quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Triste é não ter e ter que ter pra dar

Tem uma música do Djavan chamada Esquinas que diz “sabe lá o que é não ter e ter que ter pra dar”. Acho que, quando a gente entende isso, alguma coisa muda por dentro realmente. 
Não receber quando se espera algo é dolorido, mas ter que ter para dar e não ter o que dar, tendo a consciência disso, é mais pesado ainda. A única vantagem de estar na posição de quem não tem pra dar é que, na imensa maioria das vezes, a vida poupa a pessoa da consciência dessa condição e, de certa forma, alivia o que seria uma dor e frustração maior do que a de quem não recebe.
Lembro que uma vez vi na TV um homem desempregado, em época de Natal, dizendo com olhos cheio d’água que o filho pediu de Natal comer frango. E ele nem isso tinha condição de dar. Eis a concretização do sentimento de forma mais "capitalistamente" compreensível. Entretanto, um frango se resolve com um emprego, um dinheiro emprestado, uma esmola… sei lá. Mas e quando o que não se tem para dar deveria vir da alma, daquilo que nós realmente somos. Afeto, carinho, amor, ternura… E quando a alma não tem isso? 
É aí que a “ignorância do fato” cumpre um fator de proteção bloqueando o indivíduo dessa percepção. Alguns, em estágio de evolução espiritual mais sensível se dão conta disso, deprimem-se, entristecem e, em um esforço pessoal, tentam completar na alma aquilo que lhes falta durante a vida. A percepção dessa condição é a primeira parte dessa mudança, a mais dolorida, porém, a primeira e mais necessária.
E quando nós, que esperávamos algo, entendemos isso, continuamos pedindo ao outro, pois somos eternos pidões e continuamos esperando do outro. Todavia, quando a caixa vem vazia, entendemos que é porque nada havia para ser colocado ali dentro. 
Triste existência a de quem entrega caixas vazias e não se dá conta disso.

2 comentários:

Eduardo Montanari disse...

As vezes alguns de nós recebemos caixas vazias para que as preenchamos. Mas posso estar completamente equivocado.

sacodefilo disse...

Acho que sim, Eduardo...