quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O mito do traficante filósofo e outros textos apócrifos



Vez por outra aparece um mito novo na internet. Um dos que me chamaram mais atenção foi uma entrevista que li de, supostamente, um líder uma organização criminosa paulista (leia mais). Durante a entrevista, ele apresenta um grau de reflexão sobre a sociedade, sobre filosofia, sobre sociologia, apresenta uma leitura sociológica do processo de empobrecimento decorrente da má distribuição de renda e o agravamento da pobreza por causa dos fluxos migratórios irregulares no passado.
O líder da organização, embora cite não haver saída (santa incoerência), faz considerações sobre a necessidade de reestruturação do sistema penal com ares de jurista e estudioso do histórico do setor carcerário brasileiro. E sentencia a aporia (sentimento de ausência de saída). Entre um termo técnico da área de economia, política ou de sociologia, insere-se uma gíria que destoa (incoerência vocabular para quem tem um nível de leitura e reflexão desses) do texto e das análises políticas, sociais e filosóficas. Ao final da entrevista (sic), ficamos pensando que este cara deveria estar em uma cátedra de uma universidade e não numa cela.
Mas o fato é que a isso damos o nome de texto apócrifo (sem autoria confirmada). Assim como em um evangelho que apresenta textos apócrifos, a internet virou um paraíso para textos sem endereço e sem pai. Normalmente, são caracterizados por ausência de fonte específica, linguagem incompatível com o enunciador do discurso e grau de reflexão improcedente para os atos praticados pelo mesmo. Além da clássica incoerência interna do texto...
E o cara termina citando Dante em Italiano... "deixai toda a esperança vós que entrais"...
É... deixai mesmo.

4 comentários:

Trevo sem Folhas disse...

Insiro nessa categoria de textos " as correntes via e-mail"e/ou " Recadastramento do INSS, também via e-mail". Você nunca sabe de quem é a autoria e se a intenção é fazer com que as pessoas mandem e-mails aos amigos distantes avisando que a partir da data tal o MSN vai ser pago! Ou que você tem contas pendentes com o INSS. Olhe o autor da mensagem. Comtemple a quantidade de endereços junto ao seu e pergunte-se: " Será que o autor foi alguém que trabalha pro hotmail?" ou "O que será que o INSS quer comigo?"

GUARACI CELSO PRIMO disse...

Olá Marcelo,
Já comentei sobre "correntes do mal" na Internet.E o que dizer dos textos "desconheço a autoria?". Muitas vezes atribuídas a escritores famosos.
É o bem e o mal na rede... Tomemos cuidado.
A propósito, tem um selo de reconhecimento pra você:
http://www.seuguara.com.br/2009/10/selo-de-reconhecimento.html.
Vi nisso uma forma de interação entre os blogueiros. Veja se aprova.
Um abraço.
Guara.

Erick Figueiredo disse...

Texto sem autoria é mesmo de amargar. Texto inteligente escrito por um traficante, pior.

Lomyne disse...

Olha, eu acho que quem acredita em tolices realmente merece ouví-las. Não me isento de responsabilidade nisso, já soltei meus boatos pela web e me diverti vendo gente acreditar... Aos tolos, sou mais a favor de apoiar suas tolices do que censurá-las. Assim os alimento e me divirto.

Não é de hoje que se diz que alegria de palhaço é ver o circo pegar fogo.