Pode parecer estranho, mas uma coisa com a qual custou-me a adaptação no Brasil é a autossabotagem. Para entender melhor isso é de grande valia assistir a um filme chamado “Uma primavera para Hitler” (the Producers, em inglês), 1968, de Mel Brooks. O filme é muito divertido e conta a história de uma peça de teatro que é feita para dar errado (um golpe, claro), mas, catastroficamente, dá certo. É o fracasso que daria lucro... tese estranha?
Não. Aqui no Brasil, principalmente no trato da coisa pública, posso arriscar que boa parte do que é feito é orientado para o fracasso. O objetivo mais comum é falhar, mas o mais difícil é fazer parecer que não é. Há muito dinheiro para projetos nesse país que precisa ser empregado em alguma coisa. Se essa coisa vai dar certo ou errado é só um detalhe completamente irrelevante. O negócio é desentocar a verba, liberar o montante. Isso é bom para todo mundo (ops!). O político lucra, o técnico recebe, a arraia miúda se esfrega nas migalhas. Dá tudo errado no fim, mas e daí? Aquele dinheiro era para ser gasto mesmo. E não foi gasto? Então? Tá tudo bem...
O segredo de sobreviver nessa história é fazer de conta que você não sabe de nada, não viu nada e não acredita se lhe contarem. Isso pode nos conceder o título de um dos povos mais hipócritas do mundo... Vai lá, Brasil!
Como isso é difícil e como tem sido uma aprendizagem constante para mim há anos de Brasil (desde que nasci).
Entretanto, ao contrário do filme de Mel Brooks, a nossa peça de teatro não deu certo, mas insiste em subverter a ordem da autossabotagem, por causa de pessoas que, inocentes úteis, compram as ideias, vestem a camisa, trabalham por um ação conjunta e acreditam que o que move aquilo tudo é sempre a boa intenção.
Nesse momento, ecoam risos nos gabinetes...
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