sábado, 6 de dezembro de 2008

Eu sou trabalhador, seu Doutor. E outras palavras que redimem

O que me impressiona no criminoso é a capacidade que tem de negar. Nega tanto que convence advogado, populares, o júri e até ele mesmo de que é inocente.
Se há testemunhas, não
estava claro; se estava claro, não viram direito; se viram direito; o crime foi por legítima defesa. Mas legítima defesa??? Foi um roubo seguido de morte, latrocínio? Pois, então, a legítima defesa de não morrer de fome. Mas foi um carro que foi roubado!!! Pois então, roubara o carro para procurar algo para comer... Não havia um lugar sequer por ali que desse para ir á pé... e dinheiro para o ônibus não tinha. Pobre vítima do sistema.
O fato é que o rapaz era trabalhador e não merecia ser preso.


Pois sim...trabalhador do tráfico
.

Mas trabalhador em um mundo onde só lhe deram essa oportunidade. Coitado.


A família da vítima já começava a se compadecer do bandido...
O rapaz é trabalhador... mais uma vez e todos na sala se sentiam vagabundos diante daquele injustiçado trabalhador. O rapaz, em face de todas as acusações, curvava as sobrancelhas para cima e esboçava uma lágrima que escorria pelo rosto como água cristalina pela pedra.

Trabalhador
.. repetia o homem.


Todos já entendiam tudo e sentiam até uma ponta de raiva da promotoria.
Como é que pode? Acusar um trabalhador.... promotor canalha.

O rapaz é trabalhador... ecoou por fim.
E todos os males se desfizeram... abriram-se a portas do céu, mais um novo anjo voava por lá...
Um anjo trabalhador...



Em tempo: Tem gente que acha que existem palavras que redimem de todos os pecados... E o pior é quando soa o coro nessa nau dos insensatos. Quando pretendem isentar alguém e colocá-lo acima de qualquer suspeita, dizem: Ele é trabalhador, ele é pai de família, ele é um homem de Deus....

E esquecem que trabalhadores, pais da família e homens de Deus, entre outros, também cometem crimes.

15 comentários:

Henrique Hemidio disse...

Dentre os exemplos citados, principalmente os homens de deus...

Marcio Sarge disse...

Se trabalho fosse sinônimo de honestidade no PT só teria político dos sonhos de qualquer um.

E quem nunca viu um trabalhador em pleno exercício do oficio cometendo um crime e porque nunca presenciou um batida policial ou algo do gênero.

A quem diga que o trabalho enobrece o homem, pelo visto Marcelo, ele também emiti Habeas Corpus.

Anônimo disse...

Agora isso virou até moda, rouba-se, matá-se, tira-se vidas, deixam-se filhos orfão, mulheres viúvas. Aí a culpa é da sociedade desigual, que não dá direito a todos. Ou então depois de feito tudo isso, vira-se evangélico e é perdoado por todos os seus pecados, e os estragos feitos? Esses seres estão completamente enganados sobre sua existência. é a minha opinião. Um abraço.

Anônimo disse...

Acho que usa-se muitos rótulos para se definir alguém, mas na verdade, um trabalhador (honesto) não vai roubar ninguém, um verdadeiro homem de Deus não vai cometer atrocidades, os pais de família já não sei. O grande problema é que as pessoas andam se classificando como homens de Deus, e dessa forma parecem que são imunizadas do pecado pela sociedade, podem até ter um emprego, mas quem disse que isso as torna honestas? E os pais de família??? (HaHaHA) Difícil não encontrar um bandido que não tenha um filho, afinal a classe mais pobre é a que mais reproduz, mas isso não quer dizer que só os pobres é que se sentem impulsionados ao roubo, um bom exemplo de ladrões descarados são os nossos políticos, mas o terno e a gravata os tornam menos suspeitos.
Adorei o texto, aliás, como sempre.

Abraço.

Anônimo disse...

De Nelson Motta sobre a mentalidade do brasileiro:

“É uma mentalidade pobrista. Ninguém assume responsabilidade por nada. Se um cara mata, a culpa é da sociedade. Ora, existem fracassos e escolhas individuais. Temos que mudar essa atitude e passar a celebrar a vitória.”

Gosto muito do seu blog e coloquei ele na lista dos meus 10 melhores. Se você quiser, também tem um selo, basta ir lá e buscá-lo.

Um abraço,

David.

Lomyne disse...

Eu já não posso me considerar parte desse grupo, porque esse papo de que é trabalhador não me desce. Porque me parece aquela lógica de que somos todos iguais, mas uns mais iguais que os outros.

As leis, até onde me consta, foram criadas com o propósito de punir aqueles que fazem o errado. Juiz não é terapeuta nem assistente social!

Terapia e assistencialismo tem que acontecer antes. Depois do crime tem mais é que punir - apesar da hipocrisia social de que nosso sistema penitenciário não tem o propósito de punir e sim de reintegrar à sociedade.

E chega antes que eu comecesse a fazer um post na sua janela de comentários.

p.s.: eu sou purista linguisticamente. Nem adianta vir me dizer que checar tá no dicionário, é feio! Não é por ter ou não ter a ver com a liguagem do compuador, Marcelo, checar é feio, soa mal. E se quiser você pode dizer que é pura pornografia da minha cabeça, mas eu seeeeempre prefiro dizer que vou verificar alguma coisa (ou conferir, depende da frase). Eu tenho que ser purista em alguma coisa, né? Até porque no resto da minha vida, eu sou bem errada...

