quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Espírito de porco - a teoria da emerdificação do mundo

Sei e concordo que tudo no mundo tem dois lados, mas acho que as pessoas exageram nas tintas quando pretendem se mostrar grandes leitoras do mundo que a cerca. Sempre que aparece alguém com uma notícia muito boa, antes que algum mortal se anime, sempre vêm um MAS... É famosa teoria de emerdificação do mundo, ou seja, independente de o quanto melhore, ainda assim vai ficar uma merda pior do que já era. Os pessimistas acham que se as coisas continuarem como estão ainda vamos acabar comendo merda e os que adotaram a teoria da emerdificação do mundo, acham que não vai haver merda para todo mundo.
Aumentou a produção de biocombustíveis, estamos caminhando para um mundo menos poluído... MAS o ser humano vai usar terra para plantar cana ao invés de comida, além disso irá devastar grandes áreas para gerar combustível... o mundo vai piorar tanto...
O Brasil apresentou crescimento econômico acima da média,.... Oba! MAS, o aumento de riquezas irá aprofundar as desigualdades e tendemos a ser um pais cada vez mais de miseráveis. A riqueza do país não ameniza sua desigualdade.
Bom, mas o melhor de tudo é que podemos pagar nossa dívida externa e ficar de bem com os credores internacionais em definitivo. Já começo a sorrir... MAS o custo da geração desse caixa é a custo de uma forte crise de estagnação nos investimentos e do pagamento de juros altos pelo governo.
Na área de saúde descobriram um remédio capaz de curar alguns tipos de câncer... MAS, de que adianta se o custo é alto e esse medicamento não chegará às classes que precisam mais.
***

- Duas amigas se encontram na rua. Conversa vai, conversa vem:
- Viu de quem o seu EX está noivo?
- Não.
- Da Claudia.
- Não conheço, mas para fica com ele deve ser burra.
- Não. Não é nada, garota. Ela é autora de livros, doutora em literatura comparada e sociologia pela Sorbonne.
-No mínimo, com esse currículo, deve ser horrorosa.
- Bem, todo mundo diz que ela se parece demais com a Angelina Jolie e tem o corpo da Flávia Alessandra, sabe, a da novela...
- Ah, mas uma mulher assim só pode ser uma pobretona que está querendo encostar no dinheiro da família dele...
- Que nada, menina, o pai dela é um dos donos da maior siderúrgica da França e da Alemanha, proprietário de uma companhia de aviação e de uma mineradora na Austrália...
- ...
- ...
- Mulher com essas características normalmente são umas porcas, sofrem de gases e quando ninguém vê tem mania de enfiar o dedo no nariz..
- Ah sim.. isso é verdade, concordo com você amiga... aí que nojo, coitado do seu EX.

***
Mas sempre tem que ter um MAS...

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

As coisas têm gosto de quê?

Quando a gente nunca comeu algo, a gente costuma a fazer a célebre pergunta: tem gosto de quê? Ou ainda, parece com o quê?
Na verdade, nada se parece com nada. Rã tem gosto de quê? Putz, sei lá, meio frango, meio peixe, mas não crie expectativas... é diferente dos dois. Gosto é uma percepção intangível para quem não prova e, normalmente, inadequado às palavras de que dispomos no nosso vocabulário.
Pior ainda são os gostos de cheiro. Aquelas coisas que tem o gosto do cheiro de outra. Por exemplo, sempre achei que alguns tipos de maçãs têm gosto de cheiro de Superbonder... vai entender...
Agora há as coisas que tem um gosto tão bom que não encontramos uma palavra que dê conta de tudo que aquilo nos passa. Há sensações que se somam e quando buscamos na memória a cena em si, derretemo-nos na inefável percepção de um mundo sem palavras, mas que guarda significados tatuados na nossa alma.

***
Que tal café com pão fresquinhos, em casa de avó, em período de férias no fim de tarde? Lembre... não consigo encontrar algo que defina o que me vem quando penso nisso.
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E caderno novo? O cheiro do caderno novo que combina com a sua letra linda dos primeiros dias... até porque, a partir da segunda semana de aula, retomamos o garrancho do ano anterior.
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Barulho de embalagem de presente em dia de Natal e o cheirinho de plástico do brinquedo novo... Você já sabia há meses o que ia ganhar, mas o culto à espera aumentou sua ansiedade à 10 potência.

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Primeiro dia de aula em escola que você não conhece ninguém. Falta lugar para você colocar a mão, os bolsos não são suficientes, e você é um peixe fora d’água.

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Andar de bicicleta. Você sai meio trêmulo, o guidão vira de um lado para o outro. Finalmente, te soltam e você pedala livremente. Sem curvas é claro... isso é uma segunda etapa.

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A sua primeira caixa de bombom sem restrições ao consumo. Você passou a vida inteira com aquela coisa de não poder comer tudo, aí, um dia, adulto e dono de seu nariz, se vê diante de uma caixa que não lhe oferece restrições. Não aprecie com moderação.
***
A primeira ficada (com beijo) e os pensamentos atordoantes. E seu beijar errado? O frio na barriga e a sensação de proibido. Putz... eu raspei o dente...

***
A lista é grande:

A primeira viagem sozinho (Desafio e, no fundo, um certo cagaço natural);
O primeiro salário (parece uma fortuna);
Cheirinho do (seu) carro novo (dá vontade de passar para a roupa o cheiro);
Arrependimento da 1ª ressaca (Garrafa na TV dá náusea nesse dia);

De que isso tem gosto?


E, finalmente, as palavras acabam antes de servirem para dizer o que eu precisava dizer...

sábado, 23 de fevereiro de 2008

TELELIGADOS - a culpa é da TV


O mundo moderno nos torna escravos dos confortos da tecnologia. Ficamos muito irritados quando, por exemplo, a luz vai embora subitamente e nos deixa sem suas benesses.
Naquela família, o horário da novela era sagrado, ou melhor dizendo, das novelas. Todos se reuniam em frente a mágica caixa de luzes e ficavam extasiados com os dramas mexicanos de Aluísio Rogério, Augusto Fernando, Carla Patrícia, Sílvia Isadora e outros nomes duplos de gostos, sonoridade e combinação duvidosos.
Na novela das seis, a família vibrava entretendo-se com o drama de uma moça rica que sonhava com o verdadeiro amor, mas se via obrigada a casar contra seu gosto com um rapaz escolhido por seu pai. Na das sete, uma moça pobre que se apaixona por um rapaz rico, mas a família do rapaz não deixa e sofre ao descobrir que ele tem uma terrível doença, um castigo de Deus. Na das oito, vemos amores proibidos, arrivismo, terríveis doenças, vingança e o bandido sempre se dando mal no fim da história. Ufa ! Ainda bem !
No último capítulo da novela “Aqui se faz, aqui se paga”, todos já estavam na frente do aparelho. Meus Deus, só faltam alguns comerciais para saber se Eugênia Ricarda vai conseguir se casar com Alex Dagoberto Junqueira Paiva III, o herdeiro do grupo Junqueira Paiva, um imenso complexo industrial que produz laxantes e fraldas descartáveis.
Como a espera me angustia !
Mas o destino é um grande pregador de peças e faz das suas. Quando entra a chamada... a luz vai embora. Imprecações soam pela sala. A família está irada com a situação. Telefonam insistentemente para a companhia de luz, mas de nada adianta o chilique coletivo. A pane foi na cidade toda.
O bom senso surge quando em meio a escuridão alguém acende uma vela. Eles se olham um pouco que assustados um para o outro e descobrem que em muitos anos nunca haviam se visto por ali àquela hora da noite.


