Tenho pensado muito sobre a origem das coisas, principalmente dos sentimentos e atitudes. Dos mais nobres aos mais mesquinhos, todos eles surgem de algum lugar, crescem sob algumas condições e se expandem conforme a oportunidade que lhe aparece.
O primeiro que me despertou a atenção foi a inveja. Não aquela inveja do olho gordo que fazia os antigos usarem figas penduradas no pescoço. Falo da inveja que deseja o mal do outro e que trabalha para isso com palavras, articulações e atos discretos de destruição do outro. Afinal, o que envenena e contamina é o que sai pela boca, pois brota no coração.
Percebi que esse sentimento se origina na descrença em si mesmo, na baixa autoestima (aliás, percebo que muitos sentimentos destrutivos nascem aqui). Diante da descrença de ser capaz, resta o rancor pela capacidade alheia. Como se fosse uma raiva da vida que concede (??) ao outro a habilidade de conquistar as coisas que o invejoso pensa não conseguir, pensa não ter sido privilegiado com o dom (??) do outro.
Restam-lhe, então, duas atitudes: a resignação e aceitação de seu destino ou a ação para se vingar (??) daquele que tem tudo enquanto ele, coitado, não tem nada. A partir daí, vale a maledicência, a articulação para prejudicar, a sabotagem cotidiana, mas nunca o confronto. O invejoso não confronta o invejado, pois este é o seu objeto de ódio, mas ao mesmo tempo, seu objeto de desejo. Todo ataque a ser feito deve ser indireto e qualquer ação destrutiva deve ser encabeçada por frases do tipo “não, eu não tenho nada contra o fulano. Até gosto dele.”
Nisso, ele não mente. Ele gosta mesmo. Deseja o muito e, na impossibilidade de ter seu objeto de desejo, trabalha para destruí-lo. Tudo isso para que ninguém o tenha ou o possa desejar também.
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