sábado, 29 de novembro de 2008

Onomatopéias sem as quais nossa vida não seria a mesma.

Cadê você... "pa, pa, pa, pa" (back vocal).. que nunca mais apareceu aqui

Canta-se em uma música estilo bregão romântico que meu vizinho ouve à exaustão (exaustão minha, pelo jeito, não dele)... Até bonitinha (olha a lavagem cerebral funcionando), mas tão doce que se gravou um versão diet para diabéticos e uma light para pessoas em regime alimentar do tipo “sem açúcar”.
Mas não é o só "pa, pa, pa, pa" que me chama a atenção. Penso que as onomatopéias dão uma grande contribuição para música popular. Pensem no que seria de um bom samba enredo sem um "oooooooiii", no início do samba e um "ôô ôô ôô"... no final. E Claudinho e Bochecha, não teriam sido os mesmos sem "oh ié... oh iéééé"...
Vamos ser internacionais e imaginar uma boa rumba sem o "uuuhh" no final. Aquele "uuuhhh" que brota das profundezas de seu ser, como se o saco do cara tivesse sido atingido por um chute de alguém que usava uma bota ponta de ferro, daquelas que se usam em siderúrgica como material de proteção... Mulheres, vocês nunca conseguirão fazer idéia do que isso quer dizer... mas tentem. É intenso...
E, nos tempos dos festivais, nas rodinhas de amigos, sempre tinha um "lá lá iá, lá ia"... “Por onde for, quero ser seu par”. Aquilo era a salvação dos que esqueciam as letras, um espécie de refúgio dos desmemoriados amantes da música. De outra forma, éramos obrigados a ouvir o cara cantando errado e ficar na dúvida corrijo ou não?
- Cazuza.. vamos lá... “A toxina ta cheia de ratos...
- É... na verdade, é “a tua piscina está cheia de ratos...”
- Vamos cantar outra então: Kid Abelha “Procuro evitar comparações entre cores e decorações..”
- Bem .. na letra, é “flores e declarações”...
Então, mandamos bem... Cláudio Zoli...
- “Na madrugada, vitrola rolando um blues, tocando de biquíni sem parar...”
- Agora, parou, me dá essa porra desse violão.. parou, parou, parou... Que “tocando de biquíni”? O Claudio Zoli, de biquíni, de madrugada, e a vitrola ligada... Pelo jeito não dava nem para ouvir o que o cara estava tocando de biquíni, né.. Presta atenção: to-can-do BB king sem parar, porra...!

Eis um silêncio..

- o BB King estava de biquíni? Argh... Que tosco....

Por favor, tragam as onomatopéias de volta.

---x---


Em tempo: Na foto, BB King.. e nenhum biquíni em questão.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Da série ambiente de trabalho V: o bonzinho.

O cara não é chato, chato é quem diz que o cara é chato. O cara é prestativo. Astolfo estava sempre lá quando você precisava e, infelizmente, quando não se precisava dele também. Trazia bolinho que a mulher dele fazia para dividir com o pessoal, e, quando você menos esperava, ele ia a sua casa para comer o bolinho você tinha comprado. Gostava de se abrir com os colegas, falava de seus problemas pessoais, afetivos, financeiros, até sobre suas hemorróidas já se abrira com os colegas. Se o encontrava no mercado, ele o acompanhava durante as compras toda só para fazer companhia. Durante o período, falava somente do seu trabalho. Astolfo gostava do seu trabalho e de falar sobre ele... o tempo todo.

Mandava sempre uns 10 e-mails para você por dia com piadas, correntes, notícias de criancinhas desaparecidas. Astolfo adorava compartilhar. Quando foi nomeado chefe da seção, Astolfo marcou uma apresentação para descontrair os colegas em que apresentou duas horas de um vídeo sobre vinho que ganhou de presente de um cunhado dele. Astolfo queria ver os colegas bem informados.

Mas naquele dia, Astolfo tomou um baque na sua vida... Sobre sua mesa jazia um bilhetinho semi-aberto com os dizeres:

Astolfo,
Morre, desagraçado!
Ass.: anônimo.

Astolfo nunca imaginou que houvesse alguém naquela repartição que detestasse tanto vinho.



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Da série ambiente de trabalho II: O preconceito... o perseguido!

