quarta-feira, 3 de março de 2010

A culpa, o medo e a estupidez humana

Em tempos de estupidez de reality show, encontrar algumas produções de mídia que massageiam o nosso intelecto é coisa rara. No fluxo contrário a toda boçalidade predominante, tive a oportunidade de assistir a um filme que abre uma ilha de reflexão sobre a culpa e o medo, Tempos de paz, com Tony Ramos, um chefe da alfândega em um Brasil pós-guerra e Dan Stulbach, no papel de imigrante polonês. 
O filme traz uma reflexão que tenho há tempos: até que ponto, a resposta "fiz porque estava cumprindo ordens" é válida? Muitas vezes se faz algo cumprindo ordens porque quem manda não tem a coragem de assumir os atos executados e quanto o executor o faz, quem ordenou quer distância dele pois o mesmo representa tudo aquilo que ele não quer lembrar que pediu para ser feito. O executor se torna descartável, o executor se torna executável.
Dizer que fazemos porque não tivemos escolha é outro equívoco. Sempre há escolha, mas o que há também são os ônus e bonus do que escolhemos. Não estamos dispostos a arcar com os custos, mas as escolhas estão sempre lá, basta que as façamos.
O personagem de Tony Ramos se mescla num sentimento de rudeza, frieza, amargura... essa é a palavra. Ele traz consigo um amargo do mais concentrado fel que a vida plantou-lhe no coração. Um homem sem máscaras esterotipadas dos vilões, porque ele não é um vilão. Ele, Segismundo, é ao estilo do filósofo alemão, demasiadamente humano.
Isso me assusta, mas também me encanta.

2 comentários:

Iúri disse...

Olá Marcelo,

Concordo contigo que sempre temos escolhas, apesar de nem sempre serem fáceis.

No caso de execução de ordens, o que deve pautar o comportamento do executor é a ética: será que isso vai ao encontro ou de encontro aos meus princípios?

Não vi o filmes, mas espero fazê-lo em breve.

Abraços.

Evandro Varella disse...

Marcelo,
Questão interessante que nos deparamos a toda hora e em especial no trabalho.

Concordo com o comentário do colega Iúri e vou além quando me deparo com alguém em dúvida sobre a questão do obedecer ordens, penso na situação limite: e se te mandar pular do décimo andar? pulas ?
Abraço