quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O lado bom e o lado ruim de tudo - Reflexões numa hora dessas..

Tudo tem um lado bom e um lado ruim na vida. A grande lição é aprender a ver a dupla face das coisa num mundo que nos mostra que somente um lado é válido. Penso que mesmo as coisas que aparentemente ruins são no fundo boas, pois nos chamam a atenção para o fato de o quanto o mundo é melhor sem elas.

Carnaval
Lado Ruim: sujeira, bebeira, brigas, aumento de acidentes de trânsito e as coberturas da TV aos desfiles, festas de rua e bailes
Lado bom: quando acaba temos a certeza de que aquela porcaria só será feita de novo daqui a 12 meses.

Funk
Lado ruim: barulho e letras de mau gosto que em nada contribuem para nada
Lado bom: Quando desligam, passamos a dar mais valor ao silêncio.

Eleições:
Lado ruim: campanhas eleitorais na TV e no rádio
Lado bom: rir da cara de um monte de candidato que se achava o tal antes e não foram eleitos a nada.

Fazer turismo
Lado ruim: Comprar porcarias caras para guardar, comer coisas estranhas para provar e assistir a espetáculos folclóricos fazendo cara de quem está gostando para não parecer politicamente incorreto. 
Lado bom: Conhecer lugares e hábitos diferentes.

Confraternizações de fim de ano
Lado ruim: confraternizar com quem tentou te ferrar os 364 que antecederam aquele dia e que vai continuar tentando logo que acabar a festa
Lado bom: Um ano me separa de outra festa dessa depois que acaba.

E vai por aí...

sábado, 27 de agosto de 2011

Ninguém vai para o Panamá

Outro dia, no aeroporto, ele esperava seu horário de embarque e ficava distraído olhando os painéis de voos de tempo em tempo.  Entre nomes como Paris, Madrid, New York, Londres e outros, passava insistentemente a chamada do voo para a Cidade do Panamá. Quase como uma súplica. Nesse momento, atentou para o fato de que nunca conhecera ninguém tivesse ido para o Panamá. De lá, só temos notícias do chapéu do Panamá e do Canal do Panamá. Pensou, quem é que vai para o Panamá? Fazer o que no Panamá? Aliás, quem mora no Panamá? e o que estão esperando no Panamá? Lost seria perto do Panamá? Ou o próprio seria Lost?
Compadeceu-se do Panamá. Sentiu vontade e jurou que se tivesse dinheiro sobrando algum dia, iria ao Panamá. Fazer o quê? Sei lá. Dar um alô. Comprar um chapéu, tirar uma foto do canal e dizer: aí, na boa, amigos, vim dar só uma força pra vocês. 
E voltar imediatamente.
Aliás, achou que aquele voo que via no painel do Galeão, deveria ser um voo repleto por pessoas antecipando a essa minha missão humanitária.
Correu para trocar seu bilhete no balcão. Precisava fazer parte daquilo para se sentir melhor.

sábado, 20 de agosto de 2011

O figurinista suicida

Há meses amadurecia a ideia de um suicídio. Mas não queria nada comum, nada de veneno, de tiro, nada de forca. Almejava o brilho e acima de tudo, originalidade. Sua vida como figurinista pedia isso. Era o mínimo que poderia fazer aos fãs que deixaria. Figuristas têm fãs? Repetia a si mesmo. Ele os tinha e ponto final. 
Sobre um mesinha estilo anos 40, vestido de terno e cultivando bigodinho Clark Gable, se discursaria com menções existencialista em meio a uma atmosfera decadente de Nova Iorque pós depressão de 30. Seria o primeiro suícídio temático. Algo para marcar época. Na vitrola, uma antiga Philips de 78 rotações, tocava uma melancólica canção de Cole Porter. 
Preparara tudo durante anos. Comprara os equipamentos e ensaiara o texto escrito para o final. Encarava aquilo tudo como o seu grande espetáculo e, o melhor, com uma única apresentação. Com tudo comprado, delirava ao imaginar os detalhes e num arrobo raro de felicidade, pediu uma comida chinesa para comemorar sozinho a véspera de sua grande avant-première.. Ou melhor dernière, a última mesmo.
Comeu o franguinho colorido com avidez. Adormeceu na expectativa do grande dia.
Lá pelas tantas, acordou suado e com uma cólica que insistia e fazê-lo recurvar. Correu ao banheiro e percebeu que estava sendo acometido por uma terrível diarreia. Entre cólicas e descargas, sentia suas forças se esvaírem. Desidratava cada vez mais e por dois dias viu seu rosto secar, até que, fraco. Tombou.
O discurso e a pompa fora substituído por uma sussurante súplica à foto de Greta Garbo em um cartaz de filme em sua parede.
Cagado não... Cagado não, repetia.
E aí percebeu a merda que tinha feito.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Hipocrisia e cigarro - tudo a ver

