sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Isso, definitivamente, não é argumentar

Como professor, durante anos, passei ensinando a argumentar, a expor e contrapor ideias. Aprendi nesse tempo que, quando uma pessoa não que ver algo, não há o que a faça mudar de ideias. Em se tratando de ideologias políticas então isso se acirra a a ponto de o extremo óbvio estar na sua frente e ainda assim a pessoa não quer ver, se recusa a ver e ponto final.
Sendo assim, tendo gasto meu latim (como se dizia antigamente), resolvi agora mostrar nessa postagens (ainda mais ao colegas fakebooquianos) o que não é argumentar. Na verdades, o que tratamos em teoria da argumentação como falácias argumentativas.

Vamos lá, vamos por exemplos para sermos mais didáticos.

O fulano X roubou o governo, criou uma rede de corrupção e levou o país, estado ou município para o buraco.

Argumentos dos partidários

1. Quem veio antes do fulano X roubou mais.

Falácia do ataque a outra pessoa que, muitas vezes, nem está como acusador
Isso não é um argumento é uma confissão. Em momento algum refuta a acusação de roubo, muito pelo contrário, admite-a como prática natural. É como se dissesse que o outro roubou também e é tão ladrão quando o fulano X, meu candidato. Ao invés de contra-argumentar, ataca-se. Mas o argumento depreciador do seu candidato continua lá. Intacto...

2. Se fosse o outro fulano que tivesse sido eleito, estaria na mesma ou pior.

Falácia do hipotético/condicional.
Isso não é um argumento que refute a acusação feita a seu político. Muito pelo contrário endossa-a. "Se" é uma condição, encontra-se no campo do inexistente porque não se realizou. Se seu pai não tivesse transado com a sua mãe, você não estaria aqui, logo, não usaria uma falácia estúpida dessa para tentar contra-argumentar. Mas você está aqui. Este é o fato sobre o qual deveríamos argumentar.

3. Mas não foi o fulano X quem inventou a corrupção dentro do sistema, ela existe desde o Brasil Colônia.

Falácia do falsa legitimação histórica
Isso também não é um argumento. Não defende o seu candidato (ele continua sendo um f.d.p), mas simplesmente tenta legitimar um crime com outro. A lógica é por que condenar um homem em um sistema que é corrupto por excelência? resposta: porque corrupção é crime desde sempre. Quem argumenta assim parte do princípio que o problema é o sistema e não o candidato.

4. Mas e se sair o fulano X corrupto, vai entrar quem? O que tem é pior ainda.

Falácia da arrogância
Isso definitivamente não é um argumento. Quando se diz isso, assume-se que todos são corruptos (erro grotesco de generalização - em termos de argumentação isso é um desastre) e segue-se aquele raciocínio de que ruim com ele pior sem ele. Aquela velha história do marido que bate na mulher, que bebe, que tem amante, mas ruim com ele, pior sem ele. Mas o seu candidato defendido continua sendo um f.d.p.

5. Você acredita em tudo que a mídia diz? Ela é manipulada pelas classes dominantes.

Falácia do pior cego
Desmerecer o veículo não é um argumento, pois não ataca a ideia em si, mas quem a veicula. É como dizer que alguém não merece ser ouvido porque é gay, negro, judeu etc... Isso é preconceito velado. Quem pensa assim segue o seguinte raciocínio: Se a revista X publica algo contra meu ídolo, ela é golpista. Se ela publica algo a favor, ela é sensata. 

Esse argumento é perigoso, pois também é usado contra pessoas. A questão é quem é você para acusar? A resposta é "Quem você se julga ser para definir quem pode ou não acusar alguém"?


Vou continuar identificando nos comentários do Facebook e prossigo com mais observações sobre o quanto as pessoas não sabem argumentar ou melhor, na maioria das vezes, não se tem o que argumentar.


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