quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

O que aprendemos (ou não) com os desastres naturais.

Sempre que nos vemos diante de uma tragédia como esta de Santa Catarina, nos perguntamos que lição tiramos disso. O que nós realmente aprendemos com a dor? Aprendemos que tragédia é o nome que damos a imprevidência e o descaso diante da possibilidade de uma adversidade.
Entendemos que erra quem constrói em uma área de risco de desabamento ou inundação, mas o pior é a conivência das autoridades políticas locais que se calam diante da opção ou falta de opção das pessoas que já perderam mais de 3, 4 vezes tudo e continuam construindo nos mesmos lugares.

- Vamos ajudá-los a reconstruir suas casas, dizem os políticos.
- Nos mesmos lugares? Pergunto eu.

Aprendemos também que ajudar é importante, mas que até, na hora de socorrer, os órgãos de mídia não se entendem e cada um abre uma conta em um banco diferente para ver quem arrecada mais dinheiro e IBOPE, é claro. Enquanto isso, as lágrimas da velhinha que perdeu tudo, ao som de uma música triste de violino, ampliam os pontos nos programas decadentes de domingo à noite.
Aprendemos que há uma mobilização em massa para doação de dinheiro cujas contas jamais são prestadas após as catástrofes (Mas que sujeito cruel sou eu que falo em prestação de contas numa situação dessas? Um monstro, certamente!). E entendemos que o governo pede o engajamento da população, mas não cogita a hipótese de criar, ainda que temporariamente, uma área livre de impostos para reduzir o custo de alimentos, remédios e materiais de construção nessas regiões atingidas.
Compreendemos, então, que é
possível lucrar na desgraça alheia e vender água, cimento, botijão de gás e comida com preços dobrados quando não há escolha da parte de quem compra. E assim fazer com que o vento dos infortúnios sempre sopre a favor de alguém... que nunca serão o desafortunado, obviamente.
Aprendemos que somos um povo solidário e crédulo e que temos a certeza de que sempre há uma intervenção divina que impede que seja pior do que foi. Entendemos que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar e, afinal de contas, Deus é brasileiro.
Compreendemos, entendemos e aprendemos tudo isso.

***

Mas, no apagar das luzes, em uma semana, esquecemos tudo de novo.

20 comentários:

Beth Ribeiro disse...

Menino,fico chocada com o circo montado pela mídia em cima dessa tragédia,em busca de maior ibope.Muita apelação e desrespeito com os sofimento alheio.E se quisessem mesmo fazer o bem,fariam da maneira correta,sem mostrar a mão direita o que a esquerda fez (ou vice-versa).E o pior é q daqui a algunas dias,ningém se lembrará mais...Bj

Laila disse...

"Pouca saúde e muita saúva, os males do Brasil são."

Macunaíma

Tiago disse...

A história do brasileiro é a história do "eu acho que eu já vi isso antes". Guarda uma vaga memória do que aconteceu mas não aprende nada com isso.

Flávia disse...

A dor mostra, não só a quem assiste à tragédia, como quem vive nela, q o desesprero (ou má índole, ou "esperteza", sei lá) é capaz d fazer c/ q o meu "roubo" se torne meio d sobrevivência. Como aconteceu c/ um grande supermercado, saqueado por completo (até aí, posso compreender). Agora, levar até o computador dos caixas??? Isso é desespero??? Não... não é; um rapaz ter q ficar dormindo na casa p/ q ela não seja saqueada.. Aff!!
Enfim...

Ficamos surpresos quando ouvimos um morador d uma área de risco se recusar a sair d onde está. Claro, estamos do lado d cá.

Por sermos um povo solidário (isso é verdade) não conseguimos ficar sentados apenas assistindo à tragédia, "precisamos" fazer alguma coisa. Acho q é por isso q o governo quase não se mexe (ou não se mexe mesmo).
Acostumamos mal nossos governantes... Muito mal...

P.S.: A memória só se refresca quando se vive o problema, do contrário, o prazo é +ou- esse q vc falou. Isso se a mídia não prolongar um pouquinho.
E quanto a teoria do "raio", São Paulo já mostrou q, não só cai 2x, como 3, 4, 5,... Pergunte a quem vive nas zonas de risco?!

Para um povo q, praticamente, tem q olhar por si, é preciso crer em alguma coisa. É nessa hora q Deus entra em cena... como ingrediente principal da esperança. E nem é preciso acreditar Nele...Basta, simplesmente, acreditar...

Marcus "HEAVY" disse...

É a típica situação em que não dá pra usar o bordão "podia ser pior, podia estar chovendo"...

Wander Veroni Maia disse...

Oi, Marcelo!

Também fico me perguntando isso: se o solo de lá é arenoso e vai vir mais outra tempestade, eles vão construir as casas nos mesmos lugares? Porque não criar uma drenagem para a água da chuva e do aumento dos rios?

Claro que a coisa não é tão simples. mas, apesar de toda o envolvimento de solidariedade que está por detrás, temos que pensar no futuro dessas pessoas.

Qual será a próxima tragédia estampada nos telejornais?

Abraço,

=]

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http://cafecomnoticias.blogspot.com

All3X disse...

Ótimo Marcelo, já vinha pensando nisso a tempos.
Sempre existem aqueles que lucram com a desgraça dos outros, e fazem isso como se ajudassem a pessoa a ser melhor.
E o governo, não vai fazer nada para que situações como essas não se repitam?
Sempre venho aqui porque acabo sempre concordando contigo.
Quero mesmo que tudo seja melhor, mais melhor mesmo, não quero nada superficial, só para tampar o buraco e não corrigir as falhas de verdade.
Em certos momentos o foco de nossas atenções são desviados.
Valeu,
All3X

Anônimo disse...