“Ué, mãe ! Você por aqui ? “
“Querida ! Eu não te via por aqui desde...”
“Amor proibido, 1968 ?”
“Não. Muito antes. Desde o Direito de ser feliz, 1664”
“Nós nos vimos meio de passagem em A honra de minha filha, 1972”
“Foi tudo tão rápido que pensei ser uma miragem ou algo parecido.”
“O que você faz aqui ?”
“Vejo televisão !”
“Ó ! Eu também.”
Os filhos se olharam, perceberam o clima de namoro entre os dois e discretamente retiraram-se da sala.
“Você não mudou nada estes anos todos. Na verdade está cada vez mais linda.”
Ela respondeu com um sorriso e as duas mãos se tocaram sobre o sofá. Um calor percorreu-lhes o corpo e um arrepio eriçou-lhes os finos pêlos do braço. Uma longa conversa se iniciou e falavam animadamente sobre seus gostos, seus projetos, seus anseios e temores àquela hora da noite.
O doce idílio prolongou-se durante muitos minutos e combinaram se encontrar para saírem ou ficarem por ali mesmo.
“O que você sugere ?”
“Não sei. O que você quiser eu topo. Com você tudo é fantástico.”
E se beijaram à luz das velas.
“Que tal se a gente fosse jantar fora, ao cinema, sei lá qualquer lugar só nosso, hein...” Sorriu fazendo-se entender rápido.
“É ... Quanto tempo ...!” Suspirou ela.
“Ou então, que tal ... a gente... aqui mesmo...” Risadas contidas.
“Seu bobo e as crianças ? Ficou doidinho ?” Mais risadas.
“É... aqui mesmo. A gente até que podia...”
Mas neste meio tempo a luz volta e gritam quase que em uníssono:
“Ver televisão !”
Ligam a TV imediatamente, os filhos voltam pra sala.
“Ufa ! Estava doida pra saber se o rapaz ( como é o nome dele mesmo ? ) ia se casar com aquela moça do comercial de shampoo. “
“Vai. É claro !”
“Como é que você sabe ?”
“Li no jornal.”
“Puxa ! Perdeu a graça.”
“É.. Vamos fazer uma coisa diferente ?” Risinhos marotos novamente.
“Meu filho, troca de canal ?”
E discretamente ele sussura no ouvido da mulher fazendo-a se arrepiar todinha:
“Adoro este sistema de TV a cabo por assinatura”
”Ai, seu bobinho ! Olha as crianças na sala. Comporte-se !”
(LEITE, Marcelo. Ladrão de Histórias e tantas histórias.)

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

O que seria de nós sem as vogais?

No final do século XIX, os lingüistas levantaram a hipótese de que há um princípio de economia expressional nas línguas, ou seja, se pudermos dizer mais com menos, melhor. Um caso interessante são as abreviaturas de palavras como cinemascope (cinema), fotografia (foto), motocicleta (moto) até os bizarros “Xurras casa da Fé” ou o “niver no apê do Lê”... casos com cara de blog teen ou scrap no orkut.
Mas a simplificação não fica por conta dos blogueiros, dos adolescentes ou de outro grupo, mas sim dos baianos. A Bahia..., Bahia de Castro Alves, de Jorge Amado, de Caetano Veloso e de Gilberto Gil entre tantos outros gênios. Pois é de lá que vem o grande evento da nossa língua: a comunicação puramente vocálica.
Veja: ó pai, ó... ( o filme). Disse tudo ainda que eu não tenha entendido nada e só usou uma consoante, um P intrometido. Vamos mais além... o que seria da axé music sem as maravilhosas vogais. Em Salvador, quem dispõe de três vogais, faz uma música... se tem um carro com som, faz um trio elétrico e se tem mais de 10 pessoas, faz um carnaval.
Contemple a obra:

Aê, Aê, Aê, Aê...
Ê, ê, ê, ê, ê, ê,
Ô, ô, ô, ô, ô...

Acrescente a isso frases de efeito como “sai do chão”, “maiiiiinha”, “nojenta”, pronto, reúna três amigos para se pintar e dançar... Já temos o suficiente para fazer sucesso em todo o país.
Seria muito injusto de minha parte excluir os surfistas, que com sua genialidade sintética resumiram a comunicação à arte vocálica: Chegando em casa, o brou mais velho fala para o brou mais novo que levou a galera para fazer uma festinha:

Ô, ó o auê aí, ô.

E precisa dizer mais o quê? O auê cantado pela Rita Lee (Desculpe o auê/eu não queria magoar você....) na década de 80, agora, é visto como o prenúncio do reinado das vogais.
***
Enquanto isso, em uma agência de empregos de Salvador, um surfista sendo entrevistado...

- oi.
- Trouxe os documentos?
- ó... aí.
- Tá faltando um documento...
- ã?
- Ah não, está aqui.
- Aaaa..
- Esse aqui é o seu endereço?
- É.
- Há quanto tempo você não atua na profissão?
- Ihhhhhh...
- Bastante tempo, né..?
- Ó.
- Já morei perto da sua casa. Já foi num bar que fica na esquina dessa rua?
- Ia.
- Vejo que trabalhou em escola de samba...
- e...
- Nada. Já compôs samba?
- É.
- Qual parte?
- Oooooiiii...
- Assina este formulário então.
- ó?
- é.
- aí?
- é.

Consoantes? Pra quê, meu rei?

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Com se fazem os bebês... versão atualizada.

As crianças que nascem atualmente não engolem mais a história de cegonha, ou bebês que brotam em abóboras. O papo de “o papai colocou a sementinha na barriga da mamãe” é muito técnico e pode acabar despertando pergunta do tipo: foi intravenosa ou por cirurgia, papai?
Ciente de que é importante manter um tom de fantasia sobre a sua vinda ao mundo (assim como mantemos os mitos de papai Noel e coelhinho da Páscoa) é necessário atualizar tudo que contamos sobre como nascem os bebês e nada melhor do que adequar ao nosso tempo o processo fantasioso de geração humana.

***

Papai liga o 0800-CEGONHA
Tuuuuu, tuuuuu, tuuuu, clique.

- Bom dia, você ligou para Cegonha International Corporation, sua ligação é muito importante para nós. No momento, todos os nossos atendentes estão ocupados, ligue mais tarde ou aguarde na linha.

Desliga.

Papai, pela 5ª vez, liga o 0800-CEGONHA
Tuuuuu, tuuuuu, tuuuu, clique.