Da série ambiente de trabalho III: O amigo do chefe

Da série ambiente de trabalho IV: O afilhado do Almeida


terça-feira, 25 de novembro de 2008

Da série ambiente de trabalho IV: O afilhado do Almeida

O Dr. Almeida é como uma entidade espiritual, está presente sem ser notado e todos acabam lhe pedindo favores algum dia. O afilhado do Almeida chegou assim no RH da empresa. Quando souberam quem era, logo trataram de lhe contratar para um cargo qualquer. Afinal, o cara é afilhado do homem e a gente nunca sabe quando vai precisar dele. Horário era para os mortais, pois o afilhado do Dr. Almeida não podia ser submetido a isso. Lista de corte, o afilhado do Almeida estava fora. Alguém é louco de desagradar o homem? Só tinha até a quarta série, mas quem precisa de mais quando se tem o Almeida como padrinho? Tirava licenças médicas uma atrás da outra, mas questionar o excesso.. nem pensar. Cara, você sabe com que está lidando? Então fica na sua...

Um dia, o Dr. Almeida faleceu quando caminhava de casa para a repartição em que trabalhava como chefe... No dia seguinte, a empresa teve uma redução de despesas com pessoal... o afilhado do Dr. Almeida foi para a rua.

Na porta do RH chegava um rapazinho franzino, branquinho, de pernas arqueadas e óculos e se apresentava:

- Bom dia, eu vim deixar meu currículo, seu sou sobrinho do Dr. Caldeira lá da repartição, que ficou no lugar do falecido Dr. Almeida...

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sábado, 22 de novembro de 2008

Vilões de mentirinha.. desses eu gosto.

Eu gosto mesmo é dos vilões de mentirinha. São charmosos, irônicos, levemente sádicos, mas acima de tudo de uma ingenuidade cativante. São sempre poupados pelo herói que opta por não matá-lo com o argumento de que, se o fizer, estará se igualando a ele. E pulamos de indignação com a sua gentileza hollywoodiana. Ah se fosse eu... ah se fosse.

Mas o grande charme desse vilão é sua ingenuidade. Depois de um plano altamente elaborado e que nos deixa de queixo caído, ele captura o mocinho e, antes de executá-lo oferece-lhe todo o roteiro. Conta-lhe como ele o pegou, como o plano foi montado, quais as pessoas que o traíram e, finalmente, como ele será assassinado. É como se o bandido fizesse um relatório geral ao mocinho para torná-lo inteirado do que se passou. Quando o mocinho diz: - já entendi tudo. A platéia já o fez há uns 20 minutos pelo menos... mocinhos são sempre meio lesados. Eu gosto é dos vilões de mentirinha.

No final, tudo vai por água abaixo, pois o mocinho escapa e ainda pune o vilão... Lamentamos que ele tenha uma língua (e uma vaidade) tão grande. Lamentamos, mas continuamos gostando dos vilões de mentirinha.

Queria um mundo de vilões de mentirinha, os vilões de verdade não capturam pessoas e relatam seus planos que, aliás, não são complexos e ficam escondidos atrás de sorrisos sonsos de Monalisa. Os planos dos vilões de verdade não têm nada de engenhoso. Baseiam-se na estrutura clássica de fofoca, mentira, simulação... Se eles são velhos, usam as rugas para se esconder e tentam-nos fazer esquecer que os canalhas também envelhecem. Os vilões de verdade adoram rótulos que os enquadrem como minoria de alguma coisa. É como se fosse um salvo conduto contra qualquer medida que viesse a ser tomada com relação às suas vilanias. Os vilões de verdade jamais assumem o que vão fazer, sempre estão cumprindo ordens ou atribuindo suas atitudes a outra pessoa. De saias ou calças, por trás de uma mesa, os vilões de verdade, dormem e acordam com a fobia de que um dia os descubram os desnudem em frente a todos. Medo incontrolável de que sua verdadeira face apareça, principalmente, no espelho de seu quarto.

Os vilões de verdade nem sempre são punidos no final. Às vezes, se aposentam e levam consigo todo o fel da maldade que moldaram durante a vida.

