quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

O que seria de nós sem as vogais?

No final do século XIX, os lingüistas levantaram a hipótese de que há um princípio de economia expressional nas línguas, ou seja, se pudermos dizer mais com menos, melhor. Um caso interessante são as abreviaturas de palavras como cinemascope (cinema), fotografia (foto), motocicleta (moto) até os bizarros “Xurras casa da Fé” ou o “niver no apê do Lê”... casos com cara de blog teen ou scrap no orkut.
Mas a simplificação não fica por conta dos blogueiros, dos adolescentes ou de outro grupo, mas sim dos baianos. A Bahia..., Bahia de Castro Alves, de Jorge Amado, de Caetano Veloso e de Gilberto Gil entre tantos outros gênios. Pois é de lá que vem o grande evento da nossa língua: a comunicação puramente vocálica.
Veja: ó pai, ó... ( o filme). Disse tudo ainda que eu não tenha entendido nada e só usou uma consoante, um P intrometido. Vamos mais além... o que seria da axé music sem as maravilhosas vogais. Em Salvador, quem dispõe de três vogais, faz uma música... se tem um carro com som, faz um trio elétrico e se tem mais de 10 pessoas, faz um carnaval.
Contemple a obra:

Aê, Aê, Aê, Aê...
Ê, ê, ê, ê, ê, ê,
Ô, ô, ô, ô, ô...

Acrescente a isso frases de efeito como “sai do chão”, “maiiiiinha”, “nojenta”, pronto, reúna três amigos para se pintar e dançar... Já temos o suficiente para fazer sucesso em todo o país.
Seria muito injusto de minha parte excluir os surfistas, que com sua genialidade sintética resumiram a comunicação à arte vocálica: Chegando em casa, o brou mais velho fala para o brou mais novo que levou a galera para fazer uma festinha:

Ô, ó o auê aí, ô.

E precisa dizer mais o quê? O auê cantado pela Rita Lee (Desculpe o auê/eu não queria magoar você....) na década de 80, agora, é visto como o prenúncio do reinado das vogais.
***
Enquanto isso, em uma agência de empregos de Salvador, um surfista sendo entrevistado...

- oi.
- Trouxe os documentos?
- ó... aí.
- Tá faltando um documento...
- ã?
- Ah não, está aqui.
- Aaaa..
- Esse aqui é o seu endereço?
- É.
- Há quanto tempo você não atua na profissão?
- Ihhhhhh...
- Bastante tempo, né..?
- Ó.
- Já morei perto da sua casa. Já foi num bar que fica na esquina dessa rua?
- Ia.
- Vejo que trabalhou em escola de samba...
- e...
- Nada. Já compôs samba?
- É.
- Qual parte?
- Oooooiiii...
- Assina este formulário então.
- ó?
- é.
- aí?
- é.

Consoantes? Pra quê, meu rei?

15 comentários:

Anônimo disse...

Oi

O Blog tá muito legal!
Bons posts!

Parabéns!

Abraço!

Anônimo disse...

Oi

O Blog tá muito legal!
Bons posts!

Parabéns!

Abraço!

Anônimo disse...

Adoro a Língua Portuguesa e me recuso a falar ou escrever em dialetos correspondentes. As consoantes, pelo menos para mim, são fundamentais. Gostei do post.

Jeffmanji disse...

Rapaz... pena que uma coisa está indo contra o seu pensamento.
Sacou que o "u" e o "i" estão gradativamente sendo ubstituidos por "w" e "y"?

Abraço, cara! Bom post!

Conversas com o duende verde disse...

ó pai,ó. Só fode os baianos.

Johnny M. disse...

Primeiro foi "vossa mercê", depois "vosmicê", em seguida "você", veio então o "cê" e agora é "vc", sem nenhuma vogal.

Anônimo disse...

É... Esse post é o "ó"!

Bom demais!!! XD

Anônimo disse...

Agora o que me irrita mesmo é o dialeto EMO de adolescente cibernético que AdoLA iXCleVÊ AXim.

Quanto ao processo de simplificação da língua portuguesa, só tenho algo a dizer:

PODICRÊ!

www.baratos-afins.blogspot.com

Renato Fernandes disse...

kakakakakakakaka

Mostrou muito bem como o assassinato de nossa língua está sendo assimilado por essa geração.

Boa. Tá nos favoritos

www.ogritonoticias.blogspot.com

TIAGO ENES disse...

o que séria de nos sem as vogais?

tá loko nem me fale isso!!

Pelo menos não iri ter tanto fofoqueir!


Pelo menos não iria ter tanto politico trovador!!


Por lado ia ser melhor
!!!




Mas pensando bem do jeito que está bem melhor!!



Abraço marcelo

Nelson L. Rodrigues disse...

ótimo texto meu caro!!

goste do blog.

Anônimo disse...

Muito bom seu blog, essa das vogais é interessante. Parabéns!!

Nelson L. Rodrigues disse...

bom texto, bem escrito. blog tb bem organizado, boas cores!

abraço

9,5

Carla Luz disse...

Cara! Esse histórias de vogais é hilária!! Eu tinha um professor que quase morria com aquela música que tem esse refrão: "Aê, Aê, Aê, Aê, ei, ei ei ei, ô ô ô ô" Sei que é uma música de axé. Ele ficava possesso! Falando isso não era música, uma música sem consoantes!! Não sabia onde o mundo iria parar! Teu texto tá ótimo, realmente, uma conversa em consoantes... aff! Tá pra entender, mas fica faltando algo...

Abraços

Anônimo disse...

O que seria da Axé Music se não fossem as vogais? aeuhauehuae