- Bom dia, você ligou para Cegonha International Corporation, se você já é cliente, tecle 1, se ainda não se cadastrou, tecle 2.
Tuuuu (toque de tecla)

- 1, pai. Para bebês do sexo masculino, tecle 1, para do feminino, tecle 2, para sexo aleatório, tecle 3.

- Sua ligação estará sendo transferida para um de nossos atendentes. Para sua maior segurança, sua ligação estará sendo gravada.

Tuuu, tuuuu,... atendente, Carlos Cegonha, em que posso ajuda-lo?

- Bom, eu estou tentando fazer a solicitação de um bebê modelo 2008 do sexo masculino para ser entregue no Estado do Rio de Janeiro.

Um momento senhor, para confirmar sua solicitação vou estar checando alguns dados. O senhor poderia me informar sua data de nascimento...

- 28 de janeiro de 69.

- Ok, qual o endereço para correspondência?

- Rua das Garças, 522/307 – centro

- Ok. Senhor. Qual os três números iniciais do seu CPF?

- 075.

- Obrigado. Um momento, senhor... mais um momento.... um momento, senhor...

Enquanto isso.. Gravação chata...
Sua ligação é muito importante para nós, conheça também o nosso Máster Baby Program, o primeiro programa de milhagem para quem encomenda bebês. Sua maior comodidade aliada a um programa de desconto e serviço jamais vistos. O programa Master baby oferec...

- Obrigado, senhor ,por aguardar.
- O pedido do senhor foi confirmado, com entrega prevista para daqui a nove meses, não endereço fornecido. O senhor poderia anotar o número de protocolo de sua solicitação?
- Tudo bem.
- 0-3-5-6-7-9-1-1-1-2-2-3-4-5. Anotou?
- Já. Tá certinho...

Pronto. Assim nascem os bebês.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Uma breve estória do essencial! - Camisas e calças...

O fato é que, na vida, muitas vezes, o que faz a diferença é uma camisa dentro da calça. Camisa dentro da calça foi a curiosa, mas apropriada maneira de falar a respeito de algumas coisas que fazem uma diferença considerável.
Por que não dizer, muitas vezes, uma estúpida diferença.
Na porta de uma festa, o indivíduo tenta entrar. O porteiro o interpela.
"Convite senhor."
O homem enfia a mão no bolso e tira um papel amarrotado, logo entregando-o ao funcionário.
"Aqui!"
"Desculpe senhor, mas este convite só permite entrada com camisa pra dentro da calça. Camisa pra fora da calça é na porta ao lado" Retrucou o porteiro.
"Mas qual a diferença? Se o problema é colocar a camisa pra dentro, eu coloco."
"Agora não vale. Eu já vi pra fora da calça."
"Ah! Então o problema é você ver?"
"Precisamente!"
“Feche os olhos uns instantes”
“Isto seria omissão, Senhor”
As pessoas na fila se impacientavam. Comentavam a indiscrição daquele que ousava entrar pela porta das camisas para dentro da calça sem camisa pra dentro da calça. “Que falta de politese” comentava uma senhora.
“E agora? Troco de fila? Não posso, né!”
“Não, senhor. Vou chamar o Silveira, responsável pelo departamento de CDC”
“O que é CDC?”
“Camisa Dentro da Calça, senhor”
Minutos depois, chega um senhor todo almofadinha que com ares de autoridade diplomática, apresenta-se e sentencia: não há solução. Botar camisa pra dentro da calça ali era uma afronta as regras.
“Ah é!!!” Irritado, o convidado tem uma atitude drástica!
Todos o olham assustados.
O chefe do CDC e o porteiro cochicham entre si.
Agora o senhor pode entrar. Não há nada que o impeça.” Diz o porteiro com o assentimento do chefe do CDC.
A festa transcorre normalmente e ninguém foi capaz de notar aquele homem de cueca que andava entre os convidados, mas no muro ao lado da mansão seguranças agrediam rapazes que durante o baile afrouxaram a camisa para fora da calça e as pessoas ficavam pasmas como alguém ainda insistia em entrar ali com a camisa pra fora da calça.
Que tempos são estes, que tempos!!! Filosofava uma velhinha do tempo das camisas pra dentro da calça.
LEITE, Marcelo. Ladrão de Histórias e tantas histórias.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Estatística... 1 em cada 3 se preocupa com isso

Se tem uma coisa que me apavora é estatística. Saber que estamos sujeitos a tirania dos números e seus senhores me deixa em pânico. Abro o jornal e leio de cara as terríveis estatísticas. A possibilidade de chover, de baixar a inflação, de pegar AIDS, de ser atropelado, de ganhar na loteria... Ufa ! Quanta possibilidade!
Acordo de manhã e vejo que há possibilidade de chuvas esparsas no fim do período, o PIB cresceu 5% ano passado, meu time tem 45% de chance de se classificar para a próxima fase do campeonato, o carro que comprei tem uma desvalorização anual de 12% e eu, meu Deus, até eu... tenho 20% de chances de ser assaltado. É claro! Uma em cada cinco pessoas já foram e eu ainda não fui. O próximo, com certeza, sou eu.
Saio tenso pela rua e entro no edifício onde fica o escritório em que trabalho. No elevador tem sete pessoas. Sabe o que significa isto? Um grupo de cinco pessoas formado e se o assaltante lê estatísticas em jornal ele está de olho naquelas cinco, pois uma será sua vítima. Fui olhando de soslaio aquela gente toda e imaginando quem poderia ser entre eles.
Zequinha, o ascensorista, eu descartei. Já o conhecia há muito tempo. Restavam seis, menos eu, cinco. Eu botava a mão no fogo por mim. Nunca assaltara , nem geladeira. Eu sou homem muito direito.
A velhinha que assoava o nariz num lenço bordado. Passei a observar seus atos. Um jeitinho de facínora, mas de acordo com uma nítida observação fui me lembrando da minha tia Gertrude, velhinha de bom coração, e comecei a cogitar a possibilidade de não ser ela. Mas não descartei totalmente. A gente nunca sabe o que nos espera por trás de um doce rostinho senil. É só abrir o jornal e ver como tem velhinhas assaltando, traficando... e sabe lá mais Deus o quê. Também com o salário de pensionista ou aposentado...
É, mas não justifica.
Continuei observando os outros, mas sem deixar de lado a vovó suspeita. Ao lado dela tinha uma mocinha de mais ou menos 22 anos. Não era bonita, nem interessante, na verdade, despertava pouquíssima atenção. Seu ar de apatia a excluía da lista. Era impossível que alguém tão apagada assaltasse quem quer que fosse.
Ah! O boy ... Office boys são sempre criaturas estranhas. Usam radinhos nos ouvidos e poupam o dinheiro do táxi e sempre falam que a fila estava enorme. Aquele boné virado para trás e a blusa larga o denunciava como o bandido que nos observava. Não podia ser, aquele era o Toninho, o boy do departamento pessoal, eu o conhecia há muitos anos. Mas vai que ele fazia um bico de bandido e...

