segunda-feira, 25 de novembro de 2019

O reality show e o gênero discursivo

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Calças rasgadas

Fui comprar uma calça outro dia no shopping e a mocinha vendedora (olha como estou velho que chamo de mocinha...) me trouxe uma calça manchada, rasgada, debotada, meio amarrotada e "de marca".
Surpreendemente, era muito mais cara do que uma calça em estado de integridade melhor e não com aparência que tinha sido usada durante anos por um crackudo que vivia nas ruas.
Eu olhei para ela e comentei: nossa, como os tempos mudaram. Na minha época, quando uma calça nossa chegava nesse estado a gente ia à loja, comprava uma nova e doávamos para a população de rua a que estava assim.

Hoje, as lojas compram as calças que doávamos e tentam nos revender.

terça-feira, 27 de agosto de 2019

Traídos pela linguagem


The Rock (1996) ... ...
Já contei aqui a história de um colega de trabalho que dizia que respeitava as crenças dos outros e concluía dizendo que se alguém imbecil retardado, idiota e sem noção queria acreditar que acender uma vela e falar com um espírito era de boa, que ele respeitava. 
Ele repetia isso sem perceber que já era um desrespeito imenso.... 
E outro colega que pregava contra o preconceito, mas que dizia a um aluno (na minha frente): nossa, você é inteligente tem que estar numa instituição federal... então, seguindo esse raciocínio, quem está na rede privada de ensino... bom, deixa para lá.
E por fim, um que argumentava na sala dos professores que não se podia evoluir para uma sociedade democrática se não houvesse um controle da imprensa.. (sic) Resumindo era isso.. buguei mesmo.

Outro dia, uma pessoa me contou que iria investir em um baita negócio, pet shop. Conhecendo a formação do cara, perguntei o óbvio: o que você entende de pet shops? Ao que ele respondeu:
- eu nada, mas tenho uma amiga que entende tudo.

Fica a pergunta: Se ele não entende nada o que o faz avaliar que alguém entende tudo de algo que ele não sabe nada? Alguém disse a ele que a pessoa entende tudo? E quem disse pode ser visto como alguém que entende o suficiente para dizer isso? E quem avaliou que ele era competente para isso? O cara que não entende nada do início da história.

Ok... então tá.

quarta-feira, 3 de julho de 2019

Reuniões para que não te quero

Odeio reuniões. #prontofalei. 
Inclusive, tenho uma camisa escrito "Eu sobrevivi a mais uma reunião que poderia ter sido um email" porque realmente acredito que a maioria dos problemas em uma corporação podem ser resolvidos via email e lugar onde se reúnem demais não se tem tempo para trabalhar.
Quem trabalha comigo sabe da minha implicância com reuniões e como eu conduzo as mesmas quando estou à frente, regendo a orquestra. Sou, direto, reto, objetivo e, muitas vezes, sou obrigado a cortar colegas que entram no delírio da divagação, obviamente de maneira mais delicada possível (aprendi isso como os anos de experiência). Entretanto, outro dia, fiz uma lista mental enquanto dirigia sobre as coisas que mais odeio em uma reunião e vim aqui para compartilhar com todos que se identificam com essa perda de tempo (na maioria das vezes) que consome tempo de trabalho de uma equipe tornando-a, muitas vezes, lenta, burocrática e improdutiva.

1. Reunião que começa 20 min depois esperando os atrasados chegarem e ignorando que quem chegou na hora não o fez sem empenho e disciplina;
2. Pessoas que pedem a palavra para falar o que já falaram e ela não estava prestando atenção para perceber que aquilo já havia sido dito;
3. Pessoas que discordam mas, na verdade, no discurso concordam, são não sabem que concordam porque não prestam atenção e sentem necessidade de dizer qualquer coisa para marcar presença;
4. Condutores de reunião (ou palestra) que leem textos mecanicamente;
5. Pessoas que resolvem perguntar quando todo mundo quer ir embora;
6. Pessoas que não sabem se ater aos tópicos da pauta e querem falar algo alegando que se é falado por humanos, é um assunto que diz respeito a reunião porque ali existem humanos;
7. Os catastrofistas. Aquele arautos da desgraça que são capazes de visualizar o apocalipse em tudo e solução em nada.
8. O elogiadores do nada. Aquelas pessoas que pedem a palavra para fazer menção elogiosa a qualquer coisa que consideram louvável e ainda pedem para colocar em ata algumas vezes.
9. Condutores de reuniões que falam o que é obvio em 200 palavras quando seriam necessárias 10 palavras
10. Pessoas que dão exemplos quando já se entendeu o assunto...

