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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Tempos difíceis, homens mais fortes

Não se trata de uma ode à privação e aos tempos difíceis, mas é fato que tempos difíceis forjam homens mais fortes e resilientes. As gerações que viveram o período mais duros (como as guerras, por exemplo) conheceram as privações, limites e dores muito cedo na vida. Isso forjou almas preparadas para lidar com a parcimônia, com as regras (por mais que discordassem) e com a resiliência de ser abatido pela dor, levantar e prosseguir. Enfim, criou-se uma geração de agentes e não pacientes de suas histórias.

Os tempos fáceis de fartura moldaram uma geração que se coloca como vítima de tudo, da sociedade, do capitalismo, do preconceito, da desigualdade, do melindre, do universo como um todo. Enfim, coisas que sempre existiram em uma escala muito maior do que se vê hoje, mas é uma geração que aprendeu que todos lhe devem algo, o estado, a sociedade, o sistema econômico etc. E esse sentimento de eterna dívida (que não vai ser paga porque não é assim que a banda toca) gera pessoas frustradas e incapazes de lidar com a dor e a privação que são coisas tão certas na vida quanto é a aurora e o entardecer. 

Os bancos de escola reforçam esse discurso porque, de certa forma, isentam-se da responsabilidade de criar agentes de suas histórias, mas acomodados pacientes em um mundo mau e injusto contra o qual a maior arma é o teclado do computador, as eternas lamúrias somadas à inércia absoluta da vítima eterna.


Pois é, garotada. Aprendam 3 coisas doloridas de se assimilar: 1. O mundo é injusto sim (você vai sentir isso na carne diversas vezes, acostume-se a aprenda a sobreviver acima dessa realidade) 2. Ninguém lhe deve nada (Se você não correr e muito atrás do que deseja, só lhe resta virar um reclamão chato para cacete que não produz nada além de reclamações e criticas vazias) e 3. A vida não vai lhe premiar pela sua capacidade de bater, mas de tomar porrada e levantar com a mesma dignidade. (fortes não são os que batem, mas os que caem mil vezes e se levantam)


Sim. Você vai sangrar muito e como dizia o Cazuza, a vida não tem "pódio de chegada bem beijo de namorada". Você é só mais um cara. O fato é que as gerações forjadas a ferro e fogo lidavam melhor com essa realidade. A vida vai doer e é assim que  funciona. O que nos resta é não focar no que acontece, mas no "como lidamos com isso". A dor é inevitável, o sofrimento é sempre opcional. 


domingo, 16 de maio de 2021

É... Não tem nenhum sentido mesmo

A grande pergunta da vida  "qual é o sentido da vida?" talvez possa ser respondida com um simples "o sentido da vida é que ela não tem sentido nenhum". E o mais impressionante disso é que isso não é uma constatação depressiva, melancólica, niilista ou de alguém que desistiu da vida em razão de tomar muita pancada. Não. É uma constatação plena de euforia e esperança.

O fato é que passamos a vida toda buscando um sentido e achando que é ser um bom profissional, um bom marido, um homem bem sucedido financeiramente, ser feliz, ser saudável, ser um bom pai… Enfim, passamos boa parte da vida correndo atrás do rabo e, quando pegamos (instante raro e momentâneo), ficamos com a sensação do "tá, e daí"... "Há outros sentidos ou posso ficar aqui com o rabo entre os dentes bem satisfeito com o que consegui?" Largamos o rabo e recomeçamos a caçada com a certeza de que, agora, o rabo, com nome diferente que atribuímos, é o verdadeiro sentido da vida. 

Um adendo aqui... Há um livro de um autor americano chamado Daniel Klein cujo título é Every Time I Find the Meaning of Life, They Change It - Cada vez que eu encontro o sentido da vida, eles mudam - muito interessante. Bom, o nosso raciocínio aqui segue bem por essa linha. Vamos lá.. retomemos.

Ser bom profissional, bom pai, bem sucedido, no fundo não faz muito sentido como fim, mas com tudo que construímos como meio. Até porque, no meio dessa caça, os sentidos mudam, desistimos, mudamos, refazemos… e o sentidos mudam porque ele não é da vida. Ele é nosso e nós sim, mudamos. Nós os criamos, atribuímos, nós os mudamos.

A vida, como tudo, não possui uma essência. Ela é um vazio que nos separa entre o útero e o túmulo. Por isso, o grande sentido é atribuir, nesse interregno, sentidos que rompam a confortável sensação da inércia natural do ser. A linguagem reflete isso quando dizemos "a vida passa". Aí é que está… ela não passa. Nós é que somos compelidos a passar enquanto ela se mantém estática como uma estrada sem tamanho conhecido que nos conduz entre as duas inexoráveis proparoxítonas (o útero e o túmulo).