Duvido que ele me assaltaria. Ia pegar mal. Eu sou da casa.
Mas mesmo assim fiquei com um olho nele e outro na velhinha. De vez em quando até dava uma olhada na moça sem graça. Todos estavam sobre vigília e minha observação constante. Eu sou esperto e não os perco de vista.
O negrão que batucava na pastinha despertou minha suspeita, mas tive medo de ser acusado de racismo só por suspeitar e apaguei este pensamento pouco politicamente correto de minha cabeça. É crime inafiançável, sabia? Vi na TV outro dia.
Só restava o senhor com cara de sono. Era ele o tempo todo e eu nem percebia. Estava com sono porque ficou a noite toda fazendo o seu servicinho sujo. Safado! As pessoas do elevador precisavam saber. Tomei coragem e gritei:
“Peguem o ladrão!”
Todos me olharam assustados. Vendo que ninguém reagiu, tomei coragem e voei sobre o canalha. As pessoas custaram a entender o que acontecia e logo vi que me separavam do combate corpo a corpo.
Acho que exagerei.
O cara que eu ataquei era um funcionário novo do 6º andar, diziam ser gente boa, mas eu duvido. As estatísticas não erram.
Eu mesmo estou de licença médica em casa e vejo o jornal dizendo que uma em cada sete pessoas que vive na cidade grande tem uma crise de alucinação causada pelo stress. Olho para os quatro cantos da quarto e não vejo ninguém além de mim. Uma em cada sete, penso.
Ufa! Ainda bem que os outros seis estão longe daqui.
Detesto gente neurótica.


(Extraído do meu livro: Ladrão de Histórias e tantas histórias)

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Seus problemas se acabaram

O mais gostoso da internet é que, se você prestar a atenção, está sempre a um clique de mudar sua vida, de ficar milionário vendendo perfumes, adquirir um cartão de crédito sem anuidades, sem conta, sem precisar pagar fatura e que ainda lhe permite receber tudo que você "gastou" em dobro. Sempre há um banner nos separando da maravilhosa oportunidade de aumentar o seu pênis, de consquistar a mulher dos seus sonhos, de ficar irresistível, de receber 20.000 visitas por dia em seu site e ganhar um carro que será sorteado em breve, mas do qual jamais ouviremos falar do ganhador. E, finalmente, dar orgasmos a qualquer mulher seguindo uma maravilhosa receita secreta de um guru indiano... Nossa! Vou arrasar!

Tem um produto maravilhoso que emagrece e faz qualquer mulher ficar gostosíssima e a cara da Grazy BBB. Viu, só é feia e gorda quem quer. Tem um produto que vai me dar uma renda mensal de 3 mil reais, basta eu vender 10 unidades por dia em minhas horas vagas.. uau!
Tem também aquele negócio da China em que você liga do seu celular e quanto mais você liga, mais dinheiro você ganha.. e ainda não paga nada por isso. É aí que eu vejo que o mundo é cheio de pessoas boas que querem te ver milionário sem nem ter que gastar nada.
Você é que é preguiçoso e desconfiado!

É só um clique, nada mais que um clique e todos os meus problemas se acabarão.

***

O número de telefone toca:
- Boa tarde, gostaria de estar falando com dono da casa.
- Sou eu.
- Senhor, boa tarde, nós somos da International Problems Solution, e estamos informando que o senhor vai estar recebe(i)ndo totalmente grátis sem nenhum custo adicional o nosso Problem Card Gold, um cartão que lhe dá direito a resolver os seus...
- Peraí...não entendi direito. Cartão de crédito eu já tenho.. não quero, obrigado.
- Mas o seu cartão além de não ter anuidade, resolve seus problemas pessoais totalmente grátis sem nenhum custo adicional e ainda lhe dá a oportunidade de participar do nosso programa de fidelidade...
- Cartão que resolve problemas?
- Sim, senhor... o Problem Card Gold...
- Peraí.. está de sacanagem comigo?
- De modo algum, senhor... o senhor tem problema?
- Tenho. Que tipo de problema?
- Qualquer um, senhor.
- huumm... tenho barriga de cervejeiro...
- pois o Problem Card Gold lhe dá direito a uma cirurgia de lipoaspiração totalmente grátis sem nenhum custo adicional...
- Ah... eu fui demitido.
- Pois então senhor, o Problem Card Gold lhe oferece a oportunidade de participar de várias entrevistas de emprego e ao final um cargo e sálario de seu gosto sem nenhum...
- Minha mulher me corneou... e aí..
- Bem, senhor, temos o programa de infidelidade que cobre despesas de advogados e ainda lhe oferece inscrições em sites de encontros para o senhor estar encontrando uma mulher à altura de suas qualidades...
- Huummm.. Meu time foi rebaixado... te peguei.
- Em absoluto, senhor, temos o Especial. First Division Program para que o senhor auxilie o seu time voltar para primeira divisão...
- Caramba... Estou carente à beça...
- Senhor, o nosso programa não tem carência, o adquirindo o Problem Card Gold você vai estar receb(i)ndo o programa de milhagem cafuné...
- E se eu quiser beijo de língua?
- Senhor, nesse caso, vou estar saindo às 17 horas...
- Nossa... isso é que é marketing!

***
O paraíso tem um nome:
Internet
Telemarketing

Só não é feliz quem não quer.

Vale a pena ler de novo - amor de web

Rapidinhas...
Amor em tempos de internet

Nosso amor começou no orkut.

Um dia passeando por uma comunidade sobre jardinagem, lá estava ela. Sorrindo em um perfil com o nome Dani. Mandei uma pergunta para o fórum, ela respondeu, postei um scrap, ela retribuiu.

Logo, atualizei meu perfil de acordo com o dela. Solteiro, sem filhos, morando com os pais, adoro meus animais de estimação, estilo casual, quem sou: nem eu mesmo sei... Surtiu efeito. Vi seu nome na minha página inicial. Fui na dela, ela foi na minha. Marcamos um encontro no MSN, ela preferiu o Google talk. Topei e instalei na minha máquina.

Ela estava linda, trocou a foto do perfil só para aquele encontro e vestia trajes floridos com uma paisagem de praia ao fundo. A partir daí, foi scrap para cá, scrap para lá, bom fds, só passei para deixar um bom fds... Que lindo!

Depois de mais de 500 horas on line, decidimos nos casar. Ela, na foto do orkut, de branco, eu de terno e os nossos amigos amontoando nossa página de recados. Foi o dia mais lindo que meu monitor de LCD já viu. Ganhamos muitos recados e depoimentos em nosso perfil.

Vivíamos felizes em um site instalado num provedor de linux que nos permitia ter vários bancos de dados onde guardávamos nossas coisinhas, nossos arquivos de powerpoint e nossas lembranças. Já sonhávamos em ter filhos que ilustrariam nossas fotos no álbum de foto quando ela começou a ter a visita de um perfil fake. No início, o tal do Jack Sparrow não dizia nada, só entrava e deixava um bom fds, às vezes, deixava um “visite meu flog”. Eu me ruía de ciúmes e não a deixava sair do nosso site sem mim.