SOLIDARIEDADE...
Isso só existe porque conhecemos a falta dela.
O dia que a humanidade souber dividir, compartilhar e respeitar, não vamos mais ouvir a palavra SOLIDARIEDADE, vamos vivê-la!

Qtas encarnações vou precisar?

Paulo Avila disse...

Realmente, a desgraça virou um bom negócio. Mas bom negócio para quem? Para a mídia, para os filantrópicos de plantão, para a necessidade mórbida que as pessoas têm de parecerem caridosas, bondosas, doando cestas básicas, sopas e fazendo com que os "desgraçados" sejam sempre desgraçados e dependentes. A iséria é a salvação de muitos. Deus é brasileiro. Imagine se não fosse!

Anônimo disse...

A única coisa positiva nessa catástrofe são as pessoas anônimas ajudando de alguma forma, de resto os mesmo urubus...
Ainda bem que as eleições municipais já passaram, nem é bom pensar...

Anônimo disse...

Além de concordar plenamente com os outro depoimentos postados aqui, o que eu quero acrescentar é que essas desgraças só tendem a piorar, e que a mãe natureza está devolvendo tudo que estão fazendo com ela, precisamos repensar muito rápido e4m soluções, senão daqui a pouco não teremos mais tempo para isso. Um abraço.

Euzer Lopes disse...

Nem li os comentários acima para ver se eu estaria sendo repetitivo.
Mas, sabe o que eu fico pensando?
Se no próximo verão, quando estas pessoas estiverem com suas casas limpinhas, pintadinhas, reconstruída, móveis novos, enfim, vierem chuvas de novo.
Seria apenas e tão somente "mais do mesmo"?

Anônimo disse...

É pois é, todo mundo quer uma parte do bolo. Hoje mesmo, em uma comunidade, vi um post sobre um blogueiro português que doará 0,10 euros por cada comentário recebido no blog... Com certeza não são apenas os políticos que ganharão com essa desgraça.

P.S.:O Lula demorou a visitar SC, hein? Ele não queria ver sua imagem atrelada ao horror da catástrofe...

Henrique Hemidio disse...

Pode crer!
Capitalismo na veia!

Lilian Devlin disse...

Hoje mesmo estava lendo em algum lugar, que um botijão de gás que antes custava R$30,00 está custando agora R$100,00. Um garrafão de água, R$40,00... e por aí vai.Mas vc tem razão, a memória é curtíssima. Até acontecer tudo novamente...
Beijo Marcelo

Marcos Costa Melo disse...

Na verdade, aqueles que perderam as casas - e até os terrenos, com os desabamentos - vão suar sangue para reconstruirem suas vidas.

Os recursos nós sabemos como funciona: divulga-se um monte, chega a metade, a maior parte vai para a reconstrução de indústrias, estradas, portos, etc.

E a mída? Bom, essa disputa de doações realmente está, no mínimo, esquisita. Bizarra até.

abs

disse...

Na verdade não aprendemos nada. Porque o que se aprende não se esquece.
Como dizemos em escola, apenas decoramos a lição. A prova passa a matéria apaga.
Aqui em Petrópolis é a mesma coisa: entra ano, sai ano e nada é feito e os barrancos caem e as pessoas ficam desabrigadas e muitos perdem os parentes. E o que fazemos? Esquecemos...
Abços

Lomyne disse...

Depois nêgo diz que é maldade minha, mas eu não tenho pena, não. Seja qual for o nível de cultura e dinheiro. Costumo crer que Deus definitivamente é o menor culpado, independente de se ele proteje ou castiga, que que esse povo tava fazendo lá, hein?

Homenzinho de Barba Mal feita disse...

Eu estava lendo em um blog, que um mercado da região atingida, praticamente dobrou o preço de seus produtos. Com certeza é sacanagem, mas sacanagem maior, é o governo apenas lamentar e não tomar medidas cabiveis em situações como essa.


http://hdebarbamalfeita.blogspot.com/

Clarissa Mieko disse...

Engraçado, lendo esse post pensei no Gregório de Matos...não pelo tom irônico, mas pela relação que se forma entre as pessoas que protagonizam as tragédias e as que se "solidarizam" e partem fazendo campanhas de arrecadação. Parece que há um jogo velado em que a lógica é que se não houver tragédia, pessoas sofrendo e perdendo tudo, como o ser humano teria a oportunidade de mostrar sua "bondade", de provar que em um mundo de ganância ainda existem pessoas de boa fé e bom coração. Elevando-se a uma posição que (diga-se de passagem) não lhe pertence, uma vez que na realidade o objetivo é promover a própria imagem como benfeitor... E... é como já diria minha mãe, O que a mão esquerda faz a direita não precisa saber! Se vai ajudar de coração, não precisa ficar contando para todo mundo, não é.
Mas hipocrisia maior, e que me aborrece mais ainda, se dá com aqueles que se promovem publicamente sem ter de fato ajudado...ou seja arrecadam, promovem isso e aquilo, mas não compõem o conjunto dos individuos que fizeram as doações.
Adorei o seu texto, é legal como leva o leitor a refletir muito mais sobre a dimensão dos problemas sociais!
P.s: Esse era um bom tema para uma Redação!rs...