sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

ECCE HOMO, Simplesmente o homem

A nossa sociedade se apóia sobre um princípio equivocado das coisas, a ideia de que coisas são somente boas ou ruins. As novelas acabam sendo um meio para enfatizar essas ideias. O homem mau é mau em tudo, já o bom, é tão bom que chega a ser idiota. Mocinhos são bons, mas ingênuos e tolos, vilões são muito maus, mas inteligentes e fascinantes. Fazer mocinho para um ator me parece uma espécie de castigo. Vilão, um prêmio.
O nome disso é maniqueísmo, filosofia sobre a qual se planta a sociedade moderna ocidental. É inconcebível pela nossa formação lidar com a ideia de que bem e mal não são atribuíveis a seres humanos, mas a ações que acabam gerando o efeito bom para uns e mau para outros. Como atribuir como maldade o ato de roubar mantimentos doados para vítimas da enchente, ou dos comerciantes que multiplicaram o preço da água por dez para aproveitar a demanda ocasionada pelo desastre. Eles simplesmente pensaram somente em si mesmos e na oportunidade de obter proveito do seu próximo. E a dor do próximo? Que próximo? Responderiam eles cegos aos que lhe rodeavam.
Enfim, aprendemos a ver o ser humano como uma embalagem com o rótulo que se encontra desvinculado de suas ações normais. Somos homens, nem bom nem maus, outrossim, egoístas. Movemos nossas ações em função de obter benefício próprio e daí a inobservância de que há outras pessoas no mundo que podem ser prejudicadas por nossos atos.
Eis o homem. Saramago define o homem como metade maldade, metade indiferença. Eu substituíra maldade por egoísmo.

Dica para o fim de semana:
Se você não assistiu ao filme Ensaio sobre a cegueira, assista. Se já assistiu, assista de novo.

6 comentários:

Eduardo Montanari disse...

É por isso que mesmo à custa de muitas críticas, a cada dia mais eu estou me desvencilhando de muitas normas pseudo-morais da nossa sociedade.

Unknown disse...

Marcelo,
É mais fácil criar alguns estereótipos e encaixarmos lá as pessoas, do que analisar ou compreender uma pessoa per si. A sociedade ensina-nos isso desde tenra idade e nós acabamos por ir na "onda". É por isso que gostamos tanto de julgar à luz do tal "bem" e "mal" que a sociedade decidiu.
Abraços

Unknown disse...

O egoísmo é tanto que a sociedade se encontra cada vez mais doente.

Analizzare - Formação em psicanálise disse...

Marcelo
O egoísmo faz parte do ser humano por natureza, sendo uma questão de sobrevivência e funcional.
A grande questão são as formas exageradas do ser egóico, por falta de fragmentação de uma atitude egoísta, que não leva em conta o outro.
Curiosamente, se estivermos atentos, a diferenciação entre o mal e o bem, contribui para esse egoísmo, porque tende á exclusão do outro, porque entendido como coisa ruim.
Daqui resulta a maldade, que no fundo será apenas uma resposta a uma agressão, pelo menos o sujeito entende como tal.
Um abraço

Unknown disse...

Saudações!
Professor Marcelo:
Mais uma análise excelente. Como eu passei a lê-lo recentemente noto que em suas críticas construtivas você coloca o dedo nas chagas da sociedade. Eu acho isso excelente... Poucos têm coragem de abordar assim!
Parabéns por mais um excelente Post!
Abraços,
LISON.

Demétrios Miculis disse...

A sociedade é uma coisa problemática e falar sobre o que as novelas brasileiras exercem sobre ela daria assunto para um livro, que seria ignorado por quem realmente deveria ler.
A novela cria estereótipos de seres humanos e modelos a serem seguidos, controlando e impondo gostos e costumes na sociedade. Veja uma coisa na novela, de cinco dias, veja essa coisa em todos os lugares.
A sociedade sem caráter fede, a sociedade em si, fede. E porque ela fede? Porque foi imposto essa ideia de lucro acima de todas as coisas, de consumo exagerado e absoluto que hoje o sentido da vida é ganhar dinheiro e poupar.
Para que tanto dinheiro? O ser humano fica aonde? Não fica, se torna só um instrumento da economia cretina dos dias de hoje.