sexta-feira, 28 de março de 2008

Piadas gastam...

Sapatos gastam e piadas também. Não é difícil listar um conjunto de piadas que, dado o seu uso excessivo, sofreram um desgaste imenso e passam do engraçada para o irritante. Sugiro que se vá além e se crie um Oscar da piada gasta. Poderíamos até começar agora com o famoso... and the Oscar goes to....

Categoria pior piada em má hora:
Quando o cara está com uma baita dor de cabeça e vem um engraçadinho e diz: aí, fica debruço que a cabeça passa... Que babaca!

Categoria humor negro:
Aquele pessoa que antes de começar a falar alguma coisa repete a frase, vamos fazer igual a Jack Estripador, vamos por partes... argh!

Categoria trocadilho:
Aquele chato que fica esperando a hora de dizer uma coisa do tipo: um não faço isso, mas a Beth Faria.... hehehe.... Eu só formo ano que vem, mas a Marjorie Estiano... hehehe...Falta uma plaquinha. "inferno a 10 Km, siga em frente"

Categoria Sacra
Aquele em que o cara sempre repete: fulano não é Ave Maria, mas é cheio de graça... Aí você pensa "não é pai nosso, mas bem que poderia estar no céu"

Categoria Pior roteiro:
Aquela do cara que cortou o saco porque a cueca estava apertada... Já ouviu esta piada? Tem gente que estica tanto que daria uma novela. E se fosse do Manoel Carlos o cara teria cortado o saco no Leblon e a mulher dele se chamaria Helena.

Pior ator coadjuvante:
Aquela do português que sai contando vantagem que enganou um brasileiro de que ele era gay, o cara acreditou e veio comendo ele a viagem de avião inteira. O brasileiro tarado da piada entra sem um texto sequer e passa o tempo todo espremido num banheiro de avião. Parece o Rodrigo Santoro no filme "As Panteras"... Vai ver que até era ele mesmo.

Pior atriz coadjuvante:
Aquela da Maria que vai a suruba pensando que era uma festa comum, mas se dá mal. Quem conta a história é o Joaquim que dá graças a Deus que ela foi no lugar dele... Os Mamonas musicaram isso e deram voz a Maria que ainda me deixa suspeita de que, depois do que vi em CARANDIRU, se trata do Rodrigo Santoro também..

Pior trilha sonora
Aquelas musiquinhas como a melô da lêndea (odeio estas melôs): vou me agarrar nos seus cabelos, pra não cair do seu galope" e, em segundo lugar, a melo do absorvente íntimo:" debaixo dos caracóis dos seus cabelos, uma história para contar de um mundo tão distante".

O cara esta conversando com você e diz:


"Igual aquela piado do Português com o pneu furado, conhece?"
"Lá vem mais uma piada sem graça", pensa você. E você diz:
"Pois é, conheço..." para se poupar de ouvir aquela chatura.
"É isso aí, então..." conclui sem contar a piada mais nada.
Dessa vez, você se safou, mas não conte com a sorte eterna... Um dia te contam a piada.

***
E vai por aí... ando num baita mau humor porque a OI TELEMAR está enrolando para resolver um problema na minha conexão de VELOX.

terça-feira, 4 de março de 2008

Os blogs e o fim do mundo parte 1


Certa vez, li na internet um texto que apresentava como cada jornal ou revista anunciaria o fim do mundo. Acentuavam a tendência de um a falar a partir de infográficos (Folha de São Paulo), outros a botar a culpa no governo (VEJA) e vai por aí. Nesse meio de blogosfera, percebi (como já abordei em textos anteriormente aqui) que cada blogueiro daria sua notícia do fim do mundo de seu jeito todo especial e veríamos maneiras diferentes de falar que cada blog se valeria para fazer seu post final.
A nóticia central é:

