quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

As coisas e os sentidos das coisas

Um dia, eu estava assistindo a uma entrevista na TV e o cara falava sobre o significado de alguns nomes próprios. Lembrei dos filmes de caubóis em que o índio se chamava, Chewabo, e os seus pares sempre explicavam que aquele nome significava “guerreiro bravo e selvagem que luta sem armas na lua cheia e/ou minguante com honra e perseverança por uma causa nobre dos seus irmãos que morreram em outras batalhas”. E eu ficava pensando:
- Caramba, que poder de síntese.. !!
Tudo isso numa palavra só.
Acho que foi por conta desse poder de síntese que algumas tribos entraram em extinção.
Explico...
Chegou-se a um ponto tal que, para o líder da tribo dar uma bronca, ele só olhava e falava: Ó...! e todos já entendiam seu sermão sobre a virtude, a honra, a sensatez e a presença de um deus imenso e bondoso que cuidava de todos. Num estágio evolutivo posterior, era só uma levantada de sobrancelha e os demais se prostravam de joelhos.

Era um silêncio ensurdecedor.
Com o passar do tempo, sem ter muito o que falar, ou quando se tinha resumia-se a tão pouco que todos morreram.. de tédio.
Mas, tudo isso é para falar que, nessa busca por explicar os nomes, surgem coisas absurdas e que me fizeram perder um pouco do gosto por etimologia (estudo da origem das palavras) muito cedo. Vez por outra aparece um jornalista explicando que uma palavra se origina em uma outra expressão ou apresentando uma história mirabolante de um vocábulo. No fundo, é um chute atrás do outro, mas que, às vezes, é uma historinha tão bem bolada que a gente sai repetindo por aí com ares de verdade universal.
Bom, salvo raríssimas exceções, esquivo-me com freqüência de etimologias e assumo que uma palavra significa o que ela quer dizer ali, no contexto. Já gostei de contar casos como o de morcego , que vem do latim mus (rato) e cecus (cego) porque os antigos romanos acreditavam que morcegos eram ratos que envelheceram e criaram asas . Mas, sabe de uma coisa? Enjoei.
Continuo gostando das historinhas, mas para mim, hoje, morcego é um mamífero que se parece com o rato e que voa. (ponto final)


P.S.: A coisa mais absurda que já ouvi foi que a expressão popular "cuspido e escarrado", usada para se referir à semelhança entre pessoas, vinha do termo “esculpido em carrara”. E aí eu pergunto: desde quando quando alguém que é igual ao outro parece com uma estátua de mármore carrara do outro? A idéia original é esculpido (semelhante fisicamente) e encarnado (semelhante no jeito de ser, na alma).. Por favor, sem cuspir ou escarrar em ninguém...

Aí... de lá para cá, perdi o gosto pela coisa.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

A arte de comentar V – Vá e acrescente algo...

Ai, não sei nada sobre esse assunto. Desculpe. Visite o meu blog. (Então comentou essa besteira por quê, meu querido? Visite o quê..?)

Esse é o comentário mais tolo (depois de “kkk, legal seu blogue”) que alguém pode fazer. Pensa bem, se não sabe nada, se admite ser "burrinho" (já vi isso escrito, acredita? No meu blogue.... o cara escreveu: Foi mal, sou burrinho. Não sei nada disso. Visite meu blogue.), comentou isso para quê? Se pulasse o comentário na comunidade e deixasse para outro não seria mais honesto?


Aí vem o clássico, “visite meu blog” e dá vontade de falar:

- Você está falando sério?

Uma informação, um outro ponto de vista, um elogio, uma crítica, uma ratificação ou mesma uma retificação, tudo é válido. O comentário é a oportunidade que você tem de dizer ao autor: “olha, estive aqui, li seu texto e acho....X”. Um bom comentário dispensa o infame “visite meu blog”. Com esta postura, o blogueiro ganha mais do que visitas, ganha leitores, respeito e credibilidade.
E isso é tudo.


Leia também
A arte do comentário I: As comunidades e seu funcionamento básico
A arte de comentar II – Só comenta bem quem lê bem.
A arte de comentar III – Seja coerente...
A arte de comentar IV – Coesão no que se escreve não é luxo...


Esclarecimento (mais uma vez):
O objetivo dessas postagens é esclarecer, ajudar e oferecer algumas dicas de como fazer um comentário pertinente, inteligente e que valorize o trabalho de quem postou o texto comentado. Entretanto, somos todos livres para ir até aonde queremos (e não fazê-lo) ou mesmo até aonde a natureza nos limita. É bom que fique claro que sou totalmente contra todo e qualquer tipo de censura. E por fim, acredito que ninguém é obrigado a nada por aqui e a liberdade de pensar é tão ferrenhamente defendida quanto a de não o fazer.


sábado, 27 de dezembro de 2008

Ao chato com carinho...

