A nossa sociedade se apóia sobre um princípio equivocado das coisas, a ideia de que coisas são somente boas ou ruins. As novelas acabam sendo um meio para enfatizar essas ideias. O homem mau é mau em tudo, já o bom, é tão bom que chega a ser idiota. Mocinhos são bons, mas ingênuos e tolos, vilões são muito maus, mas inteligentes e fascinantes. Fazer mocinho para um ator me parece uma espécie de castigo. Vilão, um prêmio.
O nome disso é maniqueísmo, filosofia sobre a qual se planta a sociedade moderna ocidental. É inconcebível pela nossa formação lidar com a ideia de que bem e mal não são atribuíveis a seres humanos, mas a ações que acabam gerando o efeito bom para uns e mau para outros. Como atribuir como maldade o ato de roubar mantimentos doados para vítimas da enchente, ou dos comerciantes que multiplicaram o preço da água por dez para aproveitar a demanda ocasionada pelo desastre. Eles simplesmente pensaram somente em si mesmos e na oportunidade de obter proveito do seu próximo. E a dor do próximo? Que próximo? Responderiam eles cegos aos que lhe rodeavam.
Enfim, aprendemos a ver o ser humano como uma embalagem com o rótulo que se encontra desvinculado de suas ações normais. Somos homens, nem bom nem maus, outrossim, egoístas. Movemos nossas ações em função de obter benefício próprio e daí a inobservância de que há outras pessoas no mundo que podem ser prejudicadas por nossos atos.
Eis o homem. Saramago define o homem como metade maldade, metade indiferença. Eu substituíra maldade por egoísmo.
Dica para o fim de semana:
Se você não assistiu ao filme Ensaio sobre a cegueira, assista. Se já assistiu, assista de novo.