quarta-feira, 5 de outubro de 2011

DNA maldito de uma cidade sem futuro


Cidades assim como pessoas possuem um DNA que, embora não determine com rigidez o que elas serão no futuro, aponta algumas variáveis possíveis de realização. Falo isso porque já viajei quase todo o Brasil e nunca vi alguma localidade conseguir se desviar muito de sua história passada. 
Por exemplo, cidades que se estruturaram sobre riqueza fácil como garimpo se tornaram o reduto da indolência da ineficiência e do desmando característico de terras onde o dinheiro se chuta em cada esquina numa pepita de ouro. Mesmo passado anos e anos, a herança maldita persiste no atraso local. Outra herança desgraçada é a história de escravidão. Cidades que nasceram sob o regime escravagista e ergueram sua riqueza sobre o sangue da exploração dos negros amargam um quadro triste de atraso ainda hoje.
O problema é a mentalidade que se instala e se perpetua geração após geração, a ideia do trabalho como pena, a ideia da exploração com algo legítimo, a ideia do favor que os”coronéis” fazem quando permitem que alguém lhes preste um serviço. Cria-se uma elite indolente e inútil que só é capaz de valorizar a subserviência e a vassalagem dos funcionários, pois toda competência é vista como uma ameaça á ordem estabelecida. Valor tem o que delata, o que mal diz, o que frauda e ludibria, o que trama contra todos em favor do seu senhor, o que vende sua alma e sua dignidade em nome da servidão eterna. Aquele que possui formação, competência e capacidade de questionar é a grande ameaça ao sistema e deve ser banido. Ele representa tudo que não faz o perfil daquele lugar, deve ser banido, tudo que não rasteja aos pés do senhor, é inimigo seu e deve ser afastado...
Difícil de entender, né? Pior do que entender é viver em lugar assim onde o rei está nu enquanto todos admiram sua bela roupa.
Tende piedade de nós!

3 comentários:

Professor disse...

Cidades como Valença ainda ficam submetidas ao coronelismo político e "empresarial". Já trabalhei em pequenas empresas aqui que não valorizam sua competência e profissionalismo, mas como bem dito por você, valorizam a subserviência e principalmente o "puxa-saco". Nessas horas me lembro muito de Guimarães e seus contos sobre a "síndrome" do mandonismo no sertão.

Trevo sem Folhas disse...

Cidades como Valença ainda ficam submetidas ao coronelismo político e "empresarial". Já trabalhei em pequenas empresas aqui que não valorizam sua competência e profissionalismo, mas como bem dito por você, valorizam a subserviência e principalmente o "puxa-saco". Nessas horas me lembro muito de Guimarães e seus contos sobre a "síndrome" do mandonismo no sertão.

Unknown disse...

Marcelo,
Achei muito realista o modo como narras essa espécie de aura que envolve certos lugares. É como se os lugares assumissem a alma de quem os habita. Por isso é necessário "mexer" com as mentalidades e para que tal aconteça é preciso criar condições - escolas fundamentalmente.
Abraços.