Se há uma coisa que me apavora é estatística. Saber que estamos sujeitos à tirania dos números e seus senhores me deixa em pânico. Abro o jornal e leio de cara as terríveis estatísticas. A possibilidade de chover, de subir a inflação, de pegar AIDS, de ser atropelado, de ganhar na loteria... Ufa ! Quanta possibilidade!Acordo de manhã e vejo que há possibilidade de chuvas esparsas no fim do período, o PIB cresceu 5% ano passado, meu time tem 45% de chance de se classificar para a próxima fase do campeonato, o carro que comprei tem uma desvalorização anual de 12% e eu, meu Deus, até eu... tenho 20% de chances de ser assaltado. É claro! Uma em cada cinco pessoas já foram e eu ainda não fui. O próximo, com certeza, sou eu.
Saio tenso pela rua e entro no edifício onde fica o escritório em que trabalho. No elevador, há sete pessoas. Sabe o que significa isto? Um grupo de cinco pessoas formado e se o assaltante lê estatísticas em jornal ele está de olho naquelas cinco, pois uma será sua vítima. Fui olhando de soslaio aquela gente toda e imaginando quem poderia ser entre eles.
Zequinha, o ascensorista, eu descartei. Já o conhecia há muito tempo. Restavam seis, menos eu, cinco. Eu botava a mão no fogo por mim. Nunca assaltara , nem geladeira. Eu sou homem muito direito.
A velhinha que assoava o nariz num lenço bordado. Passei a observar seus atos. Um jeitinho de facínora, mas, com base em uma nítida observação, fui me lembrando da minha tia Gertrude, velhinha de bom coração, e comecei a cogitar a possibilidade de não ser ela. Mas não descartei totalmente. A gente nunca sabe o que nos espera por trás de um doce rostinho senil. É só abrir o jornal e ver como há velhinhas assaltando, traficando... e sabe lá mais Deus o quê. Também com o salário de pensionista ou aposentado...
Saio tenso pela rua e entro no edifício onde fica o escritório em que trabalho. No elevador, há sete pessoas. Sabe o que significa isto? Um grupo de cinco pessoas formado e se o assaltante lê estatísticas em jornal ele está de olho naquelas cinco, pois uma será sua vítima. Fui olhando de soslaio aquela gente toda e imaginando quem poderia ser entre eles.
Zequinha, o ascensorista, eu descartei. Já o conhecia há muito tempo. Restavam seis, menos eu, cinco. Eu botava a mão no fogo por mim. Nunca assaltara , nem geladeira. Eu sou homem muito direito.
A velhinha que assoava o nariz num lenço bordado. Passei a observar seus atos. Um jeitinho de facínora, mas, com base em uma nítida observação, fui me lembrando da minha tia Gertrude, velhinha de bom coração, e comecei a cogitar a possibilidade de não ser ela. Mas não descartei totalmente. A gente nunca sabe o que nos espera por trás de um doce rostinho senil. É só abrir o jornal e ver como há velhinhas assaltando, traficando... e sabe lá mais Deus o quê. Também com o salário de pensionista ou aposentado...
É, mas não justifica.
Continuei observando os outros, mas sem deixar de lado a vovó suspeita. Ao lado dela havia uma mocinha de mais ou menos 22 anos. Não era bonita, nem interessante, na verdade, despertava pouquíssima atenção. Seu ar de apatia a excluía da lista. Era impossível que alguém tão apagada assaltasse quem quer que fosse.
Ah! O boy ... Office boys são sempre criaturas estranhas. Usam radinhos nos ouvidos e poupam o dinheiro do táxi e sempre falam que a fila estava enorme. Aquele boné virado para trás e a blusa larga o denunciava como o bandido que nos observava. Não podia ser, aquele era o Toninho, o boy do departamento pessoal, eu o conhecia há muitos anos. Mas vai que ele fazia um bico de bandido e...Duvido que ele me assaltaria. Ia pegar mal. Eu sou da casa. Mas mesmo assim fiquei com um olho nele e outro na velhinha. De vez em quando até dava uma olhada na moça sem graça. Todos estavam sob vigília e minha observação constante. Eu sou esperto e não os perco de vista.