O sentido não está na religião, na família, no trabalho, em uma guerra ou em uma luta por um mundo melhor, o sentido está onde eu puser e quando eu retirar, não existe mais. Veja pessoas que sofreram grandes perdas e depois disso dizem que a vida perdeu o sentido. Não. Ela nunca teve, ela é um vazio e o que se chama de sentido perdido é um sentido atribuído que como outros não são inerentes à vida, são nossos. E como senhor deles, podemos mudar, mover, retirar, ajustar ou mesmo desistir. E dizemos que a vida perdeu sentido. Não. A vida não perdeu… Ela nunca teve. Você, sim.

Dessa forma, o grande sentido dessa vida é encontrar, ressignificar, mudar sentidos para que o dia seguinte gere expectativa e não tédio, desalento e apatia. Quando vamos fazer uma grande viagem, ao deitarmos à noite, o sentido de tudo é aquela viagem e vivemos as etapas em função daquele momento que vai passar e pedir novos sentidos.

A vida ganha sentido quando entendemos que ela, por si só,  não tem nenhum e atribui-los é o X da questão. O X é sabermos que cada dia é uma grande viagem e se preparar e esperar sua chegada é o único sentido tangível.


domingo, 24 de janeiro de 2021

Vai ficar tudo bem

Há pessoas que mudam muito durante a vida, eu pessoalmente, sou uma delas. Afinal, meus pais, só que eu me lembre, mudaram umas 14 vezes. No meu caso, depois que deixei de morar com eles, já morei em três casas a mais também. Ou seja, estou falando de 17 mudanças nesse meio século de vida.

Mas metaforicamente falando, mudamos tanto que vivemos várias vidas dentro de uma vida. Olhar sua história é revisitar moradas dentro de si mesmo. 

Nessa última mudança, enquanto arrumava meus livros na estante, consegui ver que cada um deles contava uma história que não estava escrita nas páginas, mas dentro da minha cabeça. Um, eu comprei em 1997, em uma lojinha embaixo da biblioteca Nacional, outro eu comprei para usar um capítulo, outro eu comprei na surpresa quando estava em um congresso, outro para embasar um projeto de pesquisa… Cada um contava uma história que não estava ali no papel, mas em mim. 

Nesse momento, percebi que eu carregava dentro de mim, um cemitério de EUs. Em cada momento, cada livro me remetia a um EU completamente diferente do EU de agora, de histórias que pareciam ser de outra pessoa, mas estranhamente, era um amontoados de EUs. Cada um no seu tempo, feito de carne, osso, história e decisões que me fizeram chegar no EU de agora.

Hoje, todos aqueles EUs são um quadro pendurado na parede (como a Itabira de Drummond, só uma fotografia na parede), ou melhor, um livro na estante. E um dia, esse EU de agora vai embora e comigo irão as histórias e os livros voltam a ser só papéis com letras. 

Nesse exercício de meditação, revisitei os meus EUs e exercitei a compaixão com cada um deles, entendi os medos, os sonhos, as angústias. Como se, em uma viagem no tempo, eu pudesse abraçar cada um de mim e dizer "vai ficar tudo bem". E como se cada um me olhasse nos olhos e entendesse que é assim que a história flui. E acalmasse o meu coração.

Em um segundo momento, nessa viagem, pude ver um velho, na verdade, vários homens velhos, como em uma fila, de costas para mim. Por alguns instantes, senti a compaixão que deles emanava para mim e a sensação de que, a qualquer momento um deles se viraria e abraçaria o que estava logo atrás na fila dizendo e aliviando toda a ansiedade... "vai ficar tudo bem"..


Revisitar a própria história é um exercício de compaixão consigo mesmo e um passo para a compreensão do que somos e onde estamos. Um exercício para entender que, haja o que houver, esse é um fluxo da história e que, no final das contas, vai ficar tudo bem.

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

O ímpio, o justo e o chato ressentido

Uma vez eu li em algum lugar que o infortúnio atinge o ímpio e o justo. Na verdade, não faz mesmo sentido questionarmos por que uma pessoa boa ou má sobre um infortúnio. No caso do bom, vemos como uma injustiça (ou uma provação), no caso do mau, vemos como um castigo. Entretanto, quando "essas regras" são violadas e alguém ruim é beneficiado com algo e alguém bom é penalizado com um infortúnio questionamos as coisas como se houvesse um acordo nosso com o universo. 