É, por isso, que eu gosto mesmo é dos vilões de mentirinha.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Da série ambiente de trabalho III: O amigo do chefe

Benedito não era um puxa-saco não. Puxa-sacos são aduladores, bajulam sem porquê. Benedito era amigo do chefe e orgulhava-se disso. Estudou numa escola perto da casa tio do cara, conheceu o pai do homem numa farmácia uma vez, sabe o nome dos filhos dele em ordem do mais velho para o mais novo, compra pão na mesma padaria que ele. Enfim, quase irmãos.

Nunca foi a casa do chefe, mas pergunta sempre, quando o encontra, "como vai a esposa, D. Fulana? E as crianças?" com se fossem cumpadres. Quando tem um problema na empresa se oferece para interceder pelas pessoas junto ao chefe. Algo como "Benedito, rogai por nós pecadores". E lá vai Benedito. Não surte efeito porque o chefe está sempre ocupado, mas ele vai me ouvir... uma hora vai.
Nunca entrou na sala do chefe, mas tem certeza que, no dia em que entrar, é para algo muito importante.
Afinal, o cara é seu amigo assim ó, ó. (esfrega os dedinhos)


De longa data...

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quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Conspiração S.A – a verdade está lá fora.

Para início de conversa, o mundo não é um episódio gigante de 24 horas e você não é o Jack Bauer.
Pronto, agora vamos lá...
Vez por outra aparece um maluco com uma teoria de que o homem não foi à lua, que aquilo foi filmado em uma praia ou em um deserto, o mesmo que foi usado posteriomente para filmar Mad Max. Tentam comprovar sua tese com vídeos (tão duvidosos quanto os originais) e observações "geniais". Em outro momento, aparece alguém dizendo que a morte de Kennedy foi uma conspiração do FBI e da Cia para evitar que ele revelasse segredos de estado americano. E Marilyn Monroe, também.. ela sabia demais (sabia até fazer divisão com dois números). Outro aparece dizendo que Elvis não morreu, mas que foi abduzido porque era um ser híbrido.
Por aqui, surge um paranóico associando a morte de Tancredo Neves a um plano de dominação arquitetado pelas elites, o FBI (Por que sempre o FBI e a CIA?) para que ele não assumisse a presidência. Na verdade, ele teria sido envenenado com uma substância impossível de identificar por tecnologias em nosso planeta. Ele não poderia assumir porque representaria uma ameaça aos planos que já foram traçados há séculos por um conselho de imortais que redigiram um manuscrito que termina com a dominação da terra. E isso passa pelo Brasil, é claro.

E, para endossar a paranóia toda, ainda tem sempre um astrólogo, numerólogo, tarólogo, ou estudioso da Cabala para mostrar há uma coincidência mortal. Se pegar o número de meses do ano (12), diminuirmos pelo número de dias da semana (7) e pelo número de estações do ano (4), teremos, pasmem e se preparem para o que vou revelar.... o número um. É... o número 1, o início de tudo, o indivisível, o número fálico que simboliza o poder único da espada de um homem, aquele que virá no final dos tempos e dominará o planeta, o filho do cão. Nesse momento, ele está em UM lugar, esperando UM momento em que UM homem o despertará para UM novo amanhã e aqueles não crêem serão vítimas de UM espasmo que o jogará em UM chão a tremer... IMPRESSIONANTE não? É muito UM para ser coincidência...

As torres gêmeas em formato de dois “UM”, a bomba atômica comprida como um UM, a espada de um anjo guerreiro ergue-se como o UM, o órgão masculino, símbolo do poder do macho, ereto como o UM, quando temos dúvida sobre algo fechamos a boca e perguntamos com a sobrancelha franzida: hUUM .. Todos os sinais já estão aí. Você não vê porque não quer...

A verdade está lá fora.

Ou não?

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Da série ambiente de trabalho II: O preconceito... o perseguido!

Ramon tinha certeza de que não conseguira nada na empresa até hoje porque, há tempos, sabia que rolava um complô contra ele. Viu no corredor duas pessoas falando baixinho e tinha certeza que era dele que falavam. Deve ser só porque comprou um atestado para tirar folga mês passado. Ô, gente invejosa...! Outro dia recebeu uma advertência porque chegou atrasado mais uma vez... mas tem gente que chega atrasado e não falam nada.

Era marcação.