Um rapaz que batucava na pastinha despertou minha suspeita, mas tive medo de ser acusado de ser preconceituso só por suspeitar e apaguei este pensamento pouco politicamente correto de minha cabeça. É crime inafiançável, sabia? Vi na TV outro dia.
Só restava o senhor com cara de sono. Era ele o tempo todo e eu nem percebia. Estava com sono porque ficou a noite toda fazendo o seu servicinho sujo. Safado! As pessoas do elevador precisavam saber. Tomei coragem e gritei:
- Peguem o ladrão!”
Continuei observando os outros, mas sem deixar de lado a vovó suspeita. Ao lado dela havia uma mocinha de mais ou menos 22 anos. Não era bonita, nem interessante, na verdade, despertava pouquíssima atenção. Seu ar de apatia a excluía da lista. Era impossível que alguém tão apagada assaltasse quem quer que fosse.
Ah! O boy ... Office boys são sempre criaturas estranhas. Usam radinhos nos ouvidos e poupam o dinheiro do táxi e sempre falam que a fila estava enorme. Aquele boné virado para trás e a blusa larga o denunciava como o bandido que nos observava. Não podia ser, aquele era o Toninho, o boy do departamento pessoal, eu o conhecia há muitos anos. Mas vai que ele fazia um bico de bandido e...Duvido que ele me assaltaria. Ia pegar mal. Eu sou da casa. Mas mesmo assim fiquei com um olho nele e outro na velhinha. De vez em quando até dava uma olhada na moça sem graça. Todos estavam sob vigília e minha observação constante. Eu sou esperto e não os perco de vista.
Um rapaz que batucava na pastinha despertou minha suspeita, mas tive medo de ser acusado de ser preconceituso só por suspeitar e apaguei este pensamento pouco politicamente correto de minha cabeça. É crime inafiançável, sabia? Vi na TV outro dia.
Só restava o senhor com cara de sono. Era ele o tempo todo e eu nem percebia. Estava com sono porque ficou a noite toda fazendo o seu servicinho sujo. Safado! As pessoas do elevador precisavam saber. Tomei coragem e gritei:
- Peguem o ladrão!”
Todos me olharam assustados. Vendo que ninguém reagiu, tomei coragem e voei sobre o canalha. As pessoas custaram a entender o que acontecia e logo vi que me separavam do combate corpo a corpo.
Acho que exagerei.O cara que eu ataquei era um funcionário novo do 6º andar, diziam ser gente boa, mas eu duvido. As estatísticas não erram.
Eu mesmo estou de licença médica em casa e vejo o jornal dizendo que uma em cada sete pessoas que vive na cidade grande tem uma crise de alucinação causada pelo stress. Olho para os quatro cantos da quarto e não vejo ninguém além de mim. Uma em cada sete, penso.
Ufa! Ainda bem que os outros seis estão longe daqui.
Detesto gente neurótica.
Ufa! Ainda bem que os outros seis estão longe daqui.
Detesto gente neurótica.
(LEITE, Marcelo. Extraído do meu livro: Ladrão de Histórias e tantas histórias)
24 comentários:
Adorei o texto, Marcelo!
Seu livro está à venda? Eis aí uma faceta sua q eu não conhecia...
Aliás, [é melhor q eu diga] tenho sentido suas postagens a cada dia mais bem-humorada, rs.
Estou gostando muito!
bjs
ellen regina
Poxa, eu sempre gostei de estatísticas (será isso uma neura de futura jornalista? quem sabe...).
Outro dia estava até conversando lá no colégio:
_Você sabe quantos livros um brasileiro lê por ano?
_Não, quantos?
_4
_Ah, eu leio 6
_Você não tem vergonha? Ler só 1,5 vezes o que um brasileiro lê!