A sabedoria popular vem com as pérolas de "vaso ruim" não quebra ou "era tão bom que Deus o chamou para o seu lado.... Mas precisava dar um câncer para trazer o cara bom para seu lado... Penso se Deus não teria métodos mais suaves. De repente até convocar, na boa.. Quem se negaria a um pedido de Deus... não precisava do câncer.

Mas piadas a parte, o fato é que vaso ruim quebra sim, assim como o vaso bom. As coisas na vida atendem a uma aleatoriedade absoluta. Claro, se você passou a vida fumando e bebendo para caramba, problemas de fígado e pulmão no fim da existência podem ser uma possibilidade a se considerar. Salvo isso, aceite que você está na mão do palhaço. Ter saúde, ser feliz, ter uma família, ser honesto, justo, dedicado, leal não te eximem da possibilidade de escorregar em casa cair de mal jeito e ficar tetraplégico.

Ou então, Deus olhar e falar: Olha, esse cara é tão justo leal, honesto... estou precisando aumentar meu staff com gente assim... então... estava pensando numas coisas aqui.... só não decidi ainda se vai ser no sangue, na próstata ou no cérebro... 

Assim como o que é  cara traficante, bandido, adúltero, desonesto, assassino, mentiroso pode viver até os 100 anos gozando de plena saúde, em sua família e com dinheiro. 

É isso... não devemos associar nossa conduta a nenhum infortúnio que nos atinja, nem a ausência deles. A vida é uma sequência de fatos relativamente controláveis e as nossas ações devem ser focadas em sermos pessoas melhores para nós mesmos. Uma espécie de egoísmo do bem... faço porque é certo e me faz bem. Nesse sentido, sua maior recompensa chega imediatamente a sua ação. Estar bem... 

Quando assinamos promissórias com a vida na espera de benefício alimentamos frustrações e nos tornamos eternos "chatos ressentidos" com acordos tácitos que não foram feitos. 

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Se você fizer o bem... bom pra você. Ponto final

 Vivemos barganhando com o mundo. Se eu fizer o bem, o mundo irá me devolver esse bem. Lamento te informar que não. O mundo lhe dará o que ele quiser. E, no fundo, até bem feito para você deixar de ser interesseiro.

Genial essa tira humorística do site http://www.willtirando.com.br/
A autoajuda surgiu como uma espécie de praga disseminando coisas desse tipo "faça o bem e receberá de volta" enquanto, na verdade, você pode ser alguém extremamente altruísta e as pessoas agirem de forma egoísta com você. Bom, é assim mesmo. Uma coisa não implica a outra.

Esse tipo de pensamento encontrou terreno fértil no nosso meio, pois já negociávamos (desde sempre) com Deuses e santos na expectativa de obter algum benefício. Eu faço jejum, Deus olha e pensa: vou ajudar aquela pessoa, poxa, ela passou dias sem comer como preceito. Vou dar uma força! Vapt, casa própria. O santo olhava e dizia, "nossa, aquela moça vem acendendo centenas de velas... Vou arrumar um marido para ela". Vapt, marido. Negociamos há séculos com entidades para obter algum benefício de alguma natureza. Foi fácil se adaptar ao papo do feedback do universo.

Agora, negociamos com o universo. Saiba uma coisa, faça as coisas porque são justas e corretas e não espere nada em troca. Isso já é a sua maior recompensa: agir corretamente. Você sempre foi um bom filho e teve uma ingratidão dos seus pais. Tudo bem... é assim mesmo. Você sempre foi um bom amigo e ainda assim foi traído pelos seus mais próximos. Parabéns! Bem-vindo ao mundo. É assim que funcionam as coisas por aqui. As pessoas são dessas... fazem dessas coisas.

Quem foi ingrato é responsável por 20% do seu sofrimento... os outros 80% estão em você que nutriu expectativas em razão de suas boas ações. Aprenda a fazer as coisas pelo mero prazer de fazer e de senso de correção. Sim.. é certo. Faça-o. Esqueça esse papo de universo te devolver. O universo, a vida, os outros não te devem nada e, no fundo, não estão nem aí para você. 

Isso não é pessimismo, mas sim, entender as coisas como elas são e não como você gostaria que elas fossem. A grande parte de nossos sofrimentos não vêm das coisas, mas das expectativas que criamos em torno de como deveriam ser.

