quarta-feira, 26 de agosto de 2020

As coisas boas e o que realmente importa

Tenho um querido e velho amigo que a vida toda se especializou em fazer coisas que não dão dinheiro. Um dia comentei isso com ele que retrucou ironicamente (aliás, ele é um poço de ironia e bom humor): Pois saiba, meu caro, que agora eu aprimorei... Estou ficando bom em coisas que dão prejuízo (inclusive ele tem vários filhos... uma prova disso). Rimos juntos um bocado depois dessa tirada. 
Naquela época da minha vida, eu estava atolado de compromissos e ganhando, juntando e investindo dinheiro. Trabalhava adoidado (de segunda a segunda), tinha um relacionamento infeliz e seguia fazendo coisas que dão lucros. Seguia infeliz, mas lucrativamente infeliz. E lá se vão uns 10 anos....
Hoje, eu recebi uma ligação de uma pessoa que não conhecia e queria tirar dúvidas sobre um vídeo que fiz na internet sobre palavras e ideias-chave. Dei uma aula para ela e fiquei de fazer um vídeo explicando um pouco mais sobre um tema. Ela perguntou quanto seria o custo.. eu disse que nada e agradeci a oportunidade de ajudar. Mais uma vez, senti-me encher de alegria de fazer algo que não me dava dinheiro, mas me fazia tão pleno em ser útil.
Lembrei-me da primeira vez que entrei numa sala de aula como professor, recebendo salário. Eu pensei, cara, isso é bom demais e ainda me pagam por isso. Pois é... a vida é cheia de coisas boas que são boas porque são. Quando nos pagam por isso, é melhor ainda, mas quando não pagam, não deixam de ser coisas boas.
Não pretendo evoluir como meu amigo para a habilidade do prejuízo, mas entendi que o que o movia (e sempre foi assim, pois o conheço desde a adolescência) era fazer coisas boas. Coisas que o faziam feliz.
Hoje, vi um vídeo na internet e ele segue fazendo coisas boas, coisas que o fazem feliz. Afinal, quem precisa de muito dinheiro quando sabemos fazer tantas coisas boas...

Eu demorei mais de uma década para entender, mas agora, que tenho mais areia embaixo da ampulheta do que em cima, o que me move são as coisas boas. 

domingo, 16 de agosto de 2020

O que vale a pena, seu Tião?

Hoje, lembrei de uma história que me ensinou muita coisa com uma imagem.
Quando era pequeno, talvez uns 8 anos, minha avó me levava eventualmente para visitar um compadre e uma comadre dela. É assim que nos referimos na minha terra mesmo quando não existe um apadrinhamento, mas uma relação de carinho e família. 
Seu Tião, homem que outrora era forte, bravo, altivo, daquele que batia o pau na mesa e fazia valer sua vontade. Em tempos de mais novo fazia o gênero macho alfa dos anos 50. Mas que eu o conheci  quase no final dos anos 70 e depois de um derrame que o tinha incapacitado deixando-o em uma daquelas cadeiras higiênicas vestido com uma roupa como uma camisola. Sua esposa mantinha um penico embaixo e limpava sempre que saiam excreções. Por mais que limpasse, havia um odor de urina no ar que não ia embora. 
Sempre sentado reagia com quase espasmos que eram um arremedo de um sorriso ou algo assim com a língua quase o tempo todo para fora. Aquilo me impressionou e me impactou... foi a primeira vez que me defrontei com a vulnerabilidade de um homem e, nos meus 7 ou 8 anos, aquilo não fazia muito sentido. Seu Tião morreu alguns anos depois dentro de um corpo que definhava dia após dia, acompanhado da esposa que dava comida em sua boca e o limpava. Como não havia muitos recursos na época, seu definhamento deve ter sido muito mais doloroso. Estar com uma consciência presa dentro daquele corpo vegetal morrendo devagar por anos.
Aonde eu quero chegar?
Muito anos depois, me vi em uma disputa como diretor em uma instituição que me desgastava demais e, durante alguns segundos, tudo aquilo me pareceu completamente dispensável. Veio-me à mente a imagem do Seu Tião, seu definhamento, o cheio de urina, seu sorriso com a língua para fora e seus olhos desorbitados... Nesse momento, deixei a disputa para a incompreensão de todos, pois até ali eu era parte do processo, só que tive uma dimensão do essencial que nunca havia tido antes.

O fato é que a gente perde completamente o que é essencial da vida mesmo e se envolve em lides que, muitas vezes, vão nos trazer desgaste de energia e benefícios pífios. Uma energia que se perde e um benefício que não compensa.

Ainda vejo no meu trabalho, colegas mais novos, queimando sua energia vital para nada, aderindo a grupos em busca de legitimação quando já são bons profissionais, mas não se dão conta disso. Travando imensas lutas com moinhos de ventos. Morrendo aos poucos por causas perdidas...

