A relação que o homem possui com o conceito de divindade, muitas vezes, é oscilante entre a ingenuidade das cobranças (Poxa, Deus, eu fui tão bom, porque isso foi acontecer comigo. Fui tão fiel e ganhei isso em troca...) ou troca de favores (Se eu conseguir ganhar na loteria vou ajudar os necessitados, se eu ficar curado, vou à Aparecida do Norte a pé...) e a imaturidade de negação de uma criança contrariada pelos pais ou que, quando não vê as coisas do jeito que ela quer, faz pirraça e diz “eu te odeio”, no caso eu não acredito em você, Deus bobo, feio, cabeça de melão.
No primeiro caso, estão muitos religiosos que fazem de sua relação com a divindade um balcão de negócios. Através de promessas, negocia-se que, se o indivíduo obtiver uma graça, em troca, faz alguma coisa "boa". Por exemplo, se eu conseguir comprar minha casa própria, vou à igreja e acendo uma vela. Ou ainda, se eu conseguir um emprego, vou rezar uma novena durante 7 dias.
Mas a coisa pode piorar, pois há aqueles que não levam para o balcão de negócios a princípio. Essas pessoas assumem uma atitude positiva (na verdade, uma obrigação de cada um), mas procuram a divindade (Deus ou os Santos de sua devoção) para cobrar. Afinal, se eu sou tão legal, só coisas legais podem acontecer comigo. Se eu sou tão bacana, porque um infortúnio me atingirá. Na verdade, sou uma pessoa boa, por isso exijo e só aceito que aconteçam coisa boas comigo. Coisas más para as pessoas, más, entendeu, Deus? Fui claro ou quer que desenhe?
E ainda há o ateu que, em um primeiro momento é um crédulo fervoroso, pois admite a existência de Deus para poder negá-la uma vez que não se nega aquilo que, pelo menos em algum momento se tenha admitido como existente. Eu admito com a finalidade de negar, até porque se eu não admito o fato, a negativa se torna uma premissa inválida para os demais raciocínios. A linguagem é assim. Eu só nego o que a princípio, reconheço existir. Mesmo que esse reconhecimento só esteja ali com base da premissa da negação.
Na verdade, essa negação também surge de uma relação infantil e imatura. É como uma criança que diz que o mundo ideal dela era do jeito X (sem fome, sem guerras, sem doenças..) e como a pré-admitida “divindade” não intervém nesse processo, a pessoa, como vingança, não acredita, nega, faz pirraça. Alega que só existe aquilo que a ciência pode provar e esquece que, por exemplo, eletricidade só pôde ser medida, armazenada e comprovada mesmo de uns 200 anos para cá ainda que tenha existido como força desde sempre no planeta. Em momento algum, se questiona que alguns conceitos e energias podem estar aguardando ferramentas que permitam sua comprovação e mensuração. Isso não quer dizer que não existam de forma alguma. Afinal, se a divindade não faz o que eu considero do bem, ela não existe, eu não acredito nela, coisa boba, feia, cabeça de melão.
Se eu acredito em alguma divindade? Acho que sim. Mas sem cobranças, barganhas ou pirraças. O que me corrói de dúvidas é o que é isso em que acredito. Suspeito que o conceito convencionado de Deus-pai é o que mais se aproxima da capacidade humana de entender a ideia central da coisa toda, mas ainda assim, é algo muito, mas muito diferente disso que existe para muitas pessoas, ou seja uma entidade antropomórfica disponível para barganhas, cobranças e pirraças.
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