Mundo acaba com queda de meteoros gigantes

Blog Teen Patricinha
Visual
(fotos de celular de e das amigas - ao fundo um meteoro caindo.)
Texto:
Xurras do niver na casa da Fê, gentix,... ao fundo, o Met, caindo sobre a cidade. Mais ao lado, o Lê caindo na piscina. D+ beijuxx

Blog Teen Depressivo
Visual
(preto com letras pequenas em cores vermelhas, frases faltando palavras e uma foto dele(a) com o cabelo caído sobre olho tirado da câmera de celular por ele(a) mesmo(a))
Texto:
O hoje acordei, já tinha sol no meu quarto, mas estava tudo escuro. Lembrei do papo que tive com a Dri ontem, fiquei pensando nos erros e nos acertos. Por que insistimos tanto em errar, nem sei se vale mais a pena tentar acertar, acho melhor deixar rolar... Hoje tem meteoro caindo sobre o planeta, fim, acabou, nem sei se vou ver, acho que vou ficar por aqui mesmo.

Blog teen auto-ajuda
Visual
: Cores claras aproveitando o template do blogspot. Fotos coloridas e uma foto da blogueira sorrindo de braços abertas. Quando você vai no perfil no orkut encontra coisas do tipo: Tina - Dê bem com a vida.
Texto:
É importante buscar o seu sonho, acredite viver é lindo. Só o amor constrói, o que vale é lutar por um ideal e um sonho feliz, acordei vibrante, hoje, sei lá mil coisas, tipo assim, aqueles dias que vocês tá lá esperando pintar algo e, sei lá, nem pinta, mas rola vontade de sorrir. Poxa! A vida é demais, curta cada instante. Esse tal de meteoro, sei lá, nada a ver... cada minuto vale a pena.

Blog intelectual (ou pelos menos que se acha)
Visual: Ar sombrio, textos bem escritos, imagens cult (um desenho de Magrite, uma gravura de Dali)
Texto:
A dialéctica estóica do fim do mundo. Segundo Lacan, apresentando a percepção do homem face a teoria do espelho, podemos constatar que o homem, diante de sua identificação busca retomar as concepções analiticas antagônicas do elementos complexo da dinâmica do todo... Mas o fato é que o mundo enquanto ente e unidade socio-percepcional é uma falácia, logo, seu fim é, na verdade, a negação de uma busca antropológica de sua própria existência.
Blog intelectual cinéfilo
Visual:
Links do you tube para trechos de filmes antigos e imagens de atores espalhadas em posto para, muitas vezes, você ficar se perguntando o que aquilo tem a ver como texto.
Texto
O lançamento do último filme (ultimo mesmo) de Costa Gravas irá tratar do fim em sua concepção mais lata, ao mesmo tempo, densa e compondo o cenário e a fotografia através de uma estética nouvelle vague. Se o mundo não acabar mesmo, o filme chega ao Brasil no final do ano.
Blog de humor
Visual:
Cores gritantes, textos curtos e montagens que você já viu em outros blogs.
Texto:
Uma charge:
Um cara cantando um mulher: o que você vai fazer depois do fim do mundo?
Uma foto montagem com Jonh Lennon:
Legenda: o sonho acabou... e quem diria, o mundo também.
Blog de um botafoguense
Visual:
Escudo do Botafogo, blog com ofensas ao juiz, ao Flamengo e tudo que não é o botafogo
Texto: Roubados mais uma vez!!! O Botafogo, meteoro prejudicou o Fogão, pois caiu na hora em que o time ia desempatar. Até quando vai ser assim, Roubalheira, não conseguem ganhar e conspiram contra um time de tradição e história. Queremos respeito... buááááááá
Blog de um vascaíno
Visual
: Escudo do Vasco, blog com ofensas ao juiz, ao Flamengo e tudo que não é o Vasco.
Texto
VASCÃO, VASCÃO... Se ferrou, menguinho.
Vice nunca mais... rimos por último.
Blog de tecnologia
Visual
: Completamente lotado de banners de propagandas e no meio um textinho que você encontra mais bem escrito na INFO EXAME.
Texto
Microsoft lança correções para bug do Microsoft IE 7.
Se bem que eu me pergunto, nessa altura do campeonato, pra quê?
A forma de anunciar o fim do mundo não termina aqui... post em expansão. Aguarde.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Espírito de porco - a teoria da emerdificação do mundo