Até que um dia, em um blog de relacionamentos eu a encontrei com o tal Jack Sparrow. O ódio me consumiu, pensei em atolar sua caixa de mensagens com ofensas, mas me contive e, simplesmente, eu a deletei no meu perfil, mudei de site de relacionamento, agora, estou no myspace, e não quis mais saber das leviandades do mundo virtual.

Nossas coisas... levei comigo e leiloei uma parte no mercado livre e outra no e-bay.
FIM

LEITE, Marcelo A. Ladrão de Histórias e tantas histórias. Edições Edocta.com. Rio de janeiro, 2007

Em tempo: Que tal comentários? Vou postar mais se agradar. Abraços

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Blogs e Blogueiros... e você?

Gostei desse universo de blogosfera, aliás, acho este neologismo o máximo, mas ainda engatinho e não pude deixar de notar que há tipos e temas que são recorrentes. Há vários tipos de blogs e blogueiros. Comecemos pelos blogueiros e deixemos os blogs para uma outra oportunidade:

O adolescente revoltado
Adota uma postura rebelde fala com ares de "o mundo me odeia e eu odeio o mundo, os outros não me entendem e eu sou alguém desolcado no mundo". No geral, usa um monte de imagens e faz referência a um monte de bandas que eu (um velho de 36 anos) nunca ouvi falar. O blog tem cores forte e imagens que, muitas vezes, repetem-se em inúmeros blogs e sites da internet. Adotam nomes do tipo: palavrasesangue, gritodeliberdade, solidaoemletras...

Se conselho fosse bom, ninguém dava, vendia, mas aí vai um grátis...
O mundo não te odeia, as pessoas te entendem sim, você não está deslocado no mundo.. é só impressão sua. E deixa de frescura e vai estudar que tem prova na semana que vem. Ah... e quando você passar dos 30 vai achar o título do seu blog e bandas com títulos como fucking cops coisas patéticas.

O Cronista Teen
Postura barbie, blog com fotos das "miguxas", "dos Xurras". Uso intenso de abreviaturas do tipo "niver"... Fala do próprio cotidiano e aborda o tédio existencial. Normalmente, o tema só interessa a ela mesma e tem um monte de link de foto de coisas como Niver da Fê (é surpreendente como existem pessoas com nomes do tipo Paty, Fê, Va, Su... proliferam os monossilabos de maneira assutadora). Adotam nomes do tipo: blogdafe, diariodaju...

Se conselho fosse bom, ninguém dava, vendia, mas aí vai um grátis...
Seu cotidiano é um tédio mesmo, tente fazer de seu um diário uma piada e não um drama.. senão piora.

O tecnológico
Repete as notícias já encontradas em portais sobre tecnologias e faz algumas adpatações para dar um ar de novidade. Dentre os citados ainda é o mais interessante, mas por repetir o que já foi escrito na internet recebe comentários do tipo : legal, vou comprar um... Muitas vezes, vem com uma dúzia de banners que mandam a gente clicar, oferecem serviços, apresentam selos de concursos de blogs. No geral, eles querem é que você visite e aumente a pontuação dele. Adotam nomes do tipo: tecnomundo, infotecno, universodigital, digitoetal...

Se conselho fosse bom, ninguém dava, vendia, mas aí vai um grátis...
Desista! Não vou clicar nas suas propagandas. Ah sim... prefiro o site da INFO.

O Intelectual
Fala de cinema, teatro, dança, livros, música (normalmente jazz e blues), cita autores e faz relações intertextuais que mostram suas leituras-cabeça. Escreve textos grandes e em letras pequenas. No geral, são legaizinhos, mas no fundo são uns chatos. Sempre lembram que os comentários feitos no seu blog devem ser a altura de sua geniallidade (não dizem isso, mas deixam insinuado nas entrelinhas). Adotam nomes do tipo: dialeticabrutal, onusvital, verbavana,...

Se conselho fosse bom, ninguém dava, vendia, mas aí vai um grátis...
O pessoal anda falando que você é fresco. Eu defendo dizendo que é só o seu jeitão. Você não é gay, é só chato pra cacete. A gente já sabe que você é culto, agora, aja naturalmente.

O comediante
Enche o Blog de video do YOU TUBE que todo mundo já cansou de ver, coloca foto montagens e faz control+C e control+V em piadinhas de sites de humor. Costuma vir cheio de banner e dá a impressão que tem milhões de visitas/dia. Adotam nomes do tipo: batataoca, ovochoco, sapocareca... ou outro nome engraçadinho...

Se conselho fosse bom, ninguém dava, vendia, mas aí vai um grátis...
Se quero vídeo do you tube, vou lá... não gosto das fotomontagens pois já vi umas 10 dessas na web... ah e se insistir, paro de rir por educação...

O umbigocentrico
Gosta de temas exóticos do tipo um herói de mangá com aquelas historias estranhas que envolvem demônios, vida em outra dimensão e coisas do gênero. Pede em comunidades de blogueiros que façamos comentários. Caramba.. Comentar o quê? Adotam nomes do tipo: dimensaokakuto, kakutomundo, kakataluta.... Normalmente, vigiam quem diz que comenta e não comenta, precisam que comentem.

Se conselho fosse bom, ninguém dava, vendia, mas aí vai um grátis...
Aquele herói japonês é curtição sua e dos colegas de sala. A maioria das pessoas não entende nada...

Os estéticos
Colocam flash, recursos de banner, inserem imagens, cheio de banner é um verdadeiro circo. Selo de concursos de blogs, links.... Normalmente, o conteúdo é inversamente proporcional a quantidade de papagaiada. Para não dizer que não tem nada, sai colando link do you tube, piadinhas e escreve umas linhas (umas duas mesmo, no máximo)

Se conselho fosse bom, ninguém dava, vendia, mas aí vai um grátis...
Tá legal.. no meio dessa piscação de banner, eu tenho que comentar o quê? Ah.. também não vou clicar nos seus baners... desista

O Escritor frustrado
Coloca capítulos de um livro que escreveu e que aborda de maneira teatral coisas banais (acha isso genial e sempre tem um séquito fiel que também faz o mesmo). Este se parece muito com o intelectual, mas é mais insistente e acha que todo mundo que entrar no seu blog vai ler aquele post imenso que ele publicou. Divide post em capítulos e acha que tem maluco que acompanha. Um dia pretende publicar (Deus nos proteja), mas ainda está buscando parcerias (Deus os proteja)...

Se conselho fosse bom, ninguém dava, vendia, mas aí vai um grátis...
Kafka foi genial com a Metamorfose, você não está sendo nem original, nem genial... pára com isso, rapaz.

Ah, e tem os cronistas chatos (e implicantes assumidos), como eu, que escrevem sobre os blogs que visita e acha graça em tudo que lê.
Isso é rir do cotidiano e torna as coisas mais leves.

Qual tipo é você? A lista encontra-se aberta para acréscimos....

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Pílulas...