Há pessoas que acham polêmica em tudo e, o mais incrível dessas polêmicas é que elas se encontram em uma má (ou péssima) interpretação de texto (falado ou escrito) ou mesmo em um recorte inadequado de um determinado trecho do texto que, na maioria das vezes, é produto da necessidade compulsiva de se parecer mais politizado e inteligente do que realmente se é.

Tive um colega na adolescência que, sempre que queria parecer mais esperto do que era (e ele até era esperto), inseria na discussão um "mas o que você quer dizer com X". Na verdade, fui saber mais tarde (quando fiz análise do discurso) que essas intervenções, em excesso, dentro de uma conversa, são acessos de fuga e desvio de temática através da exaustão do autor/enunciador. O meu colega usava isso na intuição, mas usava.

Outra coisa é o filósofo em compotas. Ele lê e se posiciona, normalmente, como um eterno revolucionário com referências bibliográficas que lhe dão um ar de "quando você chegar ao meu nível de esclarecimento, teremos um mundo melhor". Na verdade, ele pouco produz de raciocínio próprio e muito reproduz do alheio. Suas intervenções são tão fora de contexto quanto sua camisa vermelha do Che e a célebre frase "Hay que endurecer..." vendida em uma loja de grife em um shopping. Normalmente, este tipo de colega usa frases como "Você que é inteligente vai concordar comigo..." Isso quer dizer que se eu não admitir seu ponto de vista como perfeito e verdadeiro, serei uma besta? Com certeza...
Na maioria das vezes, prefira ser uma besta.

Há também o eterno procurador. Procura polêmica onde sequer há algo e chama para si o direito de liberdade de expressão. Concordo com esse direito. Entretanto, nove em cada dez das suas polêmicas são produtos de conflitos e melindres pessoais e ele é capaz de descer a ripa em um texto sobre chapeuzinho vermelho por causa de suas referências fálicas (o cabo do machado do lenhador) do poder das classes dominantes e ver naquilo tudo uma ode a antropofagia cultura. Dotado de vasto vocabulário e pouco raciocínio, vê na polêmica a oportunidade de construir uma autoimagem para criar credibilidade, mesmo que essa imagem só convença a si mesmo. Odeia a Globo por que ela manipula a informação, mas se esquece que não há imparcialidade no "manusear da informação" e se parasse para pensar, não adotaria esse discurso, pois também está manipulando a informação.

E há o sou do contra sim e daí? Discordam de tudo e acham que a discordância é o seu crachá de intelectual. Ressuscitam polêmicas que já viraram cinzas e quanto maior o nível de seu interlocutor, mas esforço têm em construir uma máscara daquilo que nunca foram.

Diante das situações criadas, a coisa mais educada é o silêncio, um sorriso, um muito obrigado e a salutar distância porque esses colegas são, no fundo, profundamente chatos e isso dá uma canseira na gente.

Feliz 2009.


Em tempo: Eu achei a gravura desta postagem em um blogue chamado "frasesilustradas.blogueisso.com", um show de criatividade em gravuras baseadas em frases clássicas. Gostei muito.


sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

A arte de comentar IV – Coesão no que se escreve não é luxo...

Legal. Visite meu blog.
(O que é legal? O texto, o blogue, a maneira como foi exposto? Depois desse comentário, me dá uma boa razão para visitá-lo)

Bom...
Parágrafo não é luxo, é necessidade e dentro dele há umas coisinhas chamadas mecanismos de coesão. Há pronomes, palavras de sentidos próximos para evitar repetição, conjunções, preposições, enfim, elementos que retomem aquilo a que você se refere no texto ou fora dele. Sabe? Aquelas coisas chatas que o professor de português andou falando na aula. Pois é... aquilo, por incrível que pareça, é útil para caramba. Sugestão de ouro: releia o que você escreveu e veja se as partes do seu texto estão conectadas entre si e com o que foi dito.

kkk. Gostei. Criativo. Bom texto. Visite o meu.

Três frases conectadas pela boa vontade do leitor e que, no geral, não se referem especificamente a nada tratado no blogue, seja lá o que for o assunto. Esse é o tipo de comentário que , dada sua pouca especificidade, serve para qualquer coisa, menos expressar uma idéia com relação a um texto lido.

