domingo, 17 de agosto de 2025

A caneta do presidente

 

As coisas são sempre vazias por sua natureza. Nós atribuímos essência a elas, inclusive as dores que permitimos nos impingir. Se Jorge compra uma caneta que foi usada por Getúlio Vargas, ele coloca em uma caixa de vidro em sua sala e mostra aos seus amigos. Os amigos ficariam impressionados porque Jorge pagou 20 mil reais pela caneta, mas entenderiam que, afinal, não era uma caneta simples, mas uma caneta que pertenceu a Getúlio Vargas (com certificado e tudo mais). Foi uma bagatela sair por 20 mil reais naquele leilão on line.

Numa tarde qualquer, aparece na televisão um homem que foi preso com uma caixa com mais de 100 canetas que eram atribuídas a celebridades (entre elas Getúlio). Mas que, na verdade, vinham do Paraguai. Iguais à caneta de Jorge. Com certificado de originalidade e tudo. Frustrado, ele quebra o vidro da caixa que guardava a caneta e a joga no chão. 

A caneta continuaria a ser de Getulio Vargas se Jorge não tivesse visto ou tomado conhecimento daquela reportagem. 

O fato é que atribuímos essências às coisas em um universo do não ser. A caneta é e não é de Getúlio Vargas. Depende do momento em que olhamos: antes da relevação e depois da revelação.

As coisas não são nada além de coisas e a nós cabe a atribuição de essências que muitas vezes, assim como a caneta histórica, nada mais são do que uma coisa que acreditamos que seja diferenciada baseada em nossas experiências e valores. 

Remover a essência das coisas e a forma mais plena de experienciarmos o vazio e atribuir a ele a nossa real vivência que, quando muito, dura o tempo que se estende. Enfim, é plena enquanto dura. 

sábado, 4 de janeiro de 2025

Porque eu sei que é amor… (rs)


Acabei de ver um vídeo sobre os exames de PSA e Toque para identificar casos de câncer de próstata precocemente. Nunca fui encucado com isso e me submeto ao PSA todos os anos desde os 45 anos. E o toque? Perguntaria você. Sinceramente, só passei por ele uma vez por conta de uma alteração nos dados do PSA causada por descuido no preparo para o exame nos dias anteriores, felizmente não era nada. Não se identificou anomalia nenhuma. Como não tenho histórico familiar, o urologista que cuida de mim, assim como outros por que passei em situações distintas, consideram que é desnecessário. 

Sei que essa parte é tabu entre homens que morrem de medo passarem pelo toque e, ao final do exame, saírem sentindo um desejo de ouvir e performando a música I will survive, da Gloria Gaynor. Ou então se vestir de cowboy e ouvir YMCA, do Village People. Confesso que após o exame nada mudou em mim. 

Mas evitei ligar Spotify com certo receio dele me sugerir uma playlist com Lady Gaga, ABBA…

Brincadeiras à parte. Esse tabu leva muitos homens a morrerem devido ao câncer de próstata.

Um dia eu conversava com um colega na sala dos professores sobre isso e sobre a eficácia comprovada do exame de PSA, principalmente, em casos de homens sem histórico familiar e ele me retrucou:

- Mas o meu médico não acredita nesses exames modernos.


Pausa para reflexão. O exame de PSA existe há quase 40 anos e comprovadamente identifica mais de 85% dos casos de câncer. E segundo, eu acho fantástico médico negacionista. É tipo um padre ateu.  Prossigamos.

 

- Ele ignora o PSA e parte para o "Vai ali. Vamos um exame de toque." Toda vez que vou lá anualmente, conclui o meu colega.  

Então eu falei: Ah sim.. então você tem histórico familiar de câncer. Ao que ele retrucou. Não, nenhum, mas que ele quer ter certeza de que está tudo bem.

Fiquei imaginando que se ele atrasar a consulta um ano, o médico vai mandar uma mensagem de WhatsApp: 

- oi sumido!

Sei lá, acho que é amor.


Em tempo.

Hoje o próprio ministério da saúde em nota recomenda o toque e mesmo o PSA anual para casos de homens acima dos 45 e com histórico de câncer na família. Acho que fora isso pode ser entendido como uso recreativo.

Desculpa, mas não poderia perder a piada.  😂