domingo, 7 de junho de 2009

Educando às avessas

Há o torpe raciocínio de que inserindo a obrigatoriedade de cantar o hino nacional e proibindo de usar boné nas escolas teremos um país mais patriota e organizado. Nas escolas do município do Rio de Janeiro, por exemplo, o professor ganha um lap top, mas se precisar de uma cópia de texto por aluno para trabalhar todas as semanas, não pode. Sabe onde eu quero chegar com esse papo?
São quase 20 anos de educação e eu vi inserirem disciplinas, retirarem disciplinas, modificarem currículos, mas algumas coisas são imutáveis: o professor continua sendo mal remunerado, mal capacitado e a escola continua restrita a um tempo comprovadamente insuficiente para oferecer o mínimo aos alunos. 
Na leva de um ensino sucateado, vieram as promoções automáticas, os sistemas de cotas e outros paleativos que buscam resolver na canetada o que, na verdade, custa dinheiro, planejamento e tempo. Surgiram até os amigos da escola, uma iniciativa louvável, mas que merecia uma orientação mais política e menos tapa-buraco. Se quer ajudar, por que não se movimentar como organização não-governamental para pressionar os políticos a definirem uma postura efetiva e planejada para a educação. 
Desculpe-me a secura face às boas intenções, mas entrar em escola para dar aula de capoeira de graça ao invés de pressionar as autoridades a capacitarem os profissionais já existentes para isso é resolver o problema de uma unidade de ensino. Somente uma...
Mas aí você diz, mas e a história do beija-flor? Lembra? Ele está fazendo a parte dele e você?
Pois é, são séculos de trabalho de beija-flor para chegar no pé que estamos... Não está na hora de parar com esse jogo de contente e admitir que os beija-flores podem ser bem intencionados em suas ações, mas um fracasso na capacidade de mobilizar forças em torno de uma causa? 

Em tempo:
Ah sim...
Só não terminaram de dizer que, na história do beija-flor, ele morreu queimado e a floresta ardeu em chamas até a última tora.

A floresta ainda está ardendo em chamas enquanto as crianças cantam o hino nacional enfileiradas nos pátios.... todas sem bonés.

9 comentários:

Anônimo disse...

Isso sim é um desabafo democrático. Apesar de não trabalhar nesse setor, concordo com cada letra que digitou no seu texto.

Já tentei levantar essa bandeira, mas a forma com que você o fez, foi brilhante!

Parabéns pelo excelente artigo.

Cris

Marcus "HEAVY" disse...

Texto perfeito.

Me deixa realmente indignado ver que o Estado tem dinheiro pra colocar ar-condicionado nas salas, dar microfones aos professores e colocar a chamada via cartão eletrônico, enquanto os professores continuam mal remunerados e sem cursos de extensão decentes. E se tenta correr atrás do prejuízo por conta própria, enfrenta diversas dificuldade e embarreiramentos dos que deveriam ser os maiores interessados em sua capacitação.

Parece até uma conspiração do governo contra o ensino no Brasil... opa... o__O

Joana disse...

É um excelente artigo sobre o estado da educação.

Não vai muito melhor por aqui, em Portugal. Todavia, os professores estão a organizar-se em movimentos, independentes de sindicatos, para lutarem por uma educação mais justa e democrática.
E a internet também tem ajudado na construção de uma maior consciência de todos os que defendem as crianças e o seu direito a aprender.

Veja este site aqui, por ex., http://educar.wordpress.com/ (que é seguido de perto pelos binóculos do Ministério da Educação).

Um abraço

Joana

Laila disse...

Belo Estado, que dá notebooks para (os filhos dos) professores usarem, cotas para alunos das escolas públicas passarem no Vestibular (com média inferior) e que restituiu na grade escolar as tão pedidas aulas de filosofia (que servem para os alunos passarem um horário por semana batendo um papinho).
Realmente é um exemplo, uma beleza de governo.

Euzer Lopes disse...

o que me espanta é o sistema oferecer notebooks para os professores e no entanto os softwares serem daquele tipo que "duram 30 dias".
Pior é que o professor tem de correr atrás de legalizar.
O sistema vai dizer que o professor que quer, vai a luta e resolve. Ok.
Mas... deram condições pra ele fazer isso?
Enquanto isso, alunos continuaram ouviram o Ipiranga das márgi prássidas dum povo heróico balde retumbante...

Tiago disse...

Tópicos políticos sempre me deixam assim também, com ânimos inflamados. Dá uma olhada no artigo que escrevi sobre as cotas: http://www.parlamentopb.com.br/ (vai na minha coluna e procura o texto "Dividir para conquistar?", não tem link direto).

Blog do Paulinho disse...

Me causa espanto e até vergonha ver a nivel está a educação neste país. Não estou aqui fazendo politicagem, mas o único político que vejo sempre falar em educação chama - se Cristovam Buarque, Senador pelo PDT de Brasilia. precisamos colocar na cabeça só seremos uma grande nação, sem injustiças sociais e sem os parcos investimentos na educação.

Espero sua visita a minha pagina

http://pc.souza1972.blog.uol.com.br/index.html

All3X disse...

Onde eu assino isso aqui.
O seu argumento está perfeito, e pode servir para tudo nesse país.
Estamos acostumados a tratar consequências, quando devíamos, na verdade, tratar as causas.
Gostei mesmo.
All3X

Anna Paula disse...

A conclusão sobre toda esta desfeita em relação à educação é simples:$e falta de uma consciência social,aquela que promove o cidadão,sabe?
Pra que pensar, "queimar a mufa", implementando projetos educacionais qualitativos se quantitativamente os bolsos de quem está no poder estão cheios. Até parece que há opção entre bolsos e cabeça cheios, um ou outro, os dois não são possíveis....
Além da mesma desculpa: "Não é competência de X fazer isso, dependemos de Y".
Sou EDUCADORA MILITANTE além de abraçar alguns projetos culturais na cidade e digo de cadeira...Ô escolha!
É preciso de GRANA pra se fazer uma escola de qualidade e eu acreditei que não, bastava a competência.... resultado? FALÊNCIA....
E não param por aí as minhas experiências.... tive que parar o último ano do apaixonante curso de Letras porque nem X nem Y poderiam resolver o meu problema.
Até ouvi: "Ela é dona de escola, tem grana..." só não disseram a eles que a escola tava falida.

permita o desabafo