No final do século XIX, os lingüistas levantaram a hipótese de que há um princípio de economia expressional nas línguas, ou seja, se pudermos dizer mais com menos, melhor. Um caso interessante são as abreviaturas de palavras como cinemascope (cinema), fotografia (foto), motocicleta (moto) até os bizarros “Xurras casa da Fé” ou o “niver no apê do Lê”... casos com cara de blog teen ou scrap no orkut.
Mas a simplificação não fica por conta dos blogueiros, dos adolescentes ou de outro grupo, mas sim dos baianos. A Bahia..., Bahia de Castro Alves, de Jorge Amado, de Caetano Veloso e de Gilberto Gil entre tantos outros gênios. Pois é de lá que vem o grande evento da nossa língua: a comunicação puramente vocálica.
Veja: ó pai, ó... ( o filme). Disse tudo ainda que eu não tenha entendido nada e só usou uma consoante, um P intrometido. Vamos mais além... o que seria da axé music sem as maravilhosas vogais. Em Salvador, quem dispõe de três vogais, faz uma música... se tem um carro com som, faz um trio elétrico e se tem mais de 10 pessoas, faz um carnaval.
Contemple a obra:
Aê, Aê, Aê, Aê...
Ê, ê, ê, ê, ê, ê,
Ô, ô, ô, ô, ô...
Acrescente a isso frases de efeito como “sai do chão”, “maiiiiinha”, “nojenta”, pronto, reúna três amigos para se pintar e dançar... Já temos o suficiente para fazer sucesso em todo o país.
Seria muito injusto de minha parte excluir os surfistas, que com sua genialidade sintética resumiram a comunicação à arte vocálica: Chegando em casa, o brou mais velho fala para o brou mais novo que levou a galera para fazer uma festinha:
Ô, ó o auê aí, ô.
E precisa dizer mais o quê? O auê cantado pela Rita Lee (Desculpe o auê/eu não queria magoar você....) na década de 80, agora, é visto como o prenúncio do reinado das vogais.
Mas a simplificação não fica por conta dos blogueiros, dos adolescentes ou de outro grupo, mas sim dos baianos. A Bahia..., Bahia de Castro Alves, de Jorge Amado, de Caetano Veloso e de Gilberto Gil entre tantos outros gênios. Pois é de lá que vem o grande evento da nossa língua: a comunicação puramente vocálica.
Veja: ó pai, ó... ( o filme). Disse tudo ainda que eu não tenha entendido nada e só usou uma consoante, um P intrometido. Vamos mais além... o que seria da axé music sem as maravilhosas vogais. Em Salvador, quem dispõe de três vogais, faz uma música... se tem um carro com som, faz um trio elétrico e se tem mais de 10 pessoas, faz um carnaval.
Contemple a obra:
Aê, Aê, Aê, Aê...
Ê, ê, ê, ê, ê, ê,
Ô, ô, ô, ô, ô...
Acrescente a isso frases de efeito como “sai do chão”, “maiiiiinha”, “nojenta”, pronto, reúna três amigos para se pintar e dançar... Já temos o suficiente para fazer sucesso em todo o país.
Seria muito injusto de minha parte excluir os surfistas, que com sua genialidade sintética resumiram a comunicação à arte vocálica: Chegando em casa, o brou mais velho fala para o brou mais novo que levou a galera para fazer uma festinha:
Ô, ó o auê aí, ô.
E precisa dizer mais o quê? O auê cantado pela Rita Lee (Desculpe o auê/eu não queria magoar você....) na década de 80, agora, é visto como o prenúncio do reinado das vogais.
***
Enquanto isso, em uma agência de empregos de Salvador, um surfista sendo entrevistado...- oi.
- Trouxe os documentos?
- ó... aí.
- Tá faltando um documento...
- ã?
- Ah não, está aqui.
- Aaaa..
- Esse aqui é o seu endereço?
- É.
- Há quanto tempo você não atua na profissão?
- Ihhhhhh...
- Bastante tempo, né..?
- Ó.
- Já morei perto da sua casa. Já foi num bar que fica na esquina dessa rua?
- Ia.
- Vejo que trabalhou em escola de samba...
- e...
- Nada. Já compôs samba?
- É.
- Qual parte?
- Oooooiiii...
- Assina este formulário então.
- ó?
- é.
- aí?
- é.
Consoantes? Pra quê, meu rei?