Plínio disse...

Basta assistir filmes como Cidade de Deus e documentários como ônibus 174... enfim o mundo é cão, sobrevive o mais forte! Eu tenho feito alguns estudos sobre isso na área do Direito!

Jan Ribeiro disse...

[b]Henrique Hemidio disse...
Dentre os exemplos citados, principalmente os homens de deus...[/b]
Quanto ao comentário acima prefiro nem comentar, os "homens de Deus" são tão humanos quanto qualquer um, ou seja, estão sujeitos a todas as falhas possíveis. Ser homem de Deus não significa ser um super homem, acima do mal, que jamais erra, um ser perfeito, nada disso... Tenho certeza de que Deus não fica nem um pouco feliz com tais comportamentos não só de "seus homens" como de qualquer outra pessoa. Quanto ao texto, sim é verdade muitos usam o termo para se livrarem de suas culpas o que é ingigno para qualquer um... Qualquer pessoa pode cometer um crime, seja homem ou mulher, trabalhador ou desmpregado, homem de Deus ou do Diabo, com famílias ou ófãos.... Não importa nem mesmo que tipo de crime seja, latrocinio ou simplesmete pegarum amendoim do carrinho da feira, é crime do mesmo jeito, mentir quando algum xato liga pra vc é levantar falso testemunho, algum tempo atrás adultério era crime com punição prevista no código civil, mas virou tão comum, tão humilhate pra as pessoas levarem esse tipo de caso aos tribunais que quase não se tem mais audiências a respeito...

Anônimo disse...

Extraordinário texto!Ele retrata com um certo humor,uma das facetas dos criminosos de nossos dias;tão bem informados ,e amparados pela lei,com brechas,que possibilitam a impunidade.E,em um mundo tão abastecido de imagens,informações e exemplos negativos,tornam-se grandes atores,sem precisar de DRT para atuar,pois convencem mais do que o ator profissional,portador de registro.
Parabéns!São autores com esta descrição textual de fatos contemporâneos,que possibilitarão a gerações posteriores,a análise do passado,buscando em seu presente,amelhorar o futuro.Digno de uma tese sociológica.

All3X disse...

Marcelo, sei que muitos advogados não são enganados nem um pouco por seus clientes, mas que agem por volitivamente em busca de sua vitória (justa ou não).
Que todos cometem erros isso é claro, e merecem ser punidos por isso.
Me decepciono em muitos momentos pela minha categoria. Vejo o caso do promotor que deu vários tiros em um rapaz por ter galanteado a sua namorada e foi absolvido por legítima defesa. Não sei exatamente detalhes do caso, mas como assim legítima defesa, não é algo que deve ser conseiderado a torto e a direito não..
Espero que ainda exista Justiça em minha profissão.
Que o sistema é falho, isso sei, por isso devemos analisar o conjunto antes de julgar alguém.

Calango disse...

texto do caralho...

Mas é...


a coisa é se fazer de coitado...
Ainda bem que estão parando de acreditar nessas coisas e sentando o pau nesse bando de sonsos...

Do mesmo jeito que pastor era santo e hj ngm confia..

Flávia disse...

Esquecem-se que trabalhadores, pais da família e homens de Deus não só cometem crimes, como também ENVELHECEM.

As rugas podem ludibriar nosso bom senso.

Bjs!!!

Wander Veroni Maia disse...

Oi, Marcelo!

O que mais me deixa revoltado é quando vejo (ou entrevisto) um suspeito de um crime e ele tem a cara de pau de falar que comete a violência em nome da pobreza. Isso me deixa puto, viu! Uma coisa não deve nunca justificar a outra. Cada vez mais percebo que a violência é uma patologia da pessoa, e não só uma ação social. O seu texto me faz pensar ainda mais sobre isso.

Abraço,

=]

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http://cafecomnoticias.blogspot.com

Homenzinho de Barba Mal feita disse...

Parabéns pelo texto. Realmente, a religião serve também de muleta, além de levar para o céu.
A fé é muito subjetiva, o ladrão antes de sair para roubra, ele faz uma oração e pede proteção para Nossa-Senhora, para que não seja preso.
Esse seu texto me fez lembrar a letra da música do Racionais que se chama: "Capítulo4, versículo 3".
A letra fala da vida dificíl do pobre da favela e, que ele rouba devido a falta de oportunidade que teve na vida e, que roubar foi a única saída.´
Se não conhece a letra, dê uma olhada nesse site: http://www.webletras.com.br/musica/racionais-mc/capitulo-4--versiculo-3

Anônimo disse...

Diz Camus, em A Peste, que 'a boa vontade, se não for esclarecida, pode causar tantos danos quanto a maldade'. Devo confessar, porém, que bastou-me o prenúncio de 'toda a clarividência possível' (a tal que me permitiria a 'verdadeira bondande' e o 'belo amor') para eu cair cega ao chão, tal qual Saulo a caminho de Damasco.

Deus me livre (hã?!) me levantar daqui pra conceber uma religião. :-)

O fato é que, nesta história de criminosos e vítimas, gregos e troianos, deus e satanás, sei não... Fico reticente e fadada a citar Luís Inácio Lula da Silva na frente do espelho: 'Meu, sifu...'

(desculpe-me se o comentário saiu repetido, às vezes a tecnologia me prega umas peças...)