Crescimento sem ordenamento é tão nocivo quanto estagnação ou depressão econômica. Veja o exemplo do trânsito. Com a ascensão do poder de compra da classe média brasileira, surgiu pela primeira vez na nossa história a iminência da realização de um sonho: o carro zero. Só que o cidadão dessa classe C já tinha um carro usado e, comprando o carro novo, passou o seu para frente. Normalmente, quem comprou não era alguém da classe média, pois estava assim como ele perto de comprar o seu carro zero. Foi, possivelmente, alguém da classe D que realizava o sonho de trocar o seu carro já velhinho por um mais novo. E esse velhinho foi para onde??? Para alguém da classe E que sonhava com o primeiro carro... ainda que velhinho. Nessa ciranda, a classe B e A continua comprando carro como sempre o fez.
Só em junho deste ano foram vendidos 289.000 carros que se somaram aos milhares que, como dizia Lavoisier, não se perderam, se transformaram. Se transformaram em carros de outras classes de poder de compra mais baixo do que a de sua origem. Se entraram 289 mil, é porque pelo menos 2/3 migrou de classe social, ou seja, aproximadamente 192 mil carros.
Basta dar um passeio pelas ruas para ver que, mesmo em cidades pequenas, se torna cada vez mais difícil dirigir. Estacionar, nem pensar. Desista. Uma vez adquirido o carro, todos nós trazemos na ponta a língua a desculpa para usá-lo: o tempo, o calor, a chuva, o frio, o transporte coletivo, enfim, vai por aí.
Saída para isso? Não sei. Eu, particularmente, estou tentando me disciplinar para andar mais a pé e assim, acredite, ganhar tempo.