"É só abrir o jornal e ver como há velhinhas assaltando, traficando... e sabe lá mais Deus o quê. Também com o salário de pensionista ou aposentado..."
Pois é, até escondendo televisão embaixo da saia. Essa melhor idade...
haha
boa, muito boa!
eu também tenho um complexo sartreano com os números... certa vez numa antiga empresa que eu trabalhava o gerente disse em alto e bom soom: "vcs pra mim não são gente, são números", desde então fico meio assim, meio ímpar com essas coisas... gostaria da sua opinião no meu último post...
Fantástico, rsrs.
Conheço muita gente assim. Sempre tem aquela famosa frase “atravessa a rua que aquele cara é mal encarado”. Engraçado é que geralmente o “mal encarado” é um mulatinho ou um negro vestido de roupa larga. Eu ainda acho que eufemismo é o mal desse século, você não acha?
Fantástico, rsrs.
Conheço muita gente assim. Sempre tem aquela famosa frase “atravessa a rua que aquele cara é mal encarado”. Engraçado é que geralmente o “mal encarado” é um mulatinho ou um negro vestido de roupa larga. Eu ainda acho que eufemismo é o mal desse século, você não acha?
O engraçado é que nunca aparece ninguém dizendo que a chance de você passar a vida sem ser assaltado nenhuma vezinha é de 1 em cada 1000. Não seria animador, mas com certeza já seria uma esperança...
O texto ficou ótimo, super engraçado. Eu também não gosto de estatísticas, elas sempre me parecem meio ameaçadoras.
Beijos!
como sobreviveriam os estatisticos e o IBGE?
Pois é, meu caro, desconfiou da pessoa errada (para dar um up na sua neurose)rs. Alguns criminosos envelhecem, sabia?rs Aposto que era a velhinha! Não viu a última que assaltou a igreja, onde era voluntária? rs
Brincadeiras à parte, as estatísticas assustam mesmo, algumas vezes. Eu não dou importância a elas, mas podem surtir efeitos "devastadores" em quem precisa delas para viver (Ih! Já fez). Acho que nem em cima de uma cama de hospital eu gostaria de saber sobre minhas chances de melhora. Do jeito que sou sortuda, se o médico disser que tenho 95% de chances de melhora, é bem capaz de eu ficar nos 5%. Então... rs
Talvez seja uma maneira de me prevenir de uma... "Estatisticose aguda". rs
P.S.: Por que será que eu não sabia desse livro!? Quero o nome em 24h. Suas chances de sair sem vida, caso se atrase, é de 100% (não tem margem de erro) rs
Bjs!!!
Qual a probabilidade de eu ler teu post e votar no diHITT
Abraço
Não sei como fiquei tanto tempo sem visitar esse blog...
Mas é que ando de folga da rede virtual, e por isso perdi alguns bons momentos aqui, mas voltei.
E olha só, Marcelo publicou um livro!
Ah, mas pelo conteúdo do Saco de filó, dá para formar uma coletânea.
Sucesso em 2009, nobre colega.
Abraços.
All3X
Estatísticas sobre probabilidade de ter uma doença terrível que come minha pele ou que faz meus órgãos definharem até virarem uva-passa ou sobre a probabilidade de eu levar um tiro na varanda do meu apartamento enquanto me espreguiço eu prefiro nem saber. A ignorância é uma bênção.
Adorei, diverti-me muito! Saiba q fiquei rindo diante do monitor, pode ser q 5 dos 8 que postaram aki tiveram a mesma reação! rs
Não me prendo as estatísticas, nunca nem parei para analisar sobre isso, as estatísticas surgem mais em épocas de eleições na minha vida pelo menos.
Mas houve uma divulgada semana passada que dei atenção, diz assim: Sexo nas estatísticas dos homens brasileiros ocupam o 3º lugar na lista de prioridades de vida e na mulher o 8ºlugar. Curioso não?!rs bjs
http://annadecleves.blogspot.com (meu outro blog)
Marcelo,
gostei bem de conhecer seu blog.Diverti-me aqui. Voltarei!
