segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A milenar arte de contornar o incontornável

Lidar com gente que é essencialmente "do contra" é uma arte, vale uns 10 pontos no ranking para ir ao céu. Se o cara é seu superior hierárquico na empresa e você é obrigado a praticar essa arte todos os dias, o fator paciência lhe garante mais 1500 pontos, o que em termos de pontuação para ir ao céu já lhe garante uma vaguinha certa perto da casa de algum santo ou no mesmo condomínio em que Jesus tem casa de praia. Daí surgirem as estratégias para contornar o incontornável. Se você quer que uma coisa saia, diga que aquilo não é importante e não precisa sair... para contrariar e fazer valer a autoridade, ele dirá que é importante e precisa sair o mais breve. Pronto! A ideia era implantar determinada coisa, está feita. Se você cair na besteira de enfatizar a importância, aquilo não vai sair, porque ele não foi o autor da consideração. Chamo a isso de síndrome de Julien (o rei lêmure da desenho Pinguins de Madagascar). 
Outra estratégia é a ação do espelho. Construa um discurso de modo que a sua estrutura remeta sutilmente ao fato de que foi ele quem deu a ideia e, no final, utilize um mesmo tempo gasto no discurso para elogiar as intercessões dele no projeto (mesmo que toscas e irrelevantes). Faça o discurso parecer que é dele. Engolido pela própria vaidade, ele vai se empenhar na execução das coisas, pois é como um filho para ele ou uma gueixa a lhe acariciar e massagear seu ego.

Conclusão: Contornar o incontornável é difícil, mas sempre temos a nosso favor a vaidade que emburrece e cega.
Tenha uma boa semana!

3 comentários:

Eduardo Montanari disse...

Tenho sorte de sempre conseguir lidar com pessoas de mente aberta. Inclusive meus chefes.

Anônimo disse...

É Marcelão, sempre tive de conviver com isso também. Tudo bem ser "docontra", o que não dá para agüentar é a falta de argumento,a leviandade, e o reacionarismo de muitos deles. Ainda estamos engatinhando na construção de uma responsabilidade política pessoal, que ao mesmo tempo possa recorrer ao paradigma do bem comum. (e que não seja o caso caso de algum "Big Brother da consciência"). Belo post, bro! Abração!

Atena disse...

Marcelo:
Taí, a primeira dica eu nunca pensei em usar ou ensinar, mas a segunda eu costumava ensinar aos meus alunos. Muito nos divertíamos em aula ouvindo e contando causos das "antas sagradas".
Muito bom seu texto e logo nos faz lembrar dos nossos próprios sufocos com chefes desse tipo.
Quando adolescente eu li um livro sobre a mediocridade que considero seria bom muita gente também ler.
abraços