O cargo de gerente, tiraram de Ramon assim, ó... do nada. Tudo isso, logo depois que ele preencheu errado uma série de guias da empresa e deu um prejuízo imenso. Mas era marcação, já havia visto gente errar outras coisas e nao deu em nada. Hoje, no bebedouro, perguntou as horas para um colega e ele respondeu assim: não sei. Deixei o relógio na sala... assim com um ar de "estou armando uma para você, por causa daqueles material de escritório que você tem enfiado na bolsa e levado para casa toda sexta-feira".
E a bronca do chefe na semana passada?
Aquilo era isso mesmo, perseguição... Ah se era! Só porque foi grosseiro com um cliente chato, o patrão veio e deu uma chamada nele... Tem gente aqui que é grosseira e ele não fala nada. Mas como aconteceu com o Ramon, coitado do Ramon...
Tenho certeza de que é marcação mesmo, só porque eu vim de família humilde, estudei com dificuldade, trabalhei como garçon, vim de uma região pobre, ficam tentando me derrubar... ô , gente.. ô, gente!


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sábado, 15 de novembro de 2008

O bom mau humor de cada dia.

Sou o tipo de público de teatro mais ranzinza que conheço. E olha que eu já fiz de tudo para melhorar. De uns anos para cá, com o advento do stand up comedy, acho que fiquei mais enjoado ainda. Nesse tipo de espetáculo, o ator tem que ser muito criativo e o humor é descartável... Ninguém agüenta ver duas vezes. Sinceramente, eu não sei como é que uma pessoa consegue achar graça em humorista que faz personagem de bêbado, conta piada de sogra e história de corno.

Estive em um show de humor certa vez e os três esquetes eram: um bêbado; acho deprimente e não sei como alguém consegue rir de um cara imitando alguém embriagado, falando confuso, caindo pelas beiradas e que, na minha concepção, é um doente grave. Soa-me mais ou menos como rir de alguém com câncer terminal. Não é má vontade minha não, mas está cada dia mais difícil ser educado nessas situações.

Depois, entra outro cara contando piadas de sogra. Bom, simplificando e encurtando a história. Sogra boa é sogra morta, sogra é bruxa, sogra tem que sofrer... Não tenho nada contra minha sogra, até que acho uma pessoa bem legal, mas sinto que se manifestar meu ponto de vista com um cara daquele, vou ser espancado. E pasmem, a piada mais nova é do tempo da antiga TV Tupi e ainda tem um filho da mãe na platéia que ri.

E, finalmente, as piadas de corno. As famosas listinhas de tipos de corno (Isso era para ser proibido por lei de tão gasto e repetitivo). O cara entrou, e, antes da primeira piada, perguntou: vocês conhecem um corno?

E, no silêncio de minha cabeça, pensei: corno eu não sei, mas um idiota que perdeu 10 reais e uma hora e dez minutos do seu tempo sentado aqui... esse eu conheço.

Muito prazer, Marcelo!

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Da série ambiente de trabalho I: O doente conveniente... o coitadinho!

Adalberto tinha problemas sérios de saúde, embora ninguém nunca soubesse ao certo quais. No serviço, se o advertiam, logo, alguém chamava a atenção: Cuidado, ele tem problemas de coração! Se ele chegava atrasado, um olhar de repreensão era o máximo que recebia. Falar com ele? Nem pensar! Ele tinha problema de pressão sério mesmo. Na primeira promoção que aparecia na empresa, logo o indicavam ainda que sua competência estivesse muito aquém. Coitado! Tinha família para cuidar e ainda era doente, né!?

Se o trabalho que ele deveria fazer, e não fazia, acumulava, logo, uns colegas se apressavam em fazê-lo. Pobre coitado, tem problema de nervos, diziam. Na firma, durante uma crise, todos foram mandados embora, mas Adalberto ficou lá. Firme e forte,.. coitado... a esposa tinha problemas de saúde terríveis e ele ia de mal a pior a cada dia que passava.

Adalberto morreu aos 98 anos, saudável, dormindo...

No velório, alguns sussuravam:

- Vê só, foi Deus que o manteve vivo.. só Deus mesmo.

