sábado, 5 de fevereiro de 2011

Viver é desafiar o inexorável fluxo da mediocridade

Drummond dizia que Chega um tempo em que não adianta morrer, chega um tempo em que a vida é uma ordem. A vida apenas, sem mistificação. Mas isso de certa forma me assusta, quando aos quarenta descobrimos mais da vida do que gostaríamos de saber e que não sabíamos aos vinte porque não teríamos muito desejo de chegar aos 40 se soubéssemos. Fico pensando o que virá aos 60 que não sei agora e que talvez me desanime de chegar aos sessenta se soubesse. E aos 60, o que haverá aos 80... Melhor não saber.
O cotidiano massacra o homem com a sua resumida existência de trabalhar, comer, dormir, ir ao banheiro... O fato é que quando nos damos conta vemos que extraído pouco disso o que nos resta é essa rotina que nos reduz a bestas metódicas. Perdemos (ou nem conseguimos) o refinamento que poderia nos tornar mais sensíveis pela música, pela arte, pela reflexão filosófica, pela percepção mais ampla do que nos cerca. E, muitas vezes, seguimos, comendo, trabalhando, dormindo, indo ao banheiro... Todos cercados de bestas (no sentido de animais de carga sem capacidade de refletir) que fazem o mesmo e nos dão a certeza de que isso é o que viver.
Sem mistificação entendemos como na música de Raul Seixas que a verdade do universo é a prestação que vai vencer. Esse é o problema de desmistificar a vida. 
Eu , particularmente, sou partidário da mais doces das mentiras a menos amarga das verdades. Até porque, se eu nunca souber que se trata de uma mentira, para mim, ela nunca terá sido tal. Mentiras sinceras me interessam, me interessam... (Valeu, Cazuza!)
E depois de amanhã é segunda-feira e retomamos o trabalhar, o comer, o dormir, o ir ao banheiro nosso de cada dia.
À exceção dos vagabundos, dos anoréxicos, dos insones e das pessoas com prisão de ventre que teimam em subverter a ordem natural da existência imperiosa.