Outro dia, eu dirigia e pensava em dramas da literatura como Otelo e mesmo Dom Casmurro. Pensava em qual seria a origem do ciúme lembrando dos célebres casos que vimos na arte. Ocorreu-me, então, a ideia do sentimento de posse. O(a) ciumento(a) tem dificuldade de aceitar-se como alguém digno(a) de com quem está. Considera sempre a possibilidade de perda no minuto seguinte, pois qualquer um que se aproxime será muito melhor do que ele(a).
A partir daí, coisifica-se o ser amado para assumir a posse como de um terreno, uma vez que sobre o objeto se tem o controle total de sua vontade, afinal, objetos não tem vontade própria. Quem tem vontade é o dono do objeto que com ele faz o que quer, mima, cuida, limpa ou destrói.
Daí surge o problema, o direito de destruição que temos sobre o nosso carro ou sobre o nosso celular passar a ser o mesmo que temos sobre o o outro, o direito de nos desfazer dele destruindo-o. Com base nisso, até metade do século, muitos crimes eram entendidos como crimes contra a honra, pois o indivíduos tinham direito de reagir ao assédio ao patrimônio como reage ao assédio de sua propriedade, seu carro enfim, alguma coisa.
Mais uma vez, temos um sentimento que nasce na baixa autoestima, na certeza de que qualquer coisa no universo é melhor do que ele(a) e a sensação de que quem está em sua companhia o faz por piedade e compaixão, sempre à espera de uma coisa melhor. Na cabeça da pessoa que sofre desse mal, qualquer coisa que aparecer.
E o pior é que com uma pessoa com essa autoestima corre o risco de não ser só uma sensação, mas uma situação bem provável a de que apareça algo melhor para o outro.
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