Entender isso torna o caminho mais suave.


domingo, 27 de novembro de 2016

"Felicidade": é preciso vigiar sempre


Felicidade é um momento rápido e fugaz, do tipo  de uma partícula dessas que a ciência descobre de vez em quando e avisa: eis a menor partícula já vista no universo. Até que se descobrirá, amanhã ou depois, outra menor. Definitivamente, felicidade não é um lugar, é uma fração de existência que nos obriga a estar atentos para hora que ela passa, pois quando percebemos, já se foi e é passado.

É preciso vigiar, é preciso estar sempre atento.
Às vezes, nós a encontramos nas memórias. Ela também fica lá em forma de tudo que foi e também na forma do que não foi, mas a gente queria tanto que tivesse sido. E, por alguns instantes, desejamos que mesmo a maior mentira que nos feriu tanto nos permitisse que a congelássemos no último segunda antes de descobri-la (congelar enquanto nos era uma doce verdade) e que nos fazia tão feliz. Mas a felicidade é fugaz, se foi e começou e acabou naquele segundo. Depois, só nos resta a nossa história que carregamos na algibeira.
Por isso é preciso vigiar a cada instante.

É como aquele flor no concreto que passamos no caminho para algum lugar. Se não prestarmos atenção e olharmos para baixo ou para o lado, esquecermos por alguns instantes aonde queremos chegar, ela fica lá. Por um segundo, pois alguns minutos, durando um pouquinho mais do que o tal pedaço de átomo. Mas a cada passo nosso adiante, ela vira um pedaço do passado...

Que só nos resta carregar na algibeira....


segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Malhando a coisa errada...

Quando eu era mais novo malhava para ficar sarado, hoje, malho na expectativa de não ficar doente. E isso me basta. Fico realmente impressionado (e penalizado) com as pessoas que andam obcecadas por isso e acredito que os vermes ficarão satisfeitos ao devorarem um defunto tão em forma no futuro.
Vejo uma obsessão que tomou conta das pessoas em não comer nada, malhar muito, tirar medidas para ver se a delas se encontra perto da perfeição e, na verdade, nunca se encontram, pois a perfeição é como a ponta do nariz para os olhos. Quando um chega, o outro já está um pouco à frente.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O violoncelo no canto da sala


Estudei dois anos de violão clássico no Pró-Música em Juiz de Fora e parei, por causa do meu mestrado em Letras. Tempos depois, estudei violoncelo em Valença... mais uns dois anos e parei por causa do doutorado. Tentei retomar os estudos recentemente, mas com dois filhos, casa e trabalho, fica difícil. Enfim, aguardo o momento de retomar mais uma vez e, quem sabe, parar por outra razão.
As pessoas podem dizer que tudo foi uma questão de falta de disciplina e força de vontade e as deixo livres para os julgamentos, mas retruco que não foi. O meu violoncelo repousa em meu escritório no canto, sob um suporte próprio para o instrumento. Todos os dias eu o vejo, todos os dias ele me vê.
Ele fica ali para me lembrar que mesmo que a gente tente e pare, e tente de novo. O importante é continuar. Paradas são vieses estratégicos, perder de vista o que queremos é outra coisa. Isso é desistência, isso é capitular. 
Eu sempre digo a minha esposa que uma das metas de minha vida é me formar em violoncelo em um conservatório musical. Eu sei, ela sabe e ele, canto da da sala, sabe também. Ele não desistiu de mim e nem eu dele. Será aos 50 anos, aos 60 anos, aos 70? Não sei. E nem ele sabe, mas, pacientemente, me aguarda no canto da sala, me espera com seu olhar marrom.
O que mantém a certeza dele sobre minhas promessas é que ele sabe que podemos esquecer de tudo, mas nunca esqueceremos quem somos, nossos sonhos e em que acreditamos. Isso é atemporal.
Enquanto isso, ele me aguarda. 
Deixar os seus "violoncelos" no canto da sala é uma boa receita para nunca se esquecer de quem se é.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

