quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

As coisas e os sentidos das coisas

Um dia, eu estava assistindo a uma entrevista na TV e o cara falava sobre o significado de alguns nomes próprios. Lembrei dos filmes de caubóis em que o índio se chamava, Chewabo, e os seus pares sempre explicavam que aquele nome significava “guerreiro bravo e selvagem que luta sem armas na lua cheia e/ou minguante com honra e perseverança por uma causa nobre dos seus irmãos que morreram em outras batalhas”. E eu ficava pensando:
- Caramba, que poder de síntese.. !!
Tudo isso numa palavra só.
Acho que foi por conta desse poder de síntese que algumas tribos entraram em extinção.
Explico...
Chegou-se a um ponto tal que, para o líder da tribo dar uma bronca, ele só olhava e falava: Ó...! e todos já entendiam seu sermão sobre a virtude, a honra, a sensatez e a presença de um deus imenso e bondoso que cuidava de todos. Num estágio evolutivo posterior, era só uma levantada de sobrancelha e os demais se prostravam de joelhos.

Era um silêncio ensurdecedor.
Com o passar do tempo, sem ter muito o que falar, ou quando se tinha resumia-se a tão pouco que todos morreram.. de tédio.
Mas, tudo isso é para falar que, nessa busca por explicar os nomes, surgem coisas absurdas e que me fizeram perder um pouco do gosto por etimologia (estudo da origem das palavras) muito cedo. Vez por outra aparece um jornalista explicando que uma palavra se origina em uma outra expressão ou apresentando uma história mirabolante de um vocábulo. No fundo, é um chute atrás do outro, mas que, às vezes, é uma historinha tão bem bolada que a gente sai repetindo por aí com ares de verdade universal.
Bom, salvo raríssimas exceções, esquivo-me com freqüência de etimologias e assumo que uma palavra significa o que ela quer dizer ali, no contexto. Já gostei de contar casos como o de morcego , que vem do latim mus (rato) e cecus (cego) porque os antigos romanos acreditavam que morcegos eram ratos que envelheceram e criaram asas . Mas, sabe de uma coisa? Enjoei.
Continuo gostando das historinhas, mas para mim, hoje, morcego é um mamífero que se parece com o rato e que voa. (ponto final)


P.S.: A coisa mais absurda que já ouvi foi que a expressão popular "cuspido e escarrado", usada para se referir à semelhança entre pessoas, vinha do termo “esculpido em carrara”. E aí eu pergunto: desde quando quando alguém que é igual ao outro parece com uma estátua de mármore carrara do outro? A idéia original é esculpido (semelhante fisicamente) e encarnado (semelhante no jeito de ser, na alma).. Por favor, sem cuspir ou escarrar em ninguém...

Aí... de lá para cá, perdi o gosto pela coisa.

6 comentários:

Guilherme Bandeira disse...

Concordo com você, não aguendo mais alguém tentar me explicar qual a origem da palavra "forró", seja qual for a explicação, o negócio é dançar...rs.

Feliz ano novo!

www.olhaquemaneiro.com.br

P.S.: Morcego pra mim significa Batman...rs.

Anônimo disse...

Passei para, em cima da hora, desejar um BOM ANO.

Laila disse...

Ah, eu gosto destas historinhas!
A da origem do forró você conhece? É uma das melhores.
Sobre o poder de síntese, bom, acho que a linguagem é uma forma de poder. Não vou nem me alongar sobre as histórias das colonizações, dos povos dominantes, etc.
A língua é a expressão do povo. Quando a língua se torna desnecessária, o povo se torna dispensável.

Anônimo disse...

Ah, Marcelo. Eu sou bastante curiosa com essas expressões esquisitas, talvez eu precise de mais jornalistas contando histórias estranhas para enjoar. Vai ver é questão de tempo.

E passei por aqui para desejar a você muito sucesso, no blog e na vida fora dele no próximo ano. E em todos os outros, é claro.

Homenzinho de Barba Mal feita disse...

É curioso a origem de algumas palavras. Outro dia meu amigo me disse que a origem do termo "Oxe" usado com frequência na região nordeste. E a sua origem vem da palavra Oh Shit...rs
Não sei se é verdade, mas até que tem um sentido.

Ellen Regina - facetasdemim disse...

Coincidentemente, estando eu a ler "O Guia do Mochileiro das Galáxias" nestas férias, sua postagem engraçadíssima me fez lembrar uma explicação de Ford Perfect [um dos personagens centrais do 'Guia', acho eu - não terminei] sobre o porquê de os seres humanos terem o hábito de afirmar e repetir continuamente o óbvio mais óbvio:
"se eles [os humanos] não ficarem constantemente exercitando seus lábios - pensou ele -, seus cérebros começam a funcionar".

Me fez lembrar também as palavras de 'Mustafá Mond' em outro livro que li nestas férias "Admirável Mundo Novo": Toda a ordem social ficaria desorganizada se todos os homens se pusessem a fazer as coisas por iniciativa própria.

Juntando os dois pensamentos acima, talvez esteja aí a razão da extinção da tal tribo, rs.

Perdoe por minhas citações não terem tanto a ver com o sentido q vc emprega no post, mas a associação das palavras de Ford Perfect e Mustafá Mond foram inevitáveis...