Sei e concordo que tudo no mundo tem dois lados, mas acho que as pessoas exageram nas tintas quando pretendem se mostrar grandes leitoras do mundo que a cerca. Sempre que aparece alguém com uma notícia muito boa, antes que algum mortal se anime, sempre vêm um MAS... É famosa teoria de emerdificação do mundo, ou seja, independente de o quanto melhore, ainda assim vai ficar uma merda pior do que já era. Os pessimistas acham que se as coisas continuarem como estão ainda vamos acabar comendo merda e os que adotaram a teoria da emerdificação do mundo, acham que não vai haver merda para todo mundo.
Aumentou a produção de biocombustíveis, estamos caminhando para um mundo menos poluído... MAS o ser humano vai usar terra para plantar cana ao invés de comida, além disso irá devastar grandes áreas para gerar combustível... o mundo vai piorar tanto...
O Brasil apresentou crescimento econômico acima da média,.... Oba! MAS, o aumento de riquezas irá aprofundar as desigualdades e tendemos a ser um pais cada vez mais de miseráveis. A riqueza do país não ameniza sua desigualdade.
Bom, mas o melhor de tudo é que podemos pagar nossa dívida externa e ficar de bem com os credores internacionais em definitivo. Já começo a sorrir... MAS o custo da geração desse caixa é a custo de uma forte crise de estagnação nos investimentos e do pagamento de juros altos pelo governo.
Na área de saúde descobriram um remédio capaz de curar alguns tipos de câncer... MAS, de que adianta se o custo é alto e esse medicamento não chegará às classes que precisam mais.
***

- Duas amigas se encontram na rua. Conversa vai, conversa vem:
- Viu de quem o seu EX está noivo?
- Não.
- Da Claudia.
- Não conheço, mas para fica com ele deve ser burra.
- Não. Não é nada, garota. Ela é autora de livros, doutora em literatura comparada e sociologia pela Sorbonne.
-No mínimo, com esse currículo, deve ser horrorosa.
- Bem, todo mundo diz que ela se parece demais com a Angelina Jolie e tem o corpo da Flávia Alessandra, sabe, a da novela...
- Ah, mas uma mulher assim só pode ser uma pobretona que está querendo encostar no dinheiro da família dele...
- Que nada, menina, o pai dela é um dos donos da maior siderúrgica da França e da Alemanha, proprietário de uma companhia de aviação e de uma mineradora na Austrália...
- ...
- ...
- Mulher com essas características normalmente são umas porcas, sofrem de gases e quando ninguém vê tem mania de enfiar o dedo no nariz..
- Ah sim.. isso é verdade, concordo com você amiga... aí que nojo, coitado do seu EX.

***
Mas sempre tem que ter um MAS...

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

As coisas têm gosto de quê?

Quando a gente nunca comeu algo, a gente costuma a fazer a célebre pergunta: tem gosto de quê? Ou ainda, parece com o quê?
Na verdade, nada se parece com nada. Rã tem gosto de quê? Putz, sei lá, meio frango, meio peixe, mas não crie expectativas... é diferente dos dois. Gosto é uma percepção intangível para quem não prova e, normalmente, inadequado às palavras de que dispomos no nosso vocabulário.
Pior ainda são os gostos de cheiro. Aquelas coisas que tem o gosto do cheiro de outra. Por exemplo, sempre achei que alguns tipos de maçãs têm gosto de cheiro de Superbonder... vai entender...
Agora há as coisas que tem um gosto tão bom que não encontramos uma palavra que dê conta de tudo que aquilo nos passa. Há sensações que se somam e quando buscamos na memória a cena em si, derretemo-nos na inefável percepção de um mundo sem palavras, mas que guarda significados tatuados na nossa alma.

