Acredito que vivemos em tempos de praticidade. E tenho sérias razões para crer que não é de hoje, pois, na minha adolescência, um sinal de inteligência era, antes de tudo, falar mal da Globo. A emissora recebia rótulos de manipuladora, tendenciosa, direitista e outros predicados pouco abonadores para um país que saía de 20 anos de ditadura recentemente. Em uma discussão, alguém que falava bem de um programa era visto como um agente conspirador, alienado... Esse cara merecia a exclusão social total.
O tempo passou e caiu a ficha de que todo meio de comunicação é tendencioso. A vilã virou, então, a TV, simplesmente a TV. Admitir que assistia a novelas em um meio intelectual era o mesmo que, a um muçulmano, entrar no meio de uma reunião de fundamentalistas islâmicos e gritar: Eu sou gay!
Eis a aberração das aberrações.
Mas não é que o tempo passa e as pessoas continuam tão cheias de clichês como há 20 anos. Você quer parecer chique e inteligente então decore o discurso:
Uma bebida: vinho - cabernet sauvignon
Uma comida: carpaccio
Uma cantora: Nana Caymmi
Um lugar: um piano bar
Um esporte: squash
Um filósofo: Espinoza
Um programa de TV: não gosto de TV, acho alienante.
Um livro: um só? Deixa eu citar 30.
O caminho mais curto para não parecer chique e inteligente é achar vinho enjoativo e preferir Grappete, achar que carpaccio é aquele negócio que fica no pé da porta para a gente limpar os pés, acreditar que Nana Caymmi quietinha é o máximo, pensar que piano bar é sempre um lugar onde tudo é caro pra caramba, supor que squash parece mais uma onomatopéia do que um esporte, surpreender-se ao ver que Espinoza não era só um ex-técnico do Botafogo e admitir que não tem muito que falar sobre os livros da moda já que dormiu enquanto tentava ler e ver televisão em fim de noite nos últimos tempos.
Se de tudo, ainda você acha que é difícil demais fazer isso, cruze os braços durante uma reunião de chiques, balance levemente a cabeça durante o papo, e quando perguntado sorria com ares de concordância ou diga: é uma questão dialética.
O que é uma questão dialética?
Não interessa, fala que impressiona...
O tempo passou e caiu a ficha de que todo meio de comunicação é tendencioso. A vilã virou, então, a TV, simplesmente a TV. Admitir que assistia a novelas em um meio intelectual era o mesmo que, a um muçulmano, entrar no meio de uma reunião de fundamentalistas islâmicos e gritar: Eu sou gay!
Eis a aberração das aberrações.
Mas não é que o tempo passa e as pessoas continuam tão cheias de clichês como há 20 anos. Você quer parecer chique e inteligente então decore o discurso:
Uma bebida: vinho - cabernet sauvignon
Uma comida: carpaccio
Uma cantora: Nana Caymmi
Um lugar: um piano bar
Um esporte: squash
Um filósofo: Espinoza
Um programa de TV: não gosto de TV, acho alienante.
Um livro: um só? Deixa eu citar 30.
O caminho mais curto para não parecer chique e inteligente é achar vinho enjoativo e preferir Grappete, achar que carpaccio é aquele negócio que fica no pé da porta para a gente limpar os pés, acreditar que Nana Caymmi quietinha é o máximo, pensar que piano bar é sempre um lugar onde tudo é caro pra caramba, supor que squash parece mais uma onomatopéia do que um esporte, surpreender-se ao ver que Espinoza não era só um ex-técnico do Botafogo e admitir que não tem muito que falar sobre os livros da moda já que dormiu enquanto tentava ler e ver televisão em fim de noite nos últimos tempos.
Se de tudo, ainda você acha que é difícil demais fazer isso, cruze os braços durante uma reunião de chiques, balance levemente a cabeça durante o papo, e quando perguntado sorria com ares de concordância ou diga: é uma questão dialética.
O que é uma questão dialética?
Não interessa, fala que impressiona...
P.S.: Eu, pessoalmente, prefiro Grapette.
13 comentários:
DE dialética... não?
O que é dialética????
Chique é ter um super renovado ultima edição com mudanças ortográficas do Aurélio.
Como não sou chique, vou procurar no Google.
Aquele programinha não manda:"Joga no Google"...
Então!