Adalberto sorria levemente no caixão como quem sentia um imenso alívio de uma gripe mal curada aos 10 anos e que virou um boato que lhe rendeu a vida toda de berço esplêndido.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

De paisagem, de Janelas e de culpados

Jonyedson tem 10 anos, mora numa favela na zona norte do Rio que é dominada, metade por traficantes, a outra metade por milicianos (nesse caso, um acordo de cavalheiros raro no ramo). Na escola dele, dois garotos, aviõezinhos do tráfico, foram executados porque tentaram passar a perna nos bandidos. Suspenderam as aulas no dia. Ordem do chefe da boca. Sua mãe, diarista, sustenta 6 filhos e, vez por outra, registra queixa na delegacia de proteção à mulher contra seu ex-marido que invade o barraco embriagado. Ele a espanca e toma-lhe os parcos trocados que recebe. Logo após, retira a queixa com medo de represálias de amigos do ex, todos ligados ao movimento no morro. Jonyedson assiste a tudo debaixo da cama para não apanhar também. Hoje de manhã, Jonyedson teve que esperar mais de 1 hora para sair de casa por causa de um tiroteio do pessoal da boca com os homens do BOPE. Na calçada, quando saiu, já estava aquela montoeira de sacos pretos cobrindo o que sobrou da ação.

Mas naquela manhã algo mudou. A mãe de Jonyedson foi chamada às pressas à escola. Por causa de uma discussão com um coleguinha de sala, seu filho empurrou uma cadeira e o menino caiu ralando o braço na altura do cotovelo.

O comportamento agressivo dele preocupou a orientadora pedagógica, psicopedagoga com formação também em sociologia, que pediu à mãe que cortasse os desenhos japoneses que passam na TV, pois eles são os principais responsáveis pela "explosão de violência" do garoto.

A mãe, então, passou a guardar a pequena TV em preto e branco do Paraguai adquirida em um camelô em cima do armário.

***

Quando fica em casa, Jonyedson passa as horas debruçado na janela vendo as pipas que sobem quando os PMs chegam.
Isso quando não tem tiroteio.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

A pauta que saiu.... Agora é seguir.

Definitivamente, não agüento mais pautas do Jornal Hoje com o tema: a língua que o Brasil fala. Veja os sotaques e expressões de diversas regiões do Brasil. O locutor abre um sorriso e fala isso com ares de primeira vez. Tenho sensação de que quando desliga para o comercial ele diz: Pô, gente, de novo!
Aí, depois quando volta do comercial, entra o exemplo de um gaúcho falando “Bah, tchê”, um mineiro falando “Uai”, um baiano falando “meu rei” e eu falando: tá na hora de mudar de canal. Parei de contar em 134 vezes o número que essa reportagem no Jornal Hoje foi ao ar. Agora só mundo de canal e pronto.
Falta de criatividade total e absoluta.
Estraga meu almoço.

***

E tema do Globo Repórter:
[voz de locutor]
Você verá no Globo Repórter desta noite: a vida sexual das andorinhas amarelas do sul da Indonésia. Como se reproduzem, onde vivem (já disse que era na Indonésia. Tirou toda a surpresa), o que fazem durante as tardes, o que pensam (?)... No Globo Repórter, desta noite...


Sky ou dormir cedo, ler uma revista ou um livro, escrever ou comentar post...?
Você decide! (Vixe! Esse nem passa mais)

sábado, 8 de novembro de 2008

Tá ruim, mas tá bom... bom, bom, bom, não tá... mas tá bom.

Nasci em 71, um ano depois da copa do mundo que, na época ficou nossa, 12 anos depois, não mais era nossa, roubaram-na. E nem os 90 milhões em ação impediram que ela virasse um monte de ouro derretido vendido a algum receptador de produtos roubados. Lembro-me de poucas coisas do regime militar, vim aprender mais sobre isso com o Elio Gaspari em seus livros (o cara é genial... Recomendo). Só me lembro como gente alguns anos depois da Copa e das memórias que trago, uma me marcou de forma indelével. Dentro de casa, meus pais falavam coisas do tipo "governo ladrão", "político safado", "militares assassinos" e, numa das vezes que ouvi isso, um dos adultos por perto atentou para o fato de que uma criança os ouvia e reiterou:

- Ei, isso não é coisa que se fale na rua, não, viu!

Demorei uns 15 anos para entender exatamente por que aquilo não era coisa que se falasse na rua.