É claro que isso caracteriza, na imensa maioria das vezes, que o coleguinha não leu uma linha sequer (ou leu e não entendeu) e está desesperado para que o seu pontinho no DiHITT seja registrado ou que seu nome vá para a lista do COMENTE ACIMA... na comunidade. O Michell Niero, fez um comentário sobre isso na postagem anterior dessa série (A arte de comentar III) que se emoldurar vira obra de arte no Louvre ou no Hermitage. Ge-ni-al... se der tempo, dêem uma olhada.

Com trocadilho... sem comentários.

Leia também
A arte do comentário I: As comunidades e seu funcionamento básico
A arte de comentar II – Só comenta bem quem lê bem.
A arte de comentar III – Seja coerente...


Esclarecimento (mais uma vez):
O objetivo dessas postagens é esclarecer, ajudar e oferecer algumas dicas de como fazer um comentário pertinente, inteligente e que valorize o trabalho de quem postou o texto comentado. Entretanto, somos todos livres para ir até aonde queremos (e não fazê-lo) ou mesmo até aonde a natureza nos limita. É bom que fique claro que sou totalmente contra todo e qualquer tipo de censura. E por fim, acredito que ninguém é obrigado a nada por aqui e a liberdade de pensar é tão ferrenhamente defendida quanto a de não o fazer.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Educação e realidades

Nós nos propomos a fazer uma educação humanística de ensino médio e formamos marcadores de cruzinhas. Não discordo de que haja matérias como sociologia, filosofia ou mesmo a proposta de psicologia para alunos de ensino médio, mas fico me perguntando se devemos entender que a educação oferecida ao caboclo da Amazônia em uma escola de noturno deva ser a mesma de um aluno de classe média da Barra da Tijuca. Cada realidade pede suas necessidades.

Minha visão aponta para uma educação utilitária/otimizada. Senso crítico e formação geral são coisas que devem ser adquiridas depois que o indivíduo tiver a oportunidade de garantir o seu sustento com o próprio trabalho e assim garantir sua dignidade como cidadão dentro de uma cadeia produtiva. Aí sim, teremos uma busca mais legítima do que a artificialidade de algumas aulas nas escolas, que, na palavra de muitos alunos, nada mais é do que uma enrolação sem fim.

Penso uma escola que prepare o aluno para uma atuação profissional e produtiva na sociedade. Não é viável economicamente manter um profissional estudando 3 anos, com uma formação extremamente genérica, para que ele vá pensando no que vai fazer quando terminar a sua formação em marcador de cruzinhas. Ótimo. Para quê? A que custo?

Talvez devêssemos adotar o modelo francês ou como era, no Brasil, há uns 30 ou 40 anos atrás. Quem sabe um Ensino Médio dividido em HUMANAS, BIOMÉDICAS e EXATAS e com um grau de encaminhamento profissional em um quarto ano. Não sei. Talvez fosse por aí. A verdade é que no formato que temos, estamos perdendo tempo e dinheiro: nosso, contribuinte e professor, e dos alunos.

Muitos alegarão que aos 15 anos é muito cedo para se decidir por uma área de interesse, mas aos 16 já se é maduro o suficiente para decidir quem deve ser o presidente do país. Então que decida por sua área aos 16. Corremos o risco de criar uma geração que, sentada na sala jogando video game, ainda está decidindo o que vai ser... aos 30 anos.
Mas será que o menino está maduro o suficiente... será que não podemos esperar mais um pouquinho?

Não no sofá lá de casa, véi, não lá...


Em tempo:
Antes que eu me esqueça.... Feliz Natal!

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

A arte de comentar III – Seja coerente...

Bom, concordo com você, mas acho que o que você falou não tem nada a ve,r essas paradas tipo assim, sei lá.. Visite o meu blog.
(Visitar seu “blog”??? Você surtou?)

Bom, você escolheu um aspecto do texto e acredita que pode acrescer algo, apresentar um ponto de vista ou fazer um elogio. Atenha-se a sua idéia central (elogio, crítica, exemplificação). Muitos comentários são escritos de forma que não sabemos se a pessoa era a favor, contra, se quer inserir algo, exemplificar... enfim, sei lá.
Reler o que se escreve depois de pronto é uma dica de ouro. Erros de digitação são normais e perdoáveis, mas não conseguir passar uma idéia, aí não... Isso é sério. Percebam sempre que expressões como “sei lá”, “nada a ver”, “mil coisas” não querem dizer absolutamente nada.
Aquela idéia de “eu me expresso do jeito que eu quero” é uma postura compreensível em alguém imaturo, pois ainda não tomou cacetada o suficiente para aprender que não dobramos a vida na porrada, ela é que nos dobra de tanto bater. Mas para isso não há palavra que explique, só tempo mostra.


