domingo, 23 de setembro de 2012

O filme para adultos (sem noção) ou adolescentes (desesperados)

Sempre gostei muito de cinema. De tudo em cinema mesmo e desde sempre. Quando eu tinha uns 16 anos, a tecnologia de ponta eram os videocassetes com duas ou mais cabeças de leitura e gravação. Para quem não sabe isso era uma espécie de versão pré-histórica dos blue rays de hoje. 
Para um adolescente da época (déc. 80) não havia maior transgressão do que assistir a um filme pornô, na época era, simplesmente, filme de "sacanagem", no vídeocassete. Hoje, esse termo caiu em desuso, pois só se refere ao que é exibido pela TV câmara ou a TV senado, o reduto da mais devassa sacanagem no país. Um dia eu tive essa oportunidade e, meio às escondidas, aluguei um fime nacional que me parecia bem interessante, pois tinha uma história que dava moldura à sacanagem toda. Mais ou menos como, hoje, são os depoimentos de CPI. 
O filme começava com um monte de gente dentro de uma Variant velha meio bege indo para um sítio, o motorista dava trancos violentos no volante e gritava alguns palavrões. Ao chegar no sítio, havia a carcaça de um animal morto e um dos “atores” abaixou ao lado, tirou uma flautinha doce de plástico e começou a tocar. Tocava mal pra cacete e aí percebi que aquele filme era de sacanagem mesmo. Chegando à casa do sítio, um lugar meio lúgubre, começou o rala-e-rola. Quando os caras e as mulheres tiraram a roupa, eu poderia jurar que eles estavam fazendo aquilo por necessidade, que o cachê ali era um café com leite e um pão com manteiga. As moças eram de uma magreza e uma feiúra de dar dó, Já os rapazes, era o contrário, eram de uma feiúra e uma magreza de dar dó. Uma das moças era tão peluda que parece que escondia um gato angorá nos suvacos e na virilha. Eram momentos de horror. Poucas vezes na minha vida vi uma coisa daquele jeito e repetia para mim: caramba, gastei meu dinheiro com essa merda! Sacanagem, sacanagem...! Assisti a mais alguns minutos de filme o suficiente para não entrar em depressão profunda e ao mesmo tempo ter certeza de que aquilo era "aquilo" mesmo. As revistinhas não se mexiam, mas eram mais agradáveis de se ver, pensei. Por muito anos levei esse trauma comigo e perdi completamente o interesse pelos filmes do gênero. Fui superar isso anos depois, mas mesmo assim, ainda sou capaz de apostar que tem gente que ainda trabalha por um lanchinho e pelo vale-transporte.