***
Que tal café com pão fresquinhos, em casa de avó, em período de férias no fim de tarde? Lembre... não consigo encontrar algo que defina o que me vem quando penso nisso.
***

E caderno novo? O cheiro do caderno novo que combina com a sua letra linda dos primeiros dias... até porque, a partir da segunda semana de aula, retomamos o garrancho do ano anterior.
***

Barulho de embalagem de presente em dia de Natal e o cheirinho de plástico do brinquedo novo... Você já sabia há meses o que ia ganhar, mas o culto à espera aumentou sua ansiedade à 10 potência.

***
Primeiro dia de aula em escola que você não conhece ninguém. Falta lugar para você colocar a mão, os bolsos não são suficientes, e você é um peixe fora d’água.

***
Andar de bicicleta. Você sai meio trêmulo, o guidão vira de um lado para o outro. Finalmente, te soltam e você pedala livremente. Sem curvas é claro... isso é uma segunda etapa.

***
A sua primeira caixa de bombom sem restrições ao consumo. Você passou a vida inteira com aquela coisa de não poder comer tudo, aí, um dia, adulto e dono de seu nariz, se vê diante de uma caixa que não lhe oferece restrições. Não aprecie com moderação.
***
A primeira ficada (com beijo) e os pensamentos atordoantes. E seu beijar errado? O frio na barriga e a sensação de proibido. Putz... eu raspei o dente...

***
A lista é grande:

A primeira viagem sozinho (Desafio e, no fundo, um certo cagaço natural);
O primeiro salário (parece uma fortuna);
Cheirinho do (seu) carro novo (dá vontade de passar para a roupa o cheiro);
Arrependimento da 1ª ressaca (Garrafa na TV dá náusea nesse dia);

De que isso tem gosto?


E, finalmente, as palavras acabam antes de servirem para dizer o que eu precisava dizer...

sábado, 23 de fevereiro de 2008

TELELIGADOS - a culpa é da TV


O mundo moderno nos torna escravos dos confortos da tecnologia. Ficamos muito irritados quando, por exemplo, a luz vai embora subitamente e nos deixa sem suas benesses.
Naquela família, o horário da novela era sagrado, ou melhor dizendo, das novelas. Todos se reuniam em frente a mágica caixa de luzes e ficavam extasiados com os dramas mexicanos de Aluísio Rogério, Augusto Fernando, Carla Patrícia, Sílvia Isadora e outros nomes duplos de gostos, sonoridade e combinação duvidosos.
Na novela das seis, a família vibrava entretendo-se com o drama de uma moça rica que sonhava com o verdadeiro amor, mas se via obrigada a casar contra seu gosto com um rapaz escolhido por seu pai. Na das sete, uma moça pobre que se apaixona por um rapaz rico, mas a família do rapaz não deixa e sofre ao descobrir que ele tem uma terrível doença, um castigo de Deus. Na das oito, vemos amores proibidos, arrivismo, terríveis doenças, vingança e o bandido sempre se dando mal no fim da história. Ufa ! Ainda bem !
No último capítulo da novela “Aqui se faz, aqui se paga”, todos já estavam na frente do aparelho. Meus Deus, só faltam alguns comerciais para saber se Eugênia Ricarda vai conseguir se casar com Alex Dagoberto Junqueira Paiva III, o herdeiro do grupo Junqueira Paiva, um imenso complexo industrial que produz laxantes e fraldas descartáveis.
Como a espera me angustia !
Mas o destino é um grande pregador de peças e faz das suas. Quando entra a chamada... a luz vai embora. Imprecações soam pela sala. A família está irada com a situação. Telefonam insistentemente para a companhia de luz, mas de nada adianta o chilique coletivo. A pane foi na cidade toda.
O bom senso surge quando em meio a escuridão alguém acende uma vela. Eles se olham um pouco que assustados um para o outro e descobrem que em muitos anos nunca haviam se visto por ali àquela hora da noite.