Leia também
A arte do comentário I: As comunidades e seu funcionamento básico
A arte de comentar II – Só comenta bem quem lê bem.



Esclarecimento:
O objetivo dessas postagens é esclarecer, ajudar e oferecer algumas dicas de como fazer um comentário pertinente, inteligente e que valorize o trabalho de quem postou o texto comentado. Entretanto, somos todos livres para ir até aonde queremos (e não fazê-lo) ou mesmo até aonde a natureza nos limita. É bom que fique claro que sou totalmente contra todo e qualquer tipo de censura. E por fim, acredito que ninguém é obrigado a nada por aqui e a liberdade de pensar é tão ferrenhamente defendida quanto a de não o fazer.

sábado, 20 de dezembro de 2008

O que faz uma aula ser uma "boa aula"

Uma das perguntas que nos fazemos é porque algumas aulas nos marcam tanto e outras simplesmente caem no famoso: “aquele troço chato que eu não entendi até hoje”. Pois é... Se te disserem que aprender será sempre suave e doce, estão mentindo. Alguns conteúdos são ásperos e amargos, mas precisam ser assimilados. Não tem jeito.
Para facilitar a digestão, algumas dicas deveriam ser repetidas em tom de mantra por todos os professores.
Seja sempre claro, sequencial, relevante... claro, seqüencial, relevante... claro, seqüencial, relevante...
Até sabemos que falar difícil faz o maior sucesso e faz com que alguns professores levem pela vida o rótulo de gênio, pois nunca se entendeu uma vírgula do que ele falava e sob a névoa da “genialidade” vinha sempre a célebre frase: ele é muito bom, mas não sabe passar. Ótimo, um mundo de profissões o espera, mas magistério não, por favor. É como um médico que sabe tudo de câncer, mas não sabe curar. Caiu na mão dele, morreu. Você toparia?
No que toca a sequencialidade, é importante que quem está lá na frente (a princípio e espera-se que sim) saiba mais do que quem está sentado nas carteiras. Para o professor aquele assunto é um mar em que ele navega para o lado que quer e nunca se perde, mas para o aluno não. Ele precisa de um roteiro: de onde eu saio, como caminho, por onde vou, aonde chego. Falar aleatoriamente ao estilo socrático na sala como se fosse uma ágora é perda de tempo. O aluno precisa que um conhecimento funcione de forma progressiva e seqüencial. Depois, tudo bem, pode viajar, mas agora não.
E, por fim, a relevância. Quando dominamos um assunto queremos falar de tudo sobre aquilo, mas quem está do outro lado está preparado para ouvir tudo que queremos falar sobre aquilo? Antes de entrar na sala se pergunte: o que eu quero que o meu aluno saiba e por quê? Seja realista e saiba que 60% do conteúdo que você passar irá se perder em 72 horas na cabeça dos alunos. Seja altamente relevante...
Isso é só o começo da conversa... mas para começar já está bem bom.
Há um outro mantra: bem humorado, exemplifique, seja leve... mas isso é para outro papo.
Por enquanto...
Repitam comigo: claro, sequencial, relevante... claro, sequencial, relevante...
Costuma funcionar...

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

A arte de comentar II – Só comenta bem quem lê bem.

Acho que a natureza é nosso maior bem e precisamos preservá-la. A floresta amazônica por exemplo. Valeu. Visite meu blogue.

(o texto falava sobre a “natureza” agressiva do ser humano. O cara não leu, viu a palavra natureza na primeira linha e falou sobre a floresta.... huuum. Que gênio!)


Primeiro de tudo. Leia o texto. Isso é básico.
Tem colega de blogue que, quando encara uma postagem sem vídeos do youtube, sem piadinhas coladas de outros sites, e com um texto com mais de 15 linhas, lê as três primeiras linhas, as duas últimas e emite uma opinião completamente sem pé nem cabeça.
Para quem postou não fica mal, fica mal para quem escreveu a besteirada sobre algo que nem sequer leu. O saco de Filó é conhecido por ter comentaristas de grande qualidade de texto e opinião e que inserem comentários tão bons quanto os próprios textos postados. Já houve casos de comentários virarem objetos de comentários dentro da postagem, como se fosse outro tema da postagem na área de comentários.

