A primeira sensação que eu tinha era me perguntar como é que uma pessoa pode colocar a cabeça no travesseiro e saber que amanhã pode não ter recursos mínimos para comer, morar, viver e que sua vida é demarcada pelo final de semana com a cervejinha e o bar. Eu logo pensava que era um alienado, um inconsequente… mas vi que não era bem assim.
Aos poucos comecei a entender que eu incorria em dois grandes erros: medir o mundo por mim e, segundo, achar que o futuro dele era mais incerto que o meu só porque tenho uma provisão financeira, um equilíbrio que me garante moradia, bens, confortos que o dinheiro dá nos dias que se seguiam. Eu só não conseguia garantir é que eu teria mais dias seguintes do que ele. E aí é que são elas… nos igualávamos em uma coisa: de certo, só temos o momento em que estamos.
Medir o mundo por si é um equívoco comum. Pensar que fulano não é feliz porque mora de aluguel é partir do princípio que sua felicidade está atrelada ao fato de ter uma casa. Mas uma casa é uma coisa que não está em você, está fora. Logo, você está vinculando que só será feliz se algo que está fora de você acontecer. Só que felicidade é algo que acontece dentro da gente e não fora. Podemos ter a casa e seguirmos infeliz, podemos não ter a casa e seguir infeliz… Entendeu? Ter a casa, pode ter dar um tempo de satisfação, mas isso nunca deve ser considerado felicidade.
Felicidade é um conceito que só faz sentido se entendermos como algo tangível ao momento em que vivemos. Se for sempre a cenoura do cavalo amarrada na frente dele, pode ser tudo, menos felicidade e vai ser o fator desencadeador de uma ansiedade constante que impede de ver qualquer momento sutil de real felicidade.
Isso não é uma ode a viver de forma inconsequente, muito pelo contrário. É um convite a se planejar, trabalhar, mas não esperar demais. Toda vez que esperamos demais geramos um nível de ansiedade que consome nosso instante e tiramos exatamente a felicidade do instante. Passamos por coisas boas e que podem nos fazer felizes naquele instante sem nos darmos conta, cegos pela ansiedade do que esperamos que, possivelmente, nunca vai chegar.
Aprender a viver o momento é um exercício diário. Como sugestão, fica um exercício: pare, feche os olhos, preste atenção a cada respiração sem se obrigar a nada. Deixe os pensamentos vagarem, quando vier um deixe passar. Não rechace, não expulse, deixe passar e volte para a respiração. Faça isso até perceber o coração batendo. Não precisa ficar muito tempo assim.. só o suficiente para perceber o momento.
Que, no final das contas, é única coisa que você tem mesmo.
De verdade
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