A origem - episódio III - O ciúme


Outro dia, eu dirigia e pensava em dramas da literatura como Otelo e mesmo Dom Casmurro. Pensava em qual seria a origem do ciúme lembrando dos célebres casos que vimos na arte. Ocorreu-me, então, a ideia do sentimento de posse. O(a) ciumento(a) tem dificuldade de aceitar-se como alguém digno(a) de com quem está. Considera sempre a possibilidade de perda no minuto seguinte, pois qualquer um que se aproxime será muito melhor do que ele(a).
A partir daí, coisifica-se o ser amado para assumir a posse como de um terreno, uma vez que sobre o objeto se tem o controle total de sua vontade, afinal, objetos não tem vontade própria. Quem tem vontade é o dono do objeto que com ele faz o que quer, mima, cuida, limpa ou destrói. 
Daí surge o problema, o direito de destruição que temos sobre o nosso carro ou sobre o nosso celular passar a ser o mesmo que temos sobre o o outro, o direito de nos desfazer dele destruindo-o. Com base nisso, até metade do século, muitos crimes eram entendidos como crimes contra a honra, pois o indivíduos tinham direito de reagir ao assédio ao patrimônio como reage ao assédio de sua propriedade, seu carro enfim, alguma coisa.
Mais uma vez, temos um sentimento que nasce na baixa autoestima, na certeza de que qualquer coisa no universo é melhor do que ele(a) e a sensação de que quem está em sua companhia o faz por piedade e compaixão, sempre à espera de uma coisa melhor. Na cabeça da pessoa que sofre desse mal, qualquer coisa que aparecer.
E o pior é que com uma pessoa com essa autoestima corre o risco de não ser só uma sensação, mas uma situação bem provável a de que apareça algo melhor para o outro.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Um Indiana Jones em cada perfil

O facebook nos trouxe um sentimento meio confuso. Um misto de surpresa ou até mesmo inveja ao vermos alguns amigos/colegas/conhecidos de infância em situações, lugares, trabalhos, lazeres etc que impressionam. Acredite, isso, aos 40 anos, não é raro: ter amigos/colegas/conhecidos que viveram como Indiana Jones ou Lara Croft.

Algumas vezes, clico em uns perfis de velhos companheiros e descubro que desde o tempo em que nos conhecemos até hoje,que eles fizeram uma viagem religiosa à India, se engajaram na luta por um Tibet livre, mergulharam com Golfinhos das Ilhas Galápagos, saltaram de paraquedas sobre o deserto de Nevada/USA, ajudaram um grupo de dissidentes africanos a fugirem de um ditador sanguinário, escaparam de uma milícia talibã no Paquistão, viajaram toda a Europa com uma mochila e terminaram bebendo com sede um vinho vagabundo em uma ruela do Marrocos enquanto fugiam de agentes secretos ingleses.

O facebook se tornou uma terra fantástica onde podemos ser tudo aquilo que holywood nos mostrou que era ideal de vida, aventura, romance, comédia e suspense.

Nesse meio tempo, levanto da cadeira e vou buscar um analgésico e fazer um xixi, pois já estou sentado trabalhando há horas em um relatório e o facebook foi só um refresco.

Passo pela janela da sala e dou uma olhada para conferir. Realmente, não há agentes secretos espreitando minha rua. Nem umzinho... continuo a caminho do banheiro.

sábado, 23 de julho de 2011

Filhos, melhor não os ter... Será?

Camões nunca se casou e nem teve filhos, mas sinto que o soneto 11 dele se aplica muito bem a quem os tem. Filhos, filhos, filhos... melhor não os ter.. Diria o poeta. Será? Depois deles, a liberdade de ler um livro ou sair para uma peça de teatro demanda uma logística quase de operação militar com babás, vovós, listas de recomendações. Isso é um estar preso por vontade e é um ter por quem nos mata (pelo menos nossa liberdade) lealdade. Ficamos horas dedicados 100% a eles, brigando, dando bronca, rindo... e quando dormem, deixam um gostinho de saudade do tempo que estavam acordados exigindo toda nossa atenção. Isso sim, é um contentamento descontente, uma dor que desatina sem doer.
É cuidar de alguém que você sabe que única coisa que é certa é que um dia, ele irá sair pela porta e cuidará de sua vida. Sua casa ficará vazia novamente e você voltará ao solitário andar por entre a gente. Afinal, amar os filhos é cuidar que ganha em se perder.
E mesmo sabendo disso, amamo-los. E quem passa pela vida sem os ter dificilmente conseguirá entender o significado da palavra perda e da palavra medo.

