sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Estatística... 1 em cada 3 se preocupa com isso

Se tem uma coisa que me apavora é estatística. Saber que estamos sujeitos a tirania dos números e seus senhores me deixa em pânico. Abro o jornal e leio de cara as terríveis estatísticas. A possibilidade de chover, de baixar a inflação, de pegar AIDS, de ser atropelado, de ganhar na loteria... Ufa ! Quanta possibilidade!
Acordo de manhã e vejo que há possibilidade de chuvas esparsas no fim do período, o PIB cresceu 5% ano passado, meu time tem 45% de chance de se classificar para a próxima fase do campeonato, o carro que comprei tem uma desvalorização anual de 12% e eu, meu Deus, até eu... tenho 20% de chances de ser assaltado. É claro! Uma em cada cinco pessoas já foram e eu ainda não fui. O próximo, com certeza, sou eu.
Saio tenso pela rua e entro no edifício onde fica o escritório em que trabalho. No elevador tem sete pessoas. Sabe o que significa isto? Um grupo de cinco pessoas formado e se o assaltante lê estatísticas em jornal ele está de olho naquelas cinco, pois uma será sua vítima. Fui olhando de soslaio aquela gente toda e imaginando quem poderia ser entre eles.
Zequinha, o ascensorista, eu descartei. Já o conhecia há muito tempo. Restavam seis, menos eu, cinco. Eu botava a mão no fogo por mim. Nunca assaltara , nem geladeira. Eu sou homem muito direito.
A velhinha que assoava o nariz num lenço bordado. Passei a observar seus atos. Um jeitinho de facínora, mas de acordo com uma nítida observação fui me lembrando da minha tia Gertrude, velhinha de bom coração, e comecei a cogitar a possibilidade de não ser ela. Mas não descartei totalmente. A gente nunca sabe o que nos espera por trás de um doce rostinho senil. É só abrir o jornal e ver como tem velhinhas assaltando, traficando... e sabe lá mais Deus o quê. Também com o salário de pensionista ou aposentado...
É, mas não justifica.
Continuei observando os outros, mas sem deixar de lado a vovó suspeita. Ao lado dela tinha uma mocinha de mais ou menos 22 anos. Não era bonita, nem interessante, na verdade, despertava pouquíssima atenção. Seu ar de apatia a excluía da lista. Era impossível que alguém tão apagada assaltasse quem quer que fosse.
Ah! O boy ... Office boys são sempre criaturas estranhas. Usam radinhos nos ouvidos e poupam o dinheiro do táxi e sempre falam que a fila estava enorme. Aquele boné virado para trás e a blusa larga o denunciava como o bandido que nos observava. Não podia ser, aquele era o Toninho, o boy do departamento pessoal, eu o conhecia há muitos anos. Mas vai que ele fazia um bico de bandido e...

Duvido que ele me assaltaria. Ia pegar mal. Eu sou da casa.
Mas mesmo assim fiquei com um olho nele e outro na velhinha. De vez em quando até dava uma olhada na moça sem graça. Todos estavam sobre vigília e minha observação constante. Eu sou esperto e não os perco de vista.
O negrão que batucava na pastinha despertou minha suspeita, mas tive medo de ser acusado de racismo só por suspeitar e apaguei este pensamento pouco politicamente correto de minha cabeça. É crime inafiançável, sabia? Vi na TV outro dia.
Só restava o senhor com cara de sono. Era ele o tempo todo e eu nem percebia. Estava com sono porque ficou a noite toda fazendo o seu servicinho sujo. Safado! As pessoas do elevador precisavam saber. Tomei coragem e gritei:
“Peguem o ladrão!”
Todos me olharam assustados. Vendo que ninguém reagiu, tomei coragem e voei sobre o canalha. As pessoas custaram a entender o que acontecia e logo vi que me separavam do combate corpo a corpo.
Acho que exagerei.
O cara que eu ataquei era um funcionário novo do 6º andar, diziam ser gente boa, mas eu duvido. As estatísticas não erram.
Eu mesmo estou de licença médica em casa e vejo o jornal dizendo que uma em cada sete pessoas que vive na cidade grande tem uma crise de alucinação causada pelo stress. Olho para os quatro cantos da quarto e não vejo ninguém além de mim. Uma em cada sete, penso.
Ufa! Ainda bem que os outros seis estão longe daqui.
Detesto gente neurótica.


(Extraído do meu livro: Ladrão de Histórias e tantas histórias)

6 comentários:

Nana Lopes - @Nanamada disse...

kkkkkkkkkkkkkkk
Detesto numeros!!
Bom fim de semana Marcelo!!

M. disse...

Ótima crônica, muito boa mesmo. Seu livro parece ser bacana, tem várias histórias? Gostei mais dessa do que a outra que publicou lá embaixo.

Beijos!

Arne Balbinotti disse...

Hahahaha... muito bom texto.
Por isso que eu fico longe de qualquer coisa que seja ligada a exatas e números...

Anônimo disse...

Aqui est� outro ligado em n�meros ext�tisticos adoro tudo isso, ainda mais se for aquelas estatiscas retardadas das universidades brit�nicas como: um certo numero de pessoas andam de um jeito, outro tanto pica um olho de cada vez heheh seu livro parece ser bem interessante, irei procura-lo...

da uma passadinha no meu:

http://www.rafawoods.blogspot.com

Carlos Cruz disse...

hahahaha!

muito massa!

Douglas disse...

E que muitas pessoas se apoiao em algo que seja concreto que seja um fato real e as estatisticas sao algo real e verdadeiro por issu algumas pessoas acreditem nela ...



As que não se preucocao com as estatistica e porque tem preguiça ou não consegue acompanhar o desenvolvimento dah tal mas e muito bom sempre acompnhar algo que seja um FATO !!!