terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Quanto custa o carnaval? E quem paga a conta?


Entra ano e sai ano, sempre me pergunto isso. Quanto custa o carnaval? Não falo das festas nos sambódromos Brasil afora numa espécie de CTRL+C/CTRL+V do carnaval carioca, mas me pergunto sobre o custo colateral da festa. Qual o custo dos engarrafamentos? E dos acidentes? Qual o custo dos atendimentos médicos provocados pelos excessos? 
Qual o custo da limpeza? Qual o custo da segurança? E os banheiros químicos...? Quanto custam as festas de rua com seus conjuntos e bandinhas contratadas por prefeituras miseráveis para animar a multidão? E quanto custam os seguranças? Quanto custa montar o palco e as luzes? E os descontroles que geram danos ao patrimônio público ou privado, quanto custa pagar essa conta? E aqueles enfeites “sem vergonha que colocam na rua com iluminação adicional. Quanto custa aquilo?
E os mortos nas estradas, nas overdoses, nas brigas, nos excessos provocados pelas drogas e bebida (que para mim é a mesma coisa), qual o custo que se tem quando alguém morre e se projeta o ganho presumido com base na expectativa de vida e área de atuação? Quanto custa essa brincadeira toda?
Não. Não quero que a festa acabe. Acho que deve existir com seus excessos ou não. Só faço essa indagação para entender se, na relação receita despesa, estamos diante de um evento que nos dá grande lucro ou prejuízo. Acho que tudo isso deve existir, afinal, movimenta dinheiro para o comércio e serviços. Só me questiono é se o estado tem que financiar uma banquete onde só poucos comem os lucros. 
Que se dê a César o que é de César e a Deus o que é de Deus, a começar por entregar a fatura para quem lhe é direito.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Quem disse que isso aqui é seu?


A maior ilusão da vida é a de pertencimento. Achamos que pertencemos a um grupo, a uma nação, a uma raça, a um clã, enfim, nós pertencemos ao mundo e aos pequenos mundos que existem nele. Acreditamos, na outra via dessa mão, que o mundo nos pertence, que são nossos os filhos, os amigos, a mulher/marido, os parentes, o emprego, os títulos, os carros, imóveis tudo. E, nesse fluxo, vivemos como se a nossa vida fosse eterna, como se fôssemos ser donos de tudo o tempo todo para sempre.
O problema é que a vida é mais curta do que se imagina e, a nós, nem o nosso corpo pertence. Ele é matéria orgânica no aguardo de ser consumida por vermes. Nem seus olhos, que, nesse momento, servem para ler este texto são seus. A vida lhe deu o direito de usá-los por um tempo que está em aberto. Pode ser de meses, anos ou décadas. Mas ele não é seu. Eles não lhe pertencem. Assim são todas as coisas.
A maioria das inimizades e desavenças em nossa existência são decorrentes de brigas que temos porque alguém ameaça nos tomar aquilo que não é nosso (e nunca será). Aliás, nem é dele (de quem quer tomar). Nessa ânsia de resguardar tudo isso que não me pertence (títulos, cargos, dinheiro, bens, etc...), matamos aquilo que realmente nos é de direito, o afeto que cultivamos. Isso sim é nosso de verdade e levamos mesmo depois que os vermes devorarem o nosso último pedaço de carne putrefacta.
Desprezamos esse afeto, ignoramos nossa finitude, agarramo-nos ao sentido de pertencimento a um mundo em que podemos ser tudo, menos parte dele. Estamos nele, de passagem, por um tempo cruelmente não determinado, exatamente para que possamos aprender o quanto não lhe pertencemos.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Enfermagem de verdade, ofício para poucos

Leciono no curso de enfermagem há alguns anos e me faltou, nesse tempo, oportunidade dizer aos meninos e meninas de lá como eu os admiro. Muito alunos de alguns cursos da área de saúde querem é desfilar com jalequinho branco para todo mundo dizer: olha, lá vai um futuro “dr”. Hã.. como assim doutor? Bom, mas isso é outra história.
Os enfermeiros não. Raramente os vemos desfilando de jaleco embora no ambiente de trabalho usem as mesmas roupas que os “doutores”. (Hã..? Como assim de novo? Ah deixa pra lá.) O enfermeiro é uma espécie de médico a quem não cabem as glórias e o status dos homens de branco. Afinal, eles fazem o serviço pesado. Limpam cocô, tratam feridas purulentas, colocam sonda, carregam idosos quase desmontando as peças de tão debilitados, tiram sangue, recolhem urina e fezes, limpam o vômito e no meio dos excrementos humanos não há espaço para a glória. Quando muito gratidão, mas não glória.
Isso é vocação. Cuidar do próximo no sentido mais amplo da sua palavra, no sentido de ser as mãos que limpam e recuperam quando as suas mãos não mais atendem a essa função. Isso é doação. No final do expediente, os jalequinhos brancos  ficam pendurados no local de trabalho, pois eles sabem que jaleco não é roupa de grife e que rua é ambiente infectado para se desfilar com roupa que frequenta local com pessoas, muitas vezes, frágeis e expostas a todo tipo de infecção.
Não esperam o muito obrigado, não aguardam o rótulo de doutor, até porque, por sensatez, sabem que  doutor é quem cursou doutorado e não quem só fez a faculdade e se veste de branco.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

O tolo orgulho de macho. Episódio: O Mirradinho


Com o esfriar do casamento e o amornar da cama, Ariovaldo começara há algum tempo com propostas quase perversas para sua esposa. Lá pelas tantas, dera de insistir em variar, buscar caminhos e entradas diferentes para o prazer. (Se é que você me entende) O excesso de filmes pornográficos estava virando sua cabeça e vez por outra ele retornava ao assunto. 
- E aí? Vamos tentar hoje?
- Ariovaldo, não inventa. Não quero. Não gosto.
- Opa! Isso eu não sabia. Como assim “não gosto”? Então você já experimentou com outro?
E as insistências de Ariovaldo prosseguiam nos dias seguintes.
- Quer dizer que com outro pode. Comigo, que sou marido, não pode? É... Veja como são as coisas...
E toda noite era a mesma novela.
- Amor, se doer eu paro.
- Nãããõoo! Já falei.
Ele fazia muxoxo e ficava de bico durante dias.
Um dia, numa insistência daquelas, ela disparou.
- Olha, Ariovaldo. Não quero fazer com você porque tenho medo. Você é muito grande, longo, avantajado.. enfim.. Tenho muito medo disso. O meu ex era mirradinho, curto, fino.. não me assustava em nada.
O marido ficou parado por uns instantes. Assimilou cada palavra daquela revelação tão íntima. Virou para o lado e dormiu com um sorriso discreto. 
Durante meses não tocou mais no assunto. Certo dia, após ser demitido do emprego, chegou em casa com a autoestima em baixa, sentia-se o menor dos homens. Estranhamente voltou a insistir com a mulher de novo naquela tara. Queria porque queria. A mulher percebeu a intenção e repetiu o não seguido das justificativas dadas antes.. 
Ele se virou para o lado e dormiu com um sorriso no rosto. Coitado do mirradinho.... “mirradinho”, pensava com tom de desdém, ele, o grande, o longo, a avantajado.
E ela também dormia... aliviada.