Na semana passada eu fiz 43 anos, há 43 invernos que estou por
aqui, afinal, nasci no primeiro dia dessa estação. Nessa idade, pelo menos para mim, as coisas são muito mais claras do que
aos 23. O tempo que eu vivi, provavelmente é maior do eu vou viver. Não tenho
mais tempo para desperdiçar. O relógio corre contra mim e, por isso, tornei-me extremamente seletivo. Meus minutos
seguem em uma contagem regressiva que não me dá mais tempo em me empenhar na
comprovação de que sou mais inteligente, mais culto, mais esperto (até porque
é bem provável que não seja mesmo fazendo isso).
Não tenho tempo para digitar no Facebook longas listas de
argumentos demonstrando o quanto estou certo e fulano ou beltrano está errado.
Ganhar uma discussão e todo mundo ver que tenho a razão me soa como uma das
coisas mais sem sentido na qual poderia empregar o meu escasso tempo, cada vez mais
fugaz, cada vez mais valioso e raro.
Hoje, compro o silêncio das pessoas
dando-lhes razão. Se o custo para que alguém se cale é ceder-lhe a razão. Que
ela tenha a razão toda, plena, completa e que tire um printscreen da tela para
espalhar ao mundo todo que ela tinha razão, que ela estava certa, que as ideias
dela são as melhores. Que propague aos 4 cantos do mundo o quanto eu lhe sou
inferior, tolo, reacionário, limitado e ela me é superior. Sim.. é bem provável
que ela tenha razão nisso também.
Pode parecer comodismo e muitos irão dizer que não tenho
argumento, por isso ajo assim. Pois então, concordo com essas pessoas também.
Alguns até perderão seu tempo para me dizer o quanto sou tolo, covarde, evasivo
etc... Quem venham todos os eteceteras que lhes darei razão. Um a um ainda que
eu nem os conheça.
Se o preço da minha paz é turbinar a autoestima alheia dando-lhe
razão, que tenham toda razão do mundo. Se o preço para que alguém se cale é a minha concordância, que esteja bem claro que concordo com suas ideias em gênero e número,
afinal, grau não estabelece relação obrigatória de concordância em português.
Que nunca se ofendam aqueles que pensam haver ironia nas
minhas anuências. Não há. Há, isso sim, uma súplica para que cessemos a
conversa e que, em troca da razão plena, me deem o silêncio e a paz que me são tão
essenciais nesse tempo que escoa entre meus dedos.
Domine miserere nobis.
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