Hoje, menos freqüente do que anos atrás, ainda ouço gente que diz que bom era no tempo dos militares. Não havia essa roubalheira, não. Claro, eles (os militares) roubavam sozinhos. Não havia essa baixaria da imprensa. Óbvio, eles (os milicos) fechavam jornais e prendiam jornalilstas que ousavam discordar da ordem geral "Brasil, Ame-o ou deixe-o". E quem não amasse era forçado a deixá-lo. Quisesse ou não. Encalacramo-nos em dívidas que consumiram as riquezas nacionais durante duas décadas e, ainda assim, saímos no mesmo pé que entramos. No zero a zero...

Ao pessoal que chegou de 80 para cá, saiba que Papai Noel, coelhinho da páscoa, duendes e gnomos (não vale se lembrar da Xuxa, ela não serve como referência para nada), militares e juízes presos eram algo que girava na mesma esfera mítica e cairia bem em seriados como o antigo "Além da Imaginação" (acho que ainda passa na TV por assinatura). Ainda caminhamos para uma país melhor, estamos no iniciozinho da conversa, mas o nível da prosa já melhorou bastante.

E isso, agora, é coisa que se deve falar na rua.

Em tempo: Na época do regime militar, roubava-se, fraudava-se, violava-se direitos humanos muito mais do que agora, mas quem ousasse levantar essa discussão virava estatística. Conquistamos o direito de falar o que pensamos, daí, se seremos ouvidos, estamos falando de outra conquista em andamento.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Parece problema de matemática, mas não é.. de matemática! É social.

Um banco atende 100 pessoas por dia. O tempo médio de atendimento são preciosos 40 minutos. Em respeito ao cidadão , instituem o sistema de atendimento preferencial para gestantes, idosos (maiores de 60 anos) e portadores de deficiência que representam 10% de sua clientela. Os outros 90% dos clientes e não-clientes continuarão mofando nas filas.

Será que alguém mais além de mim, notou que o problema não é o cliente, mas o serviço oferecido pelo banco que é lastimável?

Em tempo:
Por favor, não sou contra atendimento preferencial de nenhuma natureza! O que não entendo muito bem é por que razão o direito à dignidade não deveria ser extensivo àqueles que não têm nenhuma deficiência, que não estão "grávidos" ou mesmo que, com 37 anos, como eu, precisam ainda de esperar 23 para serem respeitados.

Em um sistema eficiente, não seria necessário nenhum sistema de preferencialidade e ceder a vez a pessoas em alguma situações especiais deveria ser uma questão de bom senso, não de lei.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Música ambiente... que ambiente?


Sempre ouvi falar em música ambiente e imaginei que, às vezes, não há coisas mais complicadas de se harmonizar. Araketu e velório, Mozart e trio elétrico na Bahia, Bee Gees e desfile de escola de Samba, Techo dance e sala de parto.. e vai por aí. Dessa forma, aos poucos fui vendo que a música é a cara do lugar onde toca e dos ouvintes que o freqüentam, daí criei uma espécie de “feng shui” da música a fim de harmonizá-la aos seus ambientes.

Música
Bruno e Marroni
[ambiente]
Bar de beira de estrada, balcão, ovos coloridos numa estufa de vidro e carne boiando na gordura ao lado. Prateleiras com garrafas de pinga, conhaque e biscoitos amarelinhos que pegam fogo fácil (conhece?). Um cartaz de cerveja com uma mulher de shortinho e parte de cima do biquíni, com uma cerveja na mão. Caixa de chiclete Adams amarelinho numa vitrine ensebada.

Música
Araketu
[ambiente]
Um monte de gente suada, música alta para caramba, cerveja, cerveja, cerveja, muvuca na rua.. Voltam para casa... um dia.


Música
Capital inicial
[ambiente]
Show de exposição. Cerveja, muvuca para entrar, dificuldade para estacionar... Na platéia, um monte de trintão cantando as musicas com saudade dos tempos em que tinha 16 anos... (há uns vinte anos mais ou menos). Do outro lado, uns pós-teens que também curtem o som em clima de retrô do que não viram.