Se Cristo vivesse para comemorar Natal, seu dia de aniversário cairia sempre no mesmo dia do Natal e ele viveria o dilema: dois presentes simples ou um presente bom?

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Os produtos com validade até o dia 25 de dezembro de um ano X podem ser consumidos de forma segura até que hora nesse dia?

*
Sócrates dizia: Só sei que nada sei. Se ele não sabia nada como é que ele sabia isso?

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Os Corintianos não entenderam: O Pastor gritava "DEUS É FIEL" e não DEUS É DA FIEL"

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Acho que, no fundo, todo chato tem razão. Você discorda? Pois, você está certo.

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Domingo foi projetado para ser um dia deprimente. Acordamos tarde, agüentamos o Didi, suportamos o Faustão, aliviamos nos programas de revista eletrônica (Fantástico) e terminamos com aquelas musiquinhas do Domingo Maior com um filme que já passou mais de mil vezes. Aí constatamos que a Segunda-feira é uma realidade inexorável. E como dói.

*
Formatura é igual chulé: só dono que não acha que é tão ruim.

*
Uma vez comi um feijão amigo, passei mal e me pergunto até hoje: amigo de quem?

*
Um colega comprou um carro azul petróleo... e petroléo é azul onde?

*
Minha mãe me dizia que dormir sem camisa afastava o anjo da guarda e durante anos suei de pijama. Ao chegar na adolescência cheguei à conclusão que o calor não compensava e dei aviso prévio para o anjo.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Um país de escritores e de escrevedores

“Digo isto porque tenho medo que, um dia, você também me esqueça...”
Dora, personagem de Fernanda Montenegro no filme Central do Brasil.

Não foi com esse filme que trouxemos o Oscar para Brasil... Entretanto, ele é o ponto de partida de mais uma série de reflexões sobre o país que temos e o país que queremos. Central do Brasil foi a grande demonstração de amadurecimento do cinema brasileiro, mostrando que dos arroubos do Cinema Novo, das inovações e óticas engajadas de Júlio Bressani e Glauber Rocha entre outros, brota um cinema maduro, bonito e sensível que constrói a apresentação de nosso perfil cultural ao mundo de maneira clara, lúcida e cada vez menos estereotipada. Mas o que mudou na face do Brasil de Glauber e Júlio para o Brasil de hoje? Dora e Josué ainda são a cara do Brasil. Milhões de brasileiros ainda vivem afundados no analfabetismo e distanciados dos bens de consumo da sociedade capitalista. Ainda não temos os rostos bonitos e bacanas das novelas das oito. Estamos mais para Central do Brasil do que para a fábrica de sonhos da Globo. Para início de conversa, falta, no Brasil, um programa educacional sério que vise à formação do usuário da língua em primeira instância. O ensino fundamental ainda se confunde em seus objetivos e, em meio ao despreparo dos profissionais, entende que dar aula de português é falar de “regrinhas” e exceções. A primeira visão que devemos ter do nosso idioma não é a imensa lista de regras com as quais, muitas vezes, nos inundaram a cabeça na escola. Estudar a Língua Portuguesa é dar ao falante o manejo da língua escrita (e, obviamente, oral) a fim de habilitá-lo a exercer sua plena cidadania. Nunca entendi, por que toda tentativa de ensino efetivo da norma culta de nossa língua começa pelo soterramento do indivíduo com regras que por si só assustam. Afinal de contas, a gramática é feita em função do uso e não o contrário. Fala-se, por vezes, na formação do leitor, entretanto, é muito difícil gostar de ler se as aulas de português não são momentos de incentivo à leitura e à produção dos próprios textos. Não estamos falando, necessariamente, da leitura de livros, mas de qualquer texto que deveria ser trazido para a sala. Obviamente, que tragam consigo a semente da reflexão e da formação da consciência crítica. Músicas, avisos, leis, textos de jornal, material de revistas, publicidade, tudo escrito em língua portuguesa é válido. Que a língua simples das ruas, da realidade do aluno seja trazida para a sala de aula, não para ser ensinada (mesmo porque, essa ele já conhece), mas para amparar a reflexão sobre a norma culta que se origina, creiam ou não, dela. Não acredito que seja possível ensinar português sem cruzar o universo escrito da norma culta com a realidade oral do aluno. Todo ensino que não leve em conta esse cruzamento de universos lingüísticos é uma ode à alienação. O ensino de português sem a língua em formas de textos ou sem o uso do universo oral é a repetição dos erros já apontados e condenados no ensino da língua materna. Mesmo correndo o risco de cair no lugar comum, ainda assim, como Dora, digo isto, diariamente, a meus alunos tanto na faculdade de Letras como aos de ensino médio, talvez, porque, no fundo, tenho medo de que não levem a sério a mensagem e, fatalmente, me esqueçam. Por fim, que o milênio que se inicia seja o milênio da consciência, da leitura, da reflexão. Uma Era de cada dia menos de Josués e escrevedores.

Amém.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

E-mails e e-teiros...

(a pedidos de todos os meus 14 fiéis leitores. Mais uma crônica)
Abri o programa de e-mails como faço todas as manhãs. Passei a vista nos primeiros, mais um, mais outro, mais um... Os e-mails são sempre uma surpresa previsível. Fico pensado porque que o cara do outro lado do teclado acha que eu quero aumentar meu pênis, emagrecer, fazer um empréstimo em condições maravilhosas, me comover com anjinho, doar para uma campanha de um menino que tem uma doença rara que faz com que ele cuspa sem parar e se desidrate até morte, ou mesmo uma corrente que deve ser enviada para mais 20 pessoas senão vai acontecer com você o mesmo que aconteceu com um fazendeiro da Nova Zelândia que não enviou e foi atingido por um fragmento de satélite artificial em sua costas quando tomava banho de sol ou uma dona de casa na Sibéria quebrou a corrente e teve seus braços decepados por um aparelho de barbear descontrolado enquanto usava o vaso sanitário. E aquelas mensagens de esperança que começam com UM DIA...?? Aí vem outro slide de powerpoint.. UM HOMEM CAMINHAVA POR UMA RUA... E lá vem outro slide com letrinhas que escorregam e, ao fundo, um pôr-do-sol... QUANDO ENCONTROU UMA CRIANÇA... Agora as letrinhas caem e o slide tem como fundo um cachorrinho... E O HOMEM PERGUNTOU... POR QUE CHORAS? Bom, esse cara não cogitou a possibilidade de o menino dizer: NÃO É DA SUA CONTA. Claro que não, o mundo de slides de powerpoint é sempre lindo e cheio de lições de vida, fotos de anjinhos e bichinhos que nos enternecem. Além das letrinhas que caem, rolam, piscam e distraem as pessoas, uma vez que aquilo não tem conteúdo nenhum. Mas eu gosto mesmo é dos novos métodos de assalto. O e-mail sempre começa com Assunto: FW;FW; PASSE PARA TODOS A QUEM VOCÊ AMA, NÃO É BRINCADEIRA!!! Esse tom de ameaça me encanta. Logo após vem o texto: Há uma nova forma de assalto. Uma funcionária de banco em Belo Horizonte estava saindo de seu carro quando foi abordada por um outro carro que abriu a janela e dois rapazes vestidos de preto lhe pediram uma informação. Quando ela foi dar informação um dos rapazes retirou um chocolate baton do bolso e começou a falar suavemente e com voz enigmática “compre baton, compre baton...” balançando-o em movimentos compassados diante de seu rosto. Em alguns segundos, a mulher perdeu a consciência. Horas mais tarde, ela acordou inconsciente na banheira de sua casa (e olha que ela nem tinha banheira e morava em apartamento e não em casa) cheia de espuma em volta e havia um aviso escrito no espelho: capturamos seu Chiuaua para fazer sabão (e olha que ela nem tinha cachorro). Não chame a polícia. Sabemos quem você é e onde te encontrar. Não é mentira. Esses bandidos não respeitam ninguém, roubam o que é seu mesmo que você não tenha. Passe esse e-mail para o maior número de pessoas para que elas fiquem cientes desse novo golpe na praça. Sinceramente, não paro mais para dar informação e nem como mais baton. Cruz credo!

