ler um texto denso e complexo, crítico ou sarcástico que me obrigasse a me posicionar, a organizar as minhas idéias e expô-las de maneira inteligente em seu comentário para fazer jus a qualidade da postagem. Isentou-me de ler com atenção o seu poema que traz sua dor de largado (acho que a ex tinha suas razões) e desobrigou-me de criar relações intertextuais, analisar e apresentar pontos em que a construção poética aproximasse ou distanciasse de um estilo especial. Num ato de bondade celestial, liberou-me de ler qualquer coisa mais densa para pensar com um videozinho do youtube que me bastou dizer: legal o vídeo, voltarei mais vezes (confesso que menti, mas sei o quanto essa mentira fez bem para você. Eu sempre quis o seu bem).
Ao colega que deixou o "kkk... legal seu texto. Parabéns. Visite meu blogue" nos meus comentários, e me poupou de ir ao seu blogue procurar algo diferente do alcance intelectual de alguém que escreve "Kkkk... legal o seu texto" como comentário de uma postagem. Foram minutos preciosos em minha vida e que devo a você. Obrigado por prencher de mais tempo minha existência.
Dedico este texto a toda blogosfera que como um universo de livre expressão (e que o seja assim para sempre. Falo sério aqui) permite que todos se manifestem livremente: dos mais hábeis aos menos favorecidos pelo raciocínio e pelos dons mínimos necessários para escrever algo merecedor de ser lido.
Viva a liberdade e viva a todos aqueles que nos permitem colocar o cérebro no piloto automático de vez em quando.

Em tempo:
Será que é preciso dizer para alguns que o texto acima é uma ironia? Por favor, nos comentários, vamos dar uma força aos colegas com necessidade de especiais de interpretação antes que me chamem de preconceituoso, autoritário, anti-semita, racista, elitista, egoísta enquanto, na verdade, o único ISTA que sou é Flamenguista. E só.
Ah... e bloguista!

sábado, 21 de junho de 2008

É big, é big, é big é big... é hora, é hora, é hora, é hora...

Aniversário é um dia sempre especial. A pessoa sente que acordou mais velho... Subitamente, isso deixa de ser especial no dia em que percebemos que todos os dias acordamos mais velhos.
Quando crianças, contamos os dias para o nosso aniversário como se este fosse uma espécie de marca de chegada em que registramos mais uma volta na corrida da vida.
Somos consumidos pela espera da festa e dos personagens que a povoam: o filho do amigo do seu pai (de quem você não gosta nem um pouco), mas tolera porque o pai dele vai trazer presente. O infame, em represália (parece que estava adivinhando) lhe dá uma blusa.
Para seu desespero, chegam nas mãos de alguns adultos alguns pacotes moles.... Pacotes moles são sempre assustadores. Aos 7 anos de idade ganhar uma blusa é como ganhar um pacote de papel higiênico de presente. Você sabe que vai usar, mas isso não é coisa que se dá de presente.
A festa, aos poucos, se enche com as crianças e com as tradicionais tias velhas que mantêm um padrão digno de uma franquia internacional. Usando vestidos ou saias e blusinhas de viscose, elas chegam sozinhas ou em bandos. Agrupam-se nos cantos das salas atraídas pela TV que passa novela. Passam boa parte da festa conversando entre si, assistindo a novela e reclamando entre dentes das crianças que passam correndo na frente da TV.
Os colegas sem noção dos seus pais também chegam. Aqueles caras ou aquelas mulheres que não casaram, ou são separados e aparecem na festa com a desculpa de prestigiar seu aniversário, mas, na verdade, estão atrás da cerveja que seu pai comprou e de um lugar para falar mal de alguém que trabalha com eles. A frase deles é ...”pois é... hoje, vou dar uma passada na festa do garoto do fulano”.
Não os repila. Normalmente, trazem bons presentes. Brinquedos.
O clima esquenta e o número de incidentes com crianças em um espaço físico tende a aumentar: Sua mãe, sabiamente, decide que é hora do parabéns.
Nessa altura, você já contabilizou alguns presentes bons (brinquedos) e outros não tão bons (roupas) que a sua mãe recebeu com um sorriso no rosto e forçou você a agradecer com um sorriso amarelo. Nossa! Que bom! Ele estava precisando mesmo de um par de meias. Agradece a tia, fulano.
E você agradece. Fazer o quê?
Todos se reúnem, Apagam as luzes. Parabéns tradicional... é big,é big... é hora, é hora..., Ra tim bum... Fulano, fulano...
Mas quando tudo parecia terminado.. eis que um infeliz puxa o famigerado: com quem será, com quem será... vai depender, vai depender... ela aceitou... Nunca soube onde termina essa macaquice, mas sempre a inseri nos meus cálculos como a distância entre mim e o bolo.
Por fim, o constrangedor “primeiro pedaço de bolo”... Momento em que, impossibilitado pela física, somos obrigados a agraciar uma pessoa em detrimento do resto da humanidade...
Uma difícil decisão aos 7 anos de idade... Vai para mãe que já é de praxe. Ela sorri toda boba.
***
Pois... um dia, despertamos e, aos 37 anos, sentimos que acordamos mais velho hoje... e amanhã também.

A festa acabou,
A luz apagou,
E agora, você.
E agora... Drummond.

Ficam as lembranças e uma saudade com gosto de bolo de chocolate comidos com garfinhos de plástico...
Ah sim... Continuo achando abominável o “com quem será...” que sempre atrasa o momento de cortar o bolo.