“Ué, mãe ! Você por aqui ? “
“Querida ! Eu não te via por aqui desde...”
“Amor proibido, 1968 ?”
“Não. Muito antes. Desde o Direito de ser feliz, 1664”
“Nós nos vimos meio de passagem em A honra de minha filha, 1972”
“Foi tudo tão rápido que pensei ser uma miragem ou algo parecido.”
“O que você faz aqui ?”
“Vejo televisão !”
“Ó ! Eu também.”
Os filhos se olharam, perceberam o clima de namoro entre os dois e discretamente retiraram-se da sala.
“Você não mudou nada estes anos todos. Na verdade está cada vez mais linda.”
Ela respondeu com um sorriso e as duas mãos se tocaram sobre o sofá. Um calor percorreu-lhes o corpo e um arrepio eriçou-lhes os finos pêlos do braço. Uma longa conversa se iniciou e falavam animadamente sobre seus gostos, seus projetos, seus anseios e temores àquela hora da noite.
O doce idílio prolongou-se durante muitos minutos e combinaram se encontrar para saírem ou ficarem por ali mesmo.
“O que você sugere ?”
“Não sei. O que você quiser eu topo. Com você tudo é fantástico.”
E se beijaram à luz das velas.
“Que tal se a gente fosse jantar fora, ao cinema, sei lá qualquer lugar só nosso, hein...” Sorriu fazendo-se entender rápido.
“É ... Quanto tempo ...!” Suspirou ela.
“Ou então, que tal ... a gente... aqui mesmo...” Risadas contidas.
“Seu bobo e as crianças ? Ficou doidinho ?” Mais risadas.
“É... aqui mesmo. A gente até que podia...”
Mas neste meio tempo a luz volta e gritam quase que em uníssono:
“Ver televisão !”
Ligam a TV imediatamente, os filhos voltam pra sala.
“Ufa ! Estava doida pra saber se o rapaz ( como é o nome dele mesmo ? ) ia se casar com aquela moça do comercial de shampoo. “
“Vai. É claro !”
“Como é que você sabe ?”
“Li no jornal.”
“Puxa ! Perdeu a graça.”
“É.. Vamos fazer uma coisa diferente ?” Risinhos marotos novamente.
“Meu filho, troca de canal ?”
E discretamente ele sussura no ouvido da mulher fazendo-a se arrepiar todinha:
“Adoro este sistema de TV a cabo por assinatura”
”Ai, seu bobinho ! Olha as crianças na sala. Comporte-se !”
(LEITE, Marcelo. Ladrão de Histórias e tantas histórias.)

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

O que seria de nós sem as vogais?

No final do século XIX, os lingüistas levantaram a hipótese de que há um princípio de economia expressional nas línguas, ou seja, se pudermos dizer mais com menos, melhor. Um caso interessante são as abreviaturas de palavras como cinemascope (cinema), fotografia (foto), motocicleta (moto) até os bizarros “Xurras casa da Fé” ou o “niver no apê do Lê”... casos com cara de blog teen ou scrap no orkut.
Mas a simplificação não fica por conta dos blogueiros, dos adolescentes ou de outro grupo, mas sim dos baianos. A Bahia..., Bahia de Castro Alves, de Jorge Amado, de Caetano Veloso e de Gilberto Gil entre tantos outros gênios. Pois é de lá que vem o grande evento da nossa língua: a comunicação puramente vocálica.
Veja: ó pai, ó... ( o filme). Disse tudo ainda que eu não tenha entendido nada e só usou uma consoante, um P intrometido. Vamos mais além... o que seria da axé music sem as maravilhosas vogais. Em Salvador, quem dispõe de três vogais, faz uma música... se tem um carro com som, faz um trio elétrico e se tem mais de 10 pessoas, faz um carnaval.
Contemple a obra:

Aê, Aê, Aê, Aê...
Ê, ê, ê, ê, ê, ê,
Ô, ô, ô, ô, ô...