Em tempo: Que tal comentários?

As coisas não têm que ter sempre sentido.

Um dia eu estava assistindo a uma entrevista e o cara falava sobre o significado de alguns nomes. Lembrei dos filmes de caubóis em que o índio se chamava, Chero-toko, e os seus sempre explicavam que aquele nome significava “guerreiro selvagem que luta na lua com honra e perseverança”. E eu ficava pensando. Caramba, que poder de síntese.. tudo isso numa palavra pequeninha.
Acho que foi por conta desse poder de síntese que algumas tribos entraram em extinção. Explico. Chegou-se a um ponto tal que para o líder da tribo dar uma bronca o cara só olhava e falava: Ó...! e todos já entendiam seu sermão sobre a virtude, a honra, a sensatez e a presença de um deus imenso e bondoso que cuidava de todos. Num estágio evolutivo posterior, era só uma levantada de sobrancelha e os demais se prostravam de joelhos.
Era um silêncio ensurdecedor.
Com o passar do tempo, todos morreram.. de tédio.
Mas, tudo isso é para falar que nessa busca por explicar os nomes surgem coisas absurdas e que me fizeram perder o gosto por etimologia (estudo da origem das palavras) muito cedo. Vez por outra aparece um a jornalista (sic) explicando que uma palavra se origina em uma outra expressão ou apresentando uma história mirabolante de uma palavra. No fundo, é um chute atrás do outro, mas que é tão bem bolada que a gente sai repetindo por aí com ares de verdade universal.
Bom, salvo raríssimas exceções, me esquivo de etimologias e assumo que uma palavra significa o que ela quer dizer. Já gostei de contar que morcego vem do latim mus (rato) e cecus (cego) porque os antigos romanos acreditavam que morcegos eram ratos que envelheceram e criaram asas.
Continuo gostando das historinhas, mas para mim, morcego é um mamífero que parece com o rato e que voa. (ponto final)

P.S.: A coisa mais absurda que já ouvi foi que a expressão cuspido e escarrado para referir-se a semelhança entre pessoas vinha do termo “esculpido em carrara”. E desde quando quando alguém é igual ao outro parece com uma estátua de mármore carrara. A idéia é esculpido (semelhante fisicamente) e encarnado (semelhante no jeito de ser).

Quem gosta do assunto pode dar uma olhada no www.areadeletras.com

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

O eliminado de hoje é você

Como construir um discurso do Bial de eliminação em paredão.
Curso prático em uma lição

Depois de vários contatos dos brothers com as famílias via TV de plasma (queria uma TV daquela) e ver que os caras repetirem sempre as mesmas coisas: ó, a tia lalá, O zecão... caraca!.. Meu pai, minha mãe, a Aninha... caraca! O Alfredo, o Jão, o Pepe...caraca... (preste atenção que eles colocam a mão boca sempre que apontam para a TV. Será isso um sinal?

1. Adote a seqüência aleatória para comunicar. Tente ser imprevisível, mesmo quando só há duas opções :
O ELIMINADO e o QUE FICA. O QUE FICA e o ELIMINADO. Nunca permita que saibam quem é o eliminado no início do discurso. Desvie com elogios aos dois... isso sempre confunde.

2. Reúna considerações pessoais de cunho poético e com metáforas de efeito.
Ex.:
E você, Fulana, que veio como um furacão e como um brisa se foi. Em alguns momentos explode em ímpetos, em outros deságua de ternura... E você, beltrana, uma flor que chegou em botão e desabrochou na convivência com os brothers.

3. Faça citações literárias que já se tornaram lugares-comuns, com interações a elas:
Ex.:
Tudo vale a pena se alma não é pequena, mas a sua alma não foi pequena.
Tinha uma pedra no meio do caminho, entretato, o que é uma pedra para um guerreiro.
Amor é fogo que arde sem ver, mas esse você viu arder e se esvair nas cinzas.

4. Afunile o discurso. Faça o processo na ordem inversa, ou seja, afunile o discurso no oponente que fica e rompa a expectativa ou afunile no eliminado. Encha de frases feitas de uso popular.
Ex.:
Mas quem muito procura acha, e você procurou... o eliminado de hoje é você, Fulano.
Água mole em pedra dura, tanto bate... o eliminado de hoje é você.

É isso aí.
Agora, na hora de dispensar alguém (namorado(a), empregado(a)... ), você já tem estilo BBB.

Em Breve...
Como fazer piadinhas
Por Fausto Silva

Como fazer novelas que só se passam no Leblon
Por Manoel Carlos

Fazendo pessoas rirem por educação
Por Renato Aragão

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Sei não... mas parece flashback...

Coisas do carnaval. No final da folia, já podemos fazer um balanço do que foram os dias em que Momo reinou. Surpreendentemente, chegamos à conclusão que, entra ano, sai ano... é sempre a mesma coisa.
Há algo de paranormal nisso, compare com a gente.

1. Uma escola de samba homenageando um Estado do norte/nordeste que liberou dinheiro público aos montes para ela. Os enredos oscilam entre o profundamente chato e o plenamente desinteressante.
(Beija-flor e Mangueira)

2. Imagens repetidas de bailes com os seguintes tipos: pessoas vestidas com fantasias da moda (tropa de elite), pessoas vestidas com fantasias tradicionais (havaiana), caras sarados com copos de cerveja na mão andando arrastando o pé para frente, homens vestidos de caricaturas de mulher na rua e achando isso o maior ato de transgressão do mundo;

3. Jornal nacional mostrando a folia em todo o Brasil (Bloco de bonecos em Recife, Ivete Sangalo na Bahia e escolas de samba no Rio e SP) e esquecendo do resto que acontece no mundo.

4. Sambas que possuem frases de efeito como “chora cavaco”, Olha o escola X aí gente”, e o tradicional “oooooi” sem o qual o carnaval nada seria.