Realmente, sem amor, eu nada seria... obrigado Daniel e Bruno por essa lição de cada dia.


quarta-feira, 20 de abril de 2011

Poucas coisas realmente importam

O problema é que percebemos isso tarde demais para não nos importarmos com o que não merece nosso desgaste. Outro dia, eu coçava a barriga do meu filho caçula (6 meses) com a barba e o fazia dar gargalhadas. Ele se revirava cada vez que eu fazia barulho com a boca e coçava sua barriga com a barba.
Veio-me este pensamento de súbito. Quando nascemos o que nos é importante é tão básico, tão restrito. Crescemos e desenvolvemos sentimentos de posse, de revanche, de onipotência e perdemos a dimensão de como as coisas que importam são tão poucas, tão próximas.
O que vi nessa vida de pessoas que vendem sua alma por coisas, que cultivam inimizades por orgulho, que compram brigas, batem no peito e dizem que dão uma boiada para não sair da briga como se aquilo fosse algo que valesse a pena, como se aquilo fosse uma virtude a ser cultivada. E desde quando estupidez é virtude? Gente que esquece que não somos um cargo, estamos num cargo e a noite em que estamos pode ser sempre a véspera da que saímos. Pessoas assumem crenças religiosas e políticas e por elas são capazes de brigar, discutir, até matar. Evocam para si a missão de mudar o mundo convencendo as pessoas de que elas estão certas, plenamente certas. Esquecendo o quão desimportante é estar certo em 99,9% das vezes.
Tudo isso por que um dia perdemos a noção de que o que importa, de verdade, é muito pouco.

sábado, 12 de março de 2011

O segundo melhor ator coadjuvante da própria vida

Ariovaldo sempre fez figuração na própria vida. Foi amigo do garoto que ficou rico, foi colega daquele que virou jogador famoso, sentou ao lado do homem que apareceu na TV. Faz faculdade que escolheram para ele e conseguiu o primeiro emprego porque seu pai ajeitou  no escritório de um amigo. Casou com uma mulher que já tinha filhos feitos por outro e não animou de fazer os seus. Torcia para um time que sempre comemorava o vice campeonato todo ano. Na única oportunidade que teve de disputar uma corrida chegou em segundo, mas o terceiro era um manco que serviu como exemplo de superação e apagou sua façanha. Na loteria acertou quase todos os números quase sempre e quando acertou dividiu o prêmio com mais um milhão e meio de acertadores. Ganhou 20 reais de prêmio, apostou de novo, e perdeu os 20 reais. Um dia, atravessando a rua em que passava um carro de bombeiro para apagar um incêndio imenso, distraiu-se e foi atropelado. Não pelo caminhão, mas por uma bicicleta que seguia na contramão. Bateu a cabeça e morreu. 
No céu, foi recebido por São Pedro com a chave que foi entregue ao homem que vinha logo atrás dele e a ele, o título de segundo melhor ator coadjuvante na própria vida.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Maturidade é saber o olhar o rio por onde a vida passa

Quando somos jovens acreditamos que o tempo conspira a nosso favor, quando envelhecemos vemos que o tempo nos coage com a inevitável consciência do fim. Outro dia, eu estava em sala de aula e alguns alunos do diretório entraram para dar um recado. O discurso era o de sempre: mudar o mundo, formar consciências revolucionárias, estatizar a Vale do Rio Doce, declarar guerra ao imperialismo Ianque... enfim, o papo típico de quem tem 20 anos. 
Uma vez eu li que se você não é um revolucionário aos 20, você é um insensível, se você o é aos 40, é um insensato. Achei engraçado pensando que, em 20 anos, aqueles meninos estarão, como na música do Belchior , “em casa guardado por Deus contando o vil metal”. É a rota inexorável do homem.
A maturidade nos ensina não a fugir das lutas, mas a medir a relação de perdas e danos, ganhos e méritos que cada batalha traz. Nunca desisti de lutar, mas hoje, à beira dos quarenta, aprendi a planejar todos os combates e avaliar se os ganhos que dele obterei serão dignos da força que despenderei para vencê-los.
Aprendemos a "olhar o rio por onde a vida passa" (Ana Carolina) e temos a medida melhor das coisas. Dá muita vontade de contar essa história para alguém que vemos com esse discurso, mas entendemos que faz parte de uma etapa necessária de consciência da vida e que nada dirá a ela isso, pois só o tempo sabe as palavras certas para fazê-lo entender o ininteligível.