Música
MC Qualquer coisa
[ambiente]
Baile fechado, clube ao estilo quadra de futebol de salão. Palco armado onde ficava uma das traves. Galera A de um lado odiando a galera B que está do outro. Cerveja barata, música alta, no final, todo mundo de ônibus para casa... ou de chevette, corcel II, fusca.. a frota é vasta. Mas tudo "tunado"...

Música
Orquestra Los Tiozitos
[ambiente]
Salão de clube decadente. Música em altura razoável, começa cedo (logo depois do bingo) porque tem que acabar cedo (antes das 22). Homens de ternos e mulheres de vestido. Bebida com considerável moderação. O mais novinho aposentou como operário da pirâmide de Quéops. Por prudência deveria ter uma equipe médica de plantão do lado de fora. Ao fundo, Ray Connif rola solto... "Uma loucura, loucura, loucura..." como diria Luciano Huck.
Voltam para casa de van fretada.


Personagem, música e ambiente contam uma história e compõem um ambiente. Não acredita? Experimente colocar os vovozinhos num baile funk ou no show de axé.
Vai.. experimenta.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Ainda bem que hoje é terça-feira...

Nunca gostei de domingo e já até escrevi um post sobre isso. Nada mais deprimente do que aquela musiquinha do fantástico e do Tadeu Schmidt apresentando o bola murcha e o bola cheia... Aquilo é o sinal de que os últimos suspiros de seu final de semana já chegaram.
Mas pensei que minha implicância com esse dia acabaria ali.
Não acabou.
Todo domingo, o Dr. Drauzio Varella vem para a telinha para me lembrar que eu nasci, cresci, estou perdendo a elasticidade da pele, meu metabolismo é menos eficiente, minha visão perde acuidade com o passar do tempo, meus neurônios estão morrendo, meus cabelos estão caindo e outras coisas vão cair também. Enfim, estou caminhando para realizar o sonho da cova própria. Tudo isso com imagens fantásticas de um documentário da BBC e que me deixa com uma baita orgulho:
- Olha lá, igual a mim.. tô morrendo assim ó... Igualzinho.

***
- Dr. Drauzio! Na boa, eu sei que estou ficando velho... pára com isso, por favor.

***
Quer saber o cúmulo do sadismo?
A série acabou domingo passado (2/11) e eu já tô com saudade. Muito legal, né?

sábado, 1 de novembro de 2008

Frases e frases.. e eu não entendi...

A minha grande implicância com ideologias políticas ou religiosas são as frases. Pois é, elas mesmas. As pessoas assumem uma ideologia ou aceitam uma religião e enchem o mundo de frases tiradas de seus livros doutrinários que, não sabem eles, fora de seu contexto, servem para tudo. Ou para nada, como queiram...

"...concentra na manhã e no fim de tarde"

A partir daí, encontraremos adesivos de carros, camisetas, campanhas que mobilizarão grupos em torno da frase. Se tornará uma palavra de ordem, retrato de toda uma maneira de ver o mundo, hino de uma só oração que será entoado e seguido por milhares de fiéis ideológicos ou religiosos. Pois, nas sagradas palavras, "concentra na manhã e no fim de tarde" é a única saída para aqueles que já estão descrentes de um mundo melhor.

Livros serão escritos, as palavras serão atribuídas a profetas ou a filósofos. A constestação da profética mensagem será vista como um crime contra o universo. Estudos serão feitos sobre o que está na entrelinha disso tudo. Divergências surgirão e os carros circularão com a frase estampada em seus vidros traseiros como um talismã que o qualifica como alguém altamente especial.

Até que eu lhe digo que o som profético dessas palavras foram tirados da VEJA Rio, 22 de outubro, página 43 em uma reportagem com Eduardo Paes, candidato a prefeitura do Rio, que dizia que sua agenda concentra atividades na manhã e no fim de tarde.

Mas as palavras são sagradas, muitos não irão crer que tamanha sabedoria tenha brotado em algo tão banal. Com certeza, o autor desse texto está blefando porque é um cético, descrente, infiel... Essas palavras foram retiradas, com certeza, de algum livro sagrado, encontrado escrito em sânscrito numa tumba de um profeta que acredita-se ser contemporâneo de Moisés.

"...concentra na manhã e no fim de tarde"
E conhecereis a verdade...

(com direito ao verbo flexionado na 2ª pessoa do plural... chique, né?)