Sempre achei que a hipocrisia é um bem social.
Proibimos a maconha, liberamos o cigarro, condenamos a cocaína, aceitamos o álcool. Achamos até engraçado um personagem humorístico que cai pelos cantos e fala besteiras fazendo piadas com a própria desgraça (não a do ator, mas a do personagem). O Ministério da Justiça reclassifica a novela porque aparece uma moça seminua dançando numa boate às 21 horas. Enquanto isso, o senado libera um senador que comprou empresas usando laranjas, dinheiro sujo, pagou uma amante (aliás, com quem teve uma filha) com dinheiro de empreiteiro e isso passa no jornal das 13 horas.
Não defendo a liberação das drogas, mas a questão é pensar: o que faz o álcool menos droga do que a cocaína e o que faz o cigarro menos droga do que a maconha? Talvez dados técnicos apresentem distinções, mas estas se contrastam com a realidade de que o cigarro e a bebida são muito mais socialmente nocivas do que os seus concorrentes vendidos nas bocas de fumo dos morros (e, hoje, até por playboys de classe média).
Mas, seguindo assim, punindo os peitinhos na TV, liberando as putarias dos políticos não vejo muito perspectiva para aposentar a falsidade (ou pelo menos, dar umas férias sem vencimento para ela). Achando normal o garotinho de 15 anos com o cigarro no dedo que chega a casa bêbado depois da balada e se horrorizando com os garotos de zona sul preso com drogas seguimos rumo ao nada, ou pior, ao tudo de ruim.
Não tenho esperança de que as coisas mudem muito com a liberação das drogas ou mesmo com a proibição do álcool. Acho que tudo demanda uma reformulação de mentalidade que terá como fim tirar nosso rosto de trás dessa mascara chamada HIPOCRISIA.
Quando eu dava aulas em ensino médio, uma vez me vi no meio de uma roda de alunos de 1º ano que contavam sobre um churrasco. A conversa descambou para porres homéricos (papo comum nessa idade). Daí, começaram a relatar os porres de seus pais. Um deles disse:

Caraca, maluco, aí quando eu vi, meu velho tava todo vomitado no churrasco da minha tia. Levamos o cara para o chuveiro e demos um banho daqueles... caraca, maluco. Muita doideira.

Imaginei-me naquela situação, jamais vivida por mim, com meu pai e deprimi só de pensar. Esse fato narrado vindo de um adolescente é normal, pois a idade prima por pouco senso crítico, mas essa atitude vinda de um pai dispensa comentários e se torna autoexplicativa para o que vemos.
Ave, hipocrisia!

domingo, 14 de agosto de 2011

Policiais, Ministério Público e a lógica da presidente

Na semana passada, a presidente Dilma, diante de inúmeros escândalos de corrupção no Ministério do Turismo, disparou em seu pronunciamento que era preciso apurar a ação da Polícia Federal nessas investigações. (Hã..?? Como assim?)
Talvez a presidente tenha razão. Os caras roubaram, desviaram, fraudaram e faziam isso há um tempaço. Vivíamos bem sem saber disso. Veio a danada da Polícia Federal e do Ministério Público e expuseram desnecessariamente as pessoas por uma coisa que poderia ser resolvida nos gabinetes e dar no mesmo que vai dar agora. Ou seja, em nada, pois, muitos deles fazem parte da articulação que constitui e mantém o poder hoje.
Ah... Polícia Federal e Ministério Público (isso sem falar na imprensa golpista e subversiva) que insistem em se meter em assuntos dos outros. Era o dinheiro de vocês que estava sendo desviado? (não me venham com essa história de dinheiro público. Vocês sabem que ele não é de vocês) Vocês deixaram de receber salário por causa da ação deles alguma vez? Não. Então sosseguem nos seus bons proventos e se preocupem com coisas mais relevantes. Com tantos traficantes, assassinos, contrabandistas e outros criminosos perigosos soltos e vocês atrás dos rapazes do turismo que só pecaram pela boa fé de confiar em quem não devia. Tenham paciência!
Como em um caso de adultério, o marido, tecnicamente, não é corno até que se saiba. Aí vem alguém e fala... A culpa é da esposa adúltera? Não. É de quem falou.
Fecho com a presidente. Vamos apurar o que andaram fazendo esses caras da PF e do MP. Vamos decretar prisão de preventiva de todos eles e mantê-los afastados da ordem que conduz ao progresso deste país.
Policiais e promotores na cadeia, políticos corruptos do lado de fora... Reina a ordem e a paz na terra de Cabral.

