Mostrando postagens com marcador essência. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador essência. Mostrar todas as postagens

domingo, 17 de agosto de 2025

A caneta do presidente

 

As coisas são sempre vazias por sua natureza. Nós atribuímos essência a elas, inclusive as dores que permitimos nos impingir. Se Jorge compra uma caneta que foi usada por Getúlio Vargas, ele coloca em uma caixa de vidro em sua sala e mostra aos seus amigos. Os amigos ficariam impressionados porque Jorge pagou 20 mil reais pela caneta, mas entenderiam que, afinal, não era uma caneta simples, mas uma caneta que pertenceu a Getúlio Vargas (com certificado e tudo mais). Foi uma bagatela sair por 20 mil reais naquele leilão on line.

Numa tarde qualquer, aparece na televisão um homem que foi preso com uma caixa com mais de 100 canetas que eram atribuídas a celebridades (entre elas Getúlio). Mas que, na verdade, vinham do Paraguai. Iguais à caneta de Jorge. Com certificado de originalidade e tudo. Frustrado, ele quebra o vidro da caixa que guardava a caneta e a joga no chão. 

A caneta continuaria a ser de Getulio Vargas se Jorge não tivesse visto ou tomado conhecimento daquela reportagem. 

O fato é que atribuímos essências às coisas em um universo do não ser. A caneta é e não é de Getúlio Vargas. Depende do momento em que olhamos: antes da relevação e depois da revelação.

As coisas não são nada além de coisas e a nós cabe a atribuição de essências que muitas vezes, assim como a caneta histórica, nada mais são do que uma coisa que acreditamos que seja diferenciada baseada em nossas experiências e valores. 

Remover a essência das coisas e a forma mais plena de experienciarmos o vazio e atribuir a ele a nossa real vivência que, quando muito, dura o tempo que se estende. Enfim, é plena enquanto dura.