Abços
Quem bebe Grapette, repete. Seu texto me fez lembrar de algumas frases pichadas em muros de Volta Redonda, nos idos dos 80/90, do tipo: "Enquanto o povo vê Sassá, o custo de vida aumenta." Bons tempos. Hoje, vemos muitos "CV" e "Só Jesuis sauva." Certa vez, numa reunião de intelectualóides, disse que adorava vinho vagabundo, Sangue de Boi, Ballardin e tal. E que meu prato predileto era pão com ovo. Quase fui apedrejado. E olha que eu nem disse que assistia ao Jornal Nacional diariamente...
Como diria um chegado, "intelectual de c* é rola."
Ambos os casos estão gramaticalmente corretos. Dialética pode funcionar como substantivo ou adjetivo.
Abraços
marcelo- pertenço a uma classe menos previlegiada - vinho...nao gosto muito - filosofo - so li um -sartre- nana caymmi - eu vomito- piano bar - somente para ser dono e cobrar R$ 20,00 por uma dose de uisque 8 anos (natu com agua e sacarina)...ser suburbano é bom!!!abraços...a culpa é do roberto marinho...
Para fazer parte do Universo "Meu amor!", onde cada frase é finalizada com essa expressão, é preciso ter gola rolê, uma taça de carbenet na outra e dizer que não assiste TV aberta. Para parecer ainda mais inteligente, dê um jeito de falar sobre rembrandt ou Focault, se quiser falar sobre os dois, pode-se até dizer que eles tinham um caso. Duvido que alguém conteste.
Isso sim é um luxo, meu amor!
Bom, eu sempre leio o seu blog. Raramente comento, pois acho que quando não se tem o que falar, é melhor ficar calado... já ciente da sua política de desprezar comentários inúteis, me recuso a colocar um breve ¨é, concordo¨, e prefiro não falar nada.
Enfim, eis que hoje esse texto me deixou com a pulga atrás da orelha. ele é uma repostagem ou nós apenas somos siameses com uma transmissão de pensamento incalcuável? eu podia jurar que já tinha lido isso...
Bom, é isso. tá, eu sei que não acrescentei nada... mas precisava perguntar. =P
Abraços
Putz!Acordou em mim um bichinho há muito adormecido:O do apelido.Me chamavam Beth Grapette.Estou totalmente descompansada,então não vou comentar sobre a Dialética ou o carpaccio.Fica pra próxima.Acho mesmo que vou procurar meu analista!hehehe....Abraços
hehehe Ai, Marcelo, tô morrendo de rir aqui com a história do squash e a onomatopéia. rs
Olha só, minha uva preferida é Cabernet Sauvignon, mas é gosto e falta de conhecimento do leque todo. Por exemplo, das que eu conheço, não suporto Malbec, então é coisa de apreciadora fiel. E, pra vc ver, para já não ter problema, decoro o nome da uva e não a marca, senão f...! rs
Mas, vc tem razão, sim. E a frase é imbatível, não abre espaço pra mais nada. A menos que o ouvinte seja um ser pensante, como vc, e retruque com um: É mesmo? Desenvolva! hehehe
Beijão pra vc!
O Carlos ali tirou as palavras da minha boca:
"Intelectual de cu é rola". srrs
Caramba, como eu detesto gente que quer parecer o que não é!
AFFF!!!!!!!
Exato, Amanda.
Este post é uma repostagem. Já foi publicado em 2008 e como ando enrolado com um monte de trabalho na instituição em que atuo, resolvi reeditar. Dessa forma, eu estou meio de férias do blogue e só vou começar com textos novos em fevereiro. Daí, tem muita coisa sendo reenviada porque na época o blogue tinha poucos leitores.
Mas você não é a primeira. Há leitores das antigas que já notaram isso.
Fique à vontade para comentar o que quiser.. eu não sou tão monstro assim...rs
Um grande abraço
Marcelo Leite
Oi, Marcelo!
Creio que os verdadeiros intelectuais não precisam ficar esnobando frases prontas, citações, esportes ou marcas de vinho. Ainda mais sobre TV, uma vez que gosto é igual bunda, e todo mundo tem uma...hehehe...rs. Adorei o texto que vem sempre de uma forma crítica e bem humorada.
Abraço
Eu ainda prefiro um Cabernet, mas não sou chique! Tô longe disso! rsrsrsrs
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