sábado, 30 de janeiro de 2010

O dia em que as coisas perdem a graça

Acabei de vir da pracinha com meu filho. Ao redor havia muitos pais e mães que conduziam seus filhos de um brinquedo a outro. Eu empurrava o balanço do meu garotinho que seguia aquele movimento de vai-e-vem até parar por falta de impulso. Saí de um balanço e fui para outro do lado e fiz a mesma coisa. Meu filho dava risada durante o balançar e quando diminuia gritava: "qué". Para eu continuar dando embalo ao movimento.
Saímos dali e fomos para um brinquedo que rodava e ficava assim o tempo todo. As crianças faziam fila. Depois, passamos para uma gangorra e logo mais um escorregador. As trajetórias se repetiam inúmeras vezes. Um brinquedo balançava, outro girava, outro subia e descia... o outro.. era uma rampa em que se descia escorregando. Para mim, banal e repetitivo, para meu filho o ponto máximo de diversão de seu dia. De uma forma ou de outra, eu me divertia. Não com o brinquedo, mas com a felicidade dele.
Penso que a gente envelhece não é quando o tempo passa, quando o corpo enfraquece, quando as rugas aparecem. Envelhecemos quando as coisas perdem a graça e os brinquedos se tornam meros objetos de movimento circular, semi-circular, rampas deslizantes e vai por aí.
Reaprendi a graça que isso tem de novo, hoje, com os olhos do meu menininho.

sábado, 12 de setembro de 2009

Carros: estamos saturando o país.

Crescimento sem ordenamento é tão nocivo quanto estagnação ou depressão econômica. Veja o exemplo do trânsito. Com a ascensão do poder de compra da classe média brasileira, surgiu pela primeira vez na nossa história a iminência da realização de um sonho: o carro zero. Só que o cidadão dessa classe C já tinha um carro usado e, comprando o carro novo, passou o seu para frente. Normalmente, quem comprou não era alguém da classe média, pois estava assim como ele perto de comprar o seu carro zero. Foi, possivelmente, alguém da classe D que realizava o sonho de trocar o seu carro já velhinho por um mais novo. E esse velhinho foi para onde??? Para alguém da classe E que sonhava com o primeiro carro... ainda que velhinho. Nessa ciranda, a classe B e A continua comprando carro como sempre o fez.
Só em junho deste ano foram vendidos 289.000 carros que se somaram aos milhares que, como dizia Lavoisier, não se perderam, se transformaram. Se transformaram em carros de outras classes de poder de compra mais baixo do que a de sua origem. Se entraram 289 mil, é porque pelo menos 2/3 migrou de classe social, ou seja, aproximadamente 192 mil carros.
Basta dar um passeio pelas ruas para ver que, mesmo em cidades pequenas, se torna cada vez mais difícil dirigir. Estacionar, nem pensar. Desista. Uma vez adquirido o carro, todos nós trazemos na ponta a língua a desculpa para usá-lo: o tempo, o calor, a chuva, o frio, o transporte coletivo, enfim, vai por aí.
Saída para isso? Não sei. Eu, particularmente, estou tentando me disciplinar para andar mais a pé e assim, acredite, ganhar tempo.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Das coisas e da medida das coisas.

O excesso de trabalho tem me afastado do blogue, mas eis me aqui para ponderar sobre algo que, sinceramente, não entendo. Serão necessários alguns milhares de anos de Taoísmo, como na China, para podermos entender com a experiência que o caminho do meio é o caminho mais adequado? Lembro da Heloisa Helena em sua histeria eleitoral gritando que para ela tinha que ser quente ou frio, pois morno, ela vomitava... (Semprei imaginei se ela teria essa mesma postura diante de um café daquele que deixa nossa língua estufadinha de queimada.)
Mas sabe que, como diz meu tio, “nem muito nem pouco, bom mesmo é mais ou menos”. Há coisas na vida que pedem o “mais ou menos”. Toda vez que excedemos e desviamos do caminho do meio, caímos no absurdo das coisas e falta de medida das coisas. Um dia, o cara acorda e decide que não vai mais comer nenhuma carne, o outro decide parar de comer açúcar, mais um outro decide que não vai mais comer nada, o outro sugere respirar pouco porque o oxigênio desencadeia a oxidação das células... E um decide que bom mesmo é se alimentar de luz, ter um nome indiano e fazer figuração na Novela da Glória Peres. Se cuida, Márcio Garcia.
Vida é ter tudo de bom, vida é abrir mão de tudo porque isso é ser bom. Será?
Tenho medo dos extremos. Até porque, um dia, dizem que açúcar faz mal, no outro, que é uma fonte de saúde; hoje, apontam o ovo como vilão capaz de matar, amanhã, como herói da nutrição. Aí, dizem que comer pouco é bom, para, logo em seguida, dizerem que bom mesmo é comer bastante. Dos vícios às virtudes, que se encare tudo inspirado num rótulo de cerveja e se aprecie com moderação.  
Tudo isso, porque no fundo, saímos do equilíbrio nas nossas vidas e esquecemos que nem muito nem pouco, em se tratando da maioria coisas, bom mesmo é mais ou menos. 
O meu tio e a simplificação do Taoísmo... Sempre adorei esse poder de síntese dele.


sábado, 8 de novembro de 2008

Tá ruim, mas tá bom... bom, bom, bom, não tá... mas tá bom.

