Na década de 60, surgiu o mito da arte engajada. Uma ideia meio torta de que a arte só é válida se possui um vínculo político, um comprometimento com a mudança e os ideais revolucionários (sic). As pessoas esquecem que o revolucionário de hoje nada mais é do que um reacionário que ainda não teve sua vez de cultivar suas ojerizas às mudanças. Afinal, outros revolucionários sempre virão para se opor aos velhos que se tornarão os reacionários de então.
Mas não estou aqui para isso. Sempre fui meio parnasiano e admiro a arte pela arte, Ars gratia Artis. Admiro pelo poder contemplativo que ela tem de me remeter a um estado de êxtase que não se compromete com nada a não ser com o momento em que me sequestra da realidade.
No período de eleição, saíram atirando em artistas ícones que apoiaram esse ou aquele político porque levaram vantagem com parentes empregados, verbas etc. Soou um tom de "que decepção!"
Sinceramente, nunca me decepcionei com isso. Devemos saber separar o artista, aquele que produz uma obra digna de contemplação e admiração do homem que, não estando acima das fraquezas de todos nós, gosta de dinheiro, poder, tem interesses pessoais e acha que se a farinha é pouco, o pirão dele deve ser primeiro. No geral, quase todo mundo pensa assim. Por que ele seria diferente?
Para mim, o artista genial que apoiou o candidato porque se favoreceu de alguma benesse política, continua sendo um artista genial. E eu continuo fã. Nada mudou.
No fundo, eu nunca admirei a pessoa, pois não a conheço. O que eu sei dele é a canção que me remete a um estado de contemplação e inspiração que me faz escrever esse texto.
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