Por exemplo... 
Brincadeira...

Ninguém merece isso

terça-feira, 25 de junho de 2019

Cegos, surdos e megalomaníacos - Os ideólogos do bem

Outro dia conversava com um amigo dizendo que há pessoas que passam 5, 10, 15, 20 anos ou mais  falando a mesma coisa, batendo na mesma tecla acadêmica até provocar LER (Lesão por Esforço Repetitivo). Obviamente, estou falando dos nossos ouvidos e paciência. O que os alimenta é a sensação de que estão fazendo um mundo melhor em sua cruzada para convencer as pessoas que os ouvem de que as suas ideias fazem um mundo melhor. E acreditam se um convencer 10 que convencer mais 10, um dia teremos milhares de pessoas conscientes de um mundo melhor e dispostas a convencer mais pessoas de convencer outras pessoas a fazerem um mundo melhor. Ou seja, ficaremos no mesmo pé... cheio de ideias, carentes de ações.

O facebook, os eventos "inteligentinhos", os canais do YouTube e outros meios são o palanque em que vociferam o mais do mesmo na certeza de que alguém um dia irá fazer algo baseado em suas ideias e ele, honrosamente, carregará os créditos. Entretanto, muitos são contra a ajuda direta ao próximo, pois dizem que caridade não é justiça e não faz um mundo melhor. Sem entrar no mérito da discussão, o mundo de quem recebe sim, se torna melhor. E o mundo geral é composto por vários mundos de pessoas, de indivíduos. Enfim... Entenderam aonde quero chegar.

Mas o mundo das ideias o coloca em um patamar de bem supremo e o exime do suor, porque alguém fará algo, algum dia inspirado nas ideias. O mundo das ideias é fantástico porque é perfeito... ainda que se contraponha ao mundo real e se incompatibilize com tal.

E repetem suas palavras de ordem ad nauseam, muitas vezes, pregando no deserto, seduzindo séquito confuso de cegos guiados por cegos, mas com a certeza de que trazem a verdade e a verdade libertará aquele que crê nele repetindo a máxima cristã de forma tosca e confusa.

Conclui meu papo com meu amigo dizendo que tenho duas razões para não querer estar na peles dos arautos do mundo justo: a primeira é que eles repetirão por décadas a mesma coisa com a sensação de mudaram/rão alguma coisa sem derramar uma gota de suor e de que trazem consigo a voz do bem supremo. Uma espécie de esquizofrenia misturada com megalomania.. Foi quando meu amigo me interrompeu e disse: mas eles acreditam cegamente nisso!

Essa é a segunda razão pela qual não queria estar na pele deles, conclui.


sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Saudade tem gosto de café em fim de tarde

Acordara naquela manhã com o gosto na boca da saudade que as pessoas nos deixam quando partem. E, em nome de matar essa saudade, repeti um ritual que me trazia as coisas boas à memória.
Passei na padaria onde há muitos anos comprava os pães para o café da tarde, comprei dois pães, um queijo mineiro e caminhei para minha casa, coincidentemente, hoje, tão próxima daquele comércio como fora outrora a casa de minha avó  para onde eu levava os pães e queijos que ali buscava.
Preparei o café da tarde, coloquei os pães na mesa, a manteiga, o queijo… Senti o cheiro do café, a manteiga amolecida pelo calor dos dias quentes, as cascas do pão que se quebravam e enchia a mesa com seus farelos.
O cheiro, o gosto, o fim de tarde.. e uma cadeira vazia. As sensações me trouxeram minha avó de volta com seu jeito esporrento e me chamando de preto. Tomamos um café, contei da minha vida, falei das histórias, das conquistas, dos fracassos. Mas dessa vez, ela me olhava quieta com um sorriso que me trazia paz… Não precisava dizer nada. Só a sua presença bastava para me fazer tão feliz. E ela ali estava.
Comi os pães, bebi o café, belisquei pedaços de queijo depois do pão terminado. Quando virei a última xícara, ela já tinha ido embora. Por razões que as tinha com certeza, não quis a solenidade de uma despedida, de mais uma despedida.
É impressionante como as nossas memórias se constroem a partir do que sentimos, o cheiro, o gosto, a luz de fim de tarde, tudo isso  me permitiu (e me permite) tomar um café com a minha avó que nos deixou há mais de 20 anos.
Essa é a grande prova de que não morremos, seremos sempre um cheiro, um gosto, uma luz de fim de tarde dentro das memórias de alguém, até que isso tudo, como uma gota de tinta se dilua em um universo de água. Mas até lá, seremos sempre uma invocação de uma sensação em um fim de tarde de verão