Ter um rótulo é inevitável.
Querer um rótulo já é patológico. O rapaz sai de casa com uma meia colorida ao
estilo anos 70 – Dancin Days. (Só os que sorriem entre aspas das rugas
entenderão essa referência jurássica da cultura pop) e uma pochete na cintura,
outro artefato arqueológico dos anos 80 que atualmente só é visto em
documentários do History Channel – Artefatos do Passado. Logo, alguém rotula de
cafona.
Com um fundo de razão ainda que
tivesse ouvido as frenéticas quando criança e usado pochete na minha
adolescência, estamos diante de um rótulo atribuído. Tirando o fato de se você
não paga as contas dele, não responde legalmente por ele e a meia estar sendo
usada por ele, isso não ser de sua conta ou mesmo algo que gerasse a
expectativa de sua opinião, você rotulou.
Mas os problemas são os rótulos
desejados. Costumo dizer como são infelizes (ou não) as pessoas que não tem
Facebook para dizer aos outros o quanto são felizes, conscientes, politicamente
corretas, solidárias e sábias entre outras características que elevam os
espíritos mais nobres de nosso tempo. Como são pouco nobres aqueles que não
conseguem um bom marketing pessoal nas redes sociais.
A questão é exatamente essa.
Cultuamos hoje muito mais uma imagem que queremos do que um conjunto de
atitudes nobres que falem por si só. As discussões por qual tragédia é a mais
adequada, é a melhor, enchem o facebook de tolos narcisistas que querem, no
fundo, que o mundo se dane contanto que receba os likes de endosso a sua opinião que o fazem mais consciente, mais
patriota, enfim, um ser humano melhor que destoa da espécie.
Por conta de um discurso de
ponderação que sempre sustentei, completamente despreocupado com o que as
pessoas vão pensar, já fui taxado do religioso, ateu, direitista, esquerdista,
mas nunca de radical. Esse rótulo não me cabe em nenhuma das posições. Mas se
considerarmos a minha insistência em não ser radical também seja o suficiente
para ser visto como radical nessa posição. Não sei... tem maluco para tudo. E eu saio como se fosse o
cara da pochete e da meia colorida, desatento ao que consideram, e procurando
onde se encontra arquivo em que pedi a opinião ou o rótulo de alguém. Não tenho
achado.
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