Acrescente a isso frases de efeito como “sai do chão”, “maiiiiinha”, “nojenta”, pronto, reúna três amigos para se pintar e dançar... Já temos o suficiente para fazer sucesso em todo o país.
Seria muito injusto de minha parte excluir os surfistas, que com sua genialidade sintética resumiram a comunicação à arte vocálica: Chegando em casa, o brou mais velho fala para o brou mais novo que levou a galera para fazer uma festinha:

Ô, ó o auê aí, ô.

E precisa dizer mais o quê? O auê cantado pela Rita Lee (Desculpe o auê/eu não queria magoar você....) na década de 80, agora, é visto como o prenúncio do reinado das vogais.
***
Enquanto isso, em uma agência de empregos de Salvador, um surfista sendo entrevistado...

- oi.
- Trouxe os documentos?
- ó... aí.
- Tá faltando um documento...
- ã?
- Ah não, está aqui.
- Aaaa..
- Esse aqui é o seu endereço?
- É.
- Há quanto tempo você não atua na profissão?
- Ihhhhhh...
- Bastante tempo, né..?
- Ó.
- Já morei perto da sua casa. Já foi num bar que fica na esquina dessa rua?
- Ia.
- Vejo que trabalhou em escola de samba...
- e...
- Nada. Já compôs samba?
- É.
- Qual parte?
- Oooooiiii...
- Assina este formulário então.
- ó?
- é.
- aí?
- é.

Consoantes? Pra quê, meu rei?

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Com se fazem os bebês... versão atualizada.

As crianças que nascem atualmente não engolem mais a história de cegonha, ou bebês que brotam em abóboras. O papo de “o papai colocou a sementinha na barriga da mamãe” é muito técnico e pode acabar despertando pergunta do tipo: foi intravenosa ou por cirurgia, papai?
Ciente de que é importante manter um tom de fantasia sobre a sua vinda ao mundo (assim como mantemos os mitos de papai Noel e coelhinho da Páscoa) é necessário atualizar tudo que contamos sobre como nascem os bebês e nada melhor do que adequar ao nosso tempo o processo fantasioso de geração humana.

***

Papai liga o 0800-CEGONHA
Tuuuuu, tuuuuu, tuuuu, clique.

- Bom dia, você ligou para Cegonha International Corporation, sua ligação é muito importante para nós. No momento, todos os nossos atendentes estão ocupados, ligue mais tarde ou aguarde na linha.

Desliga.

Papai, pela 5ª vez, liga o 0800-CEGONHA
Tuuuuu, tuuuuu, tuuuu, clique.

- Bom dia, você ligou para Cegonha International Corporation, se você já é cliente, tecle 1, se ainda não se cadastrou, tecle 2.
Tuuuu (toque de tecla)

- 1, pai. Para bebês do sexo masculino, tecle 1, para do feminino, tecle 2, para sexo aleatório, tecle 3.

- Sua ligação estará sendo transferida para um de nossos atendentes. Para sua maior segurança, sua ligação estará sendo gravada.

Tuuu, tuuuu,... atendente, Carlos Cegonha, em que posso ajuda-lo?

- Bom, eu estou tentando fazer a solicitação de um bebê modelo 2008 do sexo masculino para ser entregue no Estado do Rio de Janeiro.

Um momento senhor, para confirmar sua solicitação vou estar checando alguns dados. O senhor poderia me informar sua data de nascimento...

- 28 de janeiro de 69.

- Ok, qual o endereço para correspondência?

- Rua das Garças, 522/307 – centro

- Ok. Senhor. Qual os três números iniciais do seu CPF?

