Quando somos jovens acreditamos que o tempo conspira a nosso favor, quando envelhecemos vemos que o tempo nos coage com a inevitável consciência do fim. Outro dia, eu estava em sala de aula e alguns alunos do diretório entraram para dar um recado. O discurso era o de sempre: mudar o mundo, formar consciências revolucionárias, estatizar a Vale do Rio Doce, declarar guerra ao imperialismo Ianque... enfim, o papo típico de quem tem 20 anos.
Uma vez eu li que se você não é um revolucionário aos 20, você é um insensível, se você o é aos 40, é um insensato. Achei engraçado pensando que, em 20 anos, aqueles meninos estarão, como na música do Belchior , “em casa guardado por Deus contando o vil metal”. É a rota inexorável do homem.
A maturidade nos ensina não a fugir das lutas, mas a medir a relação de perdas e danos, ganhos e méritos que cada batalha traz. Nunca desisti de lutar, mas hoje, à beira dos quarenta, aprendi a planejar todos os combates e avaliar se os ganhos que dele obterei serão dignos da força que despenderei para vencê-los.
Aprendemos a "olhar o rio por onde a vida passa" (Ana Carolina) e temos a medida melhor das coisas. Dá muita vontade de contar essa história para alguém que vemos com esse discurso, mas entendemos que faz parte de uma etapa necessária de consciência da vida e que nada dirá a ela isso, pois só o tempo sabe as palavras certas para fazê-lo entender o ininteligível.
9 comentários:
Oi,
Gostei da frase "se você não é revolucionário aos 20, você é um insensível, se você o é aos 40, é um insensato". É verdade... assim que a gente chega na faculdade percebemos a existência de algum movimento, nem que seja pra abaixar o preço do bandejão. Acho que a única luta que envolve todas as idades é a luta pela liberdade, caso seja seriamente ameaçada.
Pois é, achei esse seu texto maravilhoso.
Outro dia assistindo a LOST, num dos episódios um personagem voltou no tempo e foi indagado pelo amigo, porque é que ele não foi avisar a ele mesmo de todas as dificuldades que ele iria passar, de todos os erros que ele cometeu para não fazer isso novamente. Ele então respondeu:
"Mas eu precisei passar por tudo isso para chegar hoje onde eu cheguei."
Amigo Marcelo, esse texto me fez lembrar dos meus 20 anos... rs É bem desse jeito mesmo... Aos 20 anos nos sentimos fortes e seguros para brigar por nossos ideais políticos, reividicando tudo aquilo que achamos, por direito, merecer. Aos 40, paramos para pensar, e vemos que muitos dos nossos valores já estão ultrapassados, mas que valeu a pena ter vivido aquela época. Abraços. Roniel.
Estava pensando nisso essa semana! Vejo muita conversa revolucionaria... Mais atitude, ou o caminho para que essas ideias passem de ideias, não vejo nada. Ai penso que só criticar sem mostrar caminhos é perder tempo. Porém é uma forma de mostrar que estamos de olho, e que ainda temos disposição de lutar por nossos ideais, não importa se temos 20, 30, ou 100 anos!
Cruzar os braços, quando podemos hajir tbm é insensatez! Vc não acha?
Abraço!
Lutar pelos ideais não está interligado a idade.
Se você almeja alguma coisa você vai lutar, correr atrás pra conquistar ou simplesmente deixar a vida passar independente de sua idade. Lutar ou não é uma questão de força de vontade.
Se alguém nos diz isso quando temos 20 anos nós duvidamos, achamos que não vamos ficar assim.
E acontece com quase todo mundo.
Impossível ser revolucionário com mulher e filhos...hehe
É verdade, muitos são revolucionários aos 20, e depois que chegam no auge da maturidade(aos 40), entendem que nada era necessário.
Pois é, sei bem como é isto, mas o meu infortúnio é dolorido (creio eu) porque ainda não sou pai, mas a pisada no freio, no meu caso, ocorreu bem antes dos 40, o que de mais importante que assimilei no texto é o aprender a deixar as coisas, o rio correr, mas em meus 36 anos há algumas amarras que me prendem no passado, tomara que eu esqueça tudo antes destes quatro anos que sei, irão voar.
Concordo em parte... penso que toda sociedade é simplesmente resultado, a soma, de infinitas forças que atuam com interesses puramente individualista, que se agrupam em interesses comum, somando forças para sobrepujar outras. Só somos conservadores (até porque já passei da casa dos 30)porque nos estabelecemos em posições (intelectuais, financeira, sociais, ou outras) confortáveis. O grande problemas do barulho revolucionário da juventude - e talvez qualquer outro -, no fundo, é em qual parte estamos na cadeia alimentar.
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