Lembro da música do Lupicínio Rodrigues "esses moços, pobres moços, ah se soubesse o que eu sei..." e penso quanta coisa EU ainda não sei. Só que a diferença é que, hoje, eu sei MESMO que não sei e isso me faz baixar muito a bola. Eles não sabem, mas acham que sabem e sustentam um discurso de falsa humildade de "nada sei", mas quero o melhor... Melhor para quem?

É tão confuso que eles não sabem, dizem que "sabem que não sabem" (para expressar pretensa humildade e nível de conhecimento pessoal elevado sobre si mesmos), mas não sabem nem isso "que eles não sabem". Então... entendeu? Sei.. é difícil.

Ah, esses moços, pobres moços... que um dia Seu Tião os visite na metáfora que me visitou.







quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Se você fizer o bem... bom pra você. Ponto final

 Vivemos barganhando com o mundo. Se eu fizer o bem, o mundo irá me devolver esse bem. Lamento te informar que não. O mundo lhe dará o que ele quiser. E, no fundo, até bem feito para você deixar de ser interesseiro.

Genial essa tira humorística do site http://www.willtirando.com.br/
A autoajuda surgiu como uma espécie de praga disseminando coisas desse tipo "faça o bem e receberá de volta" enquanto, na verdade, você pode ser alguém extremamente altruísta e as pessoas agirem de forma egoísta com você. Bom, é assim mesmo. Uma coisa não implica a outra.

Esse tipo de pensamento encontrou terreno fértil no nosso meio, pois já negociávamos (desde sempre) com Deuses e santos na expectativa de obter algum benefício. Eu faço jejum, Deus olha e pensa: vou ajudar aquela pessoa, poxa, ela passou dias sem comer como preceito. Vou dar uma força! Vapt, casa própria. O santo olhava e dizia, "nossa, aquela moça vem acendendo centenas de velas... Vou arrumar um marido para ela". Vapt, marido. Negociamos há séculos com entidades para obter algum benefício de alguma natureza. Foi fácil se adaptar ao papo do feedback do universo.

Agora, negociamos com o universo. Saiba uma coisa, faça as coisas porque são justas e corretas e não espere nada em troca. Isso já é a sua maior recompensa: agir corretamente. Você sempre foi um bom filho e teve uma ingratidão dos seus pais. Tudo bem... é assim mesmo. Você sempre foi um bom amigo e ainda assim foi traído pelos seus mais próximos. Parabéns! Bem-vindo ao mundo. É assim que funcionam as coisas por aqui. As pessoas são dessas... fazem dessas coisas.

Quem foi ingrato é responsável por 20% do seu sofrimento... os outros 80% estão em você que nutriu expectativas em razão de suas boas ações. Aprenda a fazer as coisas pelo mero prazer de fazer e de senso de correção. Sim.. é certo. Faça-o. Esqueça esse papo de universo te devolver. O universo, a vida, os outros não te devem nada e, no fundo, não estão nem aí para você. 

Isso não é pessimismo, mas sim, entender as coisas como elas são e não como você gostaria que elas fossem. A grande parte de nossos sofrimentos não vêm das coisas, mas das expectativas que criamos em torno de como deveriam ser.

Entender isso torna o caminho mais suave.


terça-feira, 11 de agosto de 2020

Eu até queria ser chique, mas ...

 

Juro! Eu até gostaria de ser chique nos meus costumes alimentares. Falar de Sushi, suas variações exóticas (pra mim é tudo peixe cru que custa caro). Degustar um vinho e reconhecer suas nuances (a única coisa que sei de vinho é que é feito de uva.. eu acho) ou talvez assistir ao Master e Chefe e não pensar "Meu Deus, parece que meu gato passou mal e vomitou no prato..." Pratos miseráveis e comida esquisita.

Descobri que vocação para não ser chique era definitiva quando, um dia, vi um morador de rua comendo uma quentinha com arroz, feijão, macarrão, carne moída, angu e couve... Salivei como uma lhama e quando cheguei em casa saí caçando quem fez aquela quentinha. Achei e encomendei algo parecido. E aguardei ansiosamente para comer aquela iguaria dos deuses. E, naquele caso, pude adicionar torresmo... aquilo que depois que Deus disse " faça-se a luz" proclamou ao universo... Faça-se o torresmo (com angu e couve).

Comi cada colherada sentido o sabor me invadir. Enquanto isso degustava um Tampico de laranja, safra de julho/2020 com tons laranja e odor cítrico... de laranja. Porque a única coisa que sei da bebida é que tem laranja por ali... pelo menos espero.


P.S.: Mestre do sabor é o cara da foto com sua quentinha. #sótragoverdades

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Elma chips e os Transformers

Não sei se acontece com todo mundo, mas passo ódio com aquelas embalagens do tipo da Elma Chips que você amassa, coloca do tamanho de uma moeda e a desgraçada retorna ao tamanho original no seu lixo empurrando tudo para cima para os lados. Parece que aquilo é feito com o mesmo material dos transformers. Eu como o salgadinho e já fico como vou me livrar daquele resto de decepticon....