Abraços
Eninha
Por isso que eu digo: as estatísticas comprovam que 95% das estatísticas estão erradas. Ou não.
Vlws.
Pois é se dizem q a cada vez q respiramos morre um chinês vou tentar prender o ar e respirar o menos possível...quanto a história só faltava ele na sua desconfiança extrema colocar sua carteira em ciam da mesa como isca, e da janela aberta surgir uma águia( à Homer Simpson) pegá-la e sair por outra janela...para realmente demonstrar a precisão das estatísticas
Não me diga que você também tem azia ao ler jornais...heheheh!
Eu não consigo lembrar do autor, mas li há muito tempo uma frase interessante: "Há 3 tipos de mentiras: mentiras, mentiras deslavadas e estatísticas".
Quer ver outro terror quanto às estatísticas? "Governo aprova aumento de 3% aos professores, divididos em 3 parcelas de 1%, progressivamente em 2009, 2010 e 2011".
99% de chances de continuar vivendo no aperto e devendo pra Deus e o mundo. Ainda mais quando a inflação vai na casa dos 6% e...ah! Assim fico paranóico!
Abraço e parabéns pelo texto! Excelente!
Que chato eu, mas esse post me lembra um episódio engraçado de Chaves em que há uma sátira à questão das estatísticas.
Mas, é claro, o texto aqui conseguiu bater El Chavo del Ocho. Confessa aí! Qual a pílula da criatividade?
Simplesmente ri muito, aos quilos. O final, fantástico, bem ao seu estilo.
E sabe o que penso? Não vai demorar a surgir uma síndrome da reação exagerada a estatísticas, cuja sigla, SREXE, é tão estranha quantos os sintomas. A medicina adora catalogar, sistematizar, dividir, criar, inventar, enfim... Óbvio, seu personagem será estudado.
E pra fechar, como aqui quase tudo é sarcástico, esse livro "Ladrão de Histórias" é real mesmo ou mais uma piada?
Abraço.
Caio (e demais colegas),
Tê-los como leitor é um presente, sabia?
Bom, o Livro "Ladrão de Histórias e tantas histórias" existe, ainda que "no prelo", mas existe. Eu terminei esse livro em 2005 e ele possui 84 crônicas e contos reunidos.
Na época, por conta do final do doutorado, fui obrigado a abortar a missão de publicá-lo. Terminei o doutorado e, mais uma vez, atrasei o projeto por conta de outros compromissos que assumi.
O livro está escrito, diagramado, revisado e, agora em 2009, espero publicá-lo... isso se não outro contratempo não me atropelar.
Abraços
Marcelo
Oi, Marcelo!
Também detesto estatística, confesso. na época de estagiário já tive brigas horríveis com meu editor sobre isso: pq um assunto só vira matéria nos telejornais se aparecerem uma estatística? Que regra mais boba, os números são números...a realidade, as pessoas, são outra coisa.
Bom, sou suspeito para elogiar, mas adoro as suas crÕnicas/artigos. E quanto ao livro, quando ele faço questão de ler, comprar e divulgar. farei a divulgação dele com o maior carinho do mundo, pq sei da sua paixão pela escrita e o respeito que vc tem com os leitores.
Abraço
Oi, Marcelo. Adoro seus textos. Vc poderia dar as indicações do seu livro?
Quero comprar o seu livro, Marcelo.
Adoro crônica, ainda mais bem humoradas como essa.
Abraços!!!
Juntando todas as estatiscas, Neurose é pouco. É quase uma sindrome de pânico que não nos deixaria colocar o pé na calçada de casa com medo de ser atropelado pela bicicleta do filho da vizinha!!!!
Abços
Me juntarei àqueles que tanto admiram seus textos. Por isso, assim que sair o livro, nos avise.
All3X
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