5. Propagandas de preservativos do governo que tentam convencer um cara que passa os quatro dias embriagado a usar camisinha e não dirigir daquele jeito.

6. Uma escola de samba polêmica (esse ano foi a Viradouro)

7. Uma BBB curtindo a folia como prêmio por ficar exposta 24 horas para o país e não poder nem futucar o nariz de vez em quando.

8. Concursos de pessoas que acham que as marchinhas não devem morrer (sic). Profusão musiquinhas sobre “a pipa do vovô”, “Cachaça”, e que terminam sempre do mesmo jeito “lá, lá, lá... se acabar na folia”.

E vai por aí...
Se você perdeu.... Fica triste não... ano que vem tem mais...
De novo e igual.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Um Brasil de escrevedores e escritores

“Digo isto porque tenho medo que, um dia, você também me esqueça...”
Dora, personagem de Fernanda Montenegro no filme Central do Brasil.



Não foi com esse filme que trouxemos o Oscar para Brasil... Entretanto, ele é o ponto de partida de mais uma série de reflexões sobre o país que temos e o país que queremos.
Central do Brasil foi a grande demonstração de amadurecimento do cinema brasileiro, mostrando que dos arroubos do Cinema Novo, das inovações e óticas engajadas de Júlio Bressani e Glauber Rocha entre outros, brota um cinema maduro, bonito e sensível que constrói a apresentação de nosso perfil cultural ao mundo de maneira clara, lúcida e cada vez menos estereotipada.
Mas o que mudou na face do Brasil de Glauber e Júlio para o Brasil de hoje?
Dora e Josué ainda são a cara do Brasil. Milhões de brasileiros ainda vivem afundados no analfabetismo e distanciados dos bens de consumo da sociedade capitalista. Ainda não temos os rostos bonitos e bacanas das novelas das oito. Estamos mais para Central do Brasil do que para a fábrica de sonhos da Globo.
Para início de conversa, falta, no Brasil, um programa educacional sério que vise à formação do usuário da língua em primeira instância. O ensino fundamental ainda se confunde em seus objetivos e, em meio ao despreparo dos profissionais, entende que dar aula de português é falar de “regrinhas” e exceções.
A primeira visão que devemos ter do nosso idioma não é a imensa lista de regras com as quais, muitas vezes, nos inundaram a cabeça na escola. Estudar a Língua Portuguesa é dar ao falante o manejo da língua escrita (e, obviamente, oral) a fim de habilitá-lo a exercer sua plena cidadania.
Nunca entendi, por que toda tentativa de ensino efetivo da norma culta de nossa língua começa pelo soterramento do indivíduo com regras que por si só assustam. Afinal de contas, a gramática é feita em função do uso e não o contrário.
Fala-se, por vezes, na formação do leitor, entretanto, é muito difícil gostar de ler se as aulas de português não são momentos de incentivo à leitura e à produção dos próprios textos. Não estamos falando, necessariamente, da leitura de livros, mas de qualquer texto que deveria ser trazido para a sala. Obviamente, que tragam consigo a semente da reflexão e da formação da consciência crítica. Músicas, avisos, leis, textos de jornal, material de revistas, publicidade, tudo escrito em língua portuguesa é válido.
Que a língua simples das ruas, da realidade do aluno seja trazida para a sala de aula, não para ser ensinada (mesmo porque, essa ele já conhece), mas para amparar a reflexão sobre a norma culta que se origina, creiam ou não, dela.
Não acredito que seja possível ensinar português sem cruzar o universo escrito da norma culta com a realidade oral do aluno. Todo ensino que não leve em conta esse cruzamento de universos lingüísticos é uma ode à alienação. O ensino de português sem a língua em formas de textos ou sem o uso do universo oral é a repetição dos erros já apontados e condenados no ensino da língua materna.
Mesmo correndo o risco de cair no lugar comum, ainda assim, como Dora, digo isto, diariamente, a meus alunos tanto na faculdade de Letras como aos de ensino médio, talvez, porque, no fundo, tenho medo de que não levem a sério a mensagem e, fatalmente, me esqueçam.
Por fim, que o milênio que se inicia seja o milênio da consciência, da leitura, da reflexão. Uma Era de cada dia menos de Josués e escrevedores.
Amém.

Imagens impressionantes de marte!


Foto do 'Pé-Grande de Marte' chama atenção na internet
Planeta tem tradição de imagens controversas
SÃO PAULO - Seria o Pé-Grande - o mítico primata da América do Norte - um marciano? A questão causou alguma polêmica na internet nos últimos dias, por conta de uma imagem feita em 2007 pelo robô Spirit, da Nasa, que guarda uma estranha semelhança com uma das supostas aparições do monstro terrestre.

***
O saco de filó vai além e mostra fotos que são definitivas no mistério do planeta vermelho. mantidas em segredo pela NASA até 2007, agora estas fotos chegam a todos como o início de o fim de uma grande conspiração marte.

Veja a foto de uma espinha inflamada que estourou e foi futucada. Futucada por quem??? Só o tempo irá dizer.

Abaixo a imagem de uma mesa coberta por uma toalha que simula uma cor de terra. Observe o contorno da mesa e dos talheres, pratos, castiçais...

Quem eles estariam esperando para jantar? O mistério persiste. E por que não querem que vejamos o que eles colocaram na mesa embaixo da toalha?

Veja na foto acima, na parte inferior da imagem, um agrupamento de celulites gigantes no solo de marte. Observe também, próximo as celulites, um rosto que parece feminino com um leve sorriso de ironia. Seriam as celulites seres de martes que fazem as mulheres da terra como suas hospedeiras? Uma mulher cheia de celulite seria um alienígena entre nós? As perguntas se acumulam...

Por fim, a mais impressionante de todas. O espermatozóide gigante de marte. Veja as imagens de um imenso espermatozóide em solo marciano.

O que eles querem dizer com isso? Quem somos nós? Para onde vamos? De onde viemos? Quem vai ganhar o BBB 8? O que aquela ministra comprou que gastou mais de 170 mil reais em um ano no cartão de crédito?.... O mistério persiste.

A verdade está lá fora.
Fox Mulder

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Tinha um vândalo no meio do caminho...

Deu em OGLOBO - 03/02
Estátua de Drummond volta a ficar sem os óculos, mostra leitor

RIO - Pouco mais de dois meses depois de ter sido consertada, a escultura em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade voltou a ficar sem os óculos. A estátua, que fica no posto 6, em Copacabana, pode ter sido depredada por vândalos mais uma vez. As fotos foram tiradas na manhã deste sábado de carnaval.

É o momento oportuno de atualizar Drummond...

No meio do caminho tinha um vândalo tinha um vândalo no meio do caminho tinha um vândalo no meio do caminho tinha um descaso.
Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de estátua depredada. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha um vândalo tinha um vândalo no meio do caminho no meio do caminho tinha um descaso....

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Bebida, carnaval e Barbie..

Nesse carnaval, se for beber, não dirija.

Só queria saber quem foi o sacana que fez essa montagem com a barbie... Humor negor, mas muito maneiro.