quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Onde perdemos a ternura no caminho

Em algum ponto da nossa existência perdemos a dimensão do zelo com o outro em nome de ideologias que com o vento vem e na mesma brisa se vão. Lembro-me de algumas mulheres que conheci em minha vida que repetiam com orgulho que estava para nascer o homem que as faria ir para cozinha, nem para buscar água, concluíam. 
Eu entendo que há toda uma carga histórica da cozinha como ambiente de opressão da condição feminina, mas nos esquecemos de que por trás do ato de cozinhar para o outro, está o ato de cuidar. Acho que negar esse gesto como manifestação de carinho é um grande equívoco. De uma mulher, recebemos o primeiro alimento que se confunde com carinho e proteção, o seio. O alimento é a maneira mais ancestral de dizer ao outro que amamos, que nutrimos, que cuidamos.
Sou homem e como homem, sempre gostei de cuidar, de alimentar, seja com uma comida feita, com uma comida comprada. Sempre entendi que alimentar o outro é uma maneira de dizer "olha, eu te amo, eu te cuido". 
Hoje, com 3 filhos, minhas idas para cozinha rarearam, infelizmente. Minha esposa não vai para cozinha mais com a mesma frequência pela mesma razão. Ela vai mais do que eu, mas menos do que gostaria tenho certeza. Ninguém quer que a mulher seja uma escrava cozinheira, nem que restrinja seu espaço, ninguém quer dominar ninguém. O que fica nesse texto é que quando dedicamos nosso tempo para alimentar o outro, trata-se de uma maneira de dizer, eu me importo com você, eu cuido de você, eu amo você.
É claro que há muitas outras maneiras, mas essa é sem dúvida, a mais atávica de todas.

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