Por favor, agora é sério, parem o mundo que eu quero descer!

sábado, 13 de agosto de 2011

Tragédia em um ato: a insuportável felicidade

Clara era tão feliz, sua vida era tão certinha que, às vezes, dava-lhe uma angústia permeada de um sentimento de compaixão. Como podia ela ser tão feliz em mundo com tanta infelicidade. Como poderia suportar um marido que não tinha amante, não lhe batia, nem ao menos chegava em casa embriagado de madrugada. Mas era isso. Nada lhe restava para lamentar nas reuniões de amigas. Nunca precisara de um ombro para chorar e lhe dizer: Clara, esse homem não te merece. Nada. Nada. 
Nada lhe faltava, amor carinho, atenção, dinheiro... Nada, nada... Os filhos, perfeitos, como a natureza prouvera, eram jóias às quais se dedicava. Já na adolescência, só traziam orgulho para casa. Os filhos das amigas davam os desgostos tradicionais, as rebeldias, as drogas, as más companhias, enfim, o pior da idade. E ela se via relegada ao silêncio quando as mães choravam as suas amarguras. Sentia-se covarde e envergonhada de usufruir de tanta paz no meio de tanto desequilíbrio. Um dia, numa bela manhã de domingo, saiu para fazer uma caminhada, num arroubo de culpa jogou-se debaixo de um caminhão. Morreu no local. Em seu bolso, um bilhete sujo de sangue trazia um recado, últimas palavras, escrito a lápis: morro porque não suporto tanta felicidade.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Pílulas de sabedoria...

Se Cristo vivesse para comemorar Natal, seu dia de aniversário cairia sempre no mesmo dia do Natal e ele viveria o dilema: dois presentes simples ou um presente bom?
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Os produtos com validade até o dia 25 de dezembro de um ano X podem ser consumidos de forma segura até que hora nesse dia?
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Sócrates dizia: Só sei que nada sei. Se ele não sabia nada como é que ele sabia isso?
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Os Corintianos não entenderam: O Pastor gritava "DEUS É FIEL" e não DEUS É DA FIEL"
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Acho que, no fundo, todo chato tem razão. Você discorda? Pois, você está certo.
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Domingo foi projetado para ser um dia deprimente. Acordamos tarde, agüentamos o Didi, suportamos o Faustão, aliviamos nos programas de revista eletrônica (Fantástico) e terminamos com aquelas musiquinhas do Domingo Maior com um filme que já passou mais de mil vezes. Aí constatamos que a Segunda-feira é uma realidade inexorável. E como dói.
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Formatura é igual chulé: só dono que não acha que é tão ruim.
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Uma vez comi um feijão amigo, passei mal e me pergunto até hoje: amigo de quem?
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Um colega comprou um carro azul petróleo... e petroléo é azul onde?
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Se eu sou filho de Deus e Jesus também é, então Jesus não é meu pai, mas meu meio irmão, uma vez que não sou filho de Maria. Entretanto, se Jesus, Deus e o Espírito Santo são a mesma entidade, então eu sou irmão de Deus também. Sendo Deus meu pai também, eu sou meu próprio tio?
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Minha mãe me dizia que dormir sem camisa afastava o anjo da guarda e durante anos suei de pijama. Ao chegar na adolescência, cheguei à conclusão que o calor não compensava e dei aviso prévio para o anjo.
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Se eu correr atrás do prejuízo e alcançar o dito cujo eu resolvo o problema ou pioro?
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Qual motivo me levaria a ter inveja de um cara que cola no vidro traseiro de um Chevette bege um adesivo escrito "Inveja é uma merda" ou "Não me inveje, trabalhe"?

sábado, 6 de agosto de 2011

A prostituta.