O texto é grande, você não gosta de ler, pule. Deixe a vez para outro. O texto é de poesia e você não gosta, pule. Seja gentil. Essa é uma idéia básica da lei do retorno. Entretanto, se você vai ler, comece da primeira linha, acompanhe a idéia de quem escreveu (se estiver uma porcaria, interrompa e ceda sua vez). Leia, então, atentamente, até o final.
Ao término, pergunte-se: Eu entendi? Eu gostei? Vale a pena comentar? Se a resposta for sim. Mãos à obra. Identifique no texto um ponto da idéia que você pretende acrescer algo, ponderar, ou simplesmente elogiar. Comente então...

Se não der conta, seja gentil, pule, passe sua vez.


Leia também
A arte do comentário I: As comunidades e seu funcionamento básico


quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Golpe do vigário: um jogo de espertos.

Outro dia assisti na TV a um caso de uma mulher que foi fazer uma lipoaspiração em uma clínica e sofreu sérios danos físicos, vindo a falecer logo depois. Bom, a irmã dela já havia sido vítima do mesmo médico e mostrava os sinais no corpo. A clínica era de fundo de quintal, o médico era um ortopedista e pedia 5 mil reais, mas se você oferecesse mil ele topava. Ao estilo, lipoaspiração na minha mão é mais barato, com gritos de camelô em freira livre.
Deixa ver se eu entendi, um médico colombiano (sei lá, acho que é isso), ortopedista, abre uma clínica de fundo de quintal para lipoaspiração, faz uma promoção do tipo um real. Observe que o cara já respondia a uma tonelada de processos na justiça. Bom, aí eu aproveito a promoção e vou tirar minhas banhas no barato.. huuummm
Existe um otário metido a espertalhão nessa história e sei não..... mas acho que não é o médico.
É como aquele cara que comprou um Honda Civic 2006 por 20 mil reais, ficou feliz porque fez um bom negócio até que descobriu que era roubado. Respondeu processo e perdeu o dinheiro. Coitadinho do espertalhão!
Olha só. Eu sou flumineiro (meio fluminense e meio mineiro), dessa forma, sou desconfiado de pai e mãe. Acredito que laranja madura na beira da escada ou está de vez, ou definitivamente, está bichada.
A facilidade excessiva sempre desperta desconfiança. É como aquelas propostas de trabalho que recebemos por e-mail do tipo; “trabalhe em casa, faça o seu horário, tenha uma renda de 4 mil reais por mês sem sair de casa” Pensa bem... Em um país com salário mínino de 400 e poucos reais, se você soubesse de uma maneira de ganhar isso tudo sem sair de casa, fazendo o seu horário, sinceramente, você sairia gritando para todo mundo?
Se a sua resposta é sim...
Muito prazer, Marcelo. Quer ser meu amigo? Por favor, diz que sim...

Em tempo:
Não sou santo, mas se a esmola é demais... Agradeço e dispenso.


terça-feira, 16 de dezembro de 2008

A arte do comentário I: As comunidades e seu funcionamento básico


Prefiro não comentar.
Copélia - Toma lá da cá


Pensei em abrir uma série sobre os aspectos textuais, pragmáticos e semânticos dos comentários. A idéia é responder o que vem a ser um bom comentário, quais as bases de um boa interferência textual e como fazer isso de forma natural e intuitiva. Dessa forma, resolvi começar de onde é feita boa parte dos comentários: as comunidades do Orkut.
O problema inicial é que as comunidades com tópicos do tipo “COMENTE O BLOG ACIMA” são uma fonte de esperança e frustração para os blogueiros que estão começando, pois eles saem comentando pra tudo que é lado em troca de retorno que, muitas vezes, dependendo do horário (acredite, tem horários péssimos para visitar estas comunidades), pegam uma galerinha ruim de jogo demais que, ora comenta KKKKKK legal seu blog, visite o meu, ora adorei seu texto bjx, visite o meu, ou nem comenta (o que, sinceramente, eu prefiro). Eu me pergunto se uma pessoa que insere um comentário desses acredita sinceramente que alguém vai visitá-la.
E sabe que o pior é que acredita.
Eu sempre sugiro: ative a moderação de comentários para que não encham seu blogue de porcarias. Outra dica é a de não insistir. Horário ruim, cai fora. Veja os usuários que estão na brincadeira antes de entrar nela. Tópico cheio de pessoas que não sabem brincar... ops! Mude de horário, essas pessoas não enganam a todos por muito tempo e acabam sendo excluídos pelo próprio grupo.
E por fim, não se faça de coitadinho!
Poxa, tomei calote de novo, coitadinho de mim, poxa, ninguém me ama... Por que eu, por que eu? Ó.. não me dá calote não, viu! Bobo, feio, cabeça de melão...

O mundo não gosta nem um pouco de coitadinhos.