Nasci em 71, um ano depois da copa do mundo que, na época ficou nossa, 12 anos depois, não mais era nossa, roubaram-na. E nem os 90 milhões em ação impediram que ela virasse um monte de ouro derretido vendido a algum receptador de produtos roubados. Lembro-me de poucas coisas do regime militar, vim aprender mais sobre isso com o Elio Gaspari em seus livros (o cara é genial... Recomendo). Só me lembro como gente alguns anos depois da Copa e das memórias que trago, uma me marcou de forma indelével. Dentro de casa, meus pais falavam coisas do tipo "governo ladrão", "político safado", "militares assassinos" e, numa das vezes que ouvi isso, um dos adultos por perto atentou para o fato de que uma criança os ouvia e reiterou:

- Ei, isso não é coisa que se fale na rua, não, viu!

Demorei uns 15 anos para entender exatamente por que aquilo não era coisa que se falasse na rua.

Hoje, menos freqüente do que anos atrás, ainda ouço gente que diz que bom era no tempo dos militares. Não havia essa roubalheira, não. Claro, eles (os militares) roubavam sozinhos. Não havia essa baixaria da imprensa. Óbvio, eles (os milicos) fechavam jornais e prendiam jornalilstas que ousavam discordar da ordem geral "Brasil, Ame-o ou deixe-o". E quem não amasse era forçado a deixá-lo. Quisesse ou não. Encalacramo-nos em dívidas que consumiram as riquezas nacionais durante duas décadas e, ainda assim, saímos no mesmo pé que entramos. No zero a zero...

Ao pessoal que chegou de 80 para cá, saiba que Papai Noel, coelhinho da páscoa, duendes e gnomos (não vale se lembrar da Xuxa, ela não serve como referência para nada), militares e juízes presos eram algo que girava na mesma esfera mítica e cairia bem em seriados como o antigo "Além da Imaginação" (acho que ainda passa na TV por assinatura). Ainda caminhamos para uma país melhor, estamos no iniciozinho da conversa, mas o nível da prosa já melhorou bastante.

E isso, agora, é coisa que se deve falar na rua.

Em tempo: Na época do regime militar, roubava-se, fraudava-se, violava-se direitos humanos muito mais do que agora, mas quem ousasse levantar essa discussão virava estatística. Conquistamos o direito de falar o que pensamos, daí, se seremos ouvidos, estamos falando de outra conquista em andamento.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Ainda bem que hoje é terça-feira...

Nunca gostei de domingo e já até escrevi um post sobre isso. Nada mais deprimente do que aquela musiquinha do fantástico e do Tadeu Schmidt apresentando o bola murcha e o bola cheia... Aquilo é o sinal de que os últimos suspiros de seu final de semana já chegaram.
Mas pensei que minha implicância com esse dia acabaria ali.
Não acabou.
Todo domingo, o Dr. Drauzio Varella vem para a telinha para me lembrar que eu nasci, cresci, estou perdendo a elasticidade da pele, meu metabolismo é menos eficiente, minha visão perde acuidade com o passar do tempo, meus neurônios estão morrendo, meus cabelos estão caindo e outras coisas vão cair também. Enfim, estou caminhando para realizar o sonho da cova própria. Tudo isso com imagens fantásticas de um documentário da BBC e que me deixa com uma baita orgulho:
- Olha lá, igual a mim.. tô morrendo assim ó... Igualzinho.

***
- Dr. Drauzio! Na boa, eu sei que estou ficando velho... pára com isso, por favor.

***
Quer saber o cúmulo do sadismo?
A série acabou domingo passado (2/11) e eu já tô com saudade. Muito legal, né?

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Terceirizando a existência

Pedro Pedreiro Penseiro esperava o trem, esperava a sorte, esperava a morte, esperava o dia de voltar para o Norte. O bem que lhe tocava era obra de Deus, já o mal, obra do diabo. Se perdia um trabalho era coisa feita, se recebia um dinheiro, eram as preces atendidas. Mas se os pedidos não eram atendidos, é porque não era a hora e tudo estava certo, porém em linhas tortas. E seguia os dias com a terceirização definitiva de seu destino.
Morreu numa quarta-feira de cinzas de um ano qualquer.
Sobre a sua lápide, poucas palavras resumiam uma existência.

Aqui jaz Pedro, 70 anos de vida sem nem um comprimido de Lexotan.