Empresário de sucesso, tinha tudo que o dinheiro lhe podia comprar. Mas nunca havia transado com uma prostituta de luxo. Namorara modelos, mulheres de sucesso novas ou mais velhas. Mas uma prostituta de luxo mesmo. Nunca.
O serviço foi contratado pelo telefone com base em fotos de internet e, mal ela entrou em seu flat, ele percebeu que o quanto eram odiáveis os inventores do photoshop. No telefone, ela dissera que talvez demorasse um pouco pois iria se arrumar para ele. Quando abriu a porta, lembrou disso e, por um instante, tremeu ao pensar como ela seria desarrumada. Tomou-lhe, então, o dilema dos dilemas, dispensar o serviço alegando alguma coisa ou, como nos tempos de infância, aceitar para não fazer desfeita. Poxa, tava uma merda, mas ela tinha feito o melhor, se arrumado, se pintado, se perfumado e você iria fazer uma desfeita dessas. Viu a cara de reprovação de sua mãe na hora. 
Vestida ela era ruim, mas nua, dava uma saudade de vê-la vestida que fazia o ruim até parecer nem tão ruim. Sua fé se abalara naquela hora. Nada o tiraria daquela furada.
A conversa foi breve, ela tinha pressa. Despiram-se sem cerimonias. E ele pensava como seria o tempo restante das duas horas de serviço e companhia. Mas ela tinha pressa. Ele se serviu meio que a contragosto e a viu se vestir apressadamente. Ela explicou que o serviço dela era uma gozada ou até duas horas. Ficou surpreso com esse detalhe.
Ele pagou. Despediram-se.
Deitado na cama depois de um minucioso banho pensara que aquele fora o dinheiro mais bem pago que ele já empregara para não fazer mais nada. Sua fé retornava aos poucos nesse momento.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Vou estar fazendo- anatomia de um vício

No meio do meu descanso toca o telefone.
“Boa tarde, senhor (atentem ao ‘r’ vibrante). Aqui é da Mega Plus International que por sua boa relação como cliente vai estar disponibilizando totalmente grátis sem nenhum custo adicional o Ultra Mega Plus Card com todas as vantagens do programa especial Mega Plus Services, vai estar também oferecendo (por favor, com uma epêntese do /i/, logo, ofereceindo)...” Pronto, já me perdi no gerúndio desnecessário dela.
- Obrigado pela oferta, mas não vou estar quere(i)ndo.
- Mas senhor... Insiste. Mas que vantagens o seu cartão já oferece...
- Não oferece vantagem nenhuma, mas o que rola entre a gente é uma relação sem interesse, é só amor mesmo...sabe aquele não querer mais que bem querer de Camões.
A atendente de telemarketing se despede, mas não sem antes rir do outro lado da linha.
O fato é que o gerúndio é uma forma nominal em português que projeta o aspecto durativo em um evento verbal. Eu estou escrevendo é uma maneira de dizer que no momento atual (que não é necessariamente agora) eu estou exercendo a atividade de escrever. Sendo assim, é uma aplicação aspectual muito pertinente ao tempo presente e a casos de formas de pretérito (Ontem, eu estava escrevendo quando...), mas não muito necessária ao futuro. Na verdade, é até dispensável.
Não vamos fazer um cavalo de batalha com isso, mas de uns tempos para cá algumas modalidades de discurso como o telemarketing exauriram este emprego do gerúndio assim com em certas épocas outras modalidades desgastaram termos repetidamente como “a nível de”, “eu, enquanto, X” e outras pérolas que pareciam (?) dar ao usuário um ar de intelectualidade.
A bola da vez é o gerúndio. Podemos argumentar que é uma tradução mal feita do inglês (I´m going to be offering / vou estar oferecendo) ou mesmo que, de fato temos uma ação durativa no futuro. Entretanto, o fato é que muitos verbos indicam que o evento será realizado em um ponto no tempo (vai oferecer, por exemplo. Você oferece em um momento e ponto e não faz disso um processo que se estende). Por outro lado, o gerúndio se aplica bem em casos como “Amanhã, a esta hora, vou estar falando para mais de 100 pessoas. O verbo falar esta modulado por um gerúndio que aponta nitidamente para uma ação de discursar.
Aos operadores de telemarketing, sugiro a substituição por um presente com valor atemporal (a Mega Plus International oferece ao você, sem nenhum custo adicional...). Diriam eles que isso é menos expressivo do que o gerúndio. Mas aí eu pergunto: Por quê? Tecnicamente, é até mais amplo.
Enfim, fica aí a sugestão.
Da próxima vez, com certeza vou estar sugerindo isso..
Viu como fica esquisito?