- 075.

- Obrigado. Um momento, senhor... mais um momento.... um momento, senhor...

Enquanto isso.. Gravação chata...
Sua ligação é muito importante para nós, conheça também o nosso Máster Baby Program, o primeiro programa de milhagem para quem encomenda bebês. Sua maior comodidade aliada a um programa de desconto e serviço jamais vistos. O programa Master baby oferec...

- Obrigado, senhor ,por aguardar.
- O pedido do senhor foi confirmado, com entrega prevista para daqui a nove meses, não endereço fornecido. O senhor poderia anotar o número de protocolo de sua solicitação?
- Tudo bem.
- 0-3-5-6-7-9-1-1-1-2-2-3-4-5. Anotou?
- Já. Tá certinho...

Pronto. Assim nascem os bebês.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Uma breve estória do essencial! - Camisas e calças...

O fato é que, na vida, muitas vezes, o que faz a diferença é uma camisa dentro da calça. Camisa dentro da calça foi a curiosa, mas apropriada maneira de falar a respeito de algumas coisas que fazem uma diferença considerável.
Por que não dizer, muitas vezes, uma estúpida diferença.
Na porta de uma festa, o indivíduo tenta entrar. O porteiro o interpela.
"Convite senhor."
O homem enfia a mão no bolso e tira um papel amarrotado, logo entregando-o ao funcionário.
"Aqui!"
"Desculpe senhor, mas este convite só permite entrada com camisa pra dentro da calça. Camisa pra fora da calça é na porta ao lado" Retrucou o porteiro.
"Mas qual a diferença? Se o problema é colocar a camisa pra dentro, eu coloco."
"Agora não vale. Eu já vi pra fora da calça."
"Ah! Então o problema é você ver?"
"Precisamente!"
“Feche os olhos uns instantes”
“Isto seria omissão, Senhor”
As pessoas na fila se impacientavam. Comentavam a indiscrição daquele que ousava entrar pela porta das camisas para dentro da calça sem camisa pra dentro da calça. “Que falta de politese” comentava uma senhora.
“E agora? Troco de fila? Não posso, né!”
“Não, senhor. Vou chamar o Silveira, responsável pelo departamento de CDC”
“O que é CDC?”
“Camisa Dentro da Calça, senhor”
Minutos depois, chega um senhor todo almofadinha que com ares de autoridade diplomática, apresenta-se e sentencia: não há solução. Botar camisa pra dentro da calça ali era uma afronta as regras.
“Ah é!!!” Irritado, o convidado tem uma atitude drástica!
Todos o olham assustados.
O chefe do CDC e o porteiro cochicham entre si.
Agora o senhor pode entrar. Não há nada que o impeça.” Diz o porteiro com o assentimento do chefe do CDC.
A festa transcorre normalmente e ninguém foi capaz de notar aquele homem de cueca que andava entre os convidados, mas no muro ao lado da mansão seguranças agrediam rapazes que durante o baile afrouxaram a camisa para fora da calça e as pessoas ficavam pasmas como alguém ainda insistia em entrar ali com a camisa pra fora da calça.
Que tempos são estes, que tempos!!! Filosofava uma velhinha do tempo das camisas pra dentro da calça.
LEITE, Marcelo. Ladrão de Histórias e tantas histórias.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Estatística... 1 em cada 3 se preocupa com isso

Se tem uma coisa que me apavora é estatística. Saber que estamos sujeitos a tirania dos números e seus senhores me deixa em pânico. Abro o jornal e leio de cara as terríveis estatísticas. A possibilidade de chover, de baixar a inflação, de pegar AIDS, de ser atropelado, de ganhar na loteria... Ufa ! Quanta possibilidade!
Acordo de manhã e vejo que há possibilidade de chuvas esparsas no fim do período, o PIB cresceu 5% ano passado, meu time tem 45% de chance de se classificar para a próxima fase do campeonato, o carro que comprei tem uma desvalorização anual de 12% e eu, meu Deus, até eu... tenho 20% de chances de ser assaltado. É claro! Uma em cada cinco pessoas já foram e eu ainda não fui. O próximo, com certeza, sou eu.
Saio tenso pela rua e entro no edifício onde fica o escritório em que trabalho. No elevador tem sete pessoas. Sabe o que significa isto? Um grupo de cinco pessoas formado e se o assaltante lê estatísticas em jornal ele está de olho naquelas cinco, pois uma será sua vítima. Fui olhando de soslaio aquela gente toda e imaginando quem poderia ser entre eles.
Zequinha, o ascensorista, eu descartei. Já o conhecia há muito tempo. Restavam seis, menos eu, cinco. Eu botava a mão no fogo por mim. Nunca assaltara , nem geladeira. Eu sou homem muito direito.
A velhinha que assoava o nariz num lenço bordado. Passei a observar seus atos. Um jeitinho de facínora, mas de acordo com uma nítida observação fui me lembrando da minha tia Gertrude, velhinha de bom coração, e comecei a cogitar a possibilidade de não ser ela. Mas não descartei totalmente. A gente nunca sabe o que nos espera por trás de um doce rostinho senil. É só abrir o jornal e ver como tem velhinhas assaltando, traficando... e sabe lá mais Deus o quê. Também com o salário de pensionista ou aposentado...
É, mas não justifica.
Continuei observando os outros, mas sem deixar de lado a vovó suspeita. Ao lado dela tinha uma mocinha de mais ou menos 22 anos. Não era bonita, nem interessante, na verdade, despertava pouquíssima atenção. Seu ar de apatia a excluía da lista. Era impossível que alguém tão apagada assaltasse quem quer que fosse.
Ah! O boy ... Office boys são sempre criaturas estranhas. Usam radinhos nos ouvidos e poupam o dinheiro do táxi e sempre falam que a fila estava enorme. Aquele boné virado para trás e a blusa larga o denunciava como o bandido que nos observava. Não podia ser, aquele era o Toninho, o boy do departamento pessoal, eu o conhecia há muitos anos. Mas vai que ele fazia um bico de bandido e...

Duvido que ele me assaltaria. Ia pegar mal. Eu sou da casa.
Mas mesmo assim fiquei com um olho nele e outro na velhinha. De vez em quando até dava uma olhada na moça sem graça. Todos estavam sobre vigília e minha observação constante. Eu sou esperto e não os perco de vista.
O negrão que batucava na pastinha despertou minha suspeita, mas tive medo de ser acusado de racismo só por suspeitar e apaguei este pensamento pouco politicamente correto de minha cabeça. É crime inafiançável, sabia? Vi na TV outro dia.
Só restava o senhor com cara de sono. Era ele o tempo todo e eu nem percebia. Estava com sono porque ficou a noite toda fazendo o seu servicinho sujo. Safado! As pessoas do elevador precisavam saber. Tomei coragem e gritei:
“Peguem o ladrão!”
Todos me olharam assustados. Vendo que ninguém reagiu, tomei coragem e voei sobre o canalha. As pessoas custaram a entender o que acontecia e logo vi que me separavam do combate corpo a corpo.
Acho que exagerei.
O cara que eu ataquei era um funcionário novo do 6º andar, diziam ser gente boa, mas eu duvido. As estatísticas não erram.
Eu mesmo estou de licença médica em casa e vejo o jornal dizendo que uma em cada sete pessoas que vive na cidade grande tem uma crise de alucinação causada pelo stress. Olho para os quatro cantos da quarto e não vejo ninguém além de mim. Uma em cada sete, penso.
Ufa! Ainda bem que os outros seis estão longe daqui.
Detesto gente neurótica.


(Extraído do meu livro: Ladrão de Histórias e tantas histórias)