Em tempo:
Desde o dia em que li uma postagem do Wander sobre comentários, fiquei com uma idéia me rodeando a cabeça. Sabemos que comentar é interagir lingüisticamente com o outro por via do que foi escrito, logo, toda interação pressupõe regras tácitas com as quais concordamos logo de início (ou não???).
Com os comentários não é diferente e, após anos estudando autores da semântica, da pragmática e da lingüística textual, resolvi abrir uma série denominada "A arte do comentário", em que vamos apresentar o que vai além da web etiqueta. Trata-se do universo textual, pragmático e semântico dos textos que deixam em comentários de postagens de blogues. No saco de filó já passamos nesse um ano de vida a marca dos 3000 comentários, tenho muito material e experiência com isso, mas optei por não fazer as referências diretas para não melindrar ninguém.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Todo mundo quer ficar bem com todo mundo o tempo todo.

Bom... Não dá. Isso não dá mesmo.
A necessidade de aceitação que as pessoas têm faz com que elas ajam de maneira completamente estúpida e queiram estar bem com todo mundo o tempo todo.
Olha... Desista. Isso não dá.
Vejo muito isso na faculdade, mas o aluno sempre acha que a gente não vê. Os trabalhos em grupos são sempre marcados por uma figura única: o sanguessuga. O sanguessuga é um cara legal. Normalmente se esconde por trás das seguintes desculpas: trabalho excessivo, problema de saúde, limitações pessoais. O que ele quer é um grupo bem esperto para fazer o trabalho para ele e, quando muito, ele se encarrega de passar a limpo um texto sobre um assunto que ele não faz idéia do que se trata. E assim, normalmente, ele se forma.
Mas e quem diz isso para o cara? Todo mundo quer ficar bem com todo mundo. Ah sim... Toda solidariedade cai por terra quando o grupo tira uma nota baixa e saem botando culpa em todo mundo que não ajudou... Aí é roupa suja para todo lado.
Já conheci casos de alunos que, vivendo tanto nas costas dos outros, tinham que pensar duas vezes para responder que curso faziam. Pensei até um dia de ouvir: fulano, que curso a gente faz mesmo? Ainda não duvido dessa hipótese.
Queremos ser gentil também quando dizemos: aí, passa lá em casa. Isso é entendido pela maioria das pessoas como um figura retórica característica do discurso de gentileza. Pois é, a maioria entende assim. Não todos. E depois fazemos o quê? Agüentamos para não ficar mal com a pessoa.
Eu mesmo, por exemplo, durante anos tive problema com carona. Sempre sentia que dando carona a alguém na estrada eu estaria abrindo um precedente cruel (tenho um post sobre isso aqui). Entenda: se não conheço o cara, não fica chato passar direto e não dar carona, mas se eu dou carona uma vez, já se caracteriza como um conhecido....
Veja só. Aí vem o drama de consciência...Que canalha sou eu ao não dar carona a um conhecido!? Do outro lado, o caroneiro ficará chateado comigo: poxa vida! O cara me conhece e nem parou...
Dessa forma, prefiro não criar contatos, prefiro não nos conhecermos... Melhor para nós dois. Seremos mais felizes assim.
Mas mesmo assim, assumida essa postura, durante muito tempo, eu me senti na obrigação de justificar que não daria carona com o movimento de mão indicando que iria entrar logo adiante...
Foi aí que eu pensei:
- Cara, para que justificar uma coisa para uma pessoa que você nem conhece, para a qual não deve nada e não tem qualquer vínculo ou interesse? Caiu-me a ficha de que eu estava justificando para mim mesmo. Justificando para a nossa eterna necessidade humana de ficar bem com todo mundo o tempo todo.
Não dá. Definitivamente, não dá.


sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Ambiente de trabalho: Fim de série

Foram diversas semanas de convivência com Silvonaldos e Astolfos, um passeio pelos tipos que nos cercam no dia-a-dia. A série se chamou ambiente de trabalho, mas, na verdade, são tipos humanos que encontramos em qualquer lugar porque não somos um no trabalho e outro em casa, somos uma coisa só.
É impossível, com tantos, leitores por dia (acho 70 gente à beça sim... rs) não acertar alguém que tenha o perfil de um dos tipos apresentados, mas carapuças são cruéis, caem como uma luva quando menos se espera. E caíram.
Recebi alguns desaforos por e-mail (o clássico: quem você pensa que é...?) e alguns comentários que optei por recusar em função um certo tom agressivo. Para outras vozes discordantes ou ofendidas abri um espaço e se tivessem escrito direitinho o ponto de vista (tenho horror a texto mal escrito... e aqui não rola isso). Tem gente que se dói de bobo, né?! Mas paciência...
Mas o gostoso é ler o tipo de personagem e pensar: caramba! Igual aquele cara com quem eu trabalho. Essa identificação é altamente interessante.
Mas, aos que se doeram com algo, eu digo que tudo não passou de uma brincadeira, uma homenagem ao “tipo conhecido” e saiba que não dá para viver sem essas figuras, não conseguimos imaginar o mundo sem eles...
...
...
Se bem que...
...
...
pensando bem..
...
...
Ah não.... É bom demais para ser verdade.



Leia também...



terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Da série ambiente de trabalho VII : o aspirante à pombo correio

Sempre bem informado, Silvonaldo se encarregava de fazer com que qualquer notícia que saísse no cafezinho chegasse aos departamentos da empresa o mais rápido possível. Via aquilo como uma vocação, um destino traçado pelos deuses para ele. A isso somava seus dons de interpretação que davam às histórias um tom épico e fazia de qualquer batidinha de trânsito, um acidente de três carretas, um caminhão tanque, um ônibus escolar... dezenas de mortos e feridos.
Mas o seu maior prazer eram as notícias da empresa, a foice. Toda semana em fim de mês, ele chegava com a mesma conversa:
- Sei não, estão dizendo que vai haver um corte e o chefe já está com todos os nomes na mesa dele.
Outra vez...
- Sei não, dizem por aí que décimo terceiro este ano.. huuum nem pensar...
E variava...
- A firma está quebrada... ouvi dizer que nem sabem se vai haver pagamento no mês que vem.
Era sempre a mesma história e aquilo lhe dava um prazer quase sexual. Mas o fato é que havia pagamento em dia, não havia demissões e o décimo terceiro saía religiosamente antes do Natal...
Um dia se encheram do Sivonaldo e o colocaram na rua.
...
Com uma cartolina ele exibia uma frase na frente do prédio durante aquela tarde.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Eu sou trabalhador, seu Doutor. E outras palavras que redimem

O que me impressiona no criminoso é a capacidade que tem de negar. Nega tanto que convence advogado, populares, o júri e até ele mesmo de que é inocente.
Se há testemunhas, não
estava claro; se estava claro, não viram direito; se viram direito; o crime foi por legítima defesa. Mas legítima defesa??? Foi um roubo seguido de morte, latrocínio? Pois, então, a legítima defesa de não morrer de fome. Mas foi um carro que foi roubado!!! Pois então, roubara o carro para procurar algo para comer... Não havia um lugar sequer por ali que desse para ir á pé... e dinheiro para o ônibus não tinha. Pobre vítima do sistema.
O fato é que o rapaz era trabalhador e não merecia ser preso.


Pois sim...trabalhador do tráfico
.

Mas trabalhador em um mundo onde só lhe deram essa oportunidade. Coitado.


A família da vítima já começava a se compadecer do bandido...
O rapaz é trabalhador... mais uma vez e todos na sala se sentiam vagabundos diante daquele injustiçado trabalhador. O rapaz, em face de todas as acusações, curvava as sobrancelhas para cima e esboçava uma lágrima que escorria pelo rosto como água cristalina pela pedra.

Trabalhador
.. repetia o homem.


Todos já entendiam tudo e sentiam até uma ponta de raiva da promotoria.
Como é que pode? Acusar um trabalhador.... promotor canalha.

O rapaz é trabalhador... ecoou por fim.
E todos os males se desfizeram... abriram-se a portas do céu, mais um novo anjo voava por lá...
Um anjo trabalhador...



Em tempo: Tem gente que acha que existem palavras que redimem de todos os pecados... E o pior é quando soa o coro nessa nau dos insensatos. Quando pretendem isentar alguém e colocá-lo acima de qualquer suspeita, dizem: Ele é trabalhador, ele é pai de família, ele é um homem de Deus....

E esquecem que trabalhadores, pais da família e homens de Deus, entre outros, também cometem crimes.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Da série ambiente de trabalho VI: o prestativo mal compreendido.

Puxa-saco é o escambau. Por ali, todo sujeito prestativo se confundia com puxa-saco e isso não era verdade. Cornélio era prestativo mal compreendido.
Quando pediam um voluntário, logo ele pulava na frente, depois iria descobrir do que se tratava. Entendia que o chefe era alguém de visão e que precisava de aliados para cumprir sua trajetória messiânica. Achava isso de todos os seus chefes em sua vida.
Sentia o seu momento de glória em velório de parente do chefe. Podia chegar perto, fazer cara de profunda tristeza, bater no ombro e dizer: meus sentimentos.

Considerava sempre de bom tom levar para o chefe alguma lembrança de suas viagens: ora a Caxambu, ora Monte Sião, ora Belford Roxo na casa de uma tia de sua esposa. O importante não é o valor, mas a lembrança. Isso é o que marca.. sempre dizia e repetia.


Mas naquele dia, já eram 10 horas e Cornélio não tinha dado as caras. 11, 12, 13... e nada. Já iam ligar para casa dele quando chegou um menino trazendo um atestado médico. Cornélio havia sido internado depois de um grave AVC, mas o que comoveu a todos foi um detalhe nessa história.
Nos últimos instantes de consciência, ainda restou-lhe forças para um último ato...


Junto ao atestado havia um bilhete meio amassado escrito a mão de letra trêmula:


Chefe, se o senhor espirrar na minha ausência...

Saúde!



Leia também...

Da série ambiente de trabalho I: O doente conveniente... o coitadinho!

Da série ambiente de trabalho II: O preconceito... o perseguido!

Da série ambiente de trabalho III: O amigo do chefe

Da série ambiente de trabalho IV: O afilhado do Almeida
Da série ambiente de trabalho V: o bonzinho.



quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

O que aprendemos (ou não) com os desastres naturais.

Sempre que nos vemos diante de uma tragédia como esta de Santa Catarina, nos perguntamos que lição tiramos disso. O que nós realmente aprendemos com a dor? Aprendemos que tragédia é o nome que damos a imprevidência e o descaso diante da possibilidade de uma adversidade.
Entendemos que erra quem constrói em uma área de risco de desabamento ou inundação, mas o pior é a conivência das autoridades políticas locais que se calam diante da opção ou falta de opção das pessoas que já perderam mais de 3, 4 vezes tudo e continuam construindo nos mesmos lugares.

- Vamos ajudá-los a reconstruir suas casas, dizem os políticos.
- Nos mesmos lugares? Pergunto eu.

Aprendemos também que ajudar é importante, mas que até, na hora de socorrer, os órgãos de mídia não se entendem e cada um abre uma conta em um banco diferente para ver quem arrecada mais dinheiro e IBOPE, é claro. Enquanto isso, as lágrimas da velhinha que perdeu tudo, ao som de uma música triste de violino, ampliam os pontos nos programas decadentes de domingo à noite.
Aprendemos que há uma mobilização em massa para doação de dinheiro cujas contas jamais são prestadas após as catástrofes (Mas que sujeito cruel sou eu que falo em prestação de contas numa situação dessas? Um monstro, certamente!). E entendemos que o governo pede o engajamento da população, mas não cogita a hipótese de criar, ainda que temporariamente, uma área livre de impostos para reduzir o custo de alimentos, remédios e materiais de construção nessas regiões atingidas.
Compreendemos, então, que é
possível lucrar na desgraça alheia e vender água, cimento, botijão de gás e comida com preços dobrados quando não há escolha da parte de quem compra. E assim fazer com que o vento dos infortúnios sempre sopre a favor de alguém... que nunca serão o desafortunado, obviamente.
Aprendemos que somos um povo solidário e crédulo e que temos a certeza de que sempre há uma intervenção divina que impede que seja pior do que foi. Entendemos que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar e, afinal de contas, Deus é brasileiro.
Compreendemos, entendemos e aprendemos tudo isso.

***

Mas, no apagar das luzes, em uma semana, esquecemos tudo de novo.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Entendendo a conjuntura I - Deu em O GLOBO, 30/11

(uma pausa na série Ambiente de trabalho para entender uma coisinha..)

Brasil corre risco de levar calote de até US$ 5 bi de vizinhos
Venezuela, Bolívia, Paraguai e Equador auditam dívidas com BNDES

(Uma historinha para ajudar a entender)
Você tem um vizinho que é um sujeito de baixíssima credibilidade, vive cheio de dívidas, ganha dinheiro sabe-se lá como, o pouco que ganha, gasta mal, enfim, um desastre. Atualmente, ele precisa de dinheiro para fazer uma obra, um puxadinho para receber a filha, que está grávida, e o namorado, que também não tem emprego e nem vontade de conseguir um. Nitidamente, o vizinho não tem condições de pagar suas dívidas e, se o tivesse, não teria intenção porque considera que você tem dinheiro além do que precisa e não custa nada da sua parte ceder um pouco do seu.
O vizinho vem e lhe pede dinheiro emprestado.
Você emprestaria?

...

Pois é, o BNDES emprestou.
Isso não é um banco, é uma mãe.