Tenho um querido e velho amigo que a vida toda se especializou em fazer coisas que não dão dinheiro. Um dia comentei isso com ele que retrucou ironicamente (aliás, ele é um poço de ironia e bom humor): Pois saiba, meu caro, que agora eu aprimorei... Estou ficando bom em coisas que dão prejuízo (inclusive ele tem vários filhos... uma prova disso). Rimos juntos um bocado depois dessa tirada.
Naquela época da minha vida, eu estava atolado de compromissos e ganhando, juntando e investindo dinheiro. Trabalhava adoidado (de segunda a segunda), tinha um relacionamento infeliz e seguia fazendo coisas que dão lucros. Seguia infeliz, mas lucrativamente infeliz. E lá se vão uns 10 anos....
Hoje, eu recebi uma ligação de uma pessoa que não conhecia e queria tirar dúvidas sobre um vídeo que fiz na internet sobre palavras e ideias-chave. Dei uma aula para ela e fiquei de fazer um vídeo explicando um pouco mais sobre um tema. Ela perguntou quanto seria o custo.. eu disse que nada e agradeci a oportunidade de ajudar. Mais uma vez, senti-me encher de alegria de fazer algo que não me dava dinheiro, mas me fazia tão pleno em ser útil.
Lembrei-me da primeira vez que entrei numa sala de aula como professor, recebendo salário. Eu pensei, cara, isso é bom demais e ainda me pagam por isso. Pois é... a vida é cheia de coisas boas que são boas porque são. Quando nos pagam por isso, é melhor ainda, mas quando não pagam, não deixam de ser coisas boas.
Não pretendo evoluir como meu amigo para a habilidade do prejuízo, mas entendi que o que o movia (e sempre foi assim, pois o conheço desde a adolescência) era fazer coisas boas. Coisas que o faziam feliz.
Hoje, vi um vídeo na internet e ele segue fazendo coisas boas, coisas que o fazem feliz. Afinal, quem precisa de muito dinheiro quando sabemos fazer tantas coisas boas...
Eu demorei mais de uma década para entender, mas agora, que tenho mais areia embaixo da